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RECURSO EXTRAORDINÁRIO VISANDO IMPUGNAR ACÓRDÃO QUE DECLARA A INCONSTITUCIONALIDADE DE TRATADO OU LEI FEDERAL

No documento Rafael de Oliveira Guimarao (páginas 128-131)

4 DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

4.2 RECURSO EXTRAORDINÁRIO VISANDO IMPUGNAR ACÓRDÃO QUE DECLARA A INCONSTITUCIONALIDADE DE TRATADO OU LEI FEDERAL

A hipótese de cabimento de recurso extraordinário inserida na alínea b do inc. III do art. 102 da CF/88, traz a possibilidade de se admitir o recurso extraordinário quando se extrair do acórdão recorrido declaração de inconstitucionalidade de tratado ou lei federal.

A mencionada circunstância de cabimento tem lugar quando o Tribunal de instância ordinária, no caso de julgamento pela maioria absoluta dos membros de seu órgão especial, tiver declarado incidentalmente a inconstitucionalidade de lei federal ou tratado.

Primeiramente, importa ressaltar que a hipótese ora comentada tem sua razão de ser na presunção de constitucionalidade que a legislação infraconstitucional possui. As leis federais gozam de presunção relativa de constitucionalidade348, uma vez que todo ato normativo infraconstitucional se presume de acordo com a Carta Constitucional. Deste modo, não podem ter sua aplicação rejeitada por uma eventual discussão de sua constitucionalidade349, ou mesmo, em caso de ação direta de inconstitucionalidade, se a liminar para tanto não tiver sido concedida350.

questões relativas aos recursos especial e extraordinário. 5. ed. rev. e atual. da obra Prequestionamento nos recursos extraordinário e especial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 81-82).

347 § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do

Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

348 “Como se sabe, a constitucionalidade do ato nromativo é presumida. Há uma presunção relativa de que toda

norma infraconstitucional é fiel à Constituição. Não é por outra razão que a finalidade da ADC é, tão- somente, transformar esta presunção relativa de constitucionalidade que milita a favor do ato normativo, em presunção absoluta, imbatível, inabalável.” (DIDIER JÚNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Aspectos Processuais da ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) e da ADC (Ação Declaratória de Constitucionalidade) In: DIDIER JÚNIOR, Fredie (org.). Ações Constitucionais. 4. ed. Salvador: Editora Juspodivm, 2009. p. 420).

349 “Não cabe suspensão de ação de improbidade para o aguardo de pronunciamento incidental do Supremo

Tribunal Federal sobre a constitucionalidade da Lei n. 10.628/02. Princípio da presunção da constitucionalidade das leis. Precedentes do STF e do STJ.” (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, 1ª Turma, REsp 683046/RS, rel. Min. José Delgado, j. 04.08.05, DJU 10.10.2005. p. 235).

350 “O art. 9º da Lei n° 10.684/03 goza de presunção de constitucionalidade, não obstante esteja em tramitação

Desta forma, a declaração de inconstitucionalidade de ato normativo federal só pode ocorrer sob duas formas: (a) mediante controle concentrado de constitucionalidade, que é realizado pelo Supremo Tribunal Federal através da ação direta de inconstitucionalidade na forma do art. 102, I, a, da CF/88351; ou (b) por meio da declaração incidental de inconstitucionalidade (controle difuso), realizado nos Tribunais mediante sessão no órgão especial que exige a votação pela maioria, na forma do art. 97 da Constituição Federal, que trata do princípio da reserva de plenário352.

Uma das formas de realizar esse controle difuso é por meio do incidente declaratório de inconstitucionalidade (cf. art. 480 do CPC e art. 199 do RISTJ), no qual se alega a inconstitucionalidade de uma norma federal a fim de que o órgão especial se manifeste sobre a questão suscitada (inconstitucionalidade da lei) e, somente depois desta manifestação o processo tem prosseguimento com o julgamento da questão de fundo.

Dessa forma, a declaração de um Tribunal pela inconstitucionalidade de norma federal somente poderá ocorrer mediante o respeito ao princípio da reserva de plenário. Caso contrário, o recurso extraordinário além de ser cabível pela alínea b do inc. III do art. 102 da CF/88, também o será pela alínea a, ante a violação ao art. 97 da CF/88.

Tais proteções contra a manifestação de inconstitucionalidade de leis federais têm como única razão a higidez que o ordenamento jurídico deve encartar. Como ensina José Miguel Garcia Medina, comentando a referida circunstância de cabimento, “na hipótese, o recurso extraordinário tem como finalidade específica assegurar a validade do direito objetivo federal”.353

normativa. Precedentes.” (BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Pleno, Inq n. 1864, rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 02.04.2007, DJe02.08.2007).

