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De a decisão recorrida ter sido proferida por um Tribunal

No documento Rafael de Oliveira Guimarao (páginas 89-91)

2 APONTAMENTOS SOBRE OS RECURSOS EXCEPCIONAIS

2.2 DAS CARACTERÍSTICAS COMUNS DOS RECURSOS EXCEPCIONAIS

2.2.3 Dos pressupostos específicos para o cabimento dos recursos excepcionais

2.2.3.3 De a decisão recorrida ter sido proferida por um Tribunal

Como terceiro requisito genérico para o cabimento dos recursos excepcionais, tem-se a necessidade de a decisão recorrida ter sido proferida por um Tribunal. Tal requisito, expressamente, só está estampado no cabimento do recurso especial (art. 105, III, da CF/88245), pois, quanto ao recurso extraordinário, a hipótese de cabimento surge pelo simples fato de a decisão recorrida ser de única ou última instância246.

Quanto ao recurso extraordinário, a hipótese de cabimento para decisões de última ou única instância, independentemente de ser ela proveniente de Tribunal, encontra respaldo, por

243 “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata

compreensão da controvérsia.”

244 “[...]Ausência de Prequestionamento. 1. A suposta violação à norma inserta no art. 130 do CPC não pode ser

conhecida, porquanto o recorrente não fundamentou de maneira específica as razões de sua insurgência recursal. 2. Ao recorrente incumbe demonstrar de modo claro e fundamentado de que modo as normas federais foram violadas, especificando o ponto central em que constituiu a ofensa. Óbice da Súmula 284/STF. 3. As matérias relativas à necessidade de defesa prévia à aplicação da penalidade, ao pagamento decorrente de erro e à repetição do indébito não foram debatidas pelo Tribunal de origem, pelo que se constata a ausência do prequestionamento. Súmulas 282 e 356/STF. 4. Agravo regimental improvido.” (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, 2ª Turma, AgRg no REsp 771.997/RS, rel. Min. Castro Meira, j. 06.10.2005,

DJU 12.12.2005. p. 357). “[...] 3. Cabe à parte recorrente o duplo ônus de: a) indicar o ponto sobre o qual se

deu o alegado vício no julgamento da causa pelo Acórdão recorrido; e b) demonstrar sua relevância para o resultado do recurso impugnado, sob pena de atrair a aplicação da Súmula 284/STF: ‘É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia’. [...]” (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, 2ª Turma, REsp 866.450/RS, rel. Min. Herman Benjamin, j. 24.04.2007, DJe 07.03.2008).“[...]2. Ao recurso especial que não logra demonstrar efetivamente em que passagem o acórdão recorrido viola os dispositivos legais invocados é aplicável o enunciado n. 282, da Súmula do STF: ‘É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada’.[...]” (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, 2ª Turma, REsp 720.460/PE, rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 17.11.2009, DJe 27.11.2009).

245 “Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: [...] III - julgar, em recurso especial, as causas decididas,

em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida.”

246 “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal [...] III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas

exemplo, no cabimento contra decisões proferidas pelas Turmas Recursais dos Juizados Especiais.

No que tange ao recurso especial, a vedação do art. 105, III, da CF/88 é clara, permitindo o cabimento de recurso especial somente contra acórdãos proferidos pelos Tribunais Regionais Federais ou de Justiça. As Turmas Recursais não são Tribunais, tecnicamente falando pois, em tese, não possuem regimento interno, tampouco são formadas por Desembargadores nomeados. Deste modo, com acerto é o texto da Súmula 203 do STJ, que isto preceitua “não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais”.

A possibilidade de apresentação de recurso especial contra decisões das Turmas Recursais é algo totalmente impossibilitado, porém, desde 2009, não está vedado o acesso ao STJ para discutir lide oriunda dos Juizados Especiais. Isso porque, no julgamento do recurso extraordinário n. 571.572-8247, da Bahia, o STF firmou a orientação segundo a qual, enquanto não criado órgão capaz de “estender e fazer prevalecer a aplicação da jurisprudência do STJ”, “a lógica da organização do sistema judiciário nacional recomenda se dê à reclamação prevista no art. 105, I, f, da CF248 amplitude suficiente à solução deste impasse”. Vale dizer se está possibilitando que, por meio de Reclamação Constitucional, se discutam questões dos Juizados Especiais quando o decidido por tal jurisdição confrontar com a jurisprudência dominante do STJ.

Desse modo, está se fazendo uma analogia entre “decidir contra jurisprudência do STJ” como sendo “garantir a autoridade de suas decisões”, o que se coaduna com o fim do STJ de uniformizar o direito federal nacional, segundo Leonardo Morato, no citar Uadi Lammego Bulos249.

247 “A perplexidade manifestada pelo embargante decorre do fato de que, embora seja responsável pelo exame

da legislação infraconstitucional, o STJ não aprecia recurso especial contra decisão proferida no âmbito dos juizados especiais. As querelas de pequeno valor são submetidas às Turmas Recursais, sua instância revisora. No âmbito da Justiça Federal, a uniformização da interpretação da legislação infraconstitucional foi preservada com a criação da Turma de Uniformização pela Lei 10.259/2001. [...] Entretanto, não existe previsão legal de órgão uniformizador da interpretação da legislação federal para os juizados especiais estaduais, podendo, em tese, ocorrer a perpetuação de decisões divergentes da jurisprudência do STJ. Essa lacuna poderá ser suprida com a criação da turma nacional de uniformização da jurisprudência prevista no Projeto de Lei 16/2007 de iniciativa da Câmara dos Deputados e ora em trâmite no Senado Federal. Todavia, enquanto não for criada a turma de uniformização para os juizados especiais estaduais, poderemos ter a manutenção de decisões divergentes a respeito da interpretação da legislação infraconstitucional federal. Tal situação, além de provocar insegurança jurídica, acaba provocando uma prestação jurisdicional incompleta, em decorrência da inexistência de outro meio eficaz para resolvê-la.” (voto da Min. Ellen Gracie no julgamento de Edcl no RE n. 571.572-8/BA, Informativo 557, do Supremo Tribunal Federal).

248 “Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: [...] f) a

reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões.”

249 “Deve funcionar o Superior Tribunal de Justiça , na feliz expressão de Uadi Lammêgo Bulos, como ‘oráculo’

Na esteira de pensar de José Miguel Garcia Medina e Vinicius Secafen Mingati, “diante da decisão advinda do Pleno da Suprema Corte Constitucional pátria, e do elevado número de reclamações endereçadas ao Superior Tribunal de Justiça, foi necessária a regulamentação do referido instrumento processual, nessa especificidade.”250 Por meio da Resolução n. 12, de 14 de dezembro de 2009251, o STJ dispôs sobre o processamento “das reclamações destinadas a dirimir divergência entre acórdão prolatado por turma recursal estadual e a jurisprudência desta Corte”.

Dessa forma, verifica-se, como cabível, recurso extraordinário contra decisões proferidas em qualquer órgão jurisdicional estadual de única ou última instância, porém, no tocante ao recurso especial, este só é cabível contra decisões de Tribunais, excluindo desse rol as decisões proferidas por Turma Recursal dos Juizados Especiais252, passíveis essas de apreciação pelo STJ somente mediante Reclamação Constitucional conforme acima exposto.

No documento Rafael de Oliveira Guimarao (páginas 89-91)

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