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7.4 CHAMAMENTO AO PROCESSO

11.3 EXTINÇÃO DO PROCESSO

Antes da alteração do CPC pela Lei n.º 11.232/05, o Código de Processo Civil de 1973 (nos arts. 267, caput, e 269, caput) previa duas formas de encerramento da fase processual de conhecimento, assim nominadas: a) “extinção do processo sem julgamento do mérito”; e b) “extinção do processo com

julgamento do mérito”.

No entanto, no art. 269 do CPC de 1973, havia casos em que se resolve o mérito, mas este não é julgado (ex.: renúncia ao direito sobre o qual se funda a ação, transação, reconhecimento do pedido pelo réu), havendo apenas sentença homologatória do juiz. Por conseguinte, a denominação “julgamento de mérito” estava incorreta.

Além disso, não havia propriamente “extinção do processo”, haja vista que o processo continuava a tramitar, na fase recursal.

Com a criação do sincretismo processual entre a fase de conhecimento e a fase de execução, a sentença também não gerava mais a extinção do processo, mesmo se não houvesse recurso, haja vista que a fase de cumprimento de sentença continuaria no mesmo processo.

Assim, passou a não ser mais correto dizer que, nos casos de resolução do mérito (art. 269, CPC/73), haveria extinção do processo. Aliás, foi isso que motivou a Lei n.º 11.232/2005 a alterar o caput do art. 269 do CPC/73 para prever apenas que “Haverá resolução de mérito”.

Com o advento do Novo CPC, o art. 267 do CPC/73 teve sua equivalência no novo art. 485, em que se determinam as hipóteses em que o juiz não resolverá o mérito. Nesse caso, ocorre apenas coisa julgada formal, podendo a demanda ser novamente proposta, corrigindo-se eventuais vícios do primeiro processo, porque não há coisa julgada material.

De outro lado, no caso de a sentença resolver o mérito, em que se aplicava o art. 269 do CPC/73, tem agora como abrigo legal o art. 487 do Novo CPC, havendo coisa julgada formal e material, de modo que o seu conteúdo se torna indiscutível e imutável.

11.3.1 EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO

São hipóteses em que há extinção do processo sem resolução do mérito quando o juiz:

I – indeferir a petição inicial;

Os casos de indeferimento da petição inicial estão previstos no art. 330 do Novo CPC. São eles: I - quando for inepta;

II - quando a parte for manifestamente ilegítima; III - quando o autor carecer de interesse processual; IV - quando não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321.

Na grande maioria das hipóteses, o indeferimento da petição inicial implicará a extinção do processo sem resolução do mérito, conforme previsto no art. 485, inc. I, do Novo CPC.

No entanto, quando o juiz indeferir a petição inicial por reconhecer a prescrição ou a decadência, estará resolvendo o mérito, na forma do art. 487, inc. II, do Novo CPC.

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77 II – o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;

III – por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;

VIII – homologar a desistência da ação;

Os incisos II e III do art. 485 do Novo CPC preveem hipóteses de abandono bilateral e unilateral do processo, respectivamente. O inciso VIII trata do caso de desistência da ação.

Como já foi referido, o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial. Assim, somente haverá abandono do processo quando uma ou ambas as partes não tomarem as providências determinadas pelo juiz, sem as quais o processo não pode prosseguir.

O inc. II (processo ficar parado por mais de um ano por negligência das partes) trata da hipótese de abandono bilateral. Tanto autor como réu não providenciam as diligências determinadas pelo juiz. O inc. III, por sua vez, prevê o caso de abandono unilateral pelo autor.

Assim, em ambos os casos, a parte será intimada pessoalmente para suprir a falta no prazo de 5 (cinco) dias, de acordo com o § 1º do art. 485 do Novo CPC.

A desistência da ação pelo autor é causa de extinção do processo sem resolução do mérito (inc. VIII). Trata-se da hipótese em que o autor desiste da ação proposta, mas não do direito material invocado. No caso de renúncia ao direito material sobre o qual se funda a ação, será caso de resolução do mérito (art. 487, inc. III, alínea “c”, do Novo CPC).

Entretanto, o § 4º do art. 485 prevê que “oferecida a contestação, o autor não poderá, sem o

consentimento do réu, desistir da ação.” Vale dizer, após o prazo de contestação, caso o autor desista da

ação, o juiz deverá intimar o réu para dizer se concorda com o pedido de desistência. Caso o réu não concorde, o juiz deverá dar prosseguimento ao feito mesmo com a desistência do réu.

Tal exigência legal para a desistência (necessidade de concordância do réu) tem fundamento no interesse que o réu pode ter em buscar uma sentença de improcedência, que equivale a uma ação declaratória negativa do direito do autor, fazendo coisa julgada material.

