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Vendedores-ambulantes em Barcelona, Espanha Fotografia: Paulo Fernando Meliani; setembro de 2009.

Além da informalidade, que caracteriza o processo de precarização das relações de trabalho no turismo, algumas empresas se utilizam da estratégia da “terceirização” de determinados serviços, com o mesmo objetivo de diminuir os encargos da contratação direta de trabalhadores. Outra estratégia usada com o mesmo fim é a da contratação de estagiários, muitas vezes, estudantes de cursos superiores de turismo, hotelaria e outros que, sob o pretexto da colaboração empresarial na formação profissional, exercem funções que seriam desempenhadas por um trabalhador contratado formalmente.

9.3 A informalidade do trabalho no turismo do Brasil

De acordo com as estimativas do IPEA (2007), no Brasil, em 2002, cerca de 1.634.202 pessoas ocupavam postos de trabalho formais e informais nas atividades características do turismo (ACTs), enquanto que, em 2006, as estimativas indicaram um total de 1.869.437 ocupações 67. Para esse aumento no total de ocupações entre 2002 e 2006, o crescimento das ocupações informais contribuiu mais do que o crescimento das ocupações formais. Enquanto as estimativas de ocupações formais cresciam 12,25% (passando de 683.717 em 2002 para 767.600 em 2006), as estimativas de ocupações informais cresceram 15,93% (passando de 950.411 para 1.101.837).

Das 1.869.437 ocupações no turismo estimadas em 2006, 1.101.832 foram identificadas como ocupações informais, ou seja, 58,94 % dos trabalhadores do turismo no Brasil não possuíam vínculos formais de emprego (IPEA, 2007). Apesar do crescimento do número total de ocupados no turismo (um acréscimo estimado em mais de 200.000 empregos entre 2002 e 2006), a proporção de trabalhadores informais manteve-se na faixa dos 58 % durante todo o período estudado. O que se constata, analisando os dados do IPEA (2007), é que o número de empregos do turismo cresce no país sem, entretanto, modificar sua estrutura precária de relações trabalhistas.

A distribuição regional do trabalho no turismo apresenta uma concentração na região Sudeste, que reuniu, em 2006, 43,81 % do total das ocupações, ou seja, quase metade dos empregos estimados no turismo naquele ano. Outra região que apresentou, em 2006, uma significativa estimativa de ocupações no turismo foi o Nordeste, com 27,67 % do total de ocupados. A região Nordeste, apesar do grande número de ocupados totais, contribuiu com um percentual pouco significativo de trabalhadores formais: 19,05 % (146.225 ocupados).

Considerando a repartição por Estados dos ocupados no turismo pelo IPEA (2007), cinco unidades territoriais possuíam, em 2006, mais de 100.000 ocupados formais e informais: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco (Quadro 4; Figura 11). Em conjunto, esses Estados tiveram mais de 1 milhão das pouco mais de 1,8 milhões de ocupações estimadas no Brasil, ou seja, mais de 53 % dos ocupados no turismo, naquele ano.

67 No apêndice C desta tese, apresento uma síntese dos procedimentos metodológicos empregados pelo IPEA para estimar o número de ocupados (formais e informais) em atividades características do turismo no Brasil.

Estado Ocupados Formais % de formais Informais % de informais 1. São Paulo 363.413 183.734 50,66 % 179.679 49,44 % 2. Rio de Janeiro 199.330 106.402 53,37 % 92.928 46,63 % 3. Minas Gerais 197.117 86.005 43,63 % 111.112 56,37 % 4. Bahia 140.558 43.817 31,17 % 96.741 68,83 % 5. Pernambuco 106.892 30.905 28,91 % 75.987 71,09 % 6. Paraná 96.971 47.912 49,41 % 49.059 50,59 %

7. Rio Grande do Sul 96.755 47.367 48,96 % 49.388 51,04 % 8. Santa Catarina 83.413 38.666 46,35 % 44.747 53,65 % 9. Ceará 60.934 17.124 28,10 % 43.810 71,90 % 10. Espírito Santo 58.915 20.178 34,25 % 38.737 65,75 % 11. Pará 50.254 11.953 23,79 % 38.301 76,21 % 12. Maranhão 47.326 11.129 23,52 % 36.197 76,48 % 13. Amazonas 43.001 11.828 27,51 % 31.173 72,49 % 14. Goiás 42.845 21.194 49,47 % 21.651 50,53 %

15. Rio Grande do Norte 37.091 13.437 36,22 % 23.654 63,78 %

16. Piauí 36.060 6.210 17,22 % 29.850 82,78 % 17. Paraíba 35.851 7.747 21,61 % 28.104 78,39 % 18. Distrito Federal 34.619 18.469 53,35 % 16.150 46,65 % 19. Mato Grosso 28.555 9.162 32,08 % 19.393 67,92 % 20. Alagoas 28.002 8.550 30,53 % 19.452 69,47 % 21. Sergipe 24.647 7.306 29,64 % 17.341 70,36 % 22. Rondônia 15.489 4.345 28,05 % 11.144 71,95 %

