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A verdadeira base de sustentação do turismo, como qualquer atividade econômica, está no trabalho (quer dizer, na exploração da força de trabalho). Afinal de contas, toda a infraestrutura de transportes, equipamentos de lazer e acomodação, todos os setores ligados à estruturação turística, enfim, fundamentam-se no trabalho e no consumo do turista.

Helton Ricardo Ouriques, A produção do turismo: fetichismo e dependência

Um dos elementos, ao mesmo tempo ideológico e empiricamente existencial, da presente forma de globalização é a centralidade do consumo, com a qual muito têm a ver a vida de todos os dias e suas repercussões sobre a produção, as formas presentes de existência e as perspectivas das pessoas. Mas as atuais relações instáveis de trabalho, a expansão do desemprego e a baixa do salário médio constituem um contraste em relação à multiplicação dos objetos e dos serviços, cuja acessibilidade se torna, desse modo, improvável, ao mesmo tempo em que até os consumos tradicionais acabam sendo difíceis ou impossíveis para uma parcela importante da população. É como se o feitiço virasse contra o feiticeiro.

Milton Santos, Por uma outra globalização

Vocês que fazem parte dessa massa, que passa nos projetos do futuro. É duro tanto ter que caminhar e dar muito mais do que receber. E ter que demonstrar sua coragem, á margem do que possa parecer. E ver que toda essa engrenagem, já sente a ferrugem lhe comer.

Zé Ramalho, Admirável gado novo

7. TIPOS DE TRABALHO NO TURISMO

De acordo com George (1979, p. 81), uma evolução na divisão da força de trabalho, entre as diversas atividades nas economias e sociedades industriais, a partir dos anos 1950, aconteceu em função do aumento dos efetivos das pessoas ativas empregadas em ocupações que não são concreta, ou diretamente, produtora de bens de consumo ou de produção. Essas ocupações são agrupadas como “serviços”, que é, para George, uma noção muito vaga, pois se aplica a ocupações muito diferenciadas, como transportes, telecomunicações, informação, comércio, bancos, cuidados médicos, etc.

Segundo George (1979, p. 82), a referência aos serviços como pertencentes a um setor “terciário” da economia, nasceu da necessidade de classificar e definir, “a contrário”, atividades provenientes da evolução tecnológica da sociedade industrial, podendo, em certa medida, relacioná-la com a emergência da “sociedade de consumo”. Para George (1979, p. 83),

Historicamente e antes do termo, a realidade do terciário precede a do secundário, oriundo da primeira revolução industrial. E foi bem precisamente nesse momento sua ligação espacial com o desabrochar vigoroso das cidades. Somente e quando os modos de organização social e econômica elaborados nas cidades se impuseram ao conjunto do território, é que as atividades de início urbanas se projetaram sobre a totalidade do espaço ao mesmo tempo em que se diferenciavam cada vez mais. Com isso o setor terciário recebeu uma ambiguidade de conteúdo e de fim, o que procede do fato de que ele é ao mesmo tempo expressão de uma estrutura da economia e da sociedade e de uma organização geral da vida coletiva.

Em sua classificação do “setor terciário”, George (1979, p. 104), inclui os serviços turísticos no que ele chama de “terciário funcionalmente localizado”, por causa da relação com o espaço por determinação da natureza desse tipo de serviços. Uma fração das atividades hoteleiras e de serviços ligados às viagens está integrada às grandes metrópoles, seja no âmbito da função da “acolhida”, seja na função de organização de viagens. Por outro lado, localizações propriamente específicas são as das instalações destinadas a receber visitantes em grande número, “a título mais ou menos episódico” ou sazonal, nas estações de férias ou de esportes de inverno, como apontou George.

O trabalho no turismo se caracteriza pelas operações realizadas na prestação de serviços de apoio aos turistas, notadamente nas atividades de agenciamento de viagens,

transportes, alojamento, alimentação, cultura e lazer. Como os serviços destas atividades não são oferecidos exclusivamente a turistas, há uma dificuldade de se empreender uma análise específica dos empregos em atividades propriamente turísticas. Entretanto, é possível reconhecer nos espaços do turismo, um incremento na oferta de serviços prestados por hotéis, restaurantes, bares, etc., bem como o afluxo de trabalhadores informais na expectativa de prestar serviços aos turistas que ali se concentram 47.

7.1 Classes de ocupações e ocupações normatizadas no turismo

Tendo como base as “atividades características do turismo – ACTs” (IPEA, 2007), que citamos na introdução desta tese, examinamos a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), onde identificamos 53 ocupações referentes ao turismo, que estão distribuídas em 21 famílias ocupacionais diferentes, de acordo com o sistema de codificação adotado pela classificação (Quadro 2). A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) é um documento publicado pelo Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil (MTE), que pretende normalizar as ocupações do mercado de trabalho brasileiro, por meio do reconhecimento, nomeação e codificação, bem como pela descrição das características das ocupações 48.

47

Thomaz Júnior (2002, p. 9) afirma que para entender a classe trabalhadora nos dias atuais, diante dos desdobramentos da reestruturação produtiva contemporânea, requer considerar, como parte integrante, o conjunto dos trabalhadores que vivem da sua força de trabalho. Ou seja, não apenas os trabalhadores assalariados convencionais, mas também aqueles que se garantem com certa autonomia no circuito mercantil (camelôs, por exemplo), os trabalhadores proprietários ou não dos meios de produção e que estão inclusos na informalidade, como os trabalhadores familiares, os artesãos, os pescadores, entre outros que vivem precariamente de sua força de trabalho.

48 A publicação mais recente da CBO data do ano de 2002 e é resultado de atualizações das edições anteriores (1994 e 1982), sendo que, em todos os casos, manteve-se uma estrutura básica elaborada em 1977, baseada na Classificação Internacional Uniforme de Ocupações (CIUO) da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Segundo a CBO 2002, o termo “ocupação” é uma agregação de empregos ou outros tipos de relação de trabalho que, identificados por processos, funções ou ramos de atividades, se constituem como “campos profissionais” denominados de “famílias ocupacionais”. As famílias ocupacionais correspondem a um conjunto de ocupações similares que possuem, na CBO, um código e uma apresentação que indica outros “títulos” correspondentes à ocupação, uma “descrição sumária” das atividades desenvolvidas pelos trabalhadores, a “formação e experiência” que, em geral, deles são exigidas. Além disso, constam ainda na CBO, as “condições gerais de exercício” da função, o número correspondente do “código internacional”, os “recursos de trabalho”, bem como o nome dos “participantes da descrição”.

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