No entanto, o Novo CPC somente previu expressamente a necessidade de concordância do réu para a extinção do processo em razão da desistência, não havendo idêntica previsão em relação à hipótese de abandono.

Assim, por uma interpretação literal, caso o autor pretendesse desistir da ação, bastaria não movimentar o processo por mais de 30 dias, com o que não precisaria da concordância do réu. Todavia, ao dar uma interpretação sistemática, a jurisprudência pacificou o entendimento de que o abandono do processo pelo autor equivale a uma desistência indireta, razão pela qual, mesmo diante do abandono, é preciso ouvir o réu sobre a extinção do processo.

Nesse sentido, foi editada a Súmula 240 do STJ, a qual prevê que “a extinção do processo, por

abandono da causa pelo autor, depende de requerimento do réu.”

De outro lado, não se pode confundir os efeitos da desistência da ação com os da desistência do recurso, pois permite-se ao recorrente desistir do recurso sem concordância do recorrido.

IV – verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;

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É imprescindível que o juiz, antes de extinguir o processo sem julgamento de mérito, caso se trate de vício sanável, verifique a possibilidade de convalidá-lo. Assim, somente deve extinguir o processo caso o vício seja insanável ou a parte não tome as providências necessárias para saná-lo.

Por exemplo, no caso de ausência de representação, assistência ou de procuração outorgada ao advogado, o juiz deve intimar a parte para que promova a regularização processual. Assim, somente se não for possível a regularização, ou, sendo possível, não for realizada pela parte, o juiz deverá extinguir o processo sem resolução do mérito, na forma do art. 485, inc. IV, do Novo CPC, por ausência de pressuposto processual.

V – reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada;

A litispendência ocorre quando é proposta uma demanda enquanto outra demanda idêntica já estava tramitando. Além disso, somente há litispendência quando todos os elementos da demanda são idênticos, quais sejam, partes, causa de pedir e pedido.

A perempção ocorre quando o autor deu causa à extinção do processo por abandono da causa por três vezes. Na quarta vez, a ação estará perempta, e o processo deverá ser extinto sem resolução de mérito.

A coisa julgada material ocorre quando a demanda já foi julgada em seu mérito, tendo ocorrido o seu trânsito em julgado.

Assim, ocorrendo a perempção, a litispendência ou a coisa julgada, será caso de extinção do processo sem resolução do mérito.

VI – verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;

Esse tema já foi tratado anteriormente, no item Ação.

VII – acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência;

A convenção de arbitragem tanto pode ser estabelecida por cláusula compromissória como por compromisso arbitral.

A cláusula compromissória é inserida num contrato, ficando estipulado pelas partes que eventuais controvérsias dele decorrentes serão resolvidas pela arbitragem.

No compromisso arbitral, as partes livremente pactuam que um determinado conflito já existente entre elas será resolvido pela arbitragem.

No entanto, o juiz somente poderá conhecer da convenção de arbitragem e extinguir o processo sem resolução de mérito se a parte a alegar (art. 337, § 5º, do Novo CPC). Isto é, a convenção de arbitragem, ao lado da incompetência relativa, são as únicas preliminares de contestação prevista no art. 337 do Novo CPC que o juiz não pode conhecer de ofício.

VIII – homologar a desistência da ação

Tal hipótese legal foi tratada acima, conjuntamente com abandono do processo (incisos II e III do art. 485 do Novo CPC).

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79 IX – em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal;

Embora o dispositivo fale em “ação considerada intransmissível”, em verdade, o que é intransmissível é o direito material.

A intransmissibilidade pode ser absoluta ou relativa. É absoluta a intransmissibilidade quando somente puder ser exercida pelos titulares do direito. Por exemplo, no caso de ação de divórcio, caso um dos consortes faleça, não poderão os seus herdeiros continuar na ação contra o outro consorte. É relativa a intransmissibilidade quando esta sofre temperamentos, ou seja, quando há a possibilidade, em determinados casos, de o direito alegado pela parte ser transmitido aos seus sucessores, de modo que a morte não implica a imediata extinção do processo. É o caso, por exemplo, da ação investigatória de paternidade, que passa do filho para os seus herdeiros, quando ele falecer enquanto menor ou incapaz (art. 1.606, caput, CC). 32

X – nos demais casos prescritos neste Código

O próprio Código de Processo Civil prevê outras hipóteses de extinção do processo sem resolução do mérito. É o caso, por exemplo, do art. 115, parágrafo único, do Novo CPC, que comina tal penalidade quando o autor não promove a citação de litisconsorte necessário. Outra hipótese é a estabelecida no art. 313, § 3º, do Novo CPC, que impõe a extinção do processo sem resolução do mérito quando o advogado do autor da ação falece e este (o autor) não constitui novo mandatário no prazo de 15 dias.

