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NA PREVIDÊNCIA SOCIAL  Conteúdo

No documento CONTROLESOCIAL,FAMÍLIAESOCIEDADE (páginas 171-176)

• Noções sobre o histórico da Previdência Social no Brasil.

• A prática profi ssional do Assistente Social: breve análise sobre a atuação profi ssional na Previdência Social brasileira.

 Competências e habilidades

• Conhecer a Previdência Social como lócus privilegiado de atuação do Assistente Social • Compreender que a inserção, manutenção e atuação do Assistente Social na Previdência

Social são resultados de muitas lutas e impasses vividos pela categoria

• Possibilitar a visualização do aparato legal e do projeto ético-político do Serviço Social, como legitimação da profi ssão na Previdência Social

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Ao longo de sua história, a política previdenciária guarda a relação como o movimento estrutural/con- juntural de cada momento histórico da sociedade brasileira, expresso em suas diversas políticas econô- micas e na correlação de forças que se estabelecem. Nessa trajetória, a política previdenciária tem como características básicas constitutivas o paradoxo entre a reprodução da força de trabalho e a incorporação de direitos sociais, ora tendendo à universalização

de cobertura e ampliação dos benefícios e serviços, ora tendendo a uma restrição dos mesmos com base na Seguridade ou na concepção restrita do Seguro Social. (BRASIL. Ministério da Previdência Social – MPS. Matriz teórico-metodológica do serviço social na Previdência Social. Brasília. 1994)

Percebe-se que a Previdência Social sempre es- teve voltada as “intempéries” da ótica conjuntural

e política, delineada pelos governantes de acordo com o momento histórico, a conjuntura política e de mercado e as relações de forças existentes com o movimento operário.

Se por um lado, a previdência é um direito social, estabelecido na Constituição Federal de 1988, con- forme artigos 201 e 202, inscrita no capítulo II – Da Seguridade Social, ou seja, juntamente com a Saúde e Assistência Social relacionam essas políticas como direitos dos cidadãos e dever do Estado; por outro, vemos que o processo, regulamentações legislativas, denominações, acessos e coberturas são diferencia- dos em contextos da história brasileira, dos quais a seguir faremos breve histórico.

Mesmo tendo relatos de antecedentes do siste- ma previdenciário desde os tempos da colônia, foi durante as primeiras décadas do século XX que se estabeleceram algumas ações vinculadas às uniões operárias. A trajetória da previdência se dá pela pro- mulgação da lei de Acidentes de Trabalho (1919), em seguida da Lei Eloy Chaves (Decreto Legislativo no 4682, de 1923) que cria as primeiras Caixas de

Aposentadorias e Pensões (CAPs).

Ao longo da década de 1930, o país passa por muitas modifi cações, em virtude do processo de industrialização, da regulamentação do mercado de trabalho e do assalariamento dos trabalhadores, substituindo as CAPs, que eram de natureza privada e organizada por empresas, progressivamente pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), or- ganizados por ramos de atividades (categorias pro- fi ssionais).

A Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS) foi promulgada em 1960 e uniformizou os benefícios concedidos a todos os contribuintes urbanos do se- tor privado, mas não mexeu na estrutura adminis- trativa dos IAPs.

Em 1966, foram extintos os IAPS com a fusão de sua estrutura e a formação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), marcando o início de uma nova fase na Previdência nacional, com a ex- tensão de serviços para categorias ainda não cober- tas e a incorporação ao sistema do seguro acidente de trabalho. O INPS unifi cou a estrutura anterior,

fi cando responsável pelas aposentadorias, pensões e assistência médica de todos os trabalhadores do mercado formal urbano.

Em relação à extensão de serviços para outras ca- tegorias, Mota (2000), ressalta que “essa maior abran- gência não alterou o padrão de seletividade que sem- pre esteve presente nas políticas sociais brasileiras, determinada pela formalização do emprego”.

