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7.4 CHAMAMENTO AO PROCESSO

9.6 VÍCIOS E INVALIDADES PROCESSUAIS

A lei processual prescreve determinadas formas para a prática dos atos processuais, quais sejam, o tempo, o lugar e o modo a que os atos processuais devem obedecer. Se esta forma não for respeitada, haverá atipicidade legal, ou seja, descumprimento da forma.

A fim de que essas formas sejam obedecidas, a lei processual comina determinadas consequências para o caso de descumprimento.

Nesse contexto, é que está a disciplina dos vícios e invalidades processuais.

9.6.1 PRINCÍPIOS

Ao estudar o regramento dos vícios e invalidades processuais, é imperioso o conhecimento dos princípios norteadores da matéria. Como é impossível que a lei preveja todas as hipóteses de descumprimento das formas processuais, os princípios possuem especial relevância na interpretação e aplicação da medida mais adequada para cada caso concreto.

a) Princípio da Instrumentalidade: Segundo esse princípio, o processo não é um fim em si mesmo; ao revés, trata-se de um instrumento para o reconhecimento e a satisfação do direito material veiculado.

b) Princípio da Finalidade: Esse princípio informa que o juiz não deverá decretar a invalidade do ato se, mesmo realizado de outro modo, atingir a sua finalidade. Está expresso no art. 277 do Novo CPC.

c) Princípio do Prejuízo: Informa que, se não houver prejuízo à parte, o ato processual praticado em desconformidade com a lei processual será aproveitado e não será repetido. Isto é, não há nulidade sem prejuízo (pas de nullité sans grief). Tal princípio aplica-se às nulidades relativas, haja vista que, nas nulidades absolutas, o prejuízo é presumido. Está previsto nos arts. 282, § 1º, e 283, parágrafo único, do Novo CPC.

d) Princípio do Interesse: Segundo o princípio do interesse, a decretação de nulidade não poderá ser requerida pela parte que lhe deu causa. É um desdobramento da boa-fé objetiva e, mais especificamente, da aplicação o princípio do verire contra factum proprium non potest no processo civil. Está previsto no art. 276 do Novo CPC. No entanto, este princípio não se aplica às nulidades absolutas.

e) Princípio da Causalidade: Segundo o princípio da causalidade, se o ato for invalidado, serão considerados ineficazes os demais atos que dele dependam, mas a nulidade não alcançará os atos subsequentes que sejam independentes (art. 281, Novo CPC).

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69 f) Princípio do Aproveitamento: A atipicidade do ato processual somente acarreta a invalidação dos atos processuais que não possam ser aproveitados, desde que também não cause prejuízo às partes. Está previsto no art. 283 do Novo CPC.

9.6.2 CLASSIFICAÇÃO DOS VÍCIOS PROCESSUAIS

A depender da gravidade da atipicidade processual, isto é, da desobediência em relação à forma prevista em lei, pode ser cominada a consequência de inexistência, invalidade, ineficácia ou, ainda, de mera irregularidade.

9.6.2.1 INEXISTÊNCIA DO ATO PROCESSUAL

Ato processual inexistente é aquele em que falta elemento constitutivo mínimo. A inexistência ocorre em razão da falta da prática do ato processual ou da prática de um ato que apresenta um vício tão grave que faz com que ele sequer ingresse no mundo jurídico.

É o caso, por exemplo, da sentença proferida por um juiz aposentado, não investido de jurisdição; ou da petição inicial subscrita por quem não é advogado, quando era exigida tal condição.

O STF e o STJ entendem que se reputam inexistentes o recurso especial e extraordinário assinados por advogado que não tem procuração nos autos.

A inexistência jamais convalesce, isto é, o ato processual inexistente não pode ser sanado.

9.6.2.2 INVALIDADE DO ATO PROCESSUAL

São casos de atipicidade do ato processual, ou seja, de atos praticados em desconformidade com a forma, o tipo legal, o esquema abstrato previsto em lei.

A invalidade pode ser cominada em lei ou não expressamente cominada. Por exemplo, a ausência de fundamentação gera nulidade, a qual é cominada no art. 93, inc. IX, da Constituição Federal. A inexistência de relatório na sentença, por sua vez, também gera nulidade, embora não haja previsão legal expressa dessa consequência.