11.3.2 EXTINÇÃO DA FASE DE CONHECIMENTO COM

RESOLUÇÃO DO MÉRITO

É o término normal do módulo processual de conhecimento.

As hipóteses de extinção da fase de conhecimento com resolução do mérito estão previstas no art. 487 do Novo CPC. São elas:

I – quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção

O acolhimento é o julgamento de procedência do pedido do autor; a rejeição do pedido é o julgamento de improcedência.

Tecnicamente, é incorreto falar de improcedência da ação. Como se viu, o direito de ação existe mesmo que não exista o direito material invocado, vale dizer, mesmo que haja uma sentença de improcedência. Assim, como o direito de ação é autônomo em relação ao direito material, a procedência ou a improcedência é do pedido, e não da ação.

II – quando o juiz decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição

Cumpre fazer a distinção entre prescrição e a decadência. Para tanto, é necessário diferenciar direito subjetivo de direito postestativo.

32 MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO, Daniel. Código de Processo Civil: comentado artigo por artigo. 4. ed. São Paulo : Revista dos

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Ao direito subjetivo corresponde uma obrigação. Por exemplo, ao direito de crédito do credor, corresponde a obrigação de pagar o débito do devedor. Caso o débito não seja pago no dia estipulado, haverá violação do direito subjetivo.

Quando um direito subjetivo é violado, nasce para o seu titular uma pretensão, que corresponde ao direito de exigir que a outra parte cumpra a sua obrigação.

Assim, observa-se que a pretensão não surge com o direito, mas num momento futuro em razão do descumprimento da obrigação a que corresponde o direito.

Na prescrição, o que se extingue é a pretensão, ou seja, o direito de exigir que a outra parte cumpra a sua obrigação. Assim, transcorrido o prazo prescricional, o credor não mais poderá exigir que o devedor cumpra a sua obrigação. No entanto, caso o devedor a cumpra espontaneamente, não poderá posteriormente pedir repetição de indébito, pois o que se extinguiu não foi o direito subjetivo, senão apenas a pretensão.

O direito potestativo é o poder de intervir na esfera jurídica de outrem sem que este nada possa fazer. Ao direito potestativo, não corresponde uma obrigação, mas uma sujeição.

Por exemplo, qualquer dos contratantes possui o direito potestativo de pedir a anulação de um ato jurídico inquinado de vício de anulabilidade. Caso seja provado o vício, o outro contratante ficará sujeito à invalidação do contrato.

O mesmo ocorre com o direito potestativo de revogação do mandato. Caso o mandante revogue o mandato, o mandatário nada poderá fazer.

Na ação de divórcio, caso um dos cônjuges queira pedir o divórcio, estando presentes os requisitos, a posição do outro cônjuge é apenas de sujeição à vontade do primeiro.

O direito potestativo fica sujeito a um prazo decadencial.

Na decadência, há a perda do próprio direito potestativo pelo decurso de tempo. Assim, o prazo decadencial nasce junto com o direito potestativo.

O prazo prescricional não nasce com o direito subjetivo, mas com a pretensão.

A Lei n.º 11.280/06 passou a reconhecer a possibilidade de reconhecimento de ofício da prescrição.

III – quando o juiz homologar o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção

Neste caso, há ato dispositivo unilateral do réu. Se o réu reconhece o pedido do autor, existe autocomposição. Então, não cabe mais ao juiz julgar o pedido, mas apenas resolver o mérito homologando o reconhecimento do pedido.

Com efeito, quando o juiz homologa a vontade das partes, não há julgamento, que é ato de imposição, mas apenas resolução do mérito.

IV – quando o juiz homologar a transação

A transação também é uma forma de autocomposição. No entanto, na transação, há concessões recíprocas.

Havendo transação, será caso de homologação, com resolução do mérito.

Na transação ocorrida na audiência judicial, as partes podem inclusive incluir, como objeto do acordo, outras questões que não estavam previstas na petição inicial, desde que envolvam as partes

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81 presentes na audiência. No entanto, será sempre preciso verificar a competência do juízo para homologar tal acordo.

V - quando o juiz homologar a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção

Trata-se de ato de disposição do direito material pelo autor da ação. Neste caso, o autor não poderá mais exigir o direito nesta nem noutra ação.

Não se confunde com desistência da ação, que é modalidade de extinção do processo sem resolução do mérito.

Havendo renúncia ao direito sobre o qual se funda a ação, o juiz deverá homologar por sentença tal renúncia, pois é forma de autocomposição. O juiz não julga o mérito, mas homologa a autocomposição, resolvendo o mérito.

Como há resolução do mérito, transitada em julgado a sentença, há coisa julgada material.

O procedimento comum será objeto de estudo nos itens seguintes, percorrendo-se cada etapa desse procedimento. No entanto, a fim de elucidar o seu encadeamento lógico, apresenta-se um organograma com os seus atos processuais:

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