23. Mato Grosso do Sul 15.187 7.339 48,32 % 7.848 51,68 %

24. Tocantins 10.021 2.397 23,92 % 7.624 76,08 %

25. Amapá 6.023 1.662 27,59 % 4.361 72,41%

26. Acre 5.440 1.728 31,76 % 3.712 68,24 %

27. Roraima 4.723 1.034 21,89 % 3.689 78,11 %

BRASIL 1.869.437 767.600 41,07 % 1.101.837 58,93 %

Quadro 4. Brasil: número de ocupados estimados no turismo, formais e informais, com seus respectivos percentuais por Estado (2006).

Fonte: IPEA (2007). Organização de Paulo Fernando Meliani.

O Estado de São Paulo foi o que teve o maior número de ocupados estimados: 363.413 ocupações (44,38 % dos ocupados da região Sudeste e 19,44 % do total de ocupados no Brasil) em 2006. Em seguida, o Rio de Janeiro teve estimados 199.330 ocupados: 24,34 % das ocupações do Sudeste e 10,66 % das ocupações que ocorrem no país. Minas Gerais, o terceiro Estado brasileiro em termos de número de ocupados estimados no turismo contou 197.117 ocupações (24,07 % das ocupações da região Sudeste e 10,54 % das ocupações do Brasil). Bahia (com 140.558 ocupações) e Pernambuco (com 106.892) completam o grupo dos cinco Estados que tiveram mais de 100.000 ocupados no turismo, estimados pelo IPEA (2007). Os mais de 140 mil ocupados estimados na Bahia, em 2006, correspondiam a 27,17 % dos ocupados do Nordeste e a 7,52 % dos ocupados do Brasil. Em Pernambuco, os 106.892 ocupados diziam respeito a 20,66 % das ocupações no Nordeste e a 5,72 % das ocupações no Brasil.

Figura 11. Brasil: número de ocupados estimados e percentual de informalidade no turismo por Estado (2006). Fonte: IPEA (2007). Edição de Paulo Fernando Meliani.

Apenas o Distrito Federal e os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro apresentaram percentuais de informalidade abaixo dos 50 % dos ocupados em suas respectivas unidades territoriais. Mesmo assim, os valores são muito próximos a 50 %, evidência do elevado grau

de informalidade a que estão submetidos à grande maioria dos trabalhadores do turismo no Brasil. Rio de Janeiro e Distrito-Federal apresentaram percentuais de informalidade muito semelhantes: 46,63 e 46,65 % respectivamente, mas, se considerando que o Estado do Rio de Janeiro é o segundo em número total de ocupações, podemos observar que sua contribuição para o montante de informais no Brasil foi muito mais significativa do que no Distrito Federal. Foram mais de 92.000 ocupados informais estimados para o Rio de Janeiro, em 2006, contra pouco mais de 16.000 no Distrito Federal. O mesmo se aplica a São Paulo e de modo mais contundente, pois este Estado apresentou um percentual de informalidade nas ocupações do turismo de 49,44 %, ou seja, mais de 179 mil ocupados estimados de São Paulo exerceram suas atividades profissionais na informalidade.

Em termos relativos, a condição da informalidade parece ser mais submetida aos trabalhadores do turismo nas regiões Nordeste e Norte do país, pois são os Estados destas duas regiões que apresentaram as maiores taxas de informalidade, segundo as estimativas do IPEA (2007). Piauí, Paraíba, Roraima, Maranhão, Pará e Tocantins foram os Estados que apresentaram os maiores percentuais estimados de informalidade, superiores a 75,01 %, com destaque para o Piauí, com 82,78 %, a maior taxa de informalidade entre os ocupados no turismo, em 2006. Apesar de não serem os Estados com maiores contingentes de ocupados, em conjunto, o total de informais destes Estados ultrapassou os 140 mil.

Como a informalidade é muito grande nas atividades características do turismo em todo o Brasil, quase sempre acima dos 50%, aqueles Estados com maior número de ocupados tendem a ter também o maior número de informais. Os cinco Estados com maior número absoluto de ocupados informais estimados são os mesmos que apresentaram os maiores números absolutos de ocupados totais: São Paulo (179.679), Minas Gerais (111.112), Bahia (96.741), Rio de Janeiro (92.928) e Pernambuco (75.987). O que difere é a ordem em que aparecem nesta outra classificação, pois o Rio de Janeiro, segundo Estado em número de ocupados totais no Brasil, apresentou um número menor de ocupados informais do que os Estados de Minas Gerais e da Bahia.

PARTE III

ESTÉTICA DA MERCADORIA, TRABALHO E A PRODUÇÃO DE UM ESPAÇO

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