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A INTERVENÇÃO SOCIAL DAS EMPRESAS NO BRASIL

No documento CONTROLESOCIAL,FAMÍLIAESOCIEDADE (páginas 150-154)

 Conteúdo

• A responsabilidade social • O percurso da ação social

 Competência e habilidade

• Levar ao acadêmico(a) a habilidade para entender as mudanças no meio empresarial e social

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 Duração

2 h-a – via satélite com professor interativo 2 h-a – presenciais com professor local 6 h-a – mínimo sugerido para autoestudo

O objetivo inicial desta aula é demonstrar que o assistente social não era tradicionalmente em- pregado em empresas, mas que foram as deter- minações específicas de reestruturação produti- va e das relações de trabalho ocorridas a partir dos anos 1960 que determinaram sua inclusão neste cenário. Para tanto, entendemos que o tra- balho é “uma totalidade organizada por esferas (totalidades) cuja (re)produção supõe a totali- dade maior, mas se efetua de formas particula- res, com regularidades próprias”. (BARROCO, 2001, p. 25) Ou seja, conforme a sociedade se complexifica, as esferas sociais podem ganhar uma certa autonomia.

Pensado nestes aspectos se torna oportuno tra- tar da intervenção social do empresariado no Brasil,

pois diante desta perspectiva estamos retomando aos anos 1990, que foi difundido como “prática in- tegrante do exercício da “responsabilidade social”, por parte das corporações capitalistas, reforçando o reordenamento das esferas pública e privada na prestação de serviços sociais, condizentes com o movimento de “desresponsabilização do Estado.” (CESAR, 2006, p. 183)

Para Cesar (2006), a intervenção social do em- presariado é considerada um dos elementos pontu- ais na hegemonia burguesa da sociedade brasileira, “frente às novas formas de organização da produção capitalista e do mercado mundial e à desarticulação do padrão histórico de resposta às sequelas da ques- tão social, via contrarreforma do Estado brasileiro”. (p. 183) Posto que,

Tal intervenção faz parte da rearticulação do em- presariado no bojo do processo de reestruturação capitalista, sob uma conjuntura política diferen- ciada, face à restauração da ordem democrática no Brasil, que redefi niu as práticas sociopolíticas e im- pôs a necessidade de fundamentos legitimadores, baseados na busca do consenso e em novas alianças de classes. (CESAR, 2006, p. 184)

Sendo assim, a responsabilidade social surge num contexto marcado pela organização do empre- sariado e ampliação das intervenções na sociedade, semeando e formulando propostas abrangentes. A responsabilidade social

Segundo Cesar (2006), nos anos 1990 a ideia de responsabilidade social ganhou consistência no meio empresarial, como o conjunto de atividades que a empresa realiza para atender as necessidades dos seus empregados e dependentes interna e exter- namente, as demandas da comunidade, em termos de assistência social.

No entanto, essas ações de intervenção social empresarial se apoiam na ideia de que todos devem ser corresponsáveis pelo destino do planeta e pela busca de soluções voltadas para o desenvolvimento e justiça social, daí o termo usado pelas empresas para defi nir suas ações como de responsabilidade social empresarial.

As empresas são incentivadas a demonstrar à so- ciedade que são socialmente responsáveis. Várias delas hoje assumem o compromisso com o desen- volvimento social, criando organizações sociais que intervém no âmbito social com metodologias de gestão defi nidas para serem aplicadas em comu- nidades no entorno das suas atividades produtivas. Algumas ações sociais dessas empresas alcançam o âmbito nacional e internacional e podem articular com a sociedade civil organizada. São projetos na área de educação, saúde, meio ambiente, lazer, cul- tura, esporte todos com o intuito de mobilizar a opi- nião pública para a ideia de que as empresas estão ampliando sua responsabilidade e solidariedade, cumprindo funções, antes restrita ao Estado.

