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A avaliação interna numa perspetiva de desenvolvimento da autonomia das escolas e

Parte I – Enquadramento teórico, político e normativo

7. Desenvolvimento da autonomia e avaliação das escolas

7.7. A avaliação interna numa perspetiva de desenvolvimento da autonomia das escolas e

Da análise que temos vindo a efetuar aos modelos de avaliação da qualidade da educação na perspetiva do serviço prestado pela escola pública, ressalta a necessidade do estabelecimento de critérios e indicadores, de acordo com as aspirações não só do

que se deseja que sejam os objetivos do sistema educativo, mas também da forma como os diferentes protagonistas envolvidos veem as suas necessidades, expectativas e aspirações.

Num contexto em que os diferentes protagonistas da comunidade educativa local (os alunos, os pais e encarregados de educação, os professores, as autarquias, as empresas e outras instituições) tenham a organização escolar como seu interlocutor ou mediador privilegiado, a escola poderá surgir como instrumento para cada um deles atingir as suas metas, confundindo-se então os objetivos dos protagonistas com as metas da própria organização, tal como nos refere Abreu (2002):

o sistema escolar não se justifica a si mesmo, isto é, não tem em si mesmo a sua razão de ser. É, por isso, uma instituição cultural que se justifica em função das necessidades de desenvolvimento das pessoas, grupos e organizações e das metas que neste sentido são formuladas (p. 203).

Será então em função destas metas que a organização vai desenvolver todas as suas atividades, naturalmente de acordo com as motivações dos seus intervenientes, numa complexa teia de relações que acabam por se estabelecer. Estas relações de interesse poderão funcionar como ponto de partida para uma avaliação, primeiro da organização educativa local e depois do próprio sistema educativo.

Partindo dos dados da prática pedagógica desenvolvida e dos seus indicadores de funcionamento, será possível identificar onde se situam os pontos fortes da organização bem como onde se situam os disfuncionamentos e onde têm origem as faltas de qualidade, o que constitui um factor importante a ter em conta na avaliação da qualidade (ibidem).

De acordo com os pressupostos referidos, a avaliação da qualidade de funcionamento do serviço educativo prestado pela organização pode ser efetuado por agentes externos, que naturalmente, baseados num determinado referencial fornecerão os pontos fortes assim como os disfuncionamentos, permitindo que esta evolua e desenvolva o seu PE.

Coloca-se-nos contudo a questão de sabermos se partindo dos pressupostos anteriores também é possível que, além desta avaliação externa, a organização educativa possa efetuar a sua autoavaliação, com igual fiabilidade e rigor. Como ponto de partida, parece-nos que sim, desde que a organização educativa esteja consciente de quais são as suas metas, assim como os seus protagonistas, e enquanto atores intervenientes estejam conscientes das suas necessidades, aspirações e expectativas.

A partir daqui colocar a autoavaliação a desenvolver-se parece-nos que será mais uma questão de preparação da própria escola para a execução de tal tarefa.

As inspeções educativas ao nível europeu, através da SICI, sentiram esta mesma necessidade de procurar ter a perceção de até que ponto as organizações escolares seriam capazes de realizar com eficácia esta autoavaliação26. A Inspeção Geral de Educação, no âmbito das suas atribuições e dando continuidade às suas alterações funcionais e de modelo organizativo, participou neste projeto.

Deste projeto parece-nos ser importante destacar alguns dos seus principais objetivos que passaram por:

. identificar os principais indicadores para a avaliação da qualidade e eficácia dos procedimentos de auto-avaliação nas escolas;

. desenvolver uma metodologia para a inspecção da auto-avaliação (…); .identificar (…) pontos fortes e fracos na auto-avaliação das escolas;

. produzir uma análise sobre o modo como auto-avaliação e avaliação externa se relacionam (…);

. (…) (IGE, 2001, p. 3).

Como resultado do desenvolvimento deste projeto não terão ficado muitas dúvidas, não só relativamente à importância da autoavaliação mas também à necessidade de promover um forte apoio externo às organizações escolares no sentido de estas desenvolverem a sua autoavaliação. Neste apoio externo à autoavaliação, não deixou de ser perspetivado o contributo que pode ser dado pela avaliação externa enquanto forte componente de apoio ao desenvolvimento da autoavaliação.

Perspetivando-se que a avaliação interna das escolas não é um objetivo em si mesmo, a SICI (2007) apresenta uma definição de autoavaliação que se baseia em Van Petegem (1998), considerando-a como uma síntese da generalidade das perspetivas a nível internacional, referindo que a:

Auto-avaliação é um processo empreendido pela escola, no qual os professores, sistematicamente, recolhem e analisam os dados, incluindo informação sobre as percepções e opiniões dos diferentes actores. Este processo é utilizado para avaliar diferentes aspectos do desempenho da escola, tendo como referência os critérios estabelecidos. Deverá produzir resultados que ajudem, efectivamente, as escolas a definir objectivos para o seu planeamento ou para quaisquer iniciativas, com vista a um melhor desempenho (p. 5).

Face ao exposto, coloca-se ainda uma outra vertente, a de que a sua efetivação produza resultados e envolva os atores intervenientes na definição não só dos objetivos

26 O Projecto ESSE – Effective School Self-Evaluation desenvolvido pela SICI entre Abril de 2001 e Março de 2003, suportava-se num quadro conceptual que foi desenvolvido para a avaliação da eficácia da avaliação interna, onde se incluíam indicadores de qualidade.

futuros mas também de estratégias com vista a um melhor desempenho. Esta perspetiva vem ao encontro do que é sugerido por outros estudos (MacBeath et al,1999)27, onde claramente se refere que a autoavaliação deve funcionar antes de mais como uma ferramenta que será utilizada pelas escolas em função do seu impacto e eficácia no aperfeiçoamento do seu funcionamento, em aspetos significativos para a vida da organização.

