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Enquadramento legal do projeto educativo enquanto suporte da autonomia das escolas

Parte I – Enquadramento teórico, político e normativo

6. O Projeto Educativo e a contratualização da autonomia

6.3. Enquadramento legal do projeto educativo enquanto suporte da autonomia das escolas

Se anteriormente fizemos referência à evolução e enquadramento do PE enquanto instrumento fundamental de concretização da autonomia, parece-nos também fundamental, para abordar a construção do PE da escola, fazer, previamente, uma abordagem à perspetiva legal da sua conceção e aprovação.

No âmbito deste trabalho é para nós marco fundamental o Decreto-Lei n.º 115- A/98, de 4 de maio17, uma vez que foi através deste Normativo que, pela primeira vez, se instituiu a figura dos contratos de autonomia, a que foi dada continuidade com o Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de abril18, sem terem sido efetuadas alterações de muito significado, no que às temáticas em estudo diz respeito. Assim, neste enquadramento legal para a elaboração e aprovação do PE, teremos em conta o previsto no primeiro dos dois diplomas referidos, fazendo referência quando for de forma diversa.

Parece-nos importante uma nova referência ao preâmbulo uma vez que é neste que se concretiza o estreito relacionamento entre a elaboração de um PE próprio e a concretização da autonomia, afirmando-se:

17 Este Normativo foi alterado pela Lei n.º 24/99, de 22 de abril, sem desvirtuar o conteúdo do Diploma inicial, mas trazendo alguma relevância nos temas e conceitos em estudo, uma vez que, neste domínio, a responsabilidade de elaboração do PE, antes atribuída ao Diretor ou ao Conselho Executivo, passa a ser confiada ao Conselho Pedagógico. Sendo uma alteração introduzida pela Assembleia da República, poderá querer significar um alargamento do número de atores educativos na construção do PE que iremos abordar mais adiante.

18 Este DL vem a ser sucessivamente alterado, primeiro, pelo DL n.º 224/2009, de 11 de setembro e depois pelo DL n.º 137/2012, de 2 de julho que procede à segunda alteração. Como mantêm o espírito dos normativos anteriores no que ao regime de autonomia das escolas ou agrupamentos de escolas diz respeito, continuamos a orientar a nosso trabalho na base dos pressupostos expressos antes da sua publicação.

A escola, enquanto centro das políticas educativas, tem, assim, de construir a sua autonomia a partir da comunidade em que se insere, dos seus problemas e potencialidades, contando com uma nova atitude da administração central, regional e local, que possibilite uma melhor resposta aos desafios da mudança.

Assume-se e reconhece-se, assim, pelo menos na letra da Lei, que as escolas ou agrupamentos de escolas, em condições determinadas, podem gerir melhor os recursos disponíveis, de acordo com o seu PE.

Neste novo regime de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos de educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário, o PE surge referido como uma das bases da afirmação da autonomia da escola, uma vez que, ao proceder à sua definição, no Artigo 3.º, se considera este como o documento que consagra a orientação educativa da escola.

Logo, de acordo com este novo ordenamento jurídico, o PE enquanto documento base de orientação da escola deverá revelar-se plural e coerente com as aspirações da comunidade educativa local, uma vez que intervém na sua conceção ou aprovação os três órgãos de maior importância, respetivamente, Assembleia de Escola, Direção Executiva e Conselho Pedagógico19. A Assembleia de Escola inclui na sua composição diversos representantes de interesses locais.

Assim, o quadro de competências na definição do PE da escola fica com uma distribuição relativamente alargada, competindo a aprovação à Assembleia de Escola, nos termos do Artigo 10.º, a elaboração ao Conselho Pedagógico, nos termos do Artigo 26.º, enquanto a Direção Executiva funciona como intermediário neste processo, dado que é responsabilidade desta submeter o documento à aprovação.

Se já se referiu que através do PE se reconhece à escola o poder para tomar decisões em diferentes domínios, em função de competências e meios consignados, importa também referir que o RI e o plano de atividades também se constituem como instrumentos de autonomia das escolas, nos termos do Artigo 3.º do Diploma em referência. Convém também referir que o Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de abril, considera também, no seu Artigo 9.º, como instrumento de autonomia, o orçamento, definido como documento em que se prevêem de forma discriminada, as receitas a obter e as despesas a realizar, pela escola ou agrupamento de escolas.

19 De acordo com Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de abril, os órgãos referidos passam a ser Conselho de Escola, Diretor e Conselho Pedagógico.

Considera-se também, através do n.º 2 deste mesmo Artigo 9.º, que são ainda instrumentos de autonomia (…), para efeitos da respectiva prestação de contas, o relatório anual de actividades, a conta de gerência e o relatório de auto-avaliação (…). Tal como refere Grade (2008), a razão de assinalarmos a relação entre os conceitos de autonomia e de Projecto Educativo e comunidade educativa (p. 43), deve- se ao facto de esta última estar representada no órgãos de direção que aprova o PE, o que faz com que este documento assuma o papel de eixo fundamental na definição da política educativa da escola, claro está, servindo-se dos diferentes instrumentos previstos para a consecução dessa autonomia.