Na década de 1970, a conjuntura nacional deli- neada pelo governo militar e a mudança do mode- lo econômico concorrencial para o monopolista, a partir da abertura política ao capital estrangeiro, levou ao rebaixamento salarial e a pauperização crescente da sociedade. “Isto veio explicar os moti- vos de ampliação da política previdenciária aciona- da como mecanismo compensatório. Sendo assim, destacaram-se no período” (MPS, 1994, p. 11).

a) Incorporação do Seguro de Acidente de Tra- balho – SAT em substituição ao seguro Priva- do de fi ns lucrativos;

b) Funrural (1971);

c) Inclusão dos autônomos e domésticos

(1972/1973);

d) Criação da renda mensal vitalícia e salário maternidade (1974);

e) Concessão de benefícios, através do Funrural, aos trabalhadores rurais acidentados (1974); f) Criação do Ministério da Previdência e Assis-

tência Social – MPAS (1974).

Em 1977, o governo militar reorientou a Política Previdenciária e alterou a sua estrutura organiza- cional com a criação do Sistema Nacional de Previ- dência Social – SINPAS, que foi mais uma raciona- lização técnico-administrativa, tendo como conse- quência a extinção dos Centros de Serviço Social1 e a transferência dos programas de atendimento ao excepcional e idoso para a LBA. Isto veio confi r- mar o caráter de seguro social pela lógica da relação contribuição-benefi ciários. (MPS, 1994, p. 11).

Com o advento da Constituição Federal de 1988, a Previdência foi concebida como parte integrante

da Seguridade Social, como mais um mecanismo de proteção social, ao povo brasileiro, conforme con- tido no TÍTULO VIII – Da Ordem Social – CAPÍ- TULO I DISPOSIÇÃO GERAL, abaixo destacados:

Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.

Art. 194. A seguridade social compreende um con- junto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistên- cia social.

Nos anos 1990, houve mudanças no curso do capitalismo, em crise desde a década de 1970, tra- zendo modifi cações estruturais, tecnológicas, pro- dutivas e organizacionais, terminando por provocar o rebaixamento do custo do trabalho e a desregu- lamentação dos mercados de trabalho, incidindo diretamente no fi nanciamento e manutenção da Previdência Social.

Aqui, cabe explicar, que em se tratando do fi - nanciamento da previdência, desde os IAPs até os dias atuais, ele se dá em forma de um sistema que é conhecido como “pacto de gerações”, ou “solida- riedade entre e intragerações”, no sentido de que os benefícios de uma geração são garantidos pelas con- tribuições da geração seguinte, o que leva a discur- sos políticos e governamentais de “défi cit” e falta de recursos para manutenção e atendimento às gera- ções futuras, haja vista, a redução de trabalhadores no mercado formal e o achatamento das condições de vida da população; mesmo que a previdência te- nha outras fontes de fi nanciamento, como: do em- pregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidente sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho, (a receita ou o faturamento e o lucro), sobre a receita de concursos de prognósticos e do importador de serviços e bens do exterior.

Considerado como garantia de proteção social, a previdência objetivava dar assistência e segurança ao trabalhador assalariado e à sua família em situa- ções de perda de renda por inatividade em virtude

da incapacidade parcial ou total de prover seu sus- tento em decorrência de doenças, acidentes, invali- dez, desemprego, velhice e/ou morte.

O reconhecimento legal de direitos vinculados e derivados do trabalho por meio da Previdência So- cial (aposentadorias, pensões, auxílios e benefícios), foi e é, uma imposição social ao capitalismo, por meio de organização e reivindicação de melhores condições de trabalho por categorias profi ssionais. Assim a Previdência Social se assentou, primeira- mente, como direito condicionado ao trabalho e ao processo de industrialização e do assalariamento; posteriormente sendo agregado aos empregados rurais e domésticos.

É possível dizer que a Previdência Social, regida pela lógica do seguro social, é a forma encontrada pelo capitalismo para garantir um mínimo de segu- rança social aos trabalhadores “não proprietários”, ou seja, àqueles que só dispõem de sua força de tra- balho para viver. Mas essa lógica só se materializa se os trabalhadores estiverem inseridos em rela- ções de trabalho estáveis que assegurem o acesso aos direitos previdenciários. Para os trabalhadores excluídos do acesso ao emprego e para aqueles que não contribuem para a Previdência se estabelece uma clivagem social: eles não têm proteção previ- denciária porque não contribuem e não têm acesso à assistência social porque é reservada aos pobres “incapacitados” de exercer uma atividade laborati- va (idosos, crianças e pessoas portadoras de defi ci- ência) (BOSCHETTI, 2001).

