• Nenhum resultado encontrado

CONTEXTUALIZAÇÃO: BREVE DISCUSSÃO SOBRE A POLÍTICA EDUCACIONAL E QUESTÃO

No documento CONTROLESOCIAL,FAMÍLIAESOCIEDADE (páginas 190-193)

O ASSISTENTE SOCIAL NO ESPAÇO ESCOLAR: DESAFIOS DA TRAVESSIA À INTEGRAÇÃO

CONTEXTUALIZAÇÃO: BREVE DISCUSSÃO SOBRE A POLÍTICA EDUCACIONAL E QUESTÃO

SOCIAL

A fi m de poder funcionar, o sistema escolar preci- sa da colaboração de pessoas com diferentes graus e tipos de qualifi cação. Essa falta de profi ssionais qualifi cados para atuarem nas escolas tem conse- quência no próprio ensino. A escola não funciona como deveria e as crianças são as que mais perdem. Perdem a possibilidade de desenvolver suas capaci- dades cognitivas, quando não se encontra um am- biente com uma estrutura sólida e adequada para usufruir a competência docente e perdem por não terem todas as suas necessidades atendidas. (DIAS, 2004 p. 131)

Com essa afi rmação, Dias (2004) faz um apelo pelo trabalho coletivo na Educação reconhecen- do a importância e as emissões de outros saberes na produção do processo educativo de qualidade. Contudo, na discussão que fi zemos até aqui, fi ca evidenciado que, tanto a Educação quanto o Serviço Social enquanto práticas sociais, acontecem dentro de relações sociais contextualizadas historicamente pela cultura das sociedades capitalistas, em que es- sas práticas recebem determinações bastante parti- culares e singulares.

Para Frigoto (2006), no entanto, em sentido ge- ral, o que podemos ver é que a relação entre a edu- cação e a questão social na sociedade brasileira e latino-americanas são dominantemente conduzidas a visões adaptativas, reformistas ou assistencialistas. Nesse contexto, a questão social não tem o sentido forte que teoricamente a Educação e o Serviço So- cial discutem e analisam.

No senso comum das classes dirigentes e das clas- ses dominantes da nossa sociedade, os programas sociais são programas para a pobreza. Nisso, essas

duas dimensões se condicionam profundamente, isto é, não encaram a Educação e o Serviço Social como práticas sociais constituintes e constitutivas de uma sociedade na dimensão da cidadania e da democracia.

É importante observar que o processo educacio- nal brasileiro vem passando por várias reformas em todos os níveis, com intuito de reforçar a educação formal, geral, etc. Vale dizer, ainda, que essas refor- mas acontecem muitas das vezes sem, observar as reais exigências da realidade e dos novos modelos de organização e gestão do trabalho: as competên- cias e habilidades necessárias ao processo de desen- volvimento. Sobretudo não contemplam a questão da desigualdade e da exclusão social: espera-se que a educação seja a mágica para promover a autono- mia individual, coletiva e, consequentemente, fo- mentar a conquista da cidadania.

Para Almeida (2006), a Educação pode ser toma- da como um dos mais complexos processos consti- tutivos da vida social. A compreensão da Educação como totalidade histórica ultrapassa, em muito, a abordagem da sua institucionalização nos marcos das ações reguladoras do Estado. A história da Edu- cação articula de modo não linear, a relação entre as esferas privada, pública, grupal e comunitária, eco- nômica e ideológica da vida em sociedade.

Considerando, portanto, a educação como uma dimensão complexa e histórica da vida social, com- preende-se a política educacional como expressão das lutas sociais, em particular, as travadas em tor- no da disputa pela hegemonia no campo da cultura. Lembrando que a Educação não pode ser pensada de forma desconexa do mundo capitalista da pro- dução. Se atentarmos para a dinâmica da política educacional no atual contexto brasileiro, observa- remos que é expressão da própria questão social já que representa o resultado das lutas sociais travadas pelo reconhecimento da educação pública como di- reito social.

É preciso observar que, hoje, no Brasil vive-se tempo de afi rmação das políticas públicas e sociais, com novas orientações e dispositivos legais emana- dos da Constituição Federal de 1988. Essa constitui-

ção impulsiona a adoção de sistemas institucionais que apresentam, cada vez mais, níveis crescentes de integração. Nessa integração estão presentes as três esferas de governo – a União, os Estados e os Muni- cípios – e a democratização, com o fortalecimento do Controle Social, por meio das Conferências, da organização dos Conselhos das Políticas Públicas e Sociais, os Conselhos de Defesa dos Direitos e da Participação Popular direta.