Claro que nesta contextualização da autonomia baseada na participação da comunidade se revela de importância acrescida o RI que funciona aqui como balizador desse regime autonómico, uma vez que é o documento que define o regime de funcionamento da escola, de cada um dos seus órgãos de administração e gestão, das estruturas de orientação e dos serviços de apoio educativo, nos termos do n.º 2 do Artigo 3.º, do Decreto-Lei n.º 115-A/98.

Através do Artigo 9.º do Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de abril, redefine-se o que agora se considera como dois documentos Planos anual e plurianual de actividades que são considerados como

documentos de planeamento, que definem, em função do projecto educativo, os objectivos, as formas de organização e de programação das actividades e que procedem à identificação dos recursos necessários à sua execução.

Também como instrumento de autonomia se define ainda, no mesmo Artigo 9.º, o Orçamento, como sendo o documento em que se prevêem, de forma discriminada, as receitas a obter e as despesas a realizar (…).

Destes instrumentos que acabamos de referir, parece-nos ser a própria lei de enquadramento a colocar o PE da escola no topo da pirâmide, sobrepondo-o aos restantes documentos, atendendo a que, e embora os considere a todos como instrumentos do exercício da autonomia, trata o primeiro de forma diferenciada, seja na forma de elaboração e aprovação, seja na própria definição, uma vez que é neste que se consagra a orientação educativa da escola ou agrupamento de escolas.

Convém ainda referir que, dos documentos a que fizemos referência, o único cuja redação compete a um órgão colegial é o PE, que é elaborado pelo conselho pedagógico.

Um outro instrumento que nos parece fundamental na definição e concretização da autonomia é o projeto curricular. Embora seja um documento a que o Decreto-Lei n.º 75/2008 não dá qualquer atenção explícita, em nosso entender, pode funcionar como mais um pilar da autonomia das escolas ou agrupamentos, nomeadamente aquando da concretização de uma política curricular definida pelo PE.

A importância que aqui se dá ao projeto curricular é reconhecida no Decreto-Lei n.º 6/2001, de 18 de janeiro, que define os princípios orientadores da organização e gestão curricular do Ensino Básico, o qual se terá revelado como mais uma franja visível de autonomia da escola na construção do seu PE.

No âmbito da gestão curricular conferida pela autonomia que cada escola poderá desenvolver, o preâmbulo do Decreto-Lei n.º 6/2001, de 18 de janeiro, confere ao projeto curricular a importância a que nos reportamos, ao referir:

No quadro do desenvolvimento da autonomia das escolas estabelece-se que as estratégias de desenvolvimento do currículo nacional, visando adequá-lo ao contexto de cada escola, deverão ser objecto de um projecto curricular de escola, concebido, aprovado e avaliado pelos respectivos órgãos de administração e gestão, o qual deverá ser desenvolvido em função do contexto de cada turma (…).

Naturalmente que, além de se proceder à contextualização do projeto curricular, no âmbito de cada uma das turmas, a sua conceção é suportada ao nível de um projeto curricular de escola, o qual, no âmbito do PE, permitirá conceber, propor e gerir outras medidas específicas de diversificação da oferta curricular, como prevê o Artigo 11.º do Decreto-Lei 6/2001, de 18 de janeiro.

A concretização desta perspetiva de instrumentalidade do projeto curricular no âmbito da autonomia é verificável quando a escola ou agrupamento escolas, na construção do seu PE prevê a introdução de variantes curriculares específicas. Igual concretização se verifica no âmbito da assinatura de um CA, onde se atribui20 à escola competência no domínio da Gestão flexível do currículo, com possibilidade de inclusão de componentes regionais e locais, respeitando os núcleos essenciais definidos a nível nacional.

Apesar de se considerar de enorme importância o contributo que este instrumento pode trazer para a construção da autonomia da escola parece-nos contudo, um pouco estranho que o projeto curricular não tenha tido reconhecimento prévio do Decreto-Lei n.º 115-A/98 que, como refere Costa (2007a), é um conceito que este

Normativo desconhece completamente (p. 88). Curiosamente, o Decreto-Lei n.º 75/2008 também não faz referência direta ao projeto curricular.

Embora Costa (2007a) se refira a este documento como tendo surgido em desarticulação com o PE, uma vez que à luz do Normativo regulamentador se transfere a discussão e as opções educativas da escola, agora apelidadas de curriculares, para um outro documento, o projecto curricular da escola (p. 88), a nós, parece-nos que ele deverá ser mais um pilar da construção de um PE que conduza a escola para franjas cada vez mais alargadas de autonomia, também curricular.

Aos outros instrumentos de autonomia, porque se situam mais na componente de prestação de contas e eventual avaliação, não nos referimos agora, assim como ao contrato de autonomia que naturalmente merecerá atenção mais desenvolvida.

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