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ROUBO E EXTORSÃO

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 163-166)

163 Furto de Coisa Comum (art 156) – Modalidade especial do crime de furto e distingue-se

22.2. ROUBO E EXTORSÃO

Roubo Próprio (art. 157) – A figura típica do roubo tem como bens jurídicos protegidos, a

um só tempo, o patrimônio e a integridade física e a liberdade da pessoa. Trata-se de crime complexo, consistente no furto associado ao emprego de violência ou grave ameaça. Esta, uma intimidação grave e séria; aquela, um constrangimento físico (vias de fato ou lesões corporais leves, porque, se graves, é caso de roubo qualificado). A subtração de coisa alheia móvel realizada mediante qualquer outro meio que impeça a resistência do ofendido à perda dos seus bens também configura o delito. Em síntese, no roubo próprio, a violência, a grave ameaça ou qualquer outro meio similar são praticados para a retirada dos bens da vítima, antes ou durante a subtração. Qualquer indivíduo pode ser sujeito ativo ou passivo e, em se tratando de crime material, a tentativa é plenamente admissível. O momento da consumação delitiva, porém, é objeto da mesma discussão doutrinária relativa ao crime de furto. Sobre o assunto, entende-se que o crime só se consuma quando o agente retira a coisa da esfera de disponibilidade da vítima, invertendo a posse.

Roubo Impróprio (art. 157, § 1º) – O roubo impróprio ocorre quando a violência ou grave

ameaça é praticada logo depois da subtração, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. Aqui, os meios para elidir a resistência da vítima são utilizados quando o agente já efetuou a subtração; diferenciando-se, pois, do roubo próprio. Discute-se, por isso, se a tentativa é possível, havendo dissenso na doutrina.

Roubo Majorado (art. 157, § 2º) – A pena do crime de roubo é aumentada de 1/3 até a

metade: se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma, o que não inclui o uso de arma de brinquedo, estando cancelada a Súmula 174 do STJ. É imprescindível a apreensão da arma e a perícia para que incida a majorante. Ainda, se há concurso de duas ou mais pessoas; se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância; se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior, e se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. Por isso, embora se fale em roubo “qualificado”, em verdade o dispositivo prevê causas de aumento de pena decorrentes da maior reprovabilidade da conduta.

Roubo Qualificado pelas Lesões Corporais Graves (art. 157, § 3º, 1ª parte) – Se da violência

empregada decorrem lesões corporais graves, a hipótese é de roubo qualificado e a pena é agravada em razão do maior desvalor do resultado. Não importa se essas lesões advieram de dolo ou de culpa, mas é imprescindível que tenham sido causadas pela violência física empregada contra a vítima ou, ainda, contra terceira pessoa, e não pela grave ameaça ou por qualquer outro meio utilizado pelo agente para proceder à subtração.

Latrocínio (art. 157, § 3º, 2ª parte) – O latrocínio é um crime complexo, ou seja, uma

unidade jurídica composta pelos delitos de roubo e homicídio (da vítima ou de terceiro). Trata-se, pois, do roubo qualificado pelo resultado morte. Sua configuração exige o dolo na conduta antecedente, mas não importa se houve dolo ou culpa na subsequente, porque o agravamento da

pena decorre do maior desvalor do resultado. Outrossim, apesar de atingir o bem jurídico vida, no latrocínio, a morte é um meio para o crime-fim que é contra o patrimônio da vítima, o que afasta a competência do Tribunal do Júri para seu julgamento.

No latrocínio, a questão da consumação e da tentativa é tormentosa, sendo possíveis as seguintes hipóteses: roubo consumado + homicídio tentado = tentativa de latrocínio; roubo

consumado + homicídio consumado = latrocínio consumado; roubo tentado + homicídio tentado = tentativa de latrocínio; e roubo tentado + homicídio consumado = latrocínio consumado (Súmula

610, STF). Por fim, resta lembrar que, consoante art. 1º da Lei 8.072/90, o latrocínio é crime hediondo.

Extorsão (art. 158) – A extorsão é crime complexo que atinge a pessoa e o seu patrimônio.

A figura típica consiste em constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a fazer, tolerar que se faça ou se deixe de fazer alguma coisa, a fim de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica. Embora semelhantes, a extorsão diferencia-se do roubo porque, aqui, o agente não toma a coisa alheia pessoalmente: é a vítima quem lhe entrega ou coloca à sua disposição a vantagem indevida. Para sua configuração é preciso, portanto, que haja coação do sujeito passivo, por meio de violência ou grave ameaça, e que esteja presente o elemento subjetivo especial do tipo consistente na intenção de obter indevida vantagem econômica para si ou para outrem. Essa vantagem, a seu turno, não se restringe às coisas móveis alheias: a elementar normativa inclui qualquer interesse ou direito patrimonial da vítima. Sua efetiva obtenção, no entanto, é mero exaurimento da extorsão, que se consuma com a vítima sendo constrangida a fazer, omitir ou tolerar que se faça algo. É que, embora a extorsão seja crime formal (Súm. 96 do STJ), o mero constrangimento, sem a posterior atuação da vítima, constitui apenas tentativa.

Se o crime for cometido por duas ou mais pessoas ou com emprego de arma, a pena é aumentada de 1/3 até a metade (art. 158, §1º). Outrossim, se da extorsão decorrem lesões corporais de natureza grave ou morte, o delito é qualificado pelo resultado, à semelhança do que ocorre no crime de roubo (art. 158, §3º). Finalmente, por força do art. 1º, III, da Lei n. 8.072/90, a extorsão qualificada pela morte é considerada crime hediondo.

