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NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL  Conteúdo

No documento CONTROLESOCIAL,FAMÍLIAESOCIEDADE (páginas 165-171)

• Noções sobre a Política de Assistência Social no Brasil

• A prática profi ssional do Assistente Social no âmbito da Política de Assistência social

 Competências e habilidades

• Conhecer a política de Assistência Social como direito do cidadão e campo privilegiado de atuação do Assistente Social

• Compreender que a construção e manutenção de políticas públicas é um campo tradicional de luta e de atuação do Assistente Social

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Art. 203. A Assistência Social será prestada a quem dela necessitar independente da contribuição à se- guridade social (...) (CONSTITUIÇÃO DA REPÚ- BLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988).

A Assistência Social, como política pública, é fruto de amplos debates e lutas sociais e confi gura- se como grande desafi o à sociedade brasileira que acostumou-se a lidar com a pobreza do ponto de

vista da caridade, benemerência e práticas conser- vadoras e descontínuas. Com os artigos 203 e 204 da Constituição Federal de 1988, inaugura-se outro momento histórico no país. A elevação da Assistên- cia Social, posteriormente regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS nº 8.742 de 07/12/93, para a categoria de Política Pública não contributiva, faz tripé com a Saúde (não contributi- va) e a Previdência Social (contributiva).

Estabelece-se, nesse momento, grande diferença da prática conservadora adotada que não conside- rava o campo dos direitos na área da Assistência Social. Hoje o cenário diverge da prática anterior quando busca consolidar as demandas das popula- ções desassistida e vulnerabilizadas. A Assistência Social no Brasil sempre foi tratada como caridade, utilizada para amenizar o sofrimento dos mais po- bres e “despossuídos”, não contribuía para garantir direitos e não combatia a exclusão e a desigualdade social.

Enfrentamento da pobreza, motivo de discursos calorosos de governantes, políticos e intelectuais; cenário das câmeras televisivas e manchetes de jor- nais; alvo de estudos sérios e poucos sérios; objeti- vo de numerosos projetos governamentais; foco de macroações de pouca efetividade; base abusiva do fi siologismo político; e por fi m, no cômputo geral, destinação de magros recursos mal alocados e con- trolados – esta tem sido a história de atenção aos pobres brasileiros1(SPOSATI, Aldaíza de Oliveira et alii. Os direitos (dos desassistidos) sociais – 5a ed. – São Paulo: Cortez, 2006).

Com o agravamento da crise capitalista, agrava-se a questão social com o aumento do número de pes- soas em empregos informais de estrita sobrevivência, desempregados, famílias desassistidas e grupos mais vulneráveis em virtude de ciclos geracionais: velhice – infância, diversidade étnica, gênero, sexualidade.

O reconhecimento de situações e fragilidades de indivíduos e grupos é assegurado enquanto garantia social de direito. Passar da prática de “ajuda” para a política de direitos é um desafi o ainda em fase de consolidação, pois ainda se vê prevalecer a lógica do “dever moral” e não do “direito legal”, direito con- vertido em Política Pública.

Política pública signifi ca, portanto, ação coletiva que tem por função concretizar direitos sociais de-

1 Texto de apresentação contido no livro “Os direitos

(dos desassistidos) sociais, da editora Cortez, escrito por: Aldaíza Sposati, Maria do Carmo Falcão e Sonia Maria Teixeira Fleuri.

mandados pela sociedade e previstos nas leis. Ou, em outros termos, os direitos declarados e garanti- dos nas leis só têm aplicabilidade por meio de po- líticas públicas correspondentes, as quais, por sua vez, operacionalizam-se mediante programas, pro- jetos e serviços. (PEREIRA, Potyara. A Assistência Social na Perspectiva dos Direitos: crítica aos pa- drões dominantes de proteção aos pobres no Brasil. Brasília: Th esaurus, 1996.)

No campo da Assistência Social, o assistente so- cial sempre foi o profi ssional referenciado para esse trabalho, seja por sua característica de interven- ção e mediação frente às questões sociais, seja pela concepção histórica da prática profi ssional nesse campo, mas os desafi os ainda são grandes, princi- palmente no que tange a uma Política de Recursos Humanos que viabilize condições materiais, físicas e fi nanceiras de trabalho que possibilitem a autono- mia técnica e apoio à emancipação de seus usuários. Porém, novas formas de atuação para os profi s- sionais da área social, se fazem necessárias, prin- cipalmente, após a aprovação da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) em 2004, da Norma Operacional Básica – NOB/SUAS em 2005 e da NOB/RH/SUAS em 2006, que defi nem normas e di- retrizes para estruturação da política de Assistência Social e constituição de equipes técnicas formadas por assistentes sociais, psicólogos(as) e outros pro- fi ssionais.