A situação atual é bem diferente, considerando- se que o mercado de trabalho, estruturado em tor- no de emprego assalariado e regular, possibilitava cobertura e atenção aos trabalhadores. Hoje, com a redução de empregos regulares e o consequente au- mento de ocupações sem registro – de subemprego, de trabalhadores sem remuneração específi ca e os chamados “autônomos”, principalmente vinculados ao mercado informal – e o aumento do desemprego, estão gerando um grande contingente de pessoas sem a proteção social da previdência, cuja cobertura é minimamente atendida pela Política de Assistên- cia Social.

Ora, o benefício e o auxílio constituem formas transmutadas de necessidades humanas básicas cuja expressão, na forma de reivindicações ou de- mandas sociais, decorre da desigual apropriação da riqueza social, e não de uma suposta condição natural, moral ou subjetiva, que reserva a alguns a abastança e a outros a privação em vários níveis. (BRAGA e CABRAL, 2008, p.17).

No ano de 19901, há a junção do INPS – Instituto

Nacional da Previdência Social com o IAPAS – com o Instituto de Administração Financeira da Previ- dência Social formado o INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social, que vigora até hoje.

Afi rma-se aqui, que em todo momento vivido na história da previdência social brasileira, o serviço social passou diferentes momentos, inclusive, per- dendo espaço profi ssional, quando, por exemplo, houve a extinção dos Centros de Serviço Social, que era um espaço próprio da ação profi ssional dentro da previdência e quase foi excluída como profi ssão na área da previdência, quando da criação da LBA – Legião Brasileira de Assistência Social.

Houve períodos que o Serviço Social atuava como assistência complementar, utilizando técnicas, mé- todos e instrumentos para atender aos usuários de forma individualizada, trabalhando na ótica ins- titucional para o ajustamento social do indivíduo. Também quando a atuação do serviço social se dava no apoio a outros setores (de benefícios, de perícia médica, de assistência médica, de assistência fi nan- ceira, de pessoal) e de serviços próprios ao serviço social trabalhando com a família, no trabalho e na comunidade, sempre na perspectiva da prevenção e correção de desajustamentos.

Dependendo do momento e conjuntura da Pre- vidência, a prática profi ssional acontecia, de acordo

1 Existiam três órgãos relacionados à Previdência Social

na época: o IAPAS que era responsável pela arrecada- ção e fi scalização dos recursos, o INPS que tratava da concessão de benefícios e o INAMPS – Instituto Nacio- nal de Assistência Médica da Previdência Social, que prestava assistência médica a quem contribuísse, que foi extinto e seu serviço passou a ser coberto pelo SUS – Sistema Único de Saúde.

com as demandas sociais impostas levando, muitas vezes,

a uma prática funcionalista e tradicionalista, bu- rocratizada, a histórica baseada no senso comum, alicerçada numa ausência de reciclagem e supervi- são profi ssional, o que gerou a formação de uma cultura profi ssional rotineira, intimista e tarefeira que se corrobora pela forma como o Serviço Social adentrou-se nos Postos por uma imposição insti- tucional e não por uma demanda populacional. (MPS, 1994, p. 15)

Na década de 1990, a despeito da orientação e o conteúdo das políticas de proteção social na fi gu- ra da Política de Seguridade Social fi ncada no tri- pé Saúde, Assistência e Previdência Social, esta não se reverteu ao seu papel principal: foi “atropelada” pelo projeto neoliberal e crise do capitalismo, que mudou o foco constitucional e defl agrou reformas ao projeto inicial, alterando sensivelmente os prin- cípios e valores previstos na Constituição de 1988.

O Serviço Social, na contramão dos aconteci- mentos, busca concretude no seu aparato legislativo e ideo-político, buscando um novo signifi cado so- cial da profi ssão com base na superação do olhar e prática tradicional e expresso pela Matriz Teórico- Metodológica do Serviço Social na Previdência, mantida por meio de muita resistência e luta pela classe, em um momento de desconstrução da Previ- dência como aparato de proteção social.