351 “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I -

processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal.” Lembrando que as ações diretas de inconstitucionalidade propostas nos tribunais estaduais somente discutem a insconstitucionalidae de norma local (municipal ou estadual), conforme, por exemplo, dispõe o RITJPR: “Art. 84. Compete privativamente ao Órgão Especial, por delegação do Tribunal Pleno: [...] II – processar e julgar originariamente: [...] j) as ações diretas de inconstitucionalidade e declaratórias de constitucionalidade de leis ou de atos normativos estaduais e municipais contestados em face da Constituição Estadual e a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional.” Sendo assim, eventual acórdão do órgão especial de tribunal local poderá ensejar recurso extraordinário com base na aliena “a”, do art. 102, III, da CF/88, por alguma interpretação dada no acórdão em que seja fundamentada uma interpretação em desconformidade com a Constituição Federal, mas não com base na alínea “b”, pois os tribunais estaduais não têm competência para realizar o controle concentrado de ato normativo federal, mas somente de ato normativo local.

352 “Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão

especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público”

353 MEDINA, José Miguel Garcia. Prequestionamento e repercussão geral. E outras questões relativas aos

De acordo com José Afonso da Silva354, quanto ao princípio da presunção da constitucionalidade das normas federais, trata-se de importante proteção à aplicação delas, de modo que qualquer hipótese de transgressão a tal presunção deve ser apreciada pelo STF, mediante recurso extraordinário.

Outra questão relevante diz respeito ao fato de que, para a subsunção ao preceituado pela alínea b do inc. III do art. 102 da CF, o Tribunal local deve se manifestar expressamente sobre a inconstitucionalidade das normas federais, e não sobre a sua constitucionalidade. Como dito, a constitucionalidade é presumida, não sendo necessária a invocação do STF com o fundamento em constitucionalidade da norma federal para apreciar a questão. Além do quê, a interpretação da alínea b deve ser restrita, pois dispõe expressamente que a via do recurso extraordinário estará aberta quando houver a manifestação pela inconstitucionalidade da norma, não sendo admitida uma interpretação extensiva no caso.

No mais, não é pelo fato de o Tribunal local se manifestar sobre a constitucionalidade de norma federal que a via do recurso extraordinário estará totalmente fechada. Em tal caso, caberá recurso extraordinário pela alínea a, sob o fundamento de que o Tribunal local não deu a melhor interpretação a um dispositivo da Constituição, mas não atacando a questão com o fundamento da declaração de (in)constitucionalidade da norma pelo Tribunal local, hipótese de cabimento resguardada ao art. 102, III, b, da CF/88.

Por fim, cabe esclarecer que a discutida hipótese de cabimento de recurso extraordinário pode impugnar a declaração de inconstitucionalidade de lei federal proferido pelo Tribunal a quo, tanto em seu aspecto formal quanto em seu aspecto material.

A inconstitucionalidade de lei federal em seu aspecto formal, segundo Rodrigo Barioni355, decorre do descumprimento de regras de competência ou procedimento para a edição do ato, não se analisando, neste caso, o conteúdo da norma a fim de verificar sua incompatibilidade com a Constituição, mas tão somente o modo que foi editada. Em outras palavras, a inconstitucionalidade de lei em seu aspecto formal ataca uma possível irregularidade em sua formação, no processo legislativo que deu origem à norma. Já a inconstitucionalidade de lei federal em seu aspecto material ocorre quando o disposto na norma infraconstitucional conflita com dispositivo ou um princípio constitucional.

Exemplo de inconstitucionalidade material de uma norma seria a disposição contrária ao princípio da colegialidade dos Tribunais, como ocorre com o art. 527, parágrafo único, do

354 Cf. SILVA, José Afonso da Silva. Do recurso extraordinário no direito processual brasileiro. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 1963. p. 215.

355 Cf. BARIONI, Rodrigo. Ação rescisória e recursos para os tribunais superiores. São Paulo: Revista dos

CPC, que não admite recurso de decisão monocrática, vedando o acesso ao órgão colegiado, o qual é garantido constitucionalmente. Assim, no momento em que um Tribunal local declara inconstitucional mencionado dispositivo e admite um recurso contra decisão monocrática, está declarando incidentalmente a inconstitucionalidade (material) de lei federal356.

Desde que a referida declaração seja feita em respeito ao princípio da reserva de plenário, poderá ser manejado o recurso extraordinário com base no art. 102, III, b, da CF/88.

Desta forma, tem-se que o art. 102, III, b, da CF, admite, tão somente, o cabimento de recurso extraordinário contra acórdãos do Tribunal de instância ordinária que declarem a inconstitucionalidade de uma lei federal ou Tratado, seja ela em seu aspecto material ou formal, não tendo cabimento, com base na referida alínea, recurso extraordinário que ataque uma declaração de constitucionalidade de determinada lei federal pelo Tribunal local.

4.3 ACÓRDÃO RECORRIDO QUE JULGA VÁLIDA LEI OU ATO DE GOVERNO

No documento Rafael de Oliveira Guimarao (páginas 128-131)

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