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Reprodução parcial de outdoor publicitário em Itacaré (BA) Fotografia: Paulo Fernando Meliani, setembro de 2010.

Voltados para turistas internacionais, os resorts e hotéis-residência são empreendimentos imobiliários de capital estrangeiro, que incorporam terras no litoral de Itacaré, como destaca Chiapetti (2009, p. 159-160): um grupo sueco (“Nobis”), em 2005, adquiriu uma área de oito hectares na praia do Rezende (na cidade de Itacaré), um grupo português está negociando uma área próxima à praia do Pontal (no norte do município) e um grupo irlandês pretende construir um resort na praia de Itacarezinho, na costa sul de Itacaré. Por meio de um quadro, Chiapetti mostra que não é apenas em Itacaré, que o

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capital estrangeiro investe em empreendimentos turísticos, já que existem outros investimentos de mesma natureza em outras partes do litoral da região (quadro 5).

Quadro 5. Investimentos em equipamentos turísticos na Costa do Cacau (previstos e em andamento até 2010). Fonte: Chiapetti (2009, p. 160).

Segundo Luchiari (2002, p. 118), os grandes projetos para o turismo internacional, impulsionados pelas políticas públicas, têm incorporado os lugares atrativos no Brasil por meio de verticalidades que, gestadas na economia global, incidem nas horizontalidades dos lugares. O modelo de resorts implantados no litoral nordestino, afirma Luchiari, é um “produto-padrão” muito semelhante ao modelo do Caribe, ou seja, é um modelo hegemônico, planejado a partir de concepções externas, que não se importa com as formas de organização socioespacial pré-existentes: vilas de pescadores, jangadeiros, artesãos, etc.

11. ITACARÉ: DA NATUREZA DE UM LUGAR A UM LUGAR DE NATUREZA

O município de Itacaré, localizado no litoral do Estado da Bahia (figura 16), possui uma área de 746,9 Km2 e uma população estimada, em 2007, de 24.720 habitantes, sendo 58,05 % contados como urbanos (IBGE, 2008), ou seja, 11.478 pessoas morando no distrito- sede e outras 2.872 no distrito interiorano de Taboquinhas 81.

Figura 16. Localização do município de Itacaré, litoral do Estado da Bahia. Fonte: Nentwig Silva et al (2000); SEI (2000). Edição de Paulo Fernando Meliani.

O uso do espaço no distrito-sede de Itacaré evidencia uma “urbanização turística”, nos termos de Mullins (1991), que se produz pela construção de pousadas, bares, restaurantes, comércios de souvenires e artesanato, agências de ecoturismo, locadoras de veículos e de equipamentos esportivos, “lan houses”, e de outros serviços para os turistas. Para além da urbanização turística, uma urbanização de fato, que se dá pela atração populacional gerada pela expectativa de trabalho no turismo, de famílias que ocupam baixios e encostas, formando bairros sem infraestrutura básica no entorno da, até pouco tempo, inóspita vila de pescadores de Itacaré.

Atualmente, as ações aplicadas ao desenvolvimento do turismo na Bahia têm como base o PRODETUR II que, projetado para o período 2003-2020, reúne políticas públicas que se dizem voltadas para a melhoria das condições institucionais, a expansão da infraestrutura

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De acordo com os primeiros resultados do Censo 2010, divulgados pelo IBGE, Itacaré possui 24.340 habitantes, sendo que 13.670 são moradores urbanos e 10.670 são moradores rurais. Os dados distritais, que permitiriam identificar o tamanho da população urbana na sede e em Taboquinhas, ainda não foram divulgados.

e a qualificação da atividade turística do Estado da Bahia. Entre as ações já empreendidas que dizem respeito à Itacaré e a costa do cacau, a construção de uma ponte sobre o rio de Contas, na altura de Itacaré, que permitiu a extensão da rodovia BA-001 até Camamu, diminuindo inclusive a distância terrestre entre o sul da Bahia e a capital Salvador. Inaugurada em outubro de 2009, a ponte sobre o rio de Contas já interfere na dinâmica do turismo regional, modificando de certo modo os fluxos de turistas e os períodos de estada em Itacaré.

11.1 Barra do rio de Contas: de aldeamento indígena a porto cacaueiro

A origem de Itacaré remonta o início do século 18, quando num aldeamento indígena dos jesuítas, na foz do rio de Contas, o padre Luís de Grã mandou construir uma capela em memória a São Miguel, batizando a capela de “São Miguel da Barra do Rio de Contas” (IBGE, 1958, p. 306). Segundo o IBGE, em 1718, a capela foi elevada à categoria de “freguesia”, o que sugere uma povoação, pelo menos um grupo de paroquianos. Por ordem de Dom Sebastião Monteiro de Vide. Em 1732, a povoação de São Miguel foi elevada tanto à categoria de Vila quanto à categoria de Município, quando por ordem da então donatária da Capitania de Ilhéus, Ana Maria Ataíde e Castro, chamada Condessa de Resende, passou a ser denominada “Vila da Barra do Rio de Contas” (IBGE, 1958, p. 306). A igreja de São Miguel, que tem em sua fachada a inscrição “1723” (provável ano do fim da obra), na perspectiva de patrimônio cultural, agrega valor ao turismo, como objeto que encarna a história do lugar, um aspecto interessado a um dos olhares do turista (fotos 14 e 15).

A vila da “Barra do Rio de Contas”, que depois se chamou Itacaré, já nasceu como espaço derivado, pois por um decreto anterior da coroa portuguesa, de 1648, todas as vilas ao norte de Ilhéus deveriam produzir alimentos para prover a capital da colônia, a cidade da Bahia (Salvador), que nessas épocas era entornada pela monocultura da cana de açúcar. Nos primórdios, assim como em Camamu, Boipeba e Cairu, na Barra do Rio de Contas se produziram arroz e farinha de mandioca para ser enviar a Salvador (Mello e Silva et al, 1987, p. 50). De acordo com Ayres de Casal (1817, p. 231),

Rio de Contas, vila medíocre e aprazível, situada pouco dentro da embocadura, na margem meridional do rio, que lhe empresta o nome, e forma um bom porto para sumacas, entre duas ribeiras de mui desigual volume, e cujas águas são excelentes para temperar ferramentas. Tem uma igreja paroquial dedicada a S. Miguel, e uma ponte de pedra na ribeira grande, que é a superior. O povo é obrigado pela câmara com certas penas a cultivar a quantidade de pés de mandioca, que lhes prescreve à proporção de escravos, que cada lavrador possui; o que faz sair daqui grande número de embarcações com farinha para a capital.

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