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CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, DE NÃO FAZER

193 193 há uma diferença marcante: o executado não mais precisa garantir o juízo pela penhora para poder

18.2.9. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, DE NÃO FAZER

OU DE NÃO FAZER

18.2.9.1. Cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer: O sistema de cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer é substancialmente diferente do sistema cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de pagar quantia.

Trata-se de um sistema mais aberto e flexível, mais sujeito à criatividade judicial razoável e

proporcional, sem procedimento rígido e preordenado. Esse cumprimento pode ser iniciado de ofício,

sem depender de requerimento do exequente, a não ser que se trate de cumprimento provisório. Para efetivar a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, o juiz pode determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente. São as medidas executivas atípicas, exemplificativamente catalogadas no § 1.º do artigo em comento, em consonância com o poder geral de efetivação da tutela jurisdicional, outorgado aos juízes pelo art. 139, IV, do CPC/2015. Sem prejuízo delas, o executado que injustificadamente descumprir a ordem judicial incidirá nas penas de litigância de má-fé (cf. art. 81 do CPC/2015) e responderá pelo crime de desobediência (art. 526, § 3.º). A multa coercitiva (astreintes), regrada pelo art. 537, afigura-se como apenas uma dessas medidas necessárias, não gozando de qualquer primazia ou preferência nesse sistema de cumprimento de sentenças.

A defesa do executado, nesse sistema, passa a ser realizada por impugnação, regrada pelo art. 525 do CPC/2015. Assim, intimado o executado para cumprir a ordem de fazer ou de não fazer, e em não ocorrendo o cumprimento no prazo determinado, automaticamente abrirá o prazo de 15 (quinze) dias úteis para a apresentação da impugnação, sem efeito suspensivo, com cognição parcial. De qualquer forma, poderá o executado, nos termos do art. 518 do CPC/2015, arguir, nos próprios autos, todas as questões relativas à validade do procedimento de cumprimento da sentença e dos atos executivos subsequentes.

Esse sistema de cumprimento de sentença aplica-se tanto aos deveres de fazer ou de não fazer decorrentes de vínculo obrigacional, quanto de vínculo legal, não obrigacional.

O que era regrado pelo art. 461 do CPC1973 passa a sê-lo no art. 536 do CPC2015:

Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente. § 1.º Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre outras medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força policial.

§ 2.º O mandado de busca e apreensão de pessoas e coisas será cumprido por 2 (dois) oficiais de justiça, observando-se o disposto no art. 846, §§ 1º a 4º, se houver necessidade de arrombamento.

§ 3.º O executado incidirá nas penas de litigância de má-fé quando injustificada- mente descumprir a ordem judicial, sem prejuízo de sua responsabilização por crime de desobediência.

§ 4.º No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, aplica-se o art. 525, no que couber.

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§ 5.º O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao cumprimento de sentença que reconheça deveres de fazer e de não fazer de natureza não obrigacional.

18.2.9.2. Astreinte (multa coercitiva): A multa coercitiva ou astreinte constitui uma das medidas necessárias que podem ser aplicadas pelo juiz para a efetivação da tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente. Essa multa processual tem caráter exclusivamente coercitivo e não se confunde com a indenização devida ao exequente pelo descumprimento da ordem. Não tem primazia, nem preferência no sistema de cumprimento de sentenças que reconheçam os deveres de fazer ou não fazer. É uma alternativa para o juiz, na definição da melhor medida para garantir a autoridade da decisão judicial. É aplicável na fase de conhecimento de qualquer processo, seja qualquer for o procedimento previsto, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução.

A aplicação da multa não depende de requerimento da parte porque é mecanismo para prestigiar a autoridade da decisão judicial. Em função do seu caráter coercitivo, não tem valor máximo, nem mínimo, nem está adstrita ao valor da causa. Deve ser fixada em valor suficientemente alto para coagir o executado a cumprir a ordem em prazo razoável. Na verdade, essa multa não foi projetada para ser cobrada, pois sua finalidade não é gerar enriquecimento, mas inibir o comportamento contrário à ordem judicial. Pelas mesmas razões, o juiz poderá de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva ou que o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou justa causa para o descumprimento.

Infelizmente, o CPC2015 perdeu a chance de avançar nesse particular, modificando a destinação do valor eventualmente arrecadado a título de astreintes. Ao decidir destinar todo o valor da multa para o exequente, mantém o mesmo problema cotidianamente vivenciado na experiência forense: os juízes não fixam o valor da multa em patamares suficientemente altos para coagir, por receio de enriquecimento desproporcional do exequente. Melhor era ter seguido a solução pragmática do anteprojeto ou do projeto inicial do Senado: destinar ao exequente apenas a parte do valor arrecadado que correspondesse ao seu crédito reconhecido nos autos, lançando o restante para o Estado ou a União; e na hipótese do devedor da multa ser o próprio Estado ou a União, remetendo o que sobejar ao crédito do exequente para uma entidade, pública ou privada, com finalidade social.

Melhor será investir na multa atípica, prevista no art. 536, § 1.º, que pode ser moldada criativamente pelo juiz, inclusive quanto à destinação do seu valor, sem limitações antipragmáticas no artigo em comento.

