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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 194-197)

191 Violência Arbitrária (art 322) – Consoante grande parte da doutrina, o tipo penal fo

31.4. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

Reingresso de Estrangeiro Expulso (art. 338) – O sujeito ativo deste crime é o estrangeiro

que, já expulso, reingressa no território nacional. A pena prevista é de reclusão, sem prejuízo de nova expulsão depois de seu cumprimento. Todavia, parte da doutrina entende que a ressalva final “após o cumprimento da pena”, estabelecida no preceito secundário do tipo, estaria revogada; porque, consoante o art. 67 da Lei nº 6.815/80, o cumprimento de pena não pode servir de pretexto para evitar a expulsão do estrangeiro quando esta é conveniente ao interesse nacional.

Denunciação Caluniosa (art. 339) – Trata-se de crime complexo que, sendo formado pela

calúnia e pela conduta lícita de levar ao conhecimento da autoridade a prática de um crime e sua autoria, consiste em dar causa a instauração de investigação ou processo contra alguém, sabendo ser ele inocente. Os requisitos para a configuração do tipo são, portanto, a existência de um sujeito passivo determinado, a imputação de um crime e o conhecimento da inocência do acusado. Além disso, é preciso o dolo direto, de modo que se o agente procede à denúncia por achar possível, embora sem ter certeza da imputação, o delito não se configura. Consuma-se o crime quando da instauração da investigação policial ou administrativa, processo judicial, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa. Caso o agente, para a denúncia, se valha de anonimato ou de nome suposto, a pena é aumentada em 1/6 (§ 1º). De outra parte, sendo a imputação de prática de contravenção, e não de crime, a pena é diminuída de metade (§ 2º).

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A denunciação caluniosa absorve a calúnia e dela se distingue porque aqui a imputação falsa de um fato definido como crime é levada ao conhecimento da autoridade. A difamação e a injúria, no entanto, não são absorvidas.

Comunicação Falsa de Crime ou de Contravenção (art. 340) – De modo diverso que no tipo

penal anterior, este crime trata da provocação inútil de ação de autoridade, bastando, para sua configuração, que o agente faça com que a autoridade aja sem nenhum motivo. A comunicação, oral ou escrita, pode ser tanto de crime quanto de contravenção que o sujeito ativo sabe não ter ocorrido.

Autoacusação Falsa (art. 341) – Pratica o crime o agente que, perante autoridade, imputa a

si mesmo a prática de crime inexistente ou praticado por outrem. Como lembra Delmanto, porém, diversa é a situação do acusado que, na polícia ou em juízo, se autoacusa de crime inexistente ou praticado por outrem para se defender de outro delito que lhe é imputado. Nesse caso, a pessoa não comete esse crime, tendo em vista as garantias constitucionais do direito ao silêncio, de não ser obrigado a depor contra si mesmo nem a se confessar ou se declarar culpado.65

Falso Testemunho ou Falsa Perícia (art. 342) – É um crime de mão própria que só pode ser

cometido por testemunha, perito, tradutor ou intérprete. As condutas puníveis são afirmar o falso, negar ou calar a verdade, desde que praticadas com dolo e intenção de prejudicar a correta aplicação da justiça. Com efeito, o direito da testemunha de mentir ou calar a verdade existe, mas para evitar comprometer-se, já que ninguém está obrigado a se autoacusar. Nessa linha, a mera opinião da testemunha sobre os fatos não configura o crime; mas a opinião do perito, porque técnica, sim.

Discute a doutrina acerca da necessidade do compromisso legal para a configuração do crime de falso testemunho, havendo entendimento em ambos os sentidos. O crime se consuma com o término do depoimento, porém, se houver retratação ou declaração da verdade antes da sentença, ele deixa de ser punível (§2º). A participação é possível, mas quem dá, oferece ou promete dinheiro ou qualquer vantagem à testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete para que pratique o falso incorre no delito do art. 343. Finalmente, o §1º prevê como causas de aumento de pena o fato de o crime ter sido praticado mediante suborno ou com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil de que for parte a Administração.