É fato concreto que esse norte teórico e metodo- lógico desenhado a partir da mudança de concep- ção desses arranjos institucionais tem possibilitado a universalização de direitos fundamentais à Segu- ridade Social, à Saúde e à Assistência Social à Edu- cação, entre outras. Deve-se lembrar aqui que todas essas políticas foram consagradas pela Constituição Federal de 1988 como um “direito de todos e dever do Estado e da família”. Com especial destaque para Educação, que se responsabiliza também pelo pre- paro ao exercício da cidadania e a qualifi ca para o trabalho.

É importante que se diga que os rumos tomados pelas políticas sociais da saúde com a implantação do SUS e da Assistência Social com o SUAS, dão ênfase às ações básicas de promoção, prevenção, re- conhecimento dos “Sujeitos Sociais como Sujeitos de Direitos” e o eixo central é a família. Aporta-se para a emergência do trabalho do Assistente Social, fundamentada na formação generalista, que capa- cita o profi ssional a ser o interlocutor no processo de enfrentamento das questões sociais, atuando de forma interdisciplinar e intersetorial. Com isso, a expectativa é de impactos positivos na redução das desigualdades, iniquidades e melhoria da qualidade de vida dos excluídos.

Segundo Pequeno (2006), os dispositivos legais no tocante à Educação, traz consigo a obrigatorie- dade da municipalização e descentralização da edu- cação fundamental. Com isso, aos poucos, as prefei- turas passam a assumir a gestão deste direito social e reconhecem a necessidade da presença de profi s- sionais qualifi cados para atuar no âmbito da polí- tica, dentre eles, o Assistente Social. Muitas prefei- turas passam, assim, a realizar concursos públicos

e prever vagas para assistentes sociais. Outra forma de ingresso é via a cedência, ou trabalhos interdisci- plinares e intersetoriais por meio de outras políticas sociais como: saúde, assistência social, ambiente etc. Mão na massa: o que fazer e como fazer?

Nesse voo rasante sobre a história do ingresso do Assistente Social na área da educação, percebe-se que muitos aspectos da prática do Assistente Social realizada no passado ainda, estão presentes hoje e carregam as contradições do sistema e os descom- passos em relação às exigências atuais, colocadas para a Educação tanto quanto para o Serviço Social.

Embora a inserção dos Assistentes Sociais na Educação não seja uma experiência nova, sabe-se que, historicamente, foi obscurecendo-se e per- dendo lugar na organização do trabalho. Somente a partir dos anos 1990 que essa conquista vem se consolidando de forma mais ou menos consisten- te, e atualmente, essa área se fortalece amparada pelo conjunto de dispositivos legais e normativos da educação e no campo dos direitos sociais, que reforçam a ideia e explicitam as demandas pelo trabalho coletivos, envolvendo diferentes sujeitos sociais e diferentes categorias profi ssionais no fa- zer educacional.

Uma educação básica de qualidade. Essa é a prio- ridade do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Investir na educação básica signifi ca tam- bém envolver todos, pais, alunos, professores e gestores, em iniciativas que busquem o sucesso e a permanência do aluno na escola (PDE, 2007).

Fique atento, caro acadêmico, muito se fala em Educação de qualidade. A sociedade cobra e exige através das suas instâncias coletivas. Dos professo- res espera-se a responsabilidade de efetuá-la. Se- gundo Moran (2000), no entanto, existem algumas variáveis importantes que devem ser observadas na análise da qualidade. Umas diretamente relaciona- das ao educador, outras são estruturais:

Uma organização inovadora, aberta, dinâmica, com um projeto pedagógico coerente, aberto, participati- vo; com infraestrutura adequada, atualizada confor-

tável; com tecnologias acessíveis, rápidas e renova- das. Uma organização que congregue docentes bem preparados intelectual, emocional, comunicacional e eticamente; bem remunerados, motivados e com boas condições profi ssionais, e onde haja circunstân- cias favoráveis a uma relação efetiva com os alunos que facilite conhecê-los, acompanhá-los, orientá-los. (MORAN, 2000, p. 14)

Desafi os desta relação e possibilidades reais para o Assistente Social trabalhar.

Antes de qualquer coisa, na tentativa de delimitar o espaço e as funções do Assistente Social na edu- cação, vamos tomar como referência o ponto de vis- ta de Santana (2006), quando afi rma que devemos pensar o Serviço Social na Educação a partir da ex- pressão em dois âmbitos de trabalho:

Atuação no atendimento direto à população alvo da política educacional e às suas famílias, nas esco- las, nos polos de atendimento, nos diferentes espa- ços institucionais de atendimento direto; (orienta- ção, entrevistas, visitas domiciliares para coleta de informações, encaminhamentos para conselhos tu- telares, abrigos, Cras etc., relatórios de acompanha- mento de caso etc.);

Atuação nos órgãos de planejamento e de gerên- cia da política educacional, seja no âmbito das Se- cretarias de Educação, nas esferas estaduais e muni- cipais, nas coordenadorias pedagógicas e de gestão, ou nas instâncias centrais e no atendimento direto.

