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7.4 CHAMAMENTO AO PROCESSO

7.7 INTERVENÇÃO ANÔMALA DOS ENTES FEDERADOS

O art. 5º da Lei n.º 9.469/97 prevê a possibilidade de intervenção da União em processos em que sejam parte as entidades federais da administração indireta (autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista), tendo como requisito apenas a demonstração de interesse econômico. Isto é, diferentemente do que ocorre com a regra geral para a intervenção do assistente, simples ou litisconsorcial, não se exige interesse jurídico.

O parágrafo único do mesmo dispositivo estende essa possibilidade de intervenção por mero interesse econômico aos demais entes federativos (Estados, Distrito Federal e Municípios), nas suas respectivas entidades da administração indireta.

No entanto, a intervenção da União no processo por mero interesse econômico (não havendo interesse jurídico) não desloca a competência do feito para a Justiça Federal. Vale dizer, nos casos de sociedades de economia mista, em que o processo é de competência da Justiça Estadual, se a União intervier com base em mero interesse econômico, não haverá deslocamento de competência para o Juízo Federal. O deslocamento de competência somente ocorreria no caso de intervenção da União com base em interesse jurídico. Isso porque não poderia uma Lei Ordinária (a Lei n.º 9.469/1997) modificar critério de competência estabelecido pela Constituição Federal (art. 109, inc. I). Esse é o entendimento pacífico do STJ.17

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8.1 MINISTÉRIO PÚBLICO

O Ministério Público é um órgão de garantia das instituições fundamentais da sociedade, quer no campo do direito público, quer no campo do direito privado. Sua atuação encontra-se acima dos interesses imediatos de determinado administrador, legislador ou mesmo órgão judiciário, cingindo-se exclusivamente à vontade da lei e da sociedade.

Segundo o art. 127 da CF cabe ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. São seus princípios institucionais: a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. A unidade e a indivisibilidade determinam que o Ministério Público deve ser considerado uma só instituição que aceita divisões internas e partições de competência. Já a independência funcional significa que a atuação do Ministério Público e de seus membros não se vincula a qualquer outro órgão ou a políticas da União e dos Estados.

Na União, o Ministério Público Federal, organizado por lei federal, atua junto aos juízes e tribunais federais. O chefe do Ministério Público da União é o Procurador Geral da República, nomeado pelo Presidente da República dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, integrantes da carreira, depois de aprovado pelo Senado (CF art. 128, § 1º).

Os membros do Ministério Público da União, do Distrito Federal e dos Territórios ingressam nos cargos iniciais de carreira mediante concurso público de provas e títulos; após dois anos de exercício não poderão ser demitidos senão por sentença judiciária ou em virtude de processo administrativo, nem removidos, a não ser mediante representação do Procurador Geral, com fundamento em conveniência do serviço.

Nos Estados, o Ministério Público organiza-se autonomamente, por lei estadual, separado orgânica e funcionalmente dos advogados ou procuradores do Estado, obedecidas normas gerais estabelecidas em lei federal. O ingresso na carreira do Ministério Público se dá no cargo de Promotor Público substituto, com promoção posterior para os cargos de titulares de comarcas classificadas, como na magistratura, por entrâncias, segundo o grau de complexidade e volume de serviço. Perante os Tribunais atuam os membros do Ministério Público de categoria mais elevada, de regra denominados Procuradores da Justiça.

Os membros do Ministério Público gozam das garantias de vitaliciedade, irredutibilidade de subsídio e inamovibilidade, conforme o art. 128, § 5º, inc. I, da CF. Além disso, devem residir na comarca ou subseção judiciária da respectiva lotação, exceto quando autorizados pelo chefe da instituição (art. 129, § 2º, da CF).

A atividade do Ministério Público se desenvolve tanto no processo civil quanto no processo penal. No processo penal, o Ministério Público é o órgão que formula a acusação nos crimes de ação pública e que acompanha toda ação penal, em qualquer caso, fiscalizando a correta aplicação da lei e a fiel observância das garantias do acusado.

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O Código de Processo Civil adotou a classificação tradicional quanto à atuação do Ministério Público na esfera cível, isto é, como parte ou como fiscal da lei.

Assim, quando o CPC refere a atuação do Ministério Público como parte (art. 177 do Novo CPC), quer aludir às causas em que este esteja legitimado para agir ou para contestar. O Ministério Público somente tem legitimidade para agir, seja na posição de autor, seja na posição de réu, na regra, quando expressamente autorizado em lei.

