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MEDIAÇÕES ÉTICAS NA PRÁTICA COTIDIANA  Conteúdo

No documento CONTROLESOCIAL,FAMÍLIAESOCIEDADE (páginas 146-150)

• O que é mediação

• Os princípios éticos que regem o procedimento de mediação • As mediações globais no Estado Capitalista

 Competência e habilidade

• Levar o acadêmico(a) a refl etir sobre a importância da mediação e sua relação com o projeto ético-político na prática cotidiana do profi ssional

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 Duração

2 h-a – via satélite com professor interativo 2 h-a – presenciais com professor local 6 h-a – mínimo sugerido para autoestudo

O QUE É MEDIAÇÃO

É importante ao iniciarmos esta discussão ter- mos bem defi nido o que mediação, para entender- mos o que ela vai representar para o Serviço Social. Mediação é um processo, no qual uma terceira parte imparcial ajuda as partes resolverem a disputa ou planifi car uma transação, mas não tem poder para impor soluções.

Mediadores usam variedade de processos. Al- guns mediadores usam a abordagem “baseada nos interesses” enquanto outros usam a “baseada nos direitos”. Alguns mediadores são “facilitadores” promovendo somente processos de assistência para negociações e usam a abordagem “baseada nos in- teresses”. A mediação facilitativa baseada nos inte- resses é utilizada em todas questões comunitárias,

familiares e mediações comerciais e tenta nutrir a evitação da recomendação pelo mediador ou suges- tões, no sentido do mediador preservar a neutrali- dade e para encorajar a parte de controlar os resul- tados.

Outros mediadores, incluindo muitas mediações trabalhistas e mediações comerciais, usam um esti- lo “avaliativo”, provendo sugestões ou recomenda- ções. Os processos de mediação avaliativa, baseada em direitos são similares a processos de julgamento, assim como arbitragens não vinculativas. Outros mediadores podem ser “ativistas” intervindo para assegurar que todas as partes estejam representadas e que haja balanceamento de poder, mas mediador ativista não deve necessariamente fazer recomenda- ções específi cas.

Outros mediadores se consideram como media- dores “transformativos”, trabalhando pouco com o estabelecido e mais com a transformação do relacio- namento. Alguns outros mantém o processo de me- diação “narrativo” no qual o mediador é mais um ajuntador das partes na criação de novas possibili- dades para o futuro. O considerável debate no cam- po da resolução de confl itos sobre estas diferentes abordagens e desenhos de processos de mediação para adaptar-se a uma particular parte e situação.

Uma típica abordagem de mediação envolve uma abordagem baseada nos interesses e de solução de problemas, na qual as necessidades e os interesses abaixo das posições das partes são identifi cados com uma visão para desenvolvimento de soluções, enca- minham e acomodam tantas necessidades e interes- ses quantos possíveis. Também tentam identifi car as necessidades das partes para explorar recursos ava- liáveis para testar enquanto uma percepção de uma solução única possa ser expandida. Um estágio mo- delo enfatizando a mediação face a face é comum, envolvendo introdução e ordenamento do processo; identifi cação das questões e geração de uma agenda; exploração da posição das partes para revelação dos interesses, projeto ou solução; e acordo formal. Os princípios éticos que regem o procedimento de mediação

São princípios éticos específi cos aplicados à mediação de confl itos aqueles considerados como fundamentais à atuação de terceiros em situações e procedimentos justos e voluntários. Conforme o Código de Ética para mediadores do Conselho Na- cional das Instituições de Mediação e Arbitragem – Conima,1 os seguintes princípios devem ser ado-

tados pelo mediador:

a) Independência (o facilitador ou o mediador não deve ser parente, dependente, emprega- dor, prestador, tomador de serviços ou amigo

1 Para nortear a atuação e zelar pela ética de mediadores, árbitros e

instituições especializadas em mediação e arbitragem foi instituído o Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem – Co- nima (<www.conima.org.br>), associação civil sem fi ns lucrativos, com atuação e articulações em âmbitos nacional e internacional.

