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Parte I – Enquadramento teórico, político e normativo

7. Desenvolvimento da autonomia e avaliação das escolas

7.3. Uma avaliação monitorizadora das medidas de política educativa

que faremos mais adiante, iremos procurar abordar e esclarecer a importância de que se reveste a avaliação na sua vertente de avaliação orientadora das decisões políticas de carácter macro, numa conceção de avaliação prospetiva.

Ao considerarmos a implementação da autonomia das escolas como uma das linhas orientadoras de um determinado tipo de ação política, situamo-nos no âmbito das políticas educativas que, no caso do presente trabalho, onde se aborda a contratualização da autonomia pensamos enquadrarmo-nos no âmbito das medidas de política educativa. É neste contexto mais macro do planeamento estratégico da educação que, para nós, se torna importante a abordagem da avaliação, enquanto uma avaliação de políticas educativas.

Nesta perspetiva, considerando-se a importância que a avaliação de políticas educativas poderá ter, esta deverá tornar-se sistemática e continuada, de modo a que esteja obrigatoriamente presente nos processos de decisão (avaliação ex-ante) e após a produção do essencial dos resultados (avaliação ex-post) (Fazendeiro, 2002, p. 63).

Parece-nos ser esta a vertente que, cada vez mais, cada um dos países e organizações mundiais deverão procurar implementar e fazer implementar com carácter mais assíduo. Esta modalidade de avaliação, se a considerarmos na sua vertente ex-ante, a ser utilizada com carácter sistemático poderá garantir que a definição das prioridades e escolhas de ação política serão com certeza, além de mais viáveis e exequíveis, também mais sustentáveis a médio e longo e prazo, estando assim garantida a coerência e a prioridade das escolas no contexto da estratégia de desenvolvimento (Fazendeiro, 2002). Esta forma de desenvolver a ação política apenas será possível caso surja uma visão de futuro para o sistema educativo que seja cabalmente estruturada. Apenas assim será possível constituir como que um quadro de referências que integre políticas dos diferentes sectores e que acabe com a fragmentação dos suportes institucionais existentes.

Caso se opte por este tipo de metodologias que permitem ultrapassar insuficiências, seja de ordem técnica ou mesmos institucional, estaremos em condições de desenvolver e implementar um avaliação ex-ante.

Por muito que se defenda, em termos de discurso político, que se vai proceder a uma avaliação de resultados ou de produtos, ou se quisermos uma avaliação ex-post, esta apenas será consequente e credível caso tenha existido na fase de implementação das medidas políticas uma avaliação ex-ante, que tenha obedecido a referenciais ou quadros de referência devidamente estruturados.

Naturalmente que, integrados numa era de globalização, onde as sociedades humanas estabelecem as suas relações à escala global, faz cada vez mais sentido existirem mecanismos de acompanhamento das estratégias e dos planos de investimentos, de acordo com a orientação das medidas de ação política. Cada vez faz mais sentido a existência de mecanismos de monitorização, observação e avaliação externa independentes do poder político instituído.

Na verdade, ao longo das últimas décadas do século passado, as preocupações associadas à expansão do sistema educativo, em resultado da democratização do acesso que se veio a verificar a partir de finais da década de sessenta e que se acentuou a partir de meados da década de setenta, induziram a que o planeamento das políticas educativas estivesse essencialmente associado aos recursos. Assim, não é de estranhar que as diferentes instâncias do Ministério da Educação que se preocupam com a avaliação das diferentes questões do sistema educativo tenham demorado a reorientar a abordagem que deverá ser feita da avaliação. Daí fazer todo o sentido o apelo de Matias Alves

(2002), ao referir que as diferentes instâncias do Ministério se devem articular e aproveitar sinergias mas também de que a avaliação que é feita

tem de servir para alguma coisa, tem de servir para aumentar o conhecimento da realidade e este conhecimento tem de servir para mudar, inovar, melhorar processos e resultados educativos (p. 79).

Neste contexto de observações que vão surgindo, parece finalmente estar-se a ir ao encontro das preocupações que vão sendo veiculadas, isto é, apostar-se na avaliação prospetiva a que nos temos vindo a referir, a tal avaliação que no seu vértice se preocupa com a avaliação de políticas, mas também com a avaliação das organizações e dos resultados ou produtos do seu funcionamento, na prática, se quisermos, uma avaliação virada para o desempenho das organizações.

Nesta transição das formas de abordagem da avaliação das políticas educativas, tem-se assistido então a uma passagem do que por vezes se chama uma abordagem tradicional para uma abordagem do planeamento estratégico, centrada nos resultados e no desempenho, em que as opções e prioridades de políticas são avaliadas em função das necessidades e expectativas sociais no plano do indivíduo e da sociedade (Fazendeiro, 2002, p. 65).

Naturalmente que esta transição não está livre de perigos e revela-se de enorme complexidade, dado estarmos a tratar da avaliação da qualidade em educação que, além de dever possuir as características apontadas, enfrenta a necessidade de serem perspetivadas diferentes dimensões para essa avaliação. Se antes falávamos dos recursos e da necessidade da sua disponibilização para possibilitar o alargamento do sistema educativo, agora, além de falarmos nos recursos, temos de falar também nos processos desenvolvidos para serem atingidos determinados resultados ou produtos.

Contudo, mesmo procurando desenvolver uma estratégia de avaliação de carácter mais prospetivo como temos vindo a sugerir, parece-nos importante clarificar também que o desenvolvimento desta modalidade de avaliação deva ser realmente observável nos diferentes níveis, desde o mais macro, a nível central e regional, até ao nível da turma, do aluno e dos restantes membros da comunidade educativa. Não deverão ser esquecidos a dimensão temporal de implementação das medidas bem como os contextos onde se aplicam.

Importa ainda referir que nesta nova perspetiva de abordagem da avaliação devemos procurar fugir à tendência que tem sido até agora seguida, que é abordagem por patamares ou níveis de ensino. Pensamos que uma abordagem por áreas de

competência nos permitirá, como é desejável, obter uma visão holística do sistema, uma vez que ao nível macro da análise das medidas de carácter político é importante ter a perceção de que a afirmação da qualidade do sistema educativo apenas faz sentido se esta for feita para a todo o sistema e não apenas para alguma das suas partes ou nível.

É obvio que o planeamento da avaliação das medidas de carácter político a que nos temos vindo a referir e que estarão programadas para a concretização de determinados objetivos que as suportam, apenas será viável após um aturado trabalho de análise. Este trabalho de análise apenas fará sentido se baseado em referenciais que sejam suportados num sistema de informação ou de indicadores. Estaremos então no domínio dos indicadores dos resultados que apenas fazem sentido quando se expressam nos planos da sociedade, das competências e das atitudes dos indivíduos, os tais que nos definem o referencial da qualidade da educação e que se situam já para além dos limites do sistema educativo.

A importância desta modalidade de acompanhamento e de avaliação mais prospetiva sai reforçada se considerarmos que o seu desenvolvimento se concretiza cada vez mais no espaço europeu, embora com medidas políticas desenvolvidas por cada um dos países membros.

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