A invalidade processual pode ocorrer por nulidade absoluta ou nulidade relativa.

Tanto a nulidade absoluta quanto a nulidade relativa violam normas cogentes. Norma cogente é uma norma impositiva, cuja incidência não pode ser afastada por vontade das partes. Portanto, tanto a nulidade absoluta quanto a relativa podem ser conhecidas de ofício (não confundir com nulidade absoluta e nulidade relativa do direito civil).

A nulidade absoluta viola norma cogente que existe para tutelar o interesse público. É um vício insanável, já que tutela o interesse público, não podendo ser convalidado pela vontade das partes no curso do processo. A nulidade absoluta pode ser alegada pelas partes ou conhecida de ofício pelo juiz a qualquer momento no curso do processo.

É o caso, por exemplo, dos atos decisórios praticados por juízo absolutamente incompetente (art. 64, § 2º, Novo CPC). A incompetência absoluta pode ser alegada a qualquer tempo e inclusive ser conhecida de ofício pelo juiz, de modo que serão conservados os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente (art. 64, § 4º, Novo CPC). De outro lado, a nulidade relativa viola norma cogente criada para proteger o interesse particular. Por violar norma cogente (impositiva), pode ser conhecida de ofício pelo juiz, como regra. De

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outro lado, se não for alegada pela parte interessada na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos, ocorre a preclusão, já que criada para tutelar interesse das partes, as quais devem alegar a nulidade relativa e demonstrar o prejuízo advindo do descumprimento da forma processual. Assim, a nulidade relativa é um vício sanável.

Há nulidade relativa, por exemplo, na ausência de reunião de duas causas conexas, quando era possível fazê-lo. Caso não for alegado pelas partes e for proferida sentença num dos processos conexos, sem que tenha havido a reunião, estará preclusa a possibilidade de invocar a conexão. Se não houver prejuízo, não haverá invalidação.

9.6.2.3 INEFICÁCIA DO ATO PROCESSUAL

O ato processual pode existir, ser válido, mas não produzir efeitos, em razão da ausência de cumprimento de determinada formalidade legal.

É o caso, por exemplo, da ineficácia cominada à sentença de mérito proferida no processo em que não foi citado um litisconsorte necessário (art. 114, Novo CPC). Outro exemplo é o caso da sentença proferida por juiz competente, mas que ainda não foi publicada.

Observa-se, ainda, que pode haver ineficácia do ato válido e eficácia de ato inválido.

A ineficácia de ato válido é, como regra, um fenômeno transitório. É o caso, por exemplo, da sentença que não foi publicada. Uma vez publicada, passará a produzir efeitos. No entanto, existem exceções. No caso de litisconsorte necessário que não foi citado, a ineficácia da sentença é permanente (art. 114, Novo CPC).

Também pode haver eficácia de ato inválido, já que o ato inválido produz efeitos até que tenha a sua invalidação decretada judicialmente. Não existe nulidade de pleno direito no processo civil, pois a nulidade precisa ser sempre decretada.

9.6.2.4 MERA IRREGULARIDADE

A mera irregularidade do ato processual ocorre quando há descumprimento mínimo da forma prevista em lei. São exemplos a numeração equivocada das páginas do processo; a ausência de rubrica do escrivão na numeração (art. 207, Novo CPC); a sustentação oral do advogado sem vestes talares, condignas com a profissão, exigidas pelo regimento interno do tribunal; a utilização de caneta com tinta azul claro, ao invés de tinta escura e indelével (art. 209, Novo CPC).

Segundo o entendimento do STJ, a falta de assinatura do advogado nas petições28 e a ausência de procuração29 constitui mera irregularidade sanável nas instâncias ordinárias, embora considere vício de inexistência quando ocorrem nas instâncias extraordinárias, nos termos da Súmula 115 do STJ30, que continua sendo aplicada31.

9.6.3 CONVALIDAÇÃO DO ATO PROCESSUAL

Convalidar significa tornar válido o que era inválido. É sanar as imperfeições do ato processual. A convalidação aplica-se aos atos que apresentam nulidade relativa, na medida em que a inexistência e a nulidade absoluta são vícios insanáveis.

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STJ, AgRg no REsp 833.415/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 19/06/2012, DJe 29/06/2012.

