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Sentença ilíquida é a que condena ao pagamento de quantia não especificada (não determina o quantum debeatur), nem permite especificar essa quantia por meio de simples operações aritméticas

(art. 786, parágrafo único, c.c. art. 771, ambos do CPC/2015).

Assim, “a necessidade de simples operações aritméticas para apurar o crédito exequendo não retira a liquidez da obrigação constante do título” (art. 786, parágrafo único, do CPC/2015), pelo que, “quando a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor poderá promover, desde logo, o cumprimento da sentença” (art. 509. § 2.º, do CPC/2015). Para facilitar esse cálculo aritmético – e prevenir discussões sobre índices de atualização monetária –, o CPC/2015 determina ao Conselho Nacional de Justiça que desenvolva e coloque à disposição dos interessados “programa de atualização financeira” (art. 509, § 3.º, do CPC/2015).

Atendendo às críticas da doutrina, a apuração do valor final por cálculo aritmético sai do capítulo de liquidação de sentença e vai integrar o capítulo do cumprimento de sentença (cf. art. 524 do CPC/2015). Dessa forma, como espécies de liquidação de sentença, permanecem apenas a liquidação por

arbitramento e a liquidação pelo procedimento comum (nova denominação da liquidação por artigos).

Mas o CPC/2015 trata as sentenças ilíquidas como excepcionais, pois tais sentenças costumam conspirar contra a duração razoável do processo (art. 4.º do CPC/2015). Assim, “na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que formulado pedido genérico, a decisão definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a peridiocidade da capitalização de juros, se for o caso”, somente ressalvando as sentenças nas quais “não for possível determinar, de modo definitivo, o montante devido” ou “a apuração do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa”, hipóteses em que se seguirá “a apuração do valor devido por liquidação” (cf. art. 491 do CPC/2015).

A liquidação de sentença, por arbitramento ou pelo procedimento comum, é fase de conhecimento intermediária entre a fase de conhecimento propriamente dita (que produz a sentença e as decisões parciais de mérito, fixando o an debeatur ou a obrigação de pagar) e a fase de cumprimento de sentença. Nas hipóteses em que excepcionalmente é exigida, não é possível iniciar o cumprimento de sentença sem antes proceder à fase de liquidação.

Fase de conhecimento → Fase de liquidação → Fase de cumprimento

A decisão de liquidação, fixando o quantum debeatur, complementa a sentença ou decisão parcial de mérito, que fixou apenas o an debeatur, de maneira que o título executivo judicial passa a ser composto de ambas as decisões judiciais (decisão do an + decisão do quantum).

Título executivo judicial = sentença ou decisão parcial de mérito + Decisão de liquidação

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Nesse particular, deve continuar vigorando aSúmula 344 do STJque enuncia:

“a liquidação por forma diversa da estabelecida na sentença não ofende a coisa julgada.”

Como o devedor também adquire legitimidade para iniciar o cumprimento de sentença (cf. art. 526 do CPC/2015) é coerente que também passe a possuir legitimidade para proceder à liquidação de sentença, quando for o caso, conforme permite o caput do artigo em comento.

Não há inovação quando ao cabimento das duas modalidades de liquidação: arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação, e procedimento comum (artigos no CPC/1973) quando houver necessidade de alegar e provar fato novo (art. 509, I e II, do CPC/2015 e arts. 475-C e 475-E, do CPC/1973).

Também não se inova quanto à hipótese da sentença parcialmente ilíquida: “quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta” (art. 509, § 1.º, CPC/2015 e art. 475-I, § 2.º, CPC/1973). Quer parecer que essa iniciativa também deve se estender ao devedor, nos termos do caput.

De igual forma, persiste a norma no sentido de que “na liquidação é vedado discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou” (art. 509, § 4.º, do CPC/2015 e art. 475-G do CPC/1973), dada a preclusão sobre as questões já decididas (art. 507 do CPC/2015).

