• Nenhum resultado encontrado

153 Aborto Legal (art 128) – Não será punido o médico que praticar aborto terapêutico ou

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 153-157)

necessário, quando este é o único meio de salvar a vida da gestante (inc. I); ou sentimental, humanitário ou piedoso, quando a gravidez resulta de estupro, desde que haja, nesse caso,

consentimento da vítima ou de seu representante legal (inc. II). Não se exige sentença condenatória pelo estupro, tampouco autorização judicial, bastando ao médico prova da ocorrência do delito (por exemplo, boletim de ocorrência policial). Por analogia in bonam partem, parte da doutrina estende tal excludente às hipóteses de gravidez proveniente de atentado violento ao pudor.

O STF declarou inconstitucionalidade da interpretação de que o aborto em casos de fetos

anencéfalos é abarcada pelos arts. 124 e 126 do CP, de forma que a conduta da gestante não

configura crime, assim como a do médico que realiza o procedimento (ADPF 54, dj. 30.04.2013).

21.2. LESÕES CORPORAIS

Nos crimes de lesões corporais, protege-se a integridade física e psíquica e a saúde do ser humano. O verbo-núcleo do tipo é “ofender”, ou seja, fazer mal a alguém. A autolesão, portanto, não é punível, salvo quando caracterizar o crime de fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro (art. 171, § 2º, V, CP). Tratando-se de delitos de resultado, este deve ser comprovado por meio de exame de corpo de delito, direto ou indireto. Admite-se, em regra, a tentativa.

No caso das lesões corporais dolosas, se o crime for cometido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima, a pena pode ser reduzida de 1/6 a 1/3 (lesão corporal privilegiada, art. 129, § 4º). De outra parte, se praticado contra menor de quatorze ou maior de sessenta anos, a pena é aumentada em 1/3 (art. 129, § 7º).

Lesão Corporal Leve (art. 129, caput) – É aquela que não perfaz nenhum dos resultados

indicados nos parágrafos subsequentes, mas que, ao mesmo tempo, não é insignificante, o que levaria à atipicidade da conduta. As lesões leves não se confundem com a contravenção de vias de fato, porque esta se caracteriza pela ofensa não ultrajante sem dano à integridade corporal e sem o

animus laedendi. Também se diferenciam da injúria real porque, nesta, há o dolo de injuriar.

Consoante o §5º, no caso de lesão leve privilegiada ou em sendo as lesões leves recíprocas, a pena de detenção pode ser substituída pela de multa. Ademais, a lesão leve é crime de ação penal pública condicionada à representação do ofendido e cujo processo e julgamento é de competência dos Juizados Especiais, tendo em vista seu menor potencial ofensivo (art. 88, Lei 9.099/95).

Lesão Corporal Grave e Gravíssima (art. 129, §§ 1º e 2º) – Grave é a lesão de que resulta

incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias; perigo de vida; debilidade permanente de membro, sentido ou função e aceleração de parto. Gravíssima, a seu turno, é a lesão que enseja como consequência a incapacidade permanente para o trabalho; a enfermidade incurável; a perda ou inutilização de membro, sentido ou função; a deformidade permanente ou o aborto.

Lesão Corporal seguida de Morte (art. 129, § 3º) – É a lesão corporal dolosa qualificada

pelo resultado morte. O agente quer a lesão, mas da ofensa à integridade física advém o resultado morte, mas as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo. Há dolo no antecedente e culpa no consequente. Diferencia-se do homicídio, portanto, ante a ausência do animus necandi (intenção de matar).

Lesão Corporal Culposa (art. 129, § 6º) – Não há gradação entre leve, grave ou gravíssima:

sempre que decorrer de imprudência, negligência ou imperícia, a lesão será culposa. No entanto, se das lesões culposas resultar a morte da vítima, responderá o agente por homicídio culposo. A pena será aumentada em 1/3 se ocorrer qualquer das majorantes previstas para o homicídio culposo (art. 129, § 7º). Na mesma linha, poderá ser concedido o perdão judicial se as consequências da infração atingirem o agente de forma tão grave que a pena se torne desnecessária (art. 129, § 8º). As lesões culposas também são de competência dos Juizados Especiais e a ação é pública condicionada à representação. Por fim, se elas forem praticadas na direção de veículo automotor, incorrerá seu autor no crime previsto no art. 303, CTB, por aplicação do princípio da especialidade no concurso aparente de normas.