Aqui podemos acrescentar:

Atuação no processo de avaliação e realização sistemática de estudos e pesquisas que revelem as reais condições de vida e demandas da classe traba- lhadora e possam alimentar o processo de formu- lação, implementação e monitoramento da política de educação;

Intervenção voltada para inserção nos espaços democráticos de controle social e construção de es- tratégias para fomentar a participação, reivindica- ção e defesa dos direitos pelos usuários, nos Conse- lhos, Conferências e Fóruns da educação e de outras políticas públicas;

Incentivar e fortalecer as articulações entre as re- des sociais de apoio, especialmente das crianças e adolescentes, e da mulher. Entre outras.

Elaborar pareceres técnicos para apoiar as ações multidisciplinares.

Elaborar e participar de projetos de educação permanente, buscar assessoria técnica e sistematizar o trabalho desenvolvido, bem como estar atento so- bre a possibilidade de investigações sobre temáticas relacionadas à educação;

Efetivar assessoria aos movimentos sociais e/ou aos conselhos a fi m de potencializar a participação dos sujeitos sociais, contribuindo no processo de democratização das políticas sociais, ampliando os canais de participação da população na formulação, fi scalização e gestão das políticas de educação, vi- sando o aprofundamento dos direitos conquistados. Desenvolver ações socioeducativas, sem, contu- do, pautar-se apenas pelo fornecimento de infor- mações e/ou esclarecimentos que levem a simples adesão do usuário, reforçando a perspectiva de su- balternização e controle dos mesmos. Devem ter como intencionalidade, a dimensão da libertação na construção de uma nova cultura e enfatizar a participação dos usuários no conhecimento crítico da sua realidade e potencializar os sujeitos para a construção de estratégias coletivas;

Atuação na dimensão pedagógico-interpretativa e socializadora de informações e saberes no cam- po dos direitos, da legislação social e das políticas públicas, dirigida aos diversos sujeitos seguimentos da população e gestores públicos, dirigentes de en- tidades prestadoras de serviços, trabalhadores, con- selheiros e usuários em geral.

A partir daí, surgem algumas questões impor- tantes e que devem ser levadas em conta na organi- zação da nossa prática. Qual ou quais as demandas das questões sociais que emergem e que exigem res- postas? Quais as possibilidades frente a um proces- so de trabalho fragmentado e, até certo ponto, hostil ao Assistente Social, pela falsa visão de competição e superposição de funções entre os coordenadores pedagógicos? Devemos lembrar que não existem receitas prontas na construção de um projeto de-

mocrático. A defesa da necessidade do Assistente Social na Educação não deve ser exclusividade ape- nas de uma categoria profi ssional. Não se pode fi car engessado diante das difi culdades, sempre há algu- mas alternativas e atividades a serem desenvolvidas pelos Assistentes Sociais.

Diante dessas preocupações, faz-se necessá- rio pensar o espaço onde a política, as estratégias da Educação são gestadas e executadas, como um lugar da realidade social comprometido com a ex- clusão social, com a desigualdade, com a miséria, com a violência doméstica e urbana, com o uso de drogas, com a gravidez precoce, a desestruturação familiar, o desemprego, a evasão escolar e especial- mente o desrespeito aos professores. Tudo isso atra- vessa o processo de ensinar e apreender na escola. É preciso, antes de qualquer coisa, entender todos os processos e sistema social para se entender qual é o rumo da Educação hoje e qual é o papel do Assis- tente Social.

Caro(a) acadêmico(a), essa conversa pode provo- car ansiedade só de se imaginar a tensão dos traba- lhadores e de suas responsabilidades. O agravamen- to das questões sociais impõe que se refl ita sobre es- ses fenômenos e se invista na busca de alternativas metodológicas, pedagógicas, ou seja, ações capazes de dar alguma resposta positiva a este cenário som- brio da Educação atual.

Atualmente, há um conjunto de estratégias go- vernamentais e não governamentais que objetivam incentivar e manter as crianças e jovens nas escolas, como: Bolsa família, Bolsa escola e outros incenti- vos que condicionam a obrigatoriedade de crianças e jovens frequentarem a escola. Vale dizer que se ti- véssemos políticas sociais universais, não teríamos necessidade dessas estratégias compensatórias. As políticas atuais, fragmentadas e setorializadas, reve- lam a urgência de se implantar novas dinâmicas na política educacional.

É do conhecimento de todos que o CEFSS lidera luta há tempo para aprovação do Projeto de Lei – PLC 060/2007–, que garante a atuação de assisten- tes sociais e psicólogos(as) na educação. A referida lei já foi aprovada na Comissão de Assuntos Sociais

(CAS) e encaminhada ao senado, claro que agora necessita de articulações intensas para ter sucesso na aprovação.

No documento CONTROLESOCIAL,FAMÍLIAESOCIEDADE (páginas 190-193)