Uma profi ssão que está em constante transfor- mação, com sua prática moldada de acordo com a conjuntura e momento histórico, alicerçado em um código de ética que disciplina e dá suporte a sua prá- tica, tem na efetivação de direito seu “produto” de trabalho, pode enfi m, atuar na Assistência Social, na ótica de usuários (cidadãos) detentores de direito.

As atribuições e competências dos assistentes so- ciais devem ser orientadas pelo código de ética e lei de regulamentação da profi ssão, que disciplina sua prática no que se refere aos direitos e deveres no tra- to com os usuários e no exercício de sua atividade profi ssional, ou seja, o assistente social tem que se despir da postura de abordagens pragmáticas e con- servadoras que não consideram o indivíduo como

“ser único” com debilidades e potencialidades pró- prias, mas que requer condições específi cas e meios para buscar e validar seus direitos.

Nessa perspectiva, a intervenção profi ssional na política de Assistência Social não pode ter como horizonte somente a execução das atividades arro- ladas nos documentos institucionais, sob o risco de limitar suas atividades à “gestão da pobreza” sob a ótica da individualização das situações sociais e de abordar a questão social a partir de um viés mora- lizante. Isso signifi ca que a complexifi cação e dife- renciação das necessidades sociais, conforme apon- tada no SUAS e na PNAS, e que atribui à Assistên- cia Social as funções de proteção básica e especial, com foco de atuação na “matricialidade sociofami- liar”, não deve restringir a intervenção profi ssional, sobretudo a do/a assistente social, às abordagens que tratam as necessidades sociais como problemas e responsabilidades individuais e grupais. Isso por- que todas as situações sociais vividas pelos sujeitos que demandam a política de Assistência Social têm a mesma estrutural e histórica raiz na desigualdade de classe e suas determinações, que se expressam pela ausência e precariedade de um conjunto de direitos como emprego, saúde, educação, moradia, transporte, distribuição de renda, entre outras for- mas de expressão da questão social. (CFESS, 2007, p. 11).

Neste contexto, a Assistência Social deve ser vista como uma política pública setorial e para fazer en- frentamento à realidade posta deve fazer interface e trabalhar articuladamente com as demais políticas de Saúde, Emprego, Educação, Habitação etc., pois a estas cabem a tarefa de realizar a proteção social de forma organizada e comprometida com os direitos dos cidadãos.

Na lógica do capital e na explosão das situações de vida e desigualdades impostas a grandes con- tingentes da população, o Serviço Social vem am- pliando seu campo de atuação de acordo com as demandas postas, atuando em campos tidos como tradicionais, com populações vulnerabilizadas que demandam ao Serviço Social projetos e ações sis- temáticas no enfrentamento dessas problemáticas.

Em uma visão crítica, macro e focada na reali- dade social, considerando as condições materiais de vida dos usuários, o assistente social deve dar res- postas às demandas, mas para isso é preciso que esse profi ssional esteja apto e pronto para entender (...) que algumas competências gerais são fundamentais à compreensão do contexto sócio-histórico em que se situa sua intervenção: (CFESS, 2007, p.26).

Apreensão crítica dos processos sociais de produ- ção e reprodução das relações sociais em uma pers- pectiva de totalidade;

Análise do movimento histórico da sociedade brasi- leira, apreendendo as particularidades do desenvol- vimento do Capitalismo no país e as particularida- des regionais;

Compreensão do signifi cado social da profi ssão e de seu desenvolvimento sócio-histórico, nos cenários internacional e nacional, desvelando as possibilida- des de ação contidas na realidade;

Identifi cação das demandas presentes na socieda- de, visando a formular respostas profi ssionais para o enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre o público e o privado (ABEPSS. Associação Brasileira de Ensino e Pes- quisa em Serviço Social. Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social. In Cadernos ABESS n. 07. São Paulo, Cortez Editora, 1996.).