Violência Doméstica (art. 129, § 9º) – Este parágrafo foi recentemente alterado pela Lei nº

11.340/06. Determina ele que, se as lesões corporais leves forem cometidas contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou prevalecendo-se das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, a pena é de detenção de três meses a três anos, aumentada de 1/3 se a vítima é portadora de deficiência física (§11). Outrossim, presentes essas circunstâncias nas lesões graves, gravíssimas ou com resultado morte, a pena é a do parágrafo correspondente aumentada em 1/3 (§10).

Contra agente de segurança pública (art. 129, § 12) – a Lei nº 13.142, de 2015, adicionou

causa de aumento de pena, de 1/3 a 2/3 para quando a lesão é praticada contra agente de segurança pública (membros da Marinha, Exército, Aeronáutica, polícias federal, rodoviária e ferroviária federal, polícias civis, polícias militares, bombeiros; integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública).

Hediondez. De acordo com o art. 1º, I-A, da Lei 8.072/90, incluído pela Lei nº 13.142/15, são

hediondas (a) a lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2º) e (b) a lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição.

21.3. PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE

Perigo de Contágio Venéreo (art. 130), Perigo de Contágio de Moléstia Grave (art. 131) e Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem (art. 132) – O art. 130 tipifica o perigo de contaminação de

doença venérea. Para a consumação, é preciso que tenha havido relação sexual ou ato libidinoso e que a doença seja venérea, a efetiva contaminação é mero exaurimento do crime. A ação penal, no caso, condiciona-se à representação. Na hipótese do art. 131, por sua vez, não importa a natureza da moléstia, bastando ser ela grave e contagiosa, e o meio utilizado pode ser o mais variado, desde que idôneo para a contaminação da vítima. A ação penal é pública incondicionada. Finalmente, o art. 132 contém uma fórmula genérica e é, em síntese, um crime subsidiário que só se tipifica caso o fato não constitua crime mais grave. A ação penal também é pública incondicionada e se a exposição a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais, a pena é aumentada de 1/6 a 1/3 (art. 132, parágrafo único).

155

Dependendo da intenção do agente, a transmissão da AIDS poderá tipificar tanto crime de perigo de contágio de moléstia grave como lesão corporal seguida de morte ou até mesmo homicídio, mas nunca o crime de perigo de contágio venéreo.58

Abandono de Incapaz (art. 133) e Exposição ou Abandono de Recém-Nascido (art. 134) –

Trata-se de crimes próprios cuja conduta tipificada é abandonar, no caso do incapaz, ou expor a risco ou abandonar, no caso do recém-nascido, desde que dela resulte perigo concreto para a vida ou saúde do abandonado. Em se tratando do art. 133, o sujeito ativo é um “garante”, ou seja, quem tem especial relação de assistência e proteção com a vítima. Esta, por sua vez, deve ser faticamente incapaz de defender-se dos riscos do abandono. Aqui, a pena é majorada em 1/3 se o abandono ocorre em lugar ermo, se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima ou, ainda, se o abandonado é maior de sessenta anos (§3º). Na hipótese do art. 134, o sujeito ativo é a mãe que objetiva ocultar desonra própria, e a vítima, alguém nascido há poucos dias mas cujo nascimento ainda não veio a conhecimento público. Em ambos os tipos penais estão previstas as figuras qualificadas pelo resultado lesões corporais graves (§1º) ou morte (§º2). Alguns autores, porém, entendem que tais figuras preterdolosas teriam sido revogadas pelo art. 13, §2º, do CP, o qual prevê os casos em que o agente, tendo o dever de agir, responde pelo resultado da sua omissão.59

Omissão de Socorro (art. 135) – É o crime omissivo próprio por excelência. Pode ser

praticado por qualquer pessoa, desde que a conduta exigida não ponha em risco sua segurança. A vítima, porém, só pode ser uma daquelas previstas no dispositivo: criança abandonada ou extraviada, pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em perigo. No parágrafo único, previu o legislador a figura preterdolosa, punindo mais severamente o agente se da omissão resultar lesão corporal grave ou morte. Em se tratando de omissão de socorro em delito de trânsito, porém, incidirá o art. 304 do CTB. Não obstante, se o agente ocupa a posição de garante (art. 13, § 2º, CP), não responde por omissão de socorro; mas, dependendo do caso concreto, por abandono de incapaz, lesão corporal ou homicídio comissivos por omissão (ou seja, pelo crime correspondente ao resultado, na forma omissiva imprópria).

Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial (art. 135-A) – Pune

quem exige cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial. Trata-se de crime de mera conduta, consumando-se com o ato de exigir. Pode ser cometido por qualquer pessoa, desde que esta tenha poder para condicionar o atendimento. A pena é majorada pelo resultado até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.Trata-se de infração de menor potencial ofensivo, de competência do JECRIM.

Maus-tratos (art. 136) – É crime próprio que requer a existência de relação de

subordinação entre os sujeitos ativo e passivo para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia. Sem tal condição de autoridade, guarda ou vigilância, não há crime, razão pela qual um cônjuge, em circunstâncias normais, não pode ser vítima de maus-tratos praticados pelo outro. As condutas tipificadas são várias: privar de alimentação ou de cuidados indispensáveis; sujeitar a trabalho excessivo ou inadequado, e abusar de meios corretivos ou disciplinares. Em todos os

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte especial. v. 2. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 215. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte especial. v. 2. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 294.

casos, é desnecessária a efetiva ocorrência de dano à vítima, bastando o perigo concreto. A consciência do abuso, entretanto, é indispensável para que se configure o dolo. Na forma simples do delito, a pena é alternativa de detenção ou multa, mas os §§1º e 2º preveem figuras qualificadas pelo resultado. Por fim, o §3º, acrescido pelo Estatuto do Adolescente, determina a majoração da pena em 1/3 se a vítima é menor de quatorze anos.

21.4. RIXA

Rixa (art. 137) – A rixa é um tipo aberto. Trata-se de crime de perigo abstrato e de concurso

necessário (pelo menos três pessoas), com restrita aplicação. Participar é tomar parte; rixa é a guerra de todos contra todos, ou seja, uma generalizada troca de agressões. Nela, todos são agentes e vítimas a um só tempo e todos são punidos. Se da rixa decorre morte ou lesão corporal de natureza grave, todos respondem pela forma qualificada do delito cuja pena é de seis meses a dois anos (art. 137, parágrafo único), ainda que se identifique seu autor, o qual, a seu turno, responderá pelo homicídio ou pelas lesões em concurso material com a rixa. Se todos os autores forem individualizados, não haverá rixa, e sim concurso de crimes e, eventualmente, de pessoas (por exemplo, brigas de gangues rivais). A ação penal é pública incondicionada.

21.5. CRIMES CONTRA A HONRA

Calúnia (art. 138) – A conduta típica consiste na imputação falsa a alguém de fato definido

como crime. O bem jurídico protegido é a honra objetiva do sujeito, ou seja, a sua reputação, o conceito que os demais membros da sociedade têm a seu respeito. Consuma-se, por isso, quando a imputação chega a conhecimento de um terceiro, o que cria a condição necessária para lesar a fama do indivíduo.

Para a configuração da calúnia, a doutrina exige, em regra, três requisitos. Reclama-se, primeiramente, a existência de um fato determinado, ou seja, deve haver a individualização de suas circunstâncias. Exige-se, também, a falsidade da imputação, a qual pode recair sobre o fato ou sobre a autoria. Naquela hipótese, o fato é inexistente; nesta, a existência ou ocorrência do fato é verdadeira; falsa é a imputação da autoria. Por fim, demanda-se o animus caluniandi que é constituído pela vontade consciente de caluniar a vítima. Não há, portanto, crime quando presente qualquer elemento subjetivo diverso, como o animus defendendi,o narrandi ou o jocandi.

Prevê o §1º que incorre na mesma pena aquele que, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. O §2º determina que é punível a calúnia contra mortos. O §3º, a seu turno, trata da

exceção da verdade, a qual consiste na possibilidade de o agente provar a veracidade do fato que

imputou. O instituto é, contudo, vedado em três situações: nos crimes de ação privada, quando o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; nos fatos imputados contra o Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro; se o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.

Difamação (art. 139) – A difamação consiste em atribuir fato ofensivo à reputação de

alguém. O fato, ao contrário da calúnia, não precisa ser falso e nem ser definido como crime, mas deve ser determinado e individualizado. O bem jurídico tutelado é, novamente, a honra objetiva do sujeito e, por isso, também se consuma quando terceiro toma conhecimento da atribuição. Com relação ao elemento subjetivo do tipo, exige-se o animus diffamandi. Quanto ao instituto da exceção da verdade, só é aplicável quando o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao

157

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 153-157)

Outline

Documentos relacionados