A atuação do Ministério Público como parte é de direito estrito, porque deve obedecer ao preceito do art. 18 do Novo CPC, segundo o qual ninguém pode propor ação em nome próprio sobre direito alheio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico. Assim, também o Ministério Público somente poderá propor, em benefício de alguém, as ações previstas em lei.

É a lei do direito material que define, via de regra, as hipóteses de atuação do Ministério Público como autor – a Lei de Alimentos, por exemplo, possibilita ao Ministério Público demandar em favor do menor que necessita de alimentos na hipótese do representante legal do menor deixar de fazê-lo. Como réu, o Ministério Público, além de hipóteses previstas em leis de direito material, também atua como curador à lide nos casos de réu revel, citado por edital ou hora certa, por força do art. 72 do Novo CPC.

O Ministério Público, ao exercer o direito de ação, está sujeito aos mesmos poderes e ônus que as partes. Tal disposição, porém, deve ser compreendida com algumas ressalvas, pois o Ministério Público não está sujeito, por exemplo, ao adiantamento das despesas processuais, nem à condenação nessas despesas se perder a demanda, ou ainda, à condenação em honorários de advogado. Tem, também, o privilégio de prazo em dobro para recorrer e quádruplo para contestar (art. 180 do Novo CPC).

Incumbe ao Ministério Público promover inquérito civil e ação civil pública (art. 25, inc. IV, da Lei Orgânica do Ministério Público) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e a outros direitos difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos. Cabe, também, ao

parquet promover inquérito civil e ação civil pública para a anulação ou decretação de nulidade de atos

lesivos ao patrimônio público ou à moralidade administrativa do Estado ou de Município, de suas administrações indiretas ou fundacionais ou de entidades privadas que participem.

Na qualidade de parte, o Ministério Público deve também:

- propor ação de investigação de paternidade, como substituto processual (art. 2º, § 4º, da Lei nº 8.560, de 1992);

- impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas corpus, para a defesa dos direitos sociais e individuais indisponíveis da criança e do adolescente (art. 201, inc. IV, da Lei nº 8.069, de 1990)

- ajuizar ação de responsabilidade contra os ex-administradores de entidade financeira sujeita a intervenção e liquidação extrajudicial (art. 46, parágrafo único, da Lei nº 6.024, de 1974);

- propor ação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais, em face da Constituição Estadual (art. 25, da Lei Orgânica do Ministério Público);

- promover a representação de inconstitucionalidade para efeito de intervenção do Estado nos Municípios (art. 25, inc. II, da Lei Orgânica do Ministério Público);

- ajuizar ação para responsabilizar os gestores do dinheiro público condenados por tribunais e conselhos de contas (art. 25, inc. VIII, da Lei Orgânica do Ministério Público).

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55 A atuação do Ministério Público como custos legis, por sua vez, dá-se quando o mesmo age como interveniente no processo, fiscalizando o correto cumprimento da lei. Trata-se das situações previstas no art. 178 do Novo CPC:

- nas hipóteses previstas na lei e na Constituição Federal (caput); - nos processos que envolvam interesse público ou social (inc. I); - nos processos que envolvam interesse de incapaz (inc. II);

- nos processos que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural ou urbana (inc. III).

Deve-se entender ser de natureza obrigatória a intervenção ministerial a que se refere o art. 178. O inciso I deste dispositivo não contempla intervenção facultativa, como costumam referir alguns doutrinadores, mas apenas autoriza que o órgão ministerial, em cada caso concreto, avalie a presença ou não do interesse público justificador da intervenção. Em casos controvertidos, cumpre ao juiz decidir se ocorre ou não o alegado interesse público, admitindo ou indeferindo a intervenção ministerial. Ademais, ressaltamos que o interesse público que determina a participação do Ministério Público na lide deve ser o interesse público primário (da coletividade), e não o interesse secundário (simples interesse da Fazenda Pública).