Confira-se a íntegra do novo texto legal:

Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder- se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor:

I – por arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação;

II – pelo procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e provar fato novo.

§ 1.° Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta.

§ 2.° Quando a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor poderá promover, desde logo, o cumprimento da sentença.

§ 3.º O Conselho Nacional de Justiça desenvolverá e colocará à disposição dos interessados programa de atualização financeira.

§ 4.º Na liquidação é vedado discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou.

18.1.1 A LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO

A liquidação por arbitramento começa por requerimento do credor ou do devedor (art. 509,

caput, do CPC/2015), no qual deverá especificar o objeto da liquidação e juntar os “pareceres e

documentos elucidativos” que disponha para auxiliar o arbitramento judicial. Poderá, desde logo, apontar um valor que entenda devido com base nesses pareceres e documentos. A parte contrária será intimada, por seu advogado, para impugnar os documentos e pareceres juntados pelo requerente e para produzir os seus. Nada obsta que o juiz marque audiência para discutir as questões levantadas pelas partes, sob a égide do princípio da cooperação processual que orienta a nova codificação (art. 6.º, do CPC/2015). É bem possível que, assim o fazendo, a decisão de liquidação seja proferida na própria audiência. Excepcionalmente, caso o juiz não se sinta seguro para arbitrar de plano, com base na documentação acostada pelas partes, poderá nomear perito para dirimir as questões técnicas pendentes, seguindo-se o rito da prova pericial. Da decisão de liquidação por arbitramento caberá agravo de instrumento (art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015).

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181 Confira-se:

Art. 510. Na liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para a apresentação de pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa decidir de plano, nomeará perito, observando-se, no que couber, o procedimento da prova pericial.

18.1.2. A LIQUIDAÇÃO PELO PROCEDIMENTO COMUM

A liquidação pelo procedimento comum é a liquidação por artigos do CPC/1973. Também começa por requerimento do credor ou do devedor (art. 509, caput, do CPC/2015), no qual deverá alegar o “fato novo”, não discutido na fase de conhecimento, mas indispensável para a fixação do quantum debeatur. A parte contrária será intimada, na pessoa de seu advogado ou da sociedade de advogados a que estiver vinculada, para apresentar contestação no prazo de 15 (quinze) dias. Não é o caso de marcar a audiência de conciliação ou mediação, prevista no art. 334 do CPC/2015, porque o artigo em comento indica, desde logo, que da intimação do requerido passará a correr o prazo de contestação, sem qualquer menção à audiência, que parece mesmo descabida nessa fase processual. Apresentada a resposta, seguem-se as providências preliminares (arts. 347 e ss. do CPC/2015) e demais atos que compõem o procedimento comum, até a decisão de liquidação, impugnável por agravo de instrumento (art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015). Preclusa essa decisão complementar de mérito, haverá coisa julgada material rescindível. Caso o requerido não apresente contestação tempestiva, será revel na fase de liquidação, permitindo que o juiz presuma verdadeiras as alegações sobre o fato novo (art. 344 do CPC/2015), ressalvadas as hipóteses em que não se produz o efeito material da revelia (art. 345 do CPC/2015).

No texto legal:

Art. 511. Na liquidação pelo procedimento comum, o juiz determinará a intimação do requerido, na pessoa de seu advogado ou da sociedade de advogados a que estiver vinculado, para, querendo, apresentar contestação no prazo de 15 (quinze) dias, observando-se, a seguir, no que couber, o disposto no Livro I da Parte Especial deste Código.

18.1.3. LIQUIDAÇÃO PROVISÓRIA

Como também acontecia no CPC/1973, desde a reforma empreendida pela Lei 11.232/2005, permite-se a liquidação provisória, antecipando-se a liquidação por arbitramento ou pelo procedimento comum, enquanto se aguarda o julgamento do recurso interposto contra a sentença ou a decisão parcial de mérito. Ao contrário do que ocorre com o cumprimento provisório da decisão, a liquidação provisória pode ser promovida mesmo na pendência de recurso dotado de efeito suspensivo. De qualquer forma, a liquidação provisória será processada em autos apartados no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes.