De qualquer forma, a multa será devida desde o dia em que se configurar o descumprimento da decisão e incidirá enquanto não for cumprida a decisão que a tiver cominado. A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser depositada em juízo, permitido o levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença favorável à parte ou na pendência do agravo fundado nos incs. II ou III do art. 1.042. Caso o depósito não seja realizado, compete ao juiz, pelos meios disponíveis, inclusive pelo sistema eletrônico Bacenjud, arrecadar o valor, mantendo-o em depósito. A destinação do valor arrecadado somente se dará após o trânsito em julgado da sentença.

A multa aplica-se tanto aos deveres de fazer ou de não fazer decorrentes de vínculo obrigacional, quanto de vínculo legal, não obrigacional. O artigo em comento trata de uma das medidas necessárias que podem ser aplicadas pelo juiz para a efetivação da tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente: a multa coercitiva ou astreinte. Essa multa processual tem caráter exclusivamente coercitivo e não se confunde com a indenização devida ao exequente pelo descumprimento da ordem. Não tem primazia, nem preferência no sistema de cumprimento de sentenças que reconheçam os deveres de fazer ou não fazer. É uma alternativa para o juiz, na definição da melhor medida para garantir

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a autoridade da decisão judicial. É aplicável na fase de conhecimento de qualquer processo, seja qualquer for o procedimento previsto, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução.

A aplicação da multa não depende de requerimento da parte porque é mecanismo para prestigiar a autoridade da decisão judicial. Em função do seu caráter coercitivo, não tem valor máximo, nem mínimo, nem está adstrita ao valor da causa. Deve ser fixada em valor suficientemente alto para coagir o executado a cumprir a ordem em prazo razoável. Na verdade, essa multa não foi projetada para ser cobrada, pois sua finalidade não é gerar enriquecimento, mas inibir o comportamento contrário à ordem judicial. Pelas mesmas razões, o juiz poderá de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva ou que o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou justa causa para o descumprimento.

Infelizmente, o novo Código aprovado perdeu a chance de avançar nesse particular, modificando a destinação do valor eventualmente arrecadado a título de astreintes. Ao decidir destinar todo o valor da multa para o exequente, mantém o mesmo problema cotidianamente vivenciado na experiência forense: os juízes não fixam o valor da multa em patamares suficientemente altos para coagir, por receio de enriquecimento desproporcional do exequente. Melhor era ter seguido a solução pragmática do anteprojeto ou do projeto inicial do Senado: destinar ao exequente apenas a parte do valor arrecadado que correspondesse ao seu crédito reconhecido nos autos, lançando o restante para o Estado ou a União; e na hipótese do devedor da multa ser o próprio Estado ou a União, remetendo o que sobejar ao crédito do exequente para uma entidade, pública ou privada, com finalidade social.

Melhor será investir na multa atípica, prevista no art. 536, § 1.º, que pode ser moldada criativamente pelo juiz, inclusive quanto à destinação do seu valor, sem limitações antipragmáticas no artigo em comento.

De qualquer forma, a multa será devida desde o dia em que se configurar o descumprimento da decisão e incidirá enquanto não for cumprida a decisão que a tiver cominado. A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser depositada em juízo, permitido o levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença favorável à parte ou na pendência do agravo fundado nos incs. II ou III do art. 1.042. Caso o depósito não seja realizado, compete ao juiz, pelos meios disponíveis, inclusive pelo sistema eletrônico Bacenjud, arrecadar o valor, mantendo-o em depósito. A destinação do valor arrecadado somente se dará após o trânsito em julgado da sentença.

A multa aplica-se tanto aos deveres de fazer ou de não fazer decorrentes de vínculo obrigacional, quanto de vínculo legal, não obrigacional.

Confira-se:

Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada na fase de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução, desde que seja suficiente e compatível com a obrigação e que se determine prazo razoável para cumprimento do preceito.

§ 1.º O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que:

I – se tornou insuficiente ou excessiva;

II – o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou jus- ta causa para o descumprimento.

§ 2.º O valor da multa será devido ao exequente.

§ 3.º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser depositada em juízo, permitido o levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença favorável à parte ou na pendência do agravo fundado nos incisos II ou III do art. 1.042.

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decisão e incidirá enquanto não for cumprida a decisão que a tiver cominado. § 5º O disposto neste artigo aplica-se, no que couber ao cumprimento de sentença que reconheça deveres de fazer e de não fazer de natureza não obrigacional.

18.2.9.3. Cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de entregar coisa:O sistema de cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de entregar coisa tem as mesmas características do sistema de cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer. Mas pelas peculiaridades desse sistema, privilegia-se a expedição de mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse em favor do credor, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel, mas sem prejuízo de outras medidas executivas atípicas que se apresentem como necessárias.

Eventuais direitos de indenização ou de retenção por benfeitorias devem ser alegados em contestação da fase de conhecimento, sob pena de preclusão.

Eis o artigo respectivo:

Art. 538. Não cumprida a obrigação de entregar coisa no prazo estabelecido na sentença, será expedido mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse em favor do credor, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel.

§ 1.º A existência de benfeitorias deve ser alegada na fase de conhecimento, em contestação, de forma discriminada e com atribuição, sempre que possível e justificadamente, do respectivo valor.

§ 2.º O direito de retenção por benfeitorias deve ser exercido na contestação, na fase de conhecimento.

§ 3.º Aplicam-se ao procedimento previsto neste artigo, no que couberem, as disposições sobre o cumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer.

18.2.10. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A

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