Coação no Curso do Processo (art. 344) – Este tipo penal consiste em usar de violência ou

grave ameaça para coagir pessoa envolvida em processo judicial, policial ou administrativo ou em juízo arbitral. Não é típica, porém, a conduta do advogado que intimida a testemunha, lembrando-a das penas para o falso testemunho, pois é interesse da administração da justiça que aquela diga a verdade sobre o que sabe.

Exercício Arbitrário das Próprias Razões (arts. 345 e 346) – O tipo previsto no art. 345

configura a “justiça com as próprias mãos”. Não importa se a pretensão a ser satisfeita era legítima, porque o monopólio de distribuição da justiça é estatal, ressalvado, ao particular, o exercício regular de direito, que, por óbvio, não configura o crime em análise. Se não houver violência, somente se procede mediante queixa. O art. 346, por sua vez, prevê crime próprio cujo autor é sempre o proprietário. As condutas puníveis são tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria

que se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção. É o caso, por exemplo, de coisa penhorada ou guardada em depósito ou de automóvel alugado em poder do locatário.

Fraude Processual (art. 347) – O agente produz uma modificação no estado natural de

coisa, lugar ou pessoa, com a finalidade de induzir em erro juiz ou perito no curso de processo civil ou administrativo. A inovação só é típica, porém, se artificiosa, ou seja, se praticada com intuito de fraudar. Não obstante, se a conduta se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que antes do seu início, as penas se aplicam em dobro (parágrafo único).

Favorecimento Pessoal (art. 348) – Pune-se a conduta de quem auxilia autor de crime a

escapar da ação da autoridade pública. Fica isento de pena, porém, o ascendente, descendente, cônjuge ou irmão que pratica a conduta (§2º), assim como também não pode ser sujeito ativo o coautor ou partícipe do delito precedente.

Favorecimento Real (art. 349) – Trata-se de prestar auxílio a criminoso, para tornar seguro

o proveito do crime, o que abrange os produtos, o resultado e o preço obtidos com o delito, mas não seus instrumentos. O favorecimento real distingue-se do pessoal porque, aqui, o que se faz é assegurar o proveito do delito antecedente, e não seu autor. Não praticam o crime o coautor ou o receptador.

Exercício Arbitrário ou Abuso de Poder (art. 350) – O entendimento majoritário da doutrina

é o de que o dispositivo foi inteiramente revogado pela Lei nº 4.898/65 cujas figuras típicas encerram todas as possibilidades de abuso de autoridade (Delmanto, Nucci). Alguns autores, porém, entendem que apenas o caput e o inc. III do art. 350 foram revogados, permanecendo em vigor os demais (Paulo José da Costa Júnior, Damásio).

Fuga de Pessoa Presa ou Submetida à Medida de Segurança (art. 351) – O agente, aqui,

promove ou facilita a fuga de preso ou internado. Se o delito é praticado a mão armada, por mais de uma pessoa ou com arrombamento (§ 1º), ou por quem está incumbido da custódia ou guarda do preso ou internado (§ 3º), o delito é qualificado. Se há violência contra a pessoa, aplica-se também a pena correspondente a ela (§ 2º). O funcionário incumbido da custódia ou guarda também é punido a título de culpa, ao passo que, para o particular, a forma culposa é atípica (§ 4º).

Evasão mediante Violência contra a Pessoa (art. 352) – É direito do ser humano buscar a

própria liberdade, por isso, só é típica a fuga do preso ou do internado se houver violência contra a pessoa. Também não configura este crime a fuga violenta exercida no momento da decretação da prisão, porque aí se está a falar do crime de resistência. Por fim, resta salientar que não é preciso a efetiva evasão: o tipo penal equipara e pune igualmente a forma consumada à tentada.

Arrebatamento de Preso (art. 353) – Arrebatar é, em síntese, tirar com violência. Há,

porém, que tratar de preso, de modo que o arrebatamento de internado não configura o delito em questão.

Motim de Presos (art. 354) – Trata-se de crime de concurso necessário, em que os sujeitos

ativos somente podem ser os presos; não se incluindo, portanto, as pessoas sujeitas à medida de segurança detentiva. O tipo também exige que a revolta perturbe a ordem ou disciplina da prisão. Neste ponto, a doutrina se divide quanto à necessidade ou não de os presos praticarem efetivos atos comissivos, como violência contra coisas e pessoas, para a configuração do motim.

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No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 194-197)

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