Desde o fi nal da década de 1980, com a busca da adequação da seguridade social às reformas macro- econômicas, o Serviço Social tem sido um espaço de luta para manutenção dessa área de atuação pro- fi ssional e defesa dos usuários desses serviços. Para manutenção e reconhecimento desse campo profi s- sional, muitas estratégias foram adotadas e executa- das pelos assistentes sociais, por meio da realização de programas e projetos de ação profi ssional, com base em estudo sobre as condições socioeconômi- cas da população usuária; busca pela requalifi cação da categoria impetrada por participação em capa- citações, encontros e criação de grupos de estudos,

bem como, com o registro e divulgação de toda pro- dução teórica específi ca construída nesse período.

Então, cabe a constatação de que o Serviço So- cial na Previdência passou por diferentes fases e concepções, e após quase ter sido extinto, segundo Braga e Cabral, (2008, p. 194).

É um espaço que está sendo retomado, pois desde a extinção da Divisão de Serviço social e das estru- turas do Serviço Social nos Estados, em 1999, a ca- tegoria vem buscando meios para recomposição do serviço Social. Somente a partir de janeiro de 2003, com a posse do novo governo, o Ministério da Pre- vidência Social mostrou-se aberto ao diálogo para discutir a necessidade desse serviço.

Assim, a retomada desse campo vai se dando com o cumprimento da lei 8.662/93 de regulamen- tação da profi ssão, do código de ética profi ssional e da lei 8.213/91, por meio do:

Art. 88. Compete ao Serviço Social esclarecer junto aos benefi ciários seus direitos sociais e os meios de exercê- los e estabelecer conjuntamente com eles o processo de solução dos problemas que emergirem da sua relação com a Previdência Social, tanto no âmbito interno da instituição como na dinâmica da sociedade.

§ 1o Será dada prioridade aos segurados em benefí- cio por incapacidade temporária e atenção especial aos aposentados e pensionistas.

§ 2o Para assegurar o efetivo atendimento dos usuá- rios serão utilizados intervenção técnica, assistência de natureza jurídica, ajuda material, recursos so- ciais, intercâmbio com empresas e pesquisa social, inclusive mediante celebração de convênios, acor- dos ou contratos.

§ 3o O Serviço Social terá como diretriz a participa- ção do benefi ciário na implementação e no fortale- cimento da política previdenciária, em articulação com as associações e entidades de classe.

§ 4o O Serviço Social, considerando a universaliza- ção da Previdência Social, prestará assessoramento técnico aos Estados e Municípios na elaboração e implantação de suas propostas de trabalho.

Com base na fundamentação legal constituída e na Matriz Teórico-Metodológica do Serviço Social

na Previdência Social, o Serviço Social se reveste de objetivos, estratégias gerais e metodologia que norteiam o “fazer” profi ssional, utilizando procedi- mentos (mobilização dos profi ssionais e usuários, organização dos espaços de discussão de forma sistemática, tematização de situações concretas e organização dos conteúdos, utilização de recursos técnicos como dinâmicas de grupo e pesquisa-ação) e instrumentos e técnicas (parecer social, recursos materiais, pesquisa social e até mesmo a assessoria).

Cabe aqui ressaltar a complexidade desse tema e o papel do assistente social nesse paradoxo de “in- tenções”, de um lado a população usuária detento- ra de direitos, o profi ssional como mediador nesse processo, e no outro a força capitalista que condi- ciona as relações de poder.

A profi ssão tem como categoria central o trabalho, o que signifi ca romper com a mera compreensão de prática profi ssional reduzida a um conjunto de atividades executadas pelo profi ssional que, inter- namente, é condicionado por seu desempenho e, externamente, pelos recursos e relação de poder existente na organização que o contrata. (CARTA- XO e CABRAL, 2008, p. 175)

Expusemos um breve e sucinto relato das situa- ções vivenciadas pelos assistentes sociais no âmbi- to da Previdência Social, e mostramos o início de outro período, marcado pela realização de concurso público (mais uma das antigas lutas da categoria) e a inserção de novos profi ssionais ao tão defasado quadro institucional. Por isso, acreditamos que a prática profi ssional se confi gura, daqui por diante, no desvelamento de situações diárias e compromis- so ético-político assumido pela categoria.

Unidade Didática – T

eoria e Prática em Serviço Social

AULA

3

ATUAÇÃO E ANÁLISE DA PRÁTICA

PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

NO PODER JUDICIÁRIO

No documento CONTROLESOCIAL,FAMÍLIAESOCIEDADE (páginas 171-176)