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O JUÍZO DE CASSAÇÃO E O JUÍZO DE REVISÃO NA ITÁLIA

No documento Rafael de Oliveira Guimarao (páginas 189-191)

5 DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA

6 O JUÍZO DE MÉRITO DOS RECURSOS EXCEPCIONAIS JUÍZO DE CASSAÇÃO E JUÍZO DE REVISÃO

6.3 O JUÍZO DE CASSAÇÃO E O JUÍZO DE REVISÃO NA ITÁLIA

A sistemática italiana do recurso de cassação tem uma inspiração francesa, porém guarda algumas peculiaridades.

Na Itália, o cabimento do ricorso per cassazione possui uma substancial restrição, que advém de reformas no processo civil de 2009 em diante. Importante mudança se deu com relação ao art. 360 do CPC italiano, o dispositivo legal que determina as hipóteses de cabimento do recurso de cassação.

O mencionado dispositivo legal passou a preconizar o não cabimento do mencionado recurso quando estiver se alegando omissão da decisão recorrida ou mesmo violação ao justo processo, que, para os italianos, seriam as garantias processuais tais como contraditório e condições da ação. Uma das razões da reforma, segundo Rosaria Giordano e Antonio Lombardi seria necessário avaliar questões de direito subjetivo para verificar tais alegações, como no caso de constatar o alegado pela parte para depreender se a decisão é sem fundamentação suficiente ou mesmo verificar peculiaridades do caso para decidir sobre a violação de garantias processuais, o que foge à função do recurso de cassação507. Parte da doutrina também defende que tais reformas tiveram, como intuito, a diminuição do número de recursos de cassação na Itália508.

505 “La partie qui a gagne son procés retrouve, en cas de cassation sur le pourvoi de son adversaire, le droit de

próposer à nouveau devant les juges de renvoi les moyens rejetés par la décision cassée.” (CADIET, Loïc.

Code de procédure civile. 22. ed. Paris: Lexis Nexis Litec, 2008. p. 463).

506 Art. 632. Les parties peuvent invoquer de nouveuax moyens à l’appui de leurs prétentions.

507 “[...] sempre più le caratteristiche di rimedio atto a favorire la funzione nomofilattica della Corte, sfumando

quella di strumento di garanzia di soggetiva per i singoli, attraverso la revisione di precedenti giudizi.” (GIORDANO, Rosaria; LOMBARDI, Antonio. Il nuovo processo civile: commento orgânico alla legge di riforma del processo civile. Roma: Nel diritto Editore, 2009. p. 413).

508 “Nella versione definitiva il “filtro” non sembra dunque più giustificare le preoccupazioni di legittimità

costituzionale in precedenza manifestate, anche se è lecito dubitare della sua utilità a fini deflattivi: vi era già, infatti, la possibilità di bocciare in limine un ricorso manifestamente infondato. Secondo parte della dottrina

Mais precisamente com relação ao juízo de cassação, na Itália, quando a Corte de Cassação entende pelo juízo de cassação positivo e cassa a decisão recorrida, estabelece o que a doutrina italiana, representada por Federico Carpi, Vittorio Colesanti e Michele Taruffo509, chama de principio di diritto, que seria a solução jurídica dada pela Corte à questão de direito, representando a ratio decidendi da Corte ou, mesmo, o mandamento de como a questão de direito deve ser interpretada. De acordo com Elio Fazzalari e Francesco Luiso510, estabelece uma premissa que a Corte de Apelação local que receber a causa deve seguir para solucionar o caso concreto.

Vê-se, desde já, que o sistema italiano segue o francês em sua gênese: há o prosseguimento de uma demanda, respeitando o duplo grau de jurisdição até uma Corte de Apelação, órgão competente para o conhecimento de direito subjetivo. No caso de apresentação de recurso de cassação, a Corte de Cassação, órgão competente para conhecer somente de direito objetivo, verifica se o conhecimento sobre a questão de direito foi feita de forma correta pela Corte de Apelação. Em caso de aplicação normativa errônea, cassa a decisão e estabelece o princípio de direito que deve ser aplicado; após o exercício desse juízo de cassação positivo, a Corte de superposição “reenvia” a causa para outra Corte de Apelação – não a que proferiu a decisão recorrida -, que vai aplicar a premissa normativa na causa em que já não paira controvérsia sobre as questões fáticas.