Uma vez que estas ações são evidenciadas nos relatórios Anuais, publicados de maneira obrigató- ria pelas companhias de capital aberto e divulgada “amplamente na mídia, por empresas que sustentam seu desempenho e resultados em critérios éticos e sociais, enaltecendo, assim, sua chamada ‘inserção cidadã’”. (CESAR, 2006, p. 184)

No entanto, a responsabilidade social empresa- rial é voltada ao público interno da empresa em sua maioria, o que pressupõe um modelo de gestão par- ticipativa e de reconhecimento dos empregados no intuito de motivá-los a um bom desempenho que aumente a produtividade corporativa.

Por outro lado, a propagação e a disseminação dos valores relativos à unidade de conduta ética e social que as empresas possuem, interna e externa- mente, vêm sendo assumidas por um conjunto de instituições1 consideradas catalisadoras e orienta-

doras das ações sociais do empresariado. (CESAR, 2006)

Para Cesar (2006), a visibilidade que a interven- ção social do empresariado nacional vem galgan- do, tem motivado uma série de estudos realizados pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – IPEA. Mas, nem todas as empresas estão mudando. Aquelas que mudam, em especial as grandes em- presas, têm apontado para o fato que a resistência à mudança é resultado da acomodação gerencial, da falta de perspectivas na mudança ou da insegurança provocada pela ausência de treinamento e educação voltados às novas práticas.

Cabe ressaltar, que para Cesar (2006), o debate sobre a ação social empresarial confl ui com o ide- ário neoliberal da “Reforma do Estado” brasileiro, que aponta a existência de um “espaço público não- estatal” como a base de uma suposta “nova ordem social”. (p. 186)

1 As principais instituições são: Associação dos Dirigentes Cristãos de

Empresas do Brasil (ADCE), Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Fundação Instituto de De- senvolvimento Empresarial e Social (FIDES), Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) e Instituto Ethos. Pois elas assesso- ram, motivam, informam, analisam e mensuram o conjunto de ações no campo da “responsabilidade social empresarial”. (CESAR, 2006, P. 185)

O percurso da ação social

De acordo com Cesar (2006), o desenvolvimento capitalista no Brasil provocou uma revolução eco- nômica que impulsionou a industrialização e a uni- versalização do trabalho livre, porém marcada pela “ausência de compromisso com qualquer direito dos trabalhadores, por parte das elites dominantes, prevalecendo a dimensão autocrática do exercício do poder político”. (p. 189) Baseado nos ideais do liberalismo clássico, o processo de construção do Estado nacional teve como um de seus pontos cen- trais a exclusão das classes subalternas.

O avanço da produção capitalista elevou o grau de exploração da força de trabalho e intensifi cou a submissão do trabalho vivo ao capital, o que levou a classe trabalhadora a ampliar os espaços coleti- vos de defesa de seus interesses, por meio de suas lutas reivindicatórias históricas. Marcando o des- locamento da “questão social” para o centro das contradições que permeiam a sociedade capitalista. (CESAR, 2006)

O posicionamento do empresariado com relação à “questão social” apresentou variações no processo de desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Con- trapondo-se a qualquer iniciativa de implementa- ção das regulamentações trabalhista e social.

No período da Primeira República – os empre-

sários negavam a regulação do Estado e tratava os movimentos operários com repressão.

No Estado Novo – os serviços se expandiam,

com o propósito de consolidar a regulamentação dos direitos do trabalhador. As ações assistenciais do empresariado foram inscritas no corporativis- mo da Era Vargas. Pois, o estado assumia um papel central, atuando como condutor e indutor do capi- talismo, dentro de uma concepção de Estado forte e intervencionista, que engendrou um novo trata- mento para a questão social. A questão social, en- tão, deixou de ser tratada como “um ‘caso de polícia’ para se tornar um problema a ser enfrentado pelo Estado, que passou a intervir nas suas manifesta- ções, por meio das políticas trabalhista, sindical e previdenciá ria, porém, sob a ótica de uma ‘cidada- nia regulada”. (SANTOS apud CESAR, 2006, p. 190)

Em 1964 com o Golpe Militar se consolida o capi- talismo monopolista no Brasil, por meio da moder- nização conservadora. O processo de modernização imprimiu um ritmo de desenvolvimento capitalista à nova força de trabalho.

