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Placa sugerindo o caráter ecológico da recente ligação Itacaré-Camamu Fotografias: Edvânia Tôrres Aguiar Gomes, junho de 2010.

Agora integrada por rodovia também à Salvador, a Costa do Cacau cada vez mais assume seu papel na reestruturação do turismo na Bahia, em função do valor atrativo das paisagens de Mata Atlântica e do patrimônio arquitetônico e cultural da região. A inserção do turismo é justificada como alternativa de desenvolvimento, ao ponto de se divulgar como a única solução, conforme Chiapetti (2009, p. 146),

Embora vários segmentos da sociedade e do Estado se organizem para fazer da atividade turística “um bom negócio para todos”, aproveitando-se da “dádiva de

deus”, é importante ressaltar que o modelo de planejamento da atividade - conduzido pelos Programas do Estado da Bahia, com investimentos prioritários para grandes obras de infraestrutura e de normatização do território, para qualificar e oferecer lugares como recurso vantajoso ao investimento - privilegia, seletivamente, as grandes corporações de capitais nacionais e internacionais. Atropelados pelo novo período de fluidez e competitividade, os investimentos não levam em consideração as especificidades do lugar e a atividade turística passa a ser divulgada como a única possibilidade de investimentos.

O “ambiente natural” (“praias, matas, rios, cachoeiras, clima”) é a primeira característica de Itacaré relacionada pela HVS International (2005), como capaz de estruturar um “destino diferenciado”, definido “sobre como os recursos serão utilizados para geração de fluxo e receita, e quais os resultados esperados por colocar esses recursos em uso turístico” (p. 14). Além do ambiente natural de Itacaré, o “povo” (considerando cultura, hospitalidade, hábitos) e a “atmosfera” (liberdade, atividade, prazer, descanso), são os atributos do lugar “colocados em uso turístico de forma inovadora, criativa, responsável e organizada” (HVS INTERNATIONAL, 2005, p. 9). Para a empresa, o turismo se traduz em “benefícios evidentes” para a comunidade de Itacaré e “bons negócios” para os empresários, sugerindo um desenvolvimento que leva a “convivência harmônica” entre comunidade, empresários e turistas 78.

A HVS International é uma empresa que, entre outros serviços, elabora consultorias em sustentabilidade ambiental, notadamente para a hotelaria. Em 2005, a HVS International publicou um programa de “diretrizes para o desenvolvimento turístico sustentável” de Itacaré, elaborado como resultado de uma consultoria contratada pelo Instituto de Turismo de Itacaré (ITI), uma “organização da sociedade civil de direito público” (OSCIP), um cluster, arranjo produtivo local. O ITI, que foi fundado em 2005, tem entre seus sócios fundadores importantes empreendedores hoteleiros, como os resorts Txai, Vilas de São José e Warapuru. Os resorts se tornaram o grande destaque de Itacaré no mercado turístico, sendo os que lá se instalaram, considerados pela revista Viagem e Turismo (2009), como “os mais bem integrados à natureza” (Txai Resort, Itacaré Village e Itacaré Ecoresort).

Sofisticados, os resorts oferecem serviços de alto padrão hoteleiro, em espaços de consumo exclusivo e, o que se consome de fato, além dos serviços hoteleiros, são as praias, florestas e cachoeiras, vendidas como pedaços da natureza sustentada de Itacaré. Chiapetti (2009, p. 159) esclarece que, na Costa do Cacau, além de resorts, os

78 http://www.hvs.com

equipamentos turísticos voltados à hospedagem de elevado padrão, são também “condo- resorts” ou “condo-hotéis”, pelo fato de que alguns resorts são empreendimentos de uso misto (hospedagem e residência), mas sempre de altíssimo padrão 79. Segundo Chiapetti (2009, p. 159), os resorts e condo-resorts se instalaram em Itacaré, a partir da pavimentação da BA-001, sempre vinculando suas imagens aos conceitos “politicamente corretos” do ecoturismo. De acordo com Chiapetti (2009, p. 159), o primeiro condo-resort na Costa do Cacau foi o condomínio Villas de São José, construído em 1990, entre a rodovia e a praia de São José, em Itacaré, numa área de 176 hectares, onde estão instalados o Ecoresort Itacaré e o Village Itacaré. O condomínio possui residências usadas por turistas quando estes compram um tempo de hospedagem anual no resort, podendo também se hospedar em outros hotéis conveniados ao sistema.

Outro empreendimento do conceito resort e hotel- residência é o do Txai Resort, que começou a funcionar a partir do ano de 2000, mas já concebido com a aquisição da fazenda Boa Sorte (100 ha), no ano de 1996, às margens da BA-001 (CHIAPETTI, 2009). O Txai resort “possui 20 residências privadas de alto padrão, frequentadas principalmente por empresários estrangeiros, celebridades artísticas nacionais e internacionais, o que fez com que a região fosse divulgada nas principais revistas especializadas em turismo do mundo” (p. 159). De acordo com Chiapetti, no ano de 2004, mais um hotel residência começou a ser implantado em Itacaré, na praia da Engenhoca, um empreendimento denominado “Warapuru”, pertencente a grupo de capital português, que pretende instalar ali o “primeiro hotel seis estrelas da América Latina”. Composto de uma estrutura de hospedagem de alto padrão, o Warapuru possui 18 residências de 700 m2 em terrenos superiores a 5000 m2, “avaliadas em dois milhões de dólares cada e todas já foram vendidas”. Segundo a revista Lonely Planet (2010, p. 51), o bilionário empreendimento de capital português, que

79 Citando Gylle y Fernandes, Chiapetti (2009, p. 159) afirma que “turismo-residencial” é praticado há décadas na Europa, com percentuais de até 30% de residências “não permanentes” em alguns lugares da Espanha, bem como elevadas taxas dessa espécie de segunda residência na Itália, Grécia e Portugal, para pessoas da Alemanha, Reino Unido e Holanda. Para Silveira (1997, p. 41), os resorts talvez sejam a forma organizacional turística mais moderna que centraliza um conjunto de serviços, tratando-se de um sistema de objetos produzidos com um particular sistema organizacional, caracterizados pela rigidez dos condomínios fechados e dos calendários. Combinando hotel e casa de férias, os resorts demandam grandes investimentos em publicidade, oferecendo uma paisagem única e uma infraestrutura globalizada para disputar consumidores com outros lugares, inclusive, com a possibilidade de intercâmbio de semanas com centros do mundo inteiro. Para as empresas, o sistema de resorts é mais flexível do que o tradicional sistema hoteleiro, já que permite as firmas comandar o calendário de uso do complexo turístico, de modo a evitar os interstícios temporais e os custos de manutenção.

pretendia fazer “um hotel sem paralelo” na praia da Engenhoca, “acabou em ruínas” no emaranhado de “ecolicenças”, nunca obtidas.

Este tipo de empreendimento se desenvolve em Itacaré, por meio de um sistema de comercialização imobiliária chamado de “casa fractional”, segundo a empresa EKO Arquitetura e Construção 80. De acordo com a empresa, é um empreendimento de “casas de férias”, baseadas num conceito de “multipropriedade”, pois quem compra uma propriedade nesse sistema, está comprando uma fração do empreendimento que, de fato, corresponde a um “tempo de uso” da residência por parte do, digamos, coproprietário. Em Itacaré, os proprietários das casas fractionais, como turistas, tem acesso aos serviços hoteleiros do empreendimento, inclusive, permitindo a hospedagem em outros empreendimentos conveniados de mesmo tipo (foto 13).

Foto 13. Reprodução parcial de outdoor publicitário em Itacaré (BA).

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