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Unidade Didática – Desafi os e Perspectivas do Serviço

No documento CONTROLESOCIAL,FAMÍLIAESOCIEDADE (páginas 142-146)

Social

AULA

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PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

 Conteúdo • O Projeto Ético-Político  Competência e habilidade

• Levar o(a) acadêmico(a) a refl etir sobre a importância do projeto ético-político na contem- poraneidade, entender a realidade do assistente social e pensar sua ação e termos da análise sociopolítico da atualidade

 Material para autoestudo

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 Duração

2 h-a – via satélite com professor interativo 2 h-a – presenciais com professor local 6 h-a – mínimo sugerido para autoestudo

INTRODUÇÃO

O Serviço Social emergiu no cenário brasileiro como “representante” da classe burguesa-domi- nante, ligado ao poder da Igreja Católica ou do Estado, com o objetivo de garantir a manutenção do sistema capitalista, conforme Barroco nesse sis- tema:

[...] o enfrentamento moral das “sequelas” da “questão social” é uma resposta a processos obje- tivamente construídos na (re)produção do capital e do trabalho, signifi cando a despolitização de seus fundamentos objetivos, ou seja, do seu signifi cado socioeconômico e ideo-político. Em suas determi- nações ético-políticas, é uma forma de moralismo, sustentada ideologicamente pelo conservadorismo moral. (2001, p.74)

A mesma autora afi rma que o conservadorismo moral na origem do Serviço Social pode ser eviden- ciado através da formação profi ssional, nos valores sociais da igreja católica e na cultura brasileira, por meio de ideias positivistas, na perspectiva conser- vadora trata-se de evitar o “desequilíbrio” ou o “de- sajustamento” da sociedade capitalista. Sobre isto a referida autora diz que:

O pensamento positivista comteano explica e justifi ca ideologicamente a ordem social burguesa e uma de suas peculiaridades reside em seu tratamen- to moral dos confl itos e contradições sociais. Seu conservadorismo, expresso em sua defesa da ordem e da autoridade, aliado à ideia de uma ordem social naturalmente “harmônica”, possibilita que as lutas sociais sejam vistas como “desordem” que a educa-

ção moral pode superar. A articulação entre “har- monia” social e ação moral tem como fundamento a valorização do altruísmo e da persuasão em busca da coesão social (2001, p. 77).

Originalmente o Serviço Social brasileiro tinha como referencial o Serviço Social europeu, com fundamentos na doutrina neotomista – positivista. A partir da década de 1940, o referencial que passa a orientar o exercício profi ssional é o de caso, grupo e comunidade, criado nos Estados Unidos. A orienta- ção teórico-metodológica que sustenta a emergên- cia e profi ssionalização do Serviço Social é denomi- nada na categoria como Serviço Social tradicional, esse referencial de cunho tradicional conservador da profi ssão passa a ser questionado pelos(as) as- sistentes sociais. Este período (décadas de 1970 e 1980) marca um momento de grande importância para o desenvolvimento do Serviço Social brasi- leiro, caracterizado principalmente pela denúncia e enfrentamento do conservadorismo profi ssional, esta “ação” pode ser considerada como a base de um novo projeto profi ssional, denominado projeto ético-político. O conservadorismo não representava um projeto construído pelos profi ssionais, mas uma identidade atribuída à profi ssão pela burguesia, por sua origem e institucionalização, caracterizada pelo referencial ideológico da Igreja Católica, ins- trumentalizado pelo projeto conservador burguês. Conforme Netto, “a crítica ao conservadorismo e consequentemente o projeto ético-político surgiu com o Movimento de Reconceituação (na década de 1960)”.

Desta maneira os profi ssionais deram início a um processo de revisão de seu exercício profi ssio- nal ao interagirem, na realidade e dentro da pró- pria categoria com outros projetos sociopolíticos. As refl exões surgidas neste processo constituíram a base inicial da construção do Projeto Ético Político Profi ssional, pela categoria, no seu movimento his- tórico. A proposta primária do Projeto Ético Políti- co Profi ssional é constituída pelo Código de Ética de 1986, posteriormente reformulado em 1993, pela Reformulação da Lei que regulamenta a profi ssão, tendo sua complementação com as Diretrizes Cur-

riculares para o Curso de Serviço Social, aprovadas pela categoria em 1996. Com o movimento de Re- conceituação desenvolvido pela categoria, inicia- se o movimento de intenção de ruptura, ou seja, o processo que busca romper com o conservadorismo na profi ssão. No âmbito da formação profi ssional, o debate desenvolvido pela categoria neste contexto de discussão da profi ssão, coloca a necessidade de se discutir e avaliar o projeto de formação que orienta- va a formação dos profi ssionais.

Diante deste contexto histórico é relevante se pensar que o início da construção do projeto ético- político o MOVIMENTO DE RECONCEITUA- ÇÃO1 do Serviço Social (década de 1960), que foi

responsável pela ruptura, ou seja, superação e nega- ção da ética tradicional (conservadorismo) – fun- dada em pressupostos abstratos, imutáveis, que não explicitavam a dimensão política da prática substi- tuindo estes pressupostos por um posicionamento político da profi ssão, desmistifi cando assim a neu- tralidade de sua ação e instaurando uma nova. MORALIDADE PROFISSIONAL

O Serviço Social na década de 1990 rompe em sua base formal com o conservadorismo, claramen- te com uma visão de homem enquanto ser social que constrói sua história, tendo a liberdade como eixo central de orientação deste projeto, entendida não apenas como valor, mas como capacidade onto- lógica do ser social (BARROCO, 2001).