Nessa conjuntura, houve a expansão seletiva das políticas sociais, num movimento duplo de inclu- são e expulsão dos trabalhadores do sistema de proteção social. Ao criar condições pra institucio- nalizar a cobertura de trabalhadores que até então haviam fi cado “de fora”, o Estado promoveu a pri- vatização dos serviços sociais, lançando os traba- lhadores assalariados, de melhor poder aquisitivo, para o mercado de planos de saúde e previdência complementar. (CESAR, 2006, p. 191)

A crise econômica de 1970 acirrou as divergên- cias entre as frações da burguesia e defl agrou um novo processo de organização política das classes subalternas, por meio da ação dos movimentos sin- dicais e populares. (CESAR, 2006)

Numa análise breve da conjuntura, pode-se ob- servar que houve a ampliação dos espaços de con- fl itos entre as classes, levando o empresariado a redimensionar sua intervenção sociopolítica, para ampliar as bases de constituição de sua hegemonia. Contudo, a transição dos anos 1980 para 1990, de- monstra que a burguesia coloca em pauta o “cola- boracionismo entre as classes” para consolidar sua dominação.

Por outro lado, quando se fala da “emergência da empresa-cidadã” que ocorre no cenário nacional em meados dos anos 1970, verifi ca-se o surgimento de um novo processo de luta entre as classes funda- mentais no Brasil, que rompeu com os parâmetros de organização vigentes desde 1964.

Para Cesar (2006), este processo foi demarcado pelo aprofundamento da chamada “crise da dívida”, em meio ao movimento de recomposição da eco- nomia capitalista mundial, decorrente das recessões generalizadas em meados dos anos 1970 e no início doa anos 1980.

Deste modo, as mudanças no processo global de acumulação, articulação à reestruturação capitalis-

ta em escala mundial, aos “mecanismos integrados de ajustes macroeconômicos e à rearticulação da hegemonia burguesa, sob a infl uência do neolibe- ralismo, determinaram as estratégias de enfrenta- mento da crise”. (CESAR, 2006, p. 193) Ou seja, a difusão dos ideais neoliberal e dos conteúdos lesi- vos da reestruturação produtiva, incidiu no mun- do do trabalho e nos mecanismos de regulação estatal.

Pois, a falta de credibilidade das instituições pú- blicas em geral, levou as políticas a adquirir um con- torno de ajuste recomendado pelas agências multi- laterais como o Banco mundial, o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial do Comér- cio. Com o intuito de construir o desenvolvimento sustentável para administrar a pobreza, frente a su- posta diminuição da capacidade de intervenção do Estado e o enfraquecimento de seu papel regulador, proveniente da crise fi scal. (CESAR, 2006)

Ao considerar que as ações políticas das classes dominantes no Brasil são marcadas pelos “arran- jos de cúpula” e pela defesa de interesses parti- culares e imediatistas, pode-se considerar que a transição da década de 1980 para 1990 é marcada

pela expansão do empresariado e sua intervenção na sociedade.

!

IMPORTANTE

Algumas organizações empresariais têm im- plementado uma ampla rede com ONGs locais e internacionais, agências governamentais, or- ganizações multilaterais, universidades, cen- tros de pesquisa, fundações fi lantrópicas ame- ricanas através de uma agenda de conferências nacionais e internacionais sobre práticas de responsabilidade social empresarial.

Cabe ressaltar que a burguesia para construir sua hegemonia percebeu que não basta o controle sobre o poder estatal, com base numa aglutinação de in- teresses econômico-corporativos, mas, é necessário transformar tais interesses em “interesses comuns”, por meio de um conjunto de alianças de classe, para construir um projeto integrador que possa articular as classes dominantes, as camadas intermediárias, as classes subalternas intermediárias, ou seja, o todo social.

Unidade Didática – Desafi

os e Perspectivas do Serviço Social

AULA

6

ENFRENTAMENTO DO DESEMPREGO/

No documento CONTROLESOCIAL,FAMÍLIAESOCIEDADE (páginas 150-154)