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TEORIA E HISTÓRIA DA FAMÍLIA

No documento CONTROLESOCIAL,FAMÍLIAESOCIEDADE (páginas 59-61)

CONTEXTUALIZANDO FAMÍLIA  Conteúdo

TEORIA E HISTÓRIA DA FAMÍLIA

• Defi nições e Conceitos de Família • Estrutura, Papéis e Funções da Família

 Competências e habilidades

• Conceituar a origem e historicidade da família • Entender defi nições e conceitos da família

• Compreender o papel, a estrutura e as funções desempenhadas pela família

 Material para autoestudo

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 Duração

2 h-a – via satélite com professor interativo 2 h-a – presenciais com professor local 10 h-a – mínimo sugerido para autoestudo.

TEORIA E HISTÓRIA DA FAMÍLIA

Como em outras situações da vida humana, o ci- clo que compõe a vida familiar perpassa por etapas sucessivas durante o processo evolutivo. Esse fato leva à constante busca de teorias e conceitos que ex- pliquem a origem e estruturação do grupo familiar. Estudos apontam que, originalmente, as famí- lias organizavam-se sob a forma matriarcal, conse- quência da vida nômade dos povos primitivos. Nessa época, os homens ainda desconheciam as técnicas do cultivo da terra, e precisavam sair em busca de alimento. As mulheres permaneciam com a prole, que crescia praticamente sob a infl uência

exclusiva da genitora. Essa situação genuinamente prepondera a fi gura materna e, em certas socieda- des matriarcais essas mulheres possuíam o direito de propriedade e certos privilégios políticos.

A organização familiar, contudo, não se restrin- ge à espécie humana. Faremos uma síntese sobre os comportamentos familiares de alguns animais para reafi rmar o estilo genérico dos agrupamentos familiares na trajetória da espécie humana. Há de se lembrar que entre os animais há famílias em que, após o acasalamento, a prole fi ca sob os cuidados de um dos genitores, geralmente a fêmea, porém, em alguns casos, também encontramos o macho como

responsável pelos descendentes. Por sua vez, algu- mas espécies de aves vivem com a família durante o período da reprodução e com seus bandos nas de- mais épocas do ano. A exemplo da espécie humana, também no reino animal existem famílias amplia- das (ou extensas), em que os fi lhos mais velhos au- xiliam na criação dos irmãos. As abelhas operárias, fi lhas estéreis das abelhas rainhas, constituem entre si uma comunidade de irmãs com funções de mútu- os cuidados, proteção e alimentação.

Segundo Morgan (apud OSÓRIO, 1996, p. 31), “havia originalmente uma promiscuidade absoluta, sem qualquer interdição para o intercurso sexual entre os seres humanos. Este teria sido o período da família consanguínea, estruturada a partir dos aca- salamentos dentro de um mesmo grupo”.

Durante esse período, após a proibição do re- lacionamento sexual entre pais e fi lhos e entre ir- mãos, surgiu a família punaluana, também conhe- cida como família por grupo, onde os membros se uniam com componentes de grupos diferentes. Nesse contexto, os homens poderiam se casar so- mente com um elemento de outro grupo. Na famí- lia sindesmática ou de casal, a união acontecia entre casais que respeitavam o tabu do incesto, mas sem a obrigatoriedade do casamento intergrupos. Este tipo de família, encontrada entre os nômades, tinha como característica a convivência de vários casais no mesmo espaço e sob a autoridade matriarcal.

Da divisão das obrigações, oriunda do desenvol- vimento da agricultura, teria originado a família pa- triarcal, criada sob a autoridade absoluta do patriar- ca ou “chefe da família” que, na maioria das vezes, vivia em um regime poligâmico, tendo as mulheres isoladas em determinados locais chamados de gine- ceus e harens.

A família monogâmica, modelo da civilização do Ocidente, cujas origens encontram-se ligadas à ideia de posse ao longo do processo civilizatório, ti- nha como condição exigida para o reconhecimento dos fi lhos e transmissão hereditária da propriedade, a fi delidade. Esse modelo de família é predominante no mundo ocidental até os dias atuais.

A origem etimológica da palavra família, que de- riva do vocábulo latino famulus que signifi ca escravo doméstico, o que pressupõe que, primitivamente, se considerava a família como o conjunto de escravos ou servos de uma mesma pessoa. Isso nos remete à compreensão da natureza possessiva das relações familiares entre os povos primitivos. Nessa relação, a mulher obedecia seu companheiro como se fosse seu proprietário e dono. Os fi lhos pertenciam a seus pais, a quem deviam suas vidas e, por conseguin- te, esses se julgavam com total direito sobre elas. O sentido de posse e de poder estava perceptivelmente ligado à origem e evolução do grupo familiar. Bilac (1995, p. 31) discorrendo sobre o tema, cita Engels ao afi rmar que:

O termo família é derivado de famulus (escravo doméstico) – foi uma expressão inventada pelos romanos para designar um novo organismo social que surge entre as tribos latinas, ao serem introdu- zidas à agricultura e à escravidão legal. Esse novo organismo caracteriza-se pela presença de um che- fe que mantinha sob seu poder, os fi lhos e certo nú- mero de escravos, do poder de vida e morte sobre todos eles e certo número de escravos, com poder de vida e morte sobre eles, o paterpolistas.

Talvez as raízes da palavra família expliquem porque até hoje existam fi lhos e esposas submissos ao chefe da família, sem opinar ou questionar sobre os problemas dentro do seio familiar.

Afi rma Aries (1986) que até o século XV, a famí- lia era “uma realidade moral e social, mas do que sentimental [...] A família quase não existia senti- mentalmente entre os pobres, e, quando havia ri- queza e ambição, o sentimento se inspirava no mes- mo sentimento provocado pelas antigas relações de linhagem.

As famílias, até então, não tiveram necessaria- mente a reprodução cotidiana ou geracional como função específi ca ou exclusiva, e, em muitos mo- mentos, desempenharam simultânea e prioritaria- mente, funções políticas e econômicas.

Pelo exposto, podemos inferir que a família an- tiga era concebida como instituição fundada na e

para a reprodução cotidiana e geracional dos seres humanos. Sua maior missão recaía na conservação dos bens, na prática comum do ofi cio. A ajuda mú- tua era essencial para a sobrevivência em um mundo em que seres humanos isolados não sobreviveriam. A função afetiva não pode ser identifi cada como algo fundamental à família nessa época, já que as trocas afetivas e os contatos sociais aconteciam en- tre as pessoas mais próximas, não necessariamente membros familiares.

Assim, a instituição família consolidou-se na an- tiga aristocracia, não propriamente por laços afe- tivos, mas visando à questão econômica, ou seja, além do vínculo consanguíneo, a maior preocupa- ção era assegurar que o poder aquisitivo não saísse das mãos de seus membros.

No documento CONTROLESOCIAL,FAMÍLIAESOCIEDADE (páginas 59-61)