Extorsão mediante Sequestro (art. 159) – Trata-se de modalidade especial e mais grave do

crime de extorsão, tendo em vista haver a supressão da liberdade da vítima. A conduta típica é sequestrar alguém contra a sua vontade, privando-a de sua liberdade, com a finalidade de obter qualquer vantagem como condição ou preço do resgate, ou seja, em contrapartida à liberação do sequestrado. É, pois, crime permanente que se consuma no exato momento em que a vítima é sequestrada, mesmo antes do pedido do resgate. O Código Penal fala em qualquer vantagem, não especificando a necessidade de ser ela indevida ou econômica, o que gera controvérsia na doutrina. Também não se exige que ela seja efetivamente alcançada: seu recebimento é mero exaurimento do delito. No entanto, é a finalidade específica de obtê-la para si ou para outrem que distingue o tipo em apreço do crime de sequestro. Trata-se do especial fim de agir, o qual pode surgir mesmo depois de já ter o agente sequestrado a vítima, bastando, para isso, que passe ele a exigir determinada condição ou preço para a libertação do refém.

O crime é qualificado se a duração da privação da liberdade for superior a vinte e quatro horas e se a vítima for menor de dezoito anos, tendo em vista que tais circunstâncias ampliam o desvalor da ação e do resultado, justificando a maior penalização. Não obstante, a prática de crime por quadrilha ou bando também qualifica o delito; mas, para tanto, não basta o mero concurso de pessoas: é preciso, nos moldes do art. 288 do CP, a reunião de mais de três pessoas para a prática de crimes indeterminados (art. 159, § 2º). Se da extorsão mediante sequestro decorrerem lesões

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3º). De outra parte, no caso de crime praticado em concurso de pessoas, o §4º prevê uma causa de diminuição de pena como prêmio ao participante delator que, com sua denúncia às autoridades, facilite a libertação do sequestrado. A extorsão mediante sequestro é crime hediondo tanto na forma simples quanto nas qualificadas.

Extorsão Indireta (art. 160) – Este tipo penal objetiva proteger a regularidade das relações

entre credor e devedor. A ação típica é exigir ou receber documento que possa dar causa a procedimento criminal, contra a vítima ou contra terceiro, em razão de garantia de dívida e com abuso da situação de alguém. Ilícito, portanto. Não é o crédito em si, mas a garantia exigida, e o que se quer coibir é a coação e a prática de chantagem por parte de agiotas contra o devedor necessitado.

22.3. USURPAÇÃO

Pelo termo usurpação entende-se, em síntese, a conduta de quem adquire alguma coisa com fraude ou indevidamente. Neste capítulo, o bem jurídico protegido são os bens imóveis que não podem ser objeto de furto.

Alteração de Limites, Usurpação de Águas e Esbulho Possessório (art. 161) – São três

figuras similares de infrações contra a posse e a propriedade imóvel. No primeiro caso, suprime-se ou desloca-se algum sinal indicativo de limite para se apropriar da coisa imóvel alheia e, no segundo, desvia-se ou se represa água alheia. Em ambos, exige-se o especial fim de obter proveito para si ou para outrem. Na terceira hipótese, está-se diante de crime complexo, que ocorre quando alguém invade, com violência ou grave ameaça, ou em concurso de pessoas, terreno ou edifício alheio, com o especial fim de esbulhar. A ação penal, para todas as figuras, é pública incondicionada, e, se empregada violência, o agente responde também pelo crime correspondente (§2º). Contudo, sendo a propriedade particular e não havendo violência à pessoa, somente se procede mediante queixa (§3º).

Supressão ou Alteração de Marca em Animais (art. 162) – Aqui, protege-se a posse e a

propriedade dos semoventes. As condutas tipificadas são suprimir e alterar marca ou sinal indicativo de propriedade. Tal ação deve ser não autorizada, incidente sobre animais alheios já marcados e há de estar presente, ainda, o escopo de se apoderar dos semoventes. A ação penal é pública incondicionada.

22.4. DANO

Dano (art. 163) – Dano é o prejuízo causado a alguém com a destruição, inutilização ou

deterioração de seu patrimônio. Na modalidade simples do delito, basta o ato de estragar ou destruir coisa corpórea móvel ou imóvel da vítima. Nessa linha, quem desaparece com coisa alheia não pratica crime algum. Na forma qualificada (art. 163, parágrafo único), o dano deve ter sido praticado com violência ou grave ameaça (inc. I); com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constituir crime mais grave (inc. II); contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista (inc. III); ou por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima (inc. IV). Na última hipótese e em caso de dano simples, somente se procede mediante queixa (art. 167).

Introdução ou Abandono de Animais em Propriedade Alheia (art. 164) – O tipo penal pune

a introdução ou o abandono de animais em propriedade de outrem, sem que haja consentimento para tanto e desde que ocorra efetivo prejuízo. O prejuízo, ou seja, o dano economicamente apreciável, deve ser a consequência, e não o escopo da conduta. Havendo consentimento do ofendido, o fato é atípico. A ação é exclusivamente privada.

Dano em Coisa de Valor Artístico, Arqueológico ou Histórico (art. 165) e Alteração de Local Especialmente Protegido (art. 166) – Estes artigos foram tacitamente revogados, respectivamente,

pelos arts. 62, I, e 63 da Lei n. 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais), que regulam completamente a mesma matéria.62

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