Orientações complementares que visam auxiliar na estruturação e estabelecimento de competências no campo interventivo do assistente social são lis- tadas no documento “Parâmetros para atuação de assistentes sociais e psicólogos(as) na Política de As- sistência Social. Conselho Federal de Serviço Social e Conselho Federal de Psicologia”, e citadas abaixo:

(...). As competências específi cas dos(das) assis- tentes sociais, no âmbito da política de Assistência Social, abrangem diversas dimensões interventivas, complementares e indissociáveis: (CFESS, 2007, p. 27).

1. Uma dimensão que engloba as abordagens individuais, familiares ou grupais na perspec- tiva de atendimento às necessidades básicas e acesso aos direitos, bens e equipamentos

públicos. Essa dimensão não deve se orientar pelo atendimento psicoterapêutico a indiví- duos e famílias (próprio da Psicologia), mas sim à potencialização da orientação social com vistas à ampliação do acesso dos indiví- duos e da coletividade aos direitos sociais; 2. Uma dimensão de intervenção coletiva junto

a movimentos sociais, na perspectiva da so- cialização da informação, mobilização e orga- nização popular, que tem como fundamento o reconhecimento e fortalecimento da classe trabalhadora como sujeito coletivo na luta pela ampliação dos direitos e responsabiliza- ção estatal;

3. Uma dimensão de intervenção profi ssional voltada para inserção nos espaços democráti- cos de controle social e construção de estraté- gias para fomentar a participação, reivindica- ção e defesa dos direitos pelos(a) usuários(as) e Conselhos, Conferências e Fóruns da Assis- tência Social e de outras políticas públicas; 4. Uma dimensão de gerenciamento, planeja-

mento e execução direta de bens e serviços a indivíduos, famílias, grupos e coletividade, na perspectiva de fortalecimento da gestão de- mocrática e participativa capaz de produzir, intersetorial e interdisciplinarmente, propos- tas que viabilizem e potencializem a gestão em favor dos(as) cidadãos(ãs);

5. Uma dimensão que se materializa na realiza- ção sistemática de estudos e pesquisas que re- velem as reais condições de vida e demandas da classe trabalhadora, e possam alimentar o processo de formulação, implementação e monitoramento da política de Assistência So- cial;

6. Uma dimensão pedagógico-interpretativa e socializadora de informações e saberes no campo dos direitos, da legislação so- cial e das políticas públicas, dirigida aos(as) diversos(as) atores (atriz) e sujeitos da po- lítica: os(as) gestores(as) públicos(as), di- rigentes de entidades prestadoras de servi-

ços, trabalhadores(as), conselheiros(as) e usuários(as).

A materialização dessas diversas dimensões é prenhe de possibilidades e pode se desdobrar em diversas competências, estratégias e procedimen- tos específi cos, com destaque para: (CFESS, 2007, p. 28).

Realizar pesquisas para identifi cação das deman- das e reconhecimento das situações de vida da po- pulação que subsidiem a formulação dos planos de Assistência Social;

Formular e executar os programas, projetos, be- nefícios e serviços próprios da Assistência social, em órgãos da Administração Pública, empresas e organizações da sociedade civil;

Elaborar, executar e avaliar os planos municipais, estaduais e nacional de Assistência Social, buscando interlocução com as diversas áreas e políticas públi- cas, com especial destaque para as Políticas de Se- guridade Social;

Formular e defender a constituição de orçamen- to público necessário à implementação do plano de Assistência Social;

Favorecer a participação dos(as) usuários(as) e movimentos sociais no processo de elaboração e avaliação do orçamento público;

Planejar, organizar e administrar o acompanha- mento dos recursos orçamentários nos benefícios e serviços socioassistenciais nos Centros de Referên- cia em Assistência Social (CRAS) e Centro de Refe- rência Especializado de Assistência Social (CREAS); Realizar estudos sistemáticos com a equipe dos CRAS e CREAS, na perspectiva de análise conjun- ta da realidade e planejamento coletivo das ações, o que supõe assegurar espaços de reunião e refl exão no âmbito das equipes multiprofi ssionais;

Contribuir para viabilizar a participação dos(as) usuários(as) no processo de elaboração e avaliação do plano de Assistência Social; prestar assessoria e consultoria a órgãos da Administração Pública, em- presas privadas e movimentos sociais em matéria relacionada à política de Assistência Social e acesso aos direitos civis, políticos e sociais da coletividade;

Estimular a organização coletiva e orientar os(as) usuários(as) e trabalhadores(as) da política de As- sistência Social a constituir entidades representati- vas;