29

STJ, AgRg no AREsp 173.328/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/06/2012, DJe 25/06/2012. 30 Súmula 115 do STJ: “Na instância especial é inexistente recurso interposto por advogado sem procuração nos autos.”

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71 Aplicam-se, aqui, os princípios acima estudados. Assim, no tocante às nulidades relativas, não haverá decretação de invalidade se não houver prejuízo (Princípio do Prejuízo); ou se o ato, mesmo que praticado de outra forma, tenha cumprido a sua finalidade (Princípio da Finalidade).

Além disso, a decretação de nulidade relativa não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa (Princípio do Interesse).

De outro lado, caso decretada a nulidade do ato processual, somente devem ser também invalidados aqueles atos processuais que dele dependam (Princípio da Causalidade), devendo ser aproveitados todos os atos que não causem prejuízo às partes (Princípio do Aproveitamento).

9.6.4 OBSERVAÇÕES FINAIS SOBRE INVALIDADES PROCESSUAIS

Não há invalidação processual de pleno direito. Toda invalidade processual precisa ser decretada. Como já se expôs, as nulidades absolutas não precluem, podendo ser alegadas pelas partes e inclusive reconhecidas de ofício pelo juiz a qualquer momento, no curso do processo.

No entanto, havendo trânsito em julgado da sentença, a coisa julgada produz o denominado efeito sanatório geral das nulidades. Isto é, com a coisa julgada, as nulidades relativas e absolutas ficariam sanadas.

De outro lado, há alguns vícios processuais que ensejam nulidade e que podem ser alegados em ação rescisória. É o caso, por exemplo, da incompetência absoluta do juízo ou do impedimento do juiz (art. 966, II, Novo CPC).

Com o transcurso do prazo de 2 anos para o ajuizamento da ação rescisória, ocorre a denominada coisa soberanamente julgada. Assim, até mesmo os vícios rescisórios não podem mais ser alegados para desconstituir a coisa julgada.

Entretanto, existem alguns vícios que são tão graves que não se convalidam nem mesmo com a coisa julgada ou após o prazo de 2 anos da ação rescisória. São denominados de vícios transrescisórios. Tais vícios podem ser alegados a qualquer tempo, por querela nullitatis ou por simples petição. É o caso, por exemplo, da ausência de citação de uma das partes.

O Código de Processo Civil de 1973 previa três formas distintas de tutela jurisdicional, que foram estabelecidas em três tipos de processos. A fim de sistematizar o regramento referente a esses três processos, o CPC/1973 os disciplinou em três livros: Livro I – Processo de Conhecimento; Livro II – Processo de Execução; Livro III – Processo Cautelar. O Novo Código de Processo Civil trouxe pequenas inovações neste sentido, passando as formas de tutela jurisdicional da seguinte maneira: Livro I – Do Processo de Conhecimento e do Cumprimento de Sentença; Livro II – Do Processo de Execução e Livro III - Os Processos Nos Tribunais E Dos Meios De Impugnação Das Decisões Judiciais.

No entanto, em razão da crescente preocupação com a efetividade do processo, ao longo do tempo, houve uma tendência de lhe conferir sincretismo. Dessa forma, atualmente, as fases de

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conhecimento, liquidação de sentença e execução (ou cumprimento de sentença) passam a ser apenas etapas de um mesmo processo. A tutela cautelar, todavia, continua autônoma, embora o Novo Código de Processo Civil também preveja o seu sincretismo com as demais espécies de tutela jurisdicional.

Em razão disso, não é mais tecnicamente correto falar de processo de conhecimento, já que, no mesmo processo, há as fases de conhecimento, liquidação e execução. Portanto, é preferível utilizar a terminologia tutela, módulo, fase ou etapa de conhecimento, para se referir à tutela jurisdicional cognitiva.

Com efeito, a tutela de conhecimento passa a ter por objeto a cognição judicial acerca de determinada lide, a fim de resolvê-la mediante provimento que reconheça judicialmente o direito da parte por meio de sentença, tornando-a indiscutível sob o manto da coisa julgada material.

Os procedimentos da tutela cognitiva são divididos em: a) procedimento comum; b) procedimentos especiais. Tais procedimento serão estudados a seguir, em itens próprios.

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