• Nenhum resultado encontrado

Críticas ao instituto

No documento Rafael de Oliveira Guimarao (páginas 154-157)

4 DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

4.5 REPERCUSSÃO GERAL

4.5.3 Críticas ao instituto

Até o presente momento, estudou-se brevemente o instituto da repercussão geral. Nesse ínterim se verificaram suas origens e benefícios, enfatizou-se sua importância para a preservação do órgão de cúpula, foi afirmado que há repercussão geral em causas dizentes de questões jurídicas relevantes ou que possam atingir um grande número de cidadãos, porém, se vê que, na prática, não se vem trabalhando a repercussão geral como questão que seja relevante ou transcendente, mas somente com a última característica. Isso porque, segundo Arruda Alvim424:

[...] o STF recebeu até setembro de 2000 30.827 agravos de instrumento e 17.043 recursos extraordinários. Desses 47.870 processos, a Caixa Econômica é responsável por mais de metade (25.554 processos), ou seja, 53,78% referentes ao FGTS. O INSS integra esse quantitativo com 10,58 % e a União afeta a carga do STF com 8,7%. Vale dizer, somados os percentuais, 72,96 %.

Em complemento ao trazido, levando-se em consideração a pessoa jurídica de direito público “Estado de São Paulo”, ente da federação que concentra a maioria dos litígios do país, esse percentual seguramente passa de 85%.

Ainda, analisando-se o site do STF, observa-se que a grande maioria das matérias com repercussão geral reconhecida envolve direito tributário, previdenciário, indenizações e execuções contra a União, ou seja, reconhece-se a repercussão geral quase sempre nesses temas, os quais ocupam cerca de 85% da pauta do STF. Questiona-se, então, qual seria o benefício de utilizar somente a transcendência como critério para aferição de repercussão geral. Qual o benefício de se negar repercussão geral em questões importantíssimas como a coisa julgada425 se a doutrina acima citada, nada menos do que Arruda Alvim e Humberto

Inês. Repercussão geral como requisito de admissibilidade do recurso extraodinário. Revista de Processo, n. 151. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 147).

424 ALVIM, José Manuel de Arruda. A EC n. 45 e o instituto da repercussão geral. In: WAMBIER, Teresa

Arruda Alvim et al. (coords.) Reforma do Judiciário: primeiros ensaios críticos sobre a Emenda Constitucional n. 45/2004. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.p. 84.

425 “Mandado de Segurança. Redução de Ofício da Multa Fixada Pelo Juiz. Art. 461, § 6.º do Código de

Processo Civil. Ausência de Repercussão Geral.” (BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Pleno, RE 556.385- 5, rel. Carlos Menezes Direito, j. 09.11.2007, DJe 07.12.2007). “Trata-se de tema de grande relevância, no que envolvida a segurança jurídica, a certeza das decisões judiciais cobertas pela preclusão maior. Mediante mandado de segurança rescindiu-se o título executivo judicial. Concluo pela configuração da repercussão geral.” (voto vencido do Min. Marco Aurélio).

Theodoro Junior, entendem que a repercussão geral deve ser reconhecida quando se discutem institutos fundamentais do Direito?

Da forma que está, como afirma Humberto Theodoro Junior426, não há redução significativa no número de questões discutidas no STF, mas somente um benefício de “represar” os recursos nos Tribunais de origem até que o recurso extraordinário paradigma e com repercussão geral reconhecida, tenha seu julgamento de mérito.

Como dito, a repercussão geral deve ser reconhecida também em questões importantes, ainda que não envolvam um grande número de litigantes indiretamente.

No cenário atual, o particular que pretende ver seu direito constitucional apreciado é o único prejudicado com a instituição da repercussão geral427. Embora abalizada doutrina defenda o interesse social da repercussão geral428 em detrimento do interesse particular, é fundamental que se reconheça a repercussão geral mesmo quando não haja transcendência da questão, bastando que esta seja relevante ao Direito para que seja reconhecida sua repercussão geral. Da mesma forma, não se deve reconhecer a repercussão geral só porque um grande número de pessoas possa ser indiretamente atingido, pois não raro a questão apresenta resultado em nível de segurança jurídica. Somente com essa ponderação é que se poderá dar um tratamento isonômico entre particular e o Estado, no que tange à repercussão geral.

Caso não haja esse “aperfeiçoamento” no reconhecimento da repercussão geral, a Corte Suprema continuará abarrotada de recursos, anotando que o único prejudicado com o novo “filtro” é o particular que deseja ver seu direito constitucional apreciado.

426 “É muito freqüente, v. g., em temas de direito público, como os pertinentes ao sistema tributário e

previdenciário, e ao funcionalismo público. A exigência da repercussão geral em processos isolados, e não repetidos em causas similares, na verdade, não reduz o número de processos no STF, porque, de uma forma ou de outra, teria aquela corte de enfrentar todos os recursos para decidir sobre a ausência do novo requisito de conhecimento do extraordinário.

O grande efeito redutor dar-se-á pelos mencanismos de represamento dos recursos iguais nas instâncias de origem, os quais, à luz do julgado paradigma do STF, se extinguirão sem subir à sua apreciação.” (THEODORO JUNIOR, Humberto. O poder de controle do cabimento do recurso extraordinário referente ao requisito da repercussão geral (CF, art. 102, § 3.º). In: MEDINA, José Miguel Garcia et al. (coords.). Os

poderes do juiz e o controle das decisões judiciais. Estudos em homenagem à Profa. Teresa Arruda Alvim

Wambier. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 939).

427 Ponto também levantado por Gláucia Mara Coelho: “Muitas críticas são direcionadas à introdução da

repercussão geral em nosso ordenamento. As principais podem assim ser enumeradas. [...] (v) a adoção do instituto beneficiará apenas o Poder Público, considerando que dificilmente o recurso extraordinário não será cabível nas demandas de seu interesse, que, na maior parte dos casos, envolve demandas em massa.” (COELHO, Gláucia Mara. Repercussão geral da questão constitucional no processo civil brasileiro. São Paulo, 2007, 287 f. Dissertação. (Mestrado em Direito) – Pós-Graduação em Direito da Universidade de São Paulo, sob a orientação do Prof. José Rogério Cruz e Tucci. p. 173).

428 “Apesar de ponderável à objeção retro, o certo é que este será o preço a pagar para que o STF volte,

realmente, a atuar como órgão de cúpula. De outro lado, como já adiantado, nos recursos de estrito direito o que se busca é o interesse da sociedade, ainda que alguma injustiça seja cometida no caso concreto, apesar de indesejável.” (GOMES JUNIOR, Luiz Manoel. A repercussão geral da questão constitucional no recurso extraordinário – EC 45. In: NERY JUNIOR, Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Aspectos polêmicos

Por isso, concorda-se com a instituição da repercussão geral, por ser necessária para o aprimoramento das decisões do STF como Tribunal de cúpula que é. Porém, a repercussão geral deve ser reconhecida quando houver relevância (importância da questão perante o Direito), até porque a própria legislação429 permite que a repercussão geral seja reconhecida quando a questão for relevante sob o ponto de vista jurídico, e não somente quando houver transcendência da questão (envolver um número grande de interessados).

429 Art. 543-A, § 1.º, do CPC.

No documento Rafael de Oliveira Guimarao (páginas 154-157)

Outline

Documentos relacionados