Instituir espaços coletivos de socialização de in- formação sobre os direitos socioassistenciais e sobre o dever do Estado de garantir sua implementação;

Assessorar os movimentos sociais na perspec- tiva de identifi cação de demandas, fortalecimento do coletivo, formulação de estratégias para defesa e acesso aos direitos;

Realizar visitas, perícias técnicas, laudos, infor- mações e pareceres sobre acesso e implementação da política de Assistência Social;

Realizar estudos socioeconômicos para identifi - cação de demandas e necessidades sociais;

Organizar os procedimentos e realizar atendi- mentos individuais e/ou coletivos nos CRAS – Cen- tro de Referência em Assistência Social;

Exercer funções de direção e/ou coordenação nos CRAS – Centro de Referência em Assistência So- cial, CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social e Secretarias de Assistência Social;

Fortalecer a execução direta dos serviços socioas- sistenciais pelas prefeituras, governo do DF e gover- nos estaduais, em suas áreas de abrangência;

Realizar estudo e estabelecer cadastros atualiza- dos de entidades e redes de atendimentos públicos e privados;

Prestar assessoria e supervisão às entidades não governamentais que constituem a rede socioassis- tencial;

Participar nos Conselhos municipais, estadu- ais e nacional de Assistência Social na condição de conselheiro(a);

Atuar nos Conselhos de Assistência Social na condição de secretário(a) executivo(a);

Prestar assessoria aos conselhos, na perspectiva de fortalecimento do controle democrático e am- pliação da participação de usuários (as) e trabalha- dores (as);

Organizar e coordenar seminários e eventos para debater e formular estratégias coletivas para mate- rialização da política de Assistência Social;

Participar na organização, coordenação e realiza- ção de conferências municipais, estaduais e nacio- nal de Assistência Social e afi ns;

Elaborar projetos coletivos e individuais de for- talecimento do protagonismo dos(as) usuários(as);

Acionar os sistemas de garantia de direitos, com vistas a mediar seu acesso pelos(as) usuários(as);

Supervisionar direta e sistematicamente os(as) estagiários(as) de Serviço Social.

Cabe salientar que essas diretrizes são apenas in- dicações para atuação do assistente social, no entan- to, o referido profi ssional não precisa se ater a essas recomendações, ou fi car vinculado a tal indicação, como profi ssão reconhecida na divisão social e téc- nica do trabalho, esse profi ssional está apto e quali- fi cado para utilizar técnicas, instrumentos e meto- dologias que lhe for conveniente a essa ou aquela in- tervenção, cabendo somente a ele defi nir e decidir, dentro de parâmetros éticos, sua forma de intervir e propor o caminho a ser seguido no processo junto aos usuários de seus serviços.

Assim, é importante destacar que cabe a nós profi ssionais de serviço social a mudança de para- digmas em relação à Política de Assistência Social, visto que os preconceitos e as ideias equivocadas ainda cercam essa matéria, trazendo e mantendo no bojo das discussões o enfoque antigo e tradicional de “pobreza” relacionada a questão moral e valores individuais.

E para expressar esse sentimento e, momentane- amente, fi nalizar este assunto, utilizamos o pensa- mento de Pereira (1996, p. 217), que assim se ma- nifesta:

Em decorrência desse fato, a assistência social qua- se nunca é vista pelo que ela é – como fenômeno social dotado de propriedades essenciais, nexos internos, determinações histórico-estruturais, re- lações de causa e efeito, vínculos orgânicos com outros fenômenos e processos –, mas pelo que apa- renta ser, pela sua imagem distorcida pelo senso

comum ou, o que é pior, pelo mau uso político que fazem dela, por falta de referências conceituais, te- óricas e normativas consistentes.

Conforme exposto acima o assistente social na sua atuação diária tem de considerar que Assis- tência Social é política pública, não contributiva, e, portanto, é direito do usuário ter acesso aos ser-

viços, programas, projetos e benefícios propostos pela mesma. O profi ssional deve possibilitar pelos mais diferentes meios (informações, instrumentos, orientação, acompanhamento) que o usuário tenha seus interesses e necessidades atendidas e que faça uso desse direito, sem ser cerceado, coagido ou que sofra qualquer constrangimento por demandar esse direito.

Unidade Didática – T

eoria e Prática em Serviço Social

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ATUAÇÃO E ANÁLISE DA PRÁTICA

PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

NA PREVIDÊNCIA SOCIAL

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