Determina-se a intervenção ministerial, ainda, em certas questões de cunho eminentemente processual, tais como nos conflitos de competência (art. 951, parágrafo único, do Novo CPC). Além disso, a lei brasileira habilita a atuação do Ministério Público como custos legis nas seguintes situações:

- ações populares (art. 6º, § 4º, da Lei nº 4.717, de 1965); - ações de alimentos (art. 9, da Lei nº 5.478, de 1968);

- procedimentos relativos a registros públicos (art. 57, art. 67, § 1º, art. 76, § 3º, art. 109, art. 200, art. 213, § 3º, todos da Lei nº 6.015, de 1973);

- ação civil pública, quando não atuar como parte (art. 5º, § 1º, da Lei nº 7.347, de 1985); - desapropriação para reforma agrária (art. 18, § 2º, da Lei Complementar nº 76, de 1993); - ações propostas no Juizado Especial, nos casos previstos em lei (art. 11, da Lei nº 9.099, de 1995);

- habeas data (art. 12, da Lei nº 9.507, de 1997);

- causas falimentares (art. 99, inc. XIII, art. 142, § 7º, art. 154, § 3º, e art. 187, todos da Lei nº 11.101, de 2001);

- ações de usucapião especial rural e urbano (art. 5º, § 5º, da Lei nº 6.969, de 1981 e art. 12, § 1º, da Lei 10.257, de 2001);

- mandado de segurança (art. 12, da Lei nº 12.016, de 2009).

O Ministério Público, nas ações em que atuar como fiscal da lei, deverá ter vista dos autos depois das partes e ser intimado de todos os atos do processo. Além disso, poderá juntar documentos e certidões, produzir prova em audiência e requerer medidas ou diligências necessárias ao descobrimento da verdade processual. De modo geral, pode o Ministério Público, no exercício de suas funções,

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manifestar-se em qualquer fase dos processos, acolhendo solicitação do juiz, da parte ou por iniciativa própria, quando entender que exista interesse em causa que justifique a sua intervenção (art. 26 da Lei Orgânica do Ministério Público).

Constituem deveres dos membros do Ministério Público, além de outros previstos em lei (art. 43, inc. I a VII e inc. XII, da Lei Orgânica do Ministério Público): manter ilibada conduta pública e particular; zelar pelo prestígio da Justiça, por suas prerrogativas e pela dignidade da sua função; indicar os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais, elaborando relatório em sua manifestação final ou recursal; obedecer aos prazos processuais; assistir aos atos judiciais, quando sua presença for obrigatória ou conveniente; desempenhar suas funções com zelo e presteza; declarar-se suspeito ou impedido, conforme estabelecido em lei; tratar com urbanidade as partes, testemunhas, funcionários e auxiliares da Justiça; e identificar-se em seus pronunciamentos funcionais. Os membros do Ministério Público poderão ser civil e regressivamente responsáveis quando agirem com dolo ou fraude no exercício de suas funções (art. 181 do Novo CPC).

Ademais, é vedado aos membros do Ministério Público exercer (art. 44, inc. I a V, da Lei Orgânica do Ministério Público): a advocacia; o comércio, ou participar de sociedade comercial, a não ser como quotista ou acionista; qualquer outra função pública, exceto uma de Magistério; e atividade político- partidária, ressalvadas as exceções previstas em lei e a filiação.

Por fim, conforme estabelece o art. 41, inc. I, III a VII, X e XI, da Lei Orgânica do Ministério Público, são prerrogativas dos seus membros: receber o mesmo tratamento jurídico e protocolar dado aos membros do Poder Judiciário junto aos quais atuem; ter vista dos autos após distribuição às Turmas ou Câmaras, bem como intervir nas sessões de julgamento, para sustentação oral ou esclarecimento de matéria de fato; ser intimado pessoalmente em qualquer processo e grau de jurisdição, por meio da entrega dos autos com vista; gozar de inviolabilidade pelas opiniões que externar ou pelo teor de suas manifestações processuais, nos limites de sua independência funcional; examinar autos de processos findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, autorizada a cópia de peças e a tomada de apontamentos; usar as vestes talares e insígnias do Ministério Público; tomar assento à direita dos juízes de primeiro grau ou do Presidente da Turma, Câmara ou Tribunal; e ingressar e transitar livremente nas salas de sessões de Tribunais (mesmo além dos limites que separam a parte reservada aos Magistrados), nas salas e dependências de audiências, secretarias, cartórios, tabelionatos, ofícios da justiça (inclusive de registros públicos), delegacias de polícia, estabelecimentos de internação coletiva e em qualquer recinto público ou privado (ressalvada a garantia constitucional de inviolabilidade de domicílio).

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