A diferença que implica dizer que a Itália não tem uma competência “pura” com relação às jurisdições ordinárias e extraordinárias como na França, são os mandamentos contidos nos artigos 382 e 383 do CPC italiano. O primeiro desses dispositivos legais preceitua que, se estiverem sendo ventiladas no recurso questões relativas à “jurisdição e competência”, o que implicaria a anulação da ação em seu todo, é desnecessário o envio da causa para um Tribunal de instância ordinária, sendo a decisão pela anulação do processo pela Corte de Cassação, a última decisão da causa com tais características. A razão de ser da existência dessa cassação senza rinvio reside no fato de que o resultado final da causa é facilmente conhecido, ou seja, se o Tribunal de Cassação estabelece um princípio de direito determinando, por exemplo, que,

(Sassani) Il legislatore in buona sostanza si è limitato a legittimare l’ampliamento della categoria della

inammissibilità a supporto del ricorrente tentativo della Corte di ridurre l’abuso del ricorso.” (SINISI,

Marcello; TRONCONE, Fulvio. La riforma del processo civile. Napoli: Simone – Esselibri, 2009, p. 177)

509 “Il primo limite è constituito dal principio di diritto, che rappresenta la ratio decidendi seguita dalla Corte.”

(CARPI, Federico; COLESANTI, Vittorio; TARUFFO, Michele. Commentario breve al codice di procedura

civile. 4. ed. Padova: Cedam, 2002. p. 1161).

510 “La Corte, quando accoglie il ricorso, cassa la sentenza rinviando la causa ad altro giudice, il quale deve

uniformarsi al principio di diritto e comunque a quanto statuito dalla Corte, ovvero decide la causa nel merito qualora non siano necessari accertamenti di fatti.” (FAZZALARI, Elio; LUISO, Francesco Paolo. Codice di

no caso de relações trabalhistas é absolutamente incompetente a justiça comum para apreciar determinado feito, a própria Corte Superior já determina a extinção do processo sem resolução de mérito, pois é desnecessário ingressar no direito subjetivo, e também o envio da causa para uma Corte de jurisdição ordinária para declarar tal situação. É o prestígio ao princípio da economia processual.

Nas outras situações em que for realizado o juízo de cassação positivo, segundo determina o art. 383, será realizada a cassação con rinvio. Deve-se enviar a causa a outra Corte de Apelação, para que essa aplique a solução jurídica dada pela Corte de Cassação aos fatos incontroversos, decididos pela Corte de Apelação originária.

Dessa forma, conclui-se que, no direito italiano, a sistemática dos juízos de cassação e revisão mostra que tal ordenamento difere explicitamente a duas fases, deixando claro que há uma fase meritória inicial, em que a Corte de Cassação somente analisa a aplicação dada pela Corte de Apelação a um ou mais dispositivos legais. Nessa primeira fase, como típico da jurisdição extraordinária, somente há conhecimento de direito objetivo analisando a decisão proferida pelo órgão a quo, e, se houver conclusão da Corte pela aplicação errônea da norma, o juízo de cassação é positivo, reformando-se a decisão recorrida no tocante ao conhecimento da questão de direito. A isso, os italianos chamam de estabelecer o principio di diritto. Posteriormente, há o envio dos autos para uma Corte de Apelação, pois somente essa pode conhecer do direito subjetivo da parte, e essa aplica o principio di diritto ao caso concreto.

A exceção prevista em lei, que implica não chamar de pura a divisão de competência entre jurisdições ordinária e extraordinária, é a exceção do artigo 382 do CPC italiano já tratado acima, em que não há o envio dos autos para um Tribunal de Apelação exercer o juízo de revisão. O ordenamento italiano pode ser chamado de um sistema intermediário no tocante à divisão de competências entre jurisdição ordinária e intermediária.

No documento Rafael de Oliveira Guimarao (páginas 189-191)

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