íntimo de algum mediando). O princípio da independência diz respeito, portanto, às con- dições objetivas e não aos aspectos subjetivos do comportamento;

b) Imparcialidade (os mediandos e respectivos interesses devem ser tratados com igualdade, com isenção). Diferentemente do que ocorre no tocante ao princípio da independência, é a conduta isenta do mediador a medida da imparcialidade. Deve-se esclarecer que não se espera do mediador uma neutralidade, haja vista o seu inevitável envolvimento emocio- nal durante o processo. Espera-se, no entanto, que esse envolvimento não comprometa a sua isenção. O conceito de neutralidade pode ser adotado nos confl itos internacionais, consi- derando-se neutro o mediador de um terceiro país não envolvido nesse confl ito.

c) Credibilidade (o facilitador ou o mediador deve ser idôneo e merecedor da confi ança). Em mediação, a confi ança é essencial e an- tecede a aptidão. Daí a nossa insistência no entendimento da moral contemporânea e na incorporação dos valores da honestidade e do altruísmo;

d) Aptidão (o facilitador e o mediador devem ter a capacitação necessária para atuar na- quele tipo de confl ito). As improvisações que setores do Poder Judiciário praticam ou pra- ticaram em relação às conciliações judiciais afrontam o princípio da aptidão. Neste livro, trazemos comentários a respeito da indispen- sável formação ou capacitação de mediadores; e) Confi dencialidade (o facilitador, o mediador,

os mediandos e quaisquer outras pessoas que participem ou observem a mediação se obri- gam a guardar sigilo a respeito do que ali for revelado). A boa-fé, a transparência, entre os mediandos devem ser construídas num am- biente de confi ança, que supõe o compromisso irrevogável de sigilo. O princípio da confi den- cialidade supõe que as revelações ocorridas durante uma mediação não podem ser utili-

zadas em outro ambiente, judicial ou não, sem a prévia anuência de ambos os mediandos. f) Diligência (o facilitador ou o mediador deve

colaborar com o máximo de dedicação). Não há diligência sem esmero e paciência. O tem- po da mediação é ditado pela complexidade do caso e pelas necessidades dos mediandos. Não cabe ao mediador impor tempos e mo- dos. Ser diligente é deixar fl uir a mediação, em uma ou várias reuniões, com plena oportuni- dade para a restauração de relações e viabili- zação do entendimento.

Tendo em vista que o assistente social é um pro- fi ssional que direta ou indiretamente trabalha no campo da ética e, que a sua pratica profi ssional tem por objeto de intervenção os indivíduos e/ou grupos excluídos. Faz-se necessário nesse contexto abordar as mediações éticas presentes na profi ssão de Serviço Social.

Ao pensar a prática profi ssional temos que fazer uma análise das condições concretas em que ela se realiza.

Essas condições levaram-nos a situar a prática e o processo profi ssional num contexto e em condições que os determinam. Pois, para Faleiros (2007, p. 19) o “Serviço Social não é uma profi ssão liberal. O pró- prio desenvolvimento do capitalismo vem levando o assistente social a incorporar-se em diversas ta- refas como um assalariado”. A condição de assala- riado leva o profi ssional a perceber a realidade e a questionar-se sobre a compra e venda de sua força de trabalho, de usa utilidade para o capital, de sua produtividade e improdutividade.

Há de se ressaltar que o Assistente Social nesse processo se encontra na função de execução e não de decisão. Pois, ele é um trabalhador de linha nas instituições e não de staff , como se diz hoje na mo- derna teoria organizacional. Por não ter poder de- cisão, ele utiliza a manipulação de pequenos recur- sos para reforçar seu próprio poder pessoal. “assim o relacionamento pessoal com a clientela esconde uma relação de poder muito mais ampla em que o Assistente Social se insere frente a uma população

dividida e carente de poder sobre sua vida” (FALEI- ROS, 2007, p. 20).

A obtenção de benefícios emergências pode re- presentar a sobrevivência emergencial de pessoas em situação de miserabilidade. Sendo assim, a fi - gura do Assistente Social parece como do salvador da pátria. Ou seja, essa relação de poder legitimada pelas relações pessoais faz aparecer de maneira bem objetiva o caráter ideológico da atuação profi ssio- nal. (FALEIROS, 2007)

As mediações globais no Estado Capitalista Contudo, essa forma, por ser clássica, está longe de ser a única: as sociedade “pós-revolucionárias”, todas elas, da URSS á China, deram origem a uma nova forma de personifi cação do capital sob a for- ma de uma burocracia dirigente que se apoderou do poder do Estado.