Coteje-se com o novo dispositivo legal:

Art. 512. A liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso, processando- se em autos apartados no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes.

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18.2. GENERALIDADES SOBRE O CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

NO CPC/2015

O cumprimento de sentença no CPC/2015 continua a tradição inaugurada pelas reformas processuais de 2005/2006: o processo sincrético, no qual se misturam atividades jurisdicionais de

cognição e execução.

Processo sincrético = cognição + execução

Em geral, o cumprimento de sentença é um desdobramento da mesma relação processual iniciada com o protocolo da petição inicial da ação de conhecimento (art. 312 do CPC/2015). Apenas excepcionalmente o cumprimento de sentença constituirá relação processual nova e autônoma (art. 515, § 1.º, do CPC/2015). As regras do processo de execução fundada em título extrajudicial (Parte Especial, Livro II, CPC/2015), mais detalhadas quanto à execução em si, têm aplicação subsidiária ao cumprimento de sentença.

Quanto à iniciativa do cumprimento de sentença, o CPC/2015 positiva o entendimento jurisprudencial do STJ, no sentido da necessidade de requerimento do exequente para o cumprimento de sentença que reconheça o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo (art. 513, § 1.º). De outro lado, dispensa tal requerimento para o cumprimento de sentença que reconheça deveres de fazer, não fazer ou entregar coisa (art. 536 do CPC/2015), que poderá ser iniciado ex officio.

Essa jurisprudência é também confirmada quando o novo Código exige a intimação do devedor,

pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos, para cumprir a sentença (art.

513, § 2.º, I). Não é necessária intimação pessoal, basta a intimação pelo advogado. Essa regra é aplicável a qualquer tipo de cumprimento de sentença, inclusive para a que reconhece dever de fazer, não fazer ou entregar coisa, de modo que a Súmula 410 do STJ deve ser revogada, por exigir intimação pessoal. Excepcionalmente, como emanação do princípio da boa-fé processual (art. 5.º do CPC/2015), quando o requerimento do exequente for formulado após 1 (um) ano do trânsito em julgado da sentença, a intimação será feita pessoalmente, por meio de carta com aviso de recebimento encaminhada ao endereço constante nos autos, e não por intermédio do advogado constituído nos autos (art. 513 do § 4.º).

O parágrafo segundo do artigo em comento ainda resolve situações especiais, que exigem tratamento diferenciado quanto ao ato de intimação para cumprir a sentença:

(1) caso o devedor não tenha advogado constituído nos autos ou esteja representado pela Defensoria Pública (não se inclui a representação por advogado dativo), a intimação se dará por carta com aviso de recebimento (art. 513, II), considerando-se realizada a intimação postal quando o devedor houver mudado de endereço sem prévia comunicação ao juízo (arts. 513, § 3.º e 274 do CPC/2015);

(2) tratando-se de empresa pública ou privada, com exceção das microempresas e empresas de pequeno porte, sem advogado constituído nos autos, a intimação se dará por meio eletrônico, conforme o cadastro que a empresa estará obrigada a manter nos sistemas processuais eletrônicos (art. 246, § 1.º, do CPC/2015), cadastro esse que deverá ser providenciado, no juízo onde a empresa tenha sede ou filial, no prazo de 30 (trinta) dias, contados da entrada em vigor do novo Código ou da data de inscrição do ato constitutivo da pessoa jurídica (art. 1.051 do CPC/2015), caso posterior (art. 513, III); considera-se realizada a intimação eletrônica quando o devedor houver mudado de endereço eletrônico sem prévia comunicação ao juízo (arts. 513, § 3.º);

(3) caso o devedor tenha sido citado por edital e permanecido revel na fase de conhecimento, sem constituir advogado nos autos, sua intimação também será por edital, mesmo havendo curador especial designado para representá-lo (art. 513, IV).

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