Entende-se então que para a autoavaliação ter sentido no âmbito da organização escolar deverá funcionar numa atitude de autoquestionamento, tal como uma ferramenta de aperfeiçoamento e mudança da ação. Tal como referem Vanhoof e Van Petegem (2005), as escolas que empreendem a autoavaliação fazem-no porque sentem necessidade de informação apropriada. Assim, poderão utilizar esta informação avaliando a forma como estão a dar resposta às necessidades dos seus alunos. Nesta base, ficam munidos da avaliação da suas próprias performances, podendo ainda tomar decisões sobre que ações e inovações empreender. Associa-se desta forma a efetividade e o sucesso da autoavaliação aos efeitos que esta pode vir a produzir na organização, após a sua realização.

Parece-nos ser neste ponto que a avaliação externa pode, em certa medida, desempenhar um papel profícuo no desenvolvimento da autoavaliação, uma vez que, embora planeada e executada numa perspetiva de prestação de contas, pode fornecer às escolas informação sobre os seus pontos fortes e pontos fracos, além de disponibilizar dados comparativos, constituindo-se como um apoio para que a escola possa redefinir, ou não, percursos para alcançar os seus objetivos.

Numa perspetiva de aprofundamento da descentralização e desenvolvimento da autonomia das escolas, de que os CA podem ser uma vertente, a autoavaliação é assumida como característica intrínseca às escolas eficazes e à prática profissional, uma vez que é implicadora da discussão entre os seus atores e ao mesmo tempo incide também sobre o contributo que cada um deu para o desenvolvimento do PE e para os processos desenvolvidos, seja em sala de aula, na escola, ou mesmo a um nível mais amplo da comunidade educativa local ou mesmo nacional. Numa vertente mais política e abrangente, a autoavaliação poderá funcionar como mecanismo que permitirá às escolas alavancarem para a melhoria da sua qualidade, ajudando-as a controlar o seu

27 No âmbito do Projecto Evaluating quality in school education, desenvolvido pela Comunidade Europeia.

progresso e a prestar contas, com precisão aos seus actores externos – pais e comunidade mais vasta (SICI, 2007, p. 7).

Teremos então uma autoavaliação que é vista como mais um contributo para o debate sobre a qualidade educativa que, naturalmente, envolverá as diferentes componentes e áreas da organização e implicará todos os seus atores, mais internos ou mais externos. No que diz respeito aos atores mais internos, naturalmente que os professores têm um papel preponderante no desenvolvimento da organização escolar. Quando a prestação de contas se desenvolve dentro da escola, naturalmente que este grupo de atores tem um papel acrescido, nomeadamente porque sendo o principal corpo profissional, das suas práticas resultará, em grande medida, o atingir ou não dos objetivos e metas traçados pela organização educativa, ainda que nem sempre de forma totalmente linear. Assim, a prestação de contas por este grupo profissional, no âmbito da autoavaliação, deverá incluir, entre outras componentes, a capacidade de efetuar avaliação das suas práticas em ambiente de sala de aula.

Parece-nos que apenas desenvolvendo esta capacidade de autoavaliação o professor será capaz de, além de saber fazer escolhas de metodologias, decidir face às suas experiências e conseguir demonstrar quais as aprendizagens que se realizaram ou não pelos alunos. Pelo que se constata:

À medida que os professores desenvolvem a capacidade de prestar contas das suas práticas, desenvolve-se na escola um conhecimento mais aprofundado sobre o progresso e desempenho dos alunos e, por fim, sobre a própria escola. Este processo ajudará a modelar, sustentar e fortalecer a compreensão profissional e pública, do que é essencial na escolaridade, no ensino e na aprendizagem (SICI, 2007, p. 8).

Este prestar de contas de carácter interno estará naturalmente a envolver os diferentes grupos de atores, para que não se responsabilize um dos grupos, seja pelo sucesso, seja pelos fracassos, mas que envolva e responsabilize todos, desde alunos, pais, gestores escolares, autarquias, associações e empresas, de forma que os procedimentos sejam claros, discutíveis, aceitáveis e conduzam a mudanças que tragam melhorias na organização escolar.

Conforme referem alguns investigadores, (Macbeath, 2000 e Van Petegem, 1997, citados pela SICI, 2007), é fundamental a existência de uma relação muito próxima, que temos vindo a defender, entre a avaliação externa e a autoavaliação. Esta relação passaria por diferentes dimensões, desde o contínuo avaliação interna-externa, até à dimensão pressão-apoio e à dimensão topo-base/base topo. Encontrar o ponto de equilíbrio, frágil nestas dimensões que se podem estabelecer, é, por assim dizer, o

desafio para encontrar a forma de avaliar a qualidade educativa enquanto promotora do desenvolvimento de capacidades. Assim, se as iniciativas do topo precisam de resposta da base, também as da base precisam de resposta do topo. Tal como as expectativas externas devem corresponder a necessidades internas, também a pressão não funciona sem apoio, daí ser difícil e frágil o tal equilíbrio que se procura, na busca de uma escola mais autónoma.

Parte II – Estudo empírico de avaliação dos efeitos e resultados do

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