A personifi cação do capital tem, como sua contra- partida necessária, a personifi cação do trabalho, ou seja, a interiorização de valores e fi nalidades que re- fl etem as necessidades do capital “do ponto de vista do trabalho”. Como o capital é a condição necessária e indispensável para a realização do trabalho abstra- to, o trabalhador, que constrói sua identidade pola- rizada pelo seu papel de vendedor de força de tra- balho, não terá como deixar de assumir, como suas necessidades, as condições indispensáveis para a re- produção do próprio capital. A consciência reifi cada dos trabalhadores, tomando a aparência por essência, concebem o trabalho apenas e tão somente como tra- balho abstrato, e como não há trabalho abstrato sem capital, deduzem serem capital e trabalho “parceiros” de uma mesma empreitada. Como sem a fábrica não há trabalhadores fabris, entendem a defesa da última como a defesa de si próprios. É a defesa, pelo traba- lhador, da extração da mais-valia; em outras palavras, é o máximo da alienação concebível.

E por essa mediação que, se o metabolismo so- cial regido pelo capital produz personifi cações do capital, produz também o seu corolário necessário, personifi cações do trabalho abstrato. Nas palavras de Mészáros, como o capital é um processo cuja es- sência é a

circularidade perversa [...] (pela qual) o trabalho enquanto trabalho objetivado e alienado se trans- forma em capital e, enquanto personifi cação do ca- pital, confronta, assim como domina, o trabalhador [...] o poder que domina o trabalhador é, de forma circular, o próprio poder do trabalho social trans- formado, que assume uma “forma fantasiada/tra- vestida” e funda a si próprio na “situação fetichiza- da na qual o produto é o proprietário do produtor”. (MÉSZÁROS,I. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 1995.)

Esse “círculo vicioso”, pelo qual as potências so- ciais do trabalho são dele alienadas no próprio ato da sua reprodução, faz com que o sistema do ca- pital se constitua em uma verdadeira “causa sui” (MÉSZÁROS,1995, p. 610) “sua essência está na sua própria reprodução ampliada, sua existência re- pousa em sua própria dinâmica e não em nenhuma outra causa externa á sua própria lógica”. Nesse pre- ciso sentido, o capital consubstancia uma autêntica e verdadeira “causa sui” muito mais que uma forma de poder entre os homens, o capital é um modo so- ciometabólico de controle social. A esfera do poder se desdobra entre as personifi cações do capital e as do trabalho abstrato e, por isso, a destruição de uma das formas particulares dessas personifi cações não é condição sufi ciente para a superação do capital.

Faz parte da essência do capital, continua Mészá- ros, submeter a sua legalidade todas as relações sociais com que se defronta. Essa sua lógica ex-

pansionista que, em contato com outras formas de sociabilidade, as destroi para submetê-las ás sua reprodução ampliada, faz parte do essencial de sua história desde as feiras medievais até a globalização dos nossos dias. Sempre que ocorrer o confronto entre o capital e um complexo social pré-capitalista desdobrar-se-á uma luta de morte entre o “velho” e o “novo”, na qual as contradições antagônicas que brotam desse confronto tenderão sempre a destruir um dos polos. Até hoje, com uma ou outra media- ção, o resultado tem sido a vitória do capital.

Sendo o Estado o maior empregador dos Assis- tentes Sociais, no ambito da saúde, educação, assis- tência, judiciário e previdência, a compreensão do caráter do Estado capitalista levou a repensar a prá- tica profi ssional.

Segundo Faleiros (2007, p. 21) a refl exao sobre este “processo de acumulação levou a considerar o Serviço Social como uma forma de reprodução do capital através da reprodução da força de trabalho”. Ou seja, as condições sociais em que se repõem as energias do trabalhador foram vistas como forma de manter e acelerar o processo de acumulação.

Por outro lado, o processo de acumulação na Ame- rica Latina vem se modifi cando qualitativamente e reforçando a presença hegemônica do capital multina- cional. Este capital se apresenta principalmente sob a forma tecnológica e fi nanceira, sem mais se preocupar de ff orma tão estreita com a propriedade das próprias empresas industriais. (FALEIROS, 2007)

Unidade Didática – Desafi

os e Perspectivas do Serviço

Social

AULA

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A INTERVENÇÃO SOCIAL DAS EMPRESAS

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