A seguir apresentaremos alguns pontos do pro- cesso de ruptura com a ética tradicional, com base nas argumentações de Barroco (2001):

Confi gura-se um ethos de ruptura – que busca sua nova identidade no engajamento político e na ação educativa voltada à libertação dos “oprimidos”.

O Assistente Social é chamado a posicionar-se negando assim a neutralidade.

1 A vertente que foi hegemonicamente assumida foi a

materialista histórica e sabe-se da importância da re- fl exão teórica marxista para a compreensão crítica do signifi cado social da profi ssão e o desvelamento de sua dimensão político-ideológica.

Por meio dos movimentos populares tem uma prática educativa mudando a direção anterior, agora educa-se para libertar.

Kisnerman defende uma transformação que priorize a educação de base, uma mudança em que o Assistente Social atue como educador popular e transforme suas atitudes, conscientizando-se da realidade e promovendo a participação para a mu- dança. Desenvolver atitudes e valores diferentes e desencadear capacidades criadoras.

A maior parte dos profi ssionais e estudantes vin- culados aos movimentos da juventude católica.

A apropriação do marxismo é mediada pelo pen- samento católico europeu. Busca-se uma aproxima- ção com ideário socialista, conservando-se, porém, a perspectiva fi losófi ca do humanismo cristão; des- sa junção decorre um ethos valorizador do diálogo, da autenticidade, do compromisso, da comunidade, da responsabilidade, da liberdade, do amor, da soli- dariedade, da intersubjetividade e do engajamento ético-político.

Na década de 1970 o marxismo cristão é marca- do pela Teologia da Libertação (articula marxismo e cristianismo) e pela Revolução Sandinista (Nica- rágua) (fusão entre os princípios cristãos e o ideário socialista).

A Teologia da Libertação infl uencia a negação da concepção tradicional do Serviço Social, possibili- tando as determinações de classe, Löwy, a solidarie- dade com o pobre, que não é mais vista como objeto de caridade e assistência, os oprimidos passam a ser concebidos como sujeitos de sua própria libertação.

Tem-se o incentivo moral das massas, de modo a formar uma consciência ético-política em face da construção de uma nova sociedade e de um novo homem. Para construir o comunismo é preciso construir um novo homem.

A Revolução Cubana – Che – o ideário revolucio- nário remete à unidade entre moral e política, fun- dada em valores humanistas do socialismo: a vincu- lação com o povo e o sentimento de amor e justiça.

Ao enfatizar a unidade entre ética, educação e política, o Assistente Social constrói uma identida- de muito próxima à do militante político. Muitas ve-

zes os valores são tomados mecanicamente, dando margem a inúmeros equívocos.

A concepção de militância, “o Assistente Social não trabalha com o Serviço Social, mas milita no Serviço Social, abrindo caminho para a desprofi s- sionalização”. Na medida em que a atividade profi s- sional se transforma em militância, ela adquire um sentido voluntário, abnegado, de sacrifício.

O trabalho voluntário é incorporado historicamen- te na atividade militante; no entanto, quando é trazido para o campo profi ssional ganha outro sentido, inclu- sive o de substituição da atividade partidária e cívica. Ex.: abandono das instituições pelo Serviço Social.

As circunstâncias que ocorreram as primeiras aproximações com o marxismo fragilizam a possibi- lidade de uma apropriação ontológica do pensamen- to de Marx. Forte infl uência de Althusser nos meios acadêmicos, contexto da ditadura, em que ocorre uma adequação entre o discurso científi co neoposi- tivista e os limites dados pela censura e pelo esvazia- mento político da universidade (Netto, 1991).

Segundo Netto, o enquadramento do sistema educacional nos parâmetros do projeto moderniza- dor do Estado burguês busca produzir um sistema educacional acrítico, valorizador da tecnocracia e da cientifi cidade excluída da ideologia: uma univer- sidade neutralizada, esvaziada, reprodutiva e assép- tica, funcional ao sistema.

Ao mesmo tempo, por uma série de circunstân- cias, parte da intelectualidade esquerda, prioriza pensadores como Althusser, por sua perspectiva estruturalista e sua tendência positivista, despojada do humanismo e da ideologia.

Althusser não nega uma ética, o que ele recusa é o caráter ontológico do pensamento marxista e da ética, em que sua reatualização da ética marxista- positivista é uma aplicação prática de leis científi - cas isenta de juízos de valor porque se orienta por juí zos de fato comprovados pelo método correto de apreensão, ou seja, pela lógica de sua articulação racional. O proletariado seria capaz de apropriar-se da verdade e dos valores autênticos, pois sua vera- cidade é dada por uma ciência, por uma fi losofi a do conhecimento e por uma prática nelas fundada.

Essa fi losofi a refere-se ao Capital e não ao conjun- to da obra marxista. Fragmentada, nega a infl uência hegeliana, a teoria da alienação, a presença de valores na apropriação teórica da realidade e a possibilidade de sistematização de uma ética fundada em Marx.

Sua consideração de que na obra de Marx, a teoria da alienação pertence a uma etapa fi losófi - ca abstrata, humanista, trazendo para o campo da ideo logia, para ele, uma apreensão “incorreta” do real, podendo ser corrigia pela ciência e superada pela prática política.

A normatização ética é um imperativo da base legal, devendo ser compatível com as exigências técnicas e éticas da profi ssão. Sendo assim, temos vários desafi os ao pensar no trabalho profi ssional dotado de relativa autonomia e que, além de com- petente, precisa ser criativo. Mas, cabe ao Assistente Social escolher as alternativas que lhe dão autono- mia e sentido do dever, parâmetros coletivos para o projeto ético-político da categoria.

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MEDIAÇÕES ÉTICAS NA PRÁTICA COTIDIANA

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