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SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE (SURSIS)

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 128-131)

48 Por exemplo, Júlio Fabrini Mirabete.

17.5. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE (SURSIS)

Fixada a pena privativa de liberdade na sentença e não cabível, ou não indicada a substituição por restritivas de direitos, poderá ainda ser aplicado o sursis (art. 77 e ss. do CP). A pena privativa de liberdade é suspensa por determinado tempo, chamado período de prova, durante o qual o condenado deve sujeitar-se a algumas condições previstas em lei. Finalizado o prazo sem que tenha sobrevindo causa de revogação do benefício, a pena é extinta.

A análise do cabimento da suspensão condicional da pena privativa de liberdade tem caráter residual, sendo precedida pela avaliação sobre a substituição por restritiva de direitos, que é, em tese, mais benigna ao condenado (art. 77, III, CP, c/c art. 44, CP). Conforme o art. 80 do CP, as penas restritivas de direitos e a pena de multa não podem ser suspensas.

Preenchidos todos os requisitos legais, o sursis constitui direito público subjetivo do réu, não sendo possível ao juiz negar-lhe sua concessão.52 O réu pode não concordar com as condições impostas e optar pelo cumprimento da pena privativa de liberdade. A revelia do réu, porém, não impede a suspensão. Ademais, deve o juiz obrigatoriamente se manifestar sobre ele, sob pena de nulidade parcial, sempre que a pena aplicada for inferior a dois anos.

17.5.1. REQUISITOS

Estão previstos no art. 77 do CP:

a) Quantidade da pena privativa de liberdade aplicada:: a pena fixada na sentença não pode ser superior a dois anos. A suspensão é possível mesmo no caso de concurso de crimes, mas a jurisprudência tem entendido que, para efeito de consideração do limite quantitativo da pena, não se despreza o acréscimo pelo concurso formal, material etc. Considera-se a pena definitiva. O § 2º do art. 77 prevê que, caso seja o condenado maior de setenta anos à data da sentença concessiva ou tenha problemas de saúde que justifiquem a suspensão, ela pode ser concedida se a pena for inferior a quatro ano. Na hipótese de crime contra o meio ambiente, admite-se o benefício desde que a pena privativa de liberdade não exceda a três anos (Lei n. 9.605/98, art. 16).

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b) Não reincidência em crime doloso: de acordo com o inciso I do art. 77, o réu não pode ser reincidente em crime doloso. Logo, se um dos crimes foi culposo ou se o crime anterior foi contravenção penal, não há óbice à concessão da suspensão condicional, assim como a condenação anterior a pena só de multa, ainda que por crime doloso, também não a impede, a teor do art. 77, § 1º, CP e da Súmula 499 do STF.

c) Circunstâncias judiciais favoráveis ao agente: a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade do agente, os motivos e as circunstâncias do crime devem ser favoráveis, autorizando, assim, a concessão do benefício. Como se vê, o inciso II do art. 77 do CP trata das circunstâncias judiciais do art. 59, à exceção das consequências do crime e do comportamento da vítima.

d) Impossibilidade da substituição da pena por restritivas de direitos: o inciso III do art. 77 aponta para o caráter residual do sursis, que só pode ser concedido caso não tenha sido possível a anterior substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos.

17.5.2 ESPÉCIES

a) Sursis simples ou comum: é aquele que, preenchidos os requisitos do art. 77 e seus incisos, suspende o processo pelo prazo de dois a quatro anos, impondo-se ao réu condições que devem ser cumpridas. Determina o § 1º do art. 78 do CP que, no primeiro ano do prazo, o condenado deverá, obrigatoriamente, prestar serviços à comunidade ou submeter-se à limitação de fim de semana. As demais condições devem ser fixadas pelo juiz de forma adequada ao fato e à situação pessoal do condenado (art. 79 do CP), não podendo ser vexatórias nem ociosas.

b) Sursis especial: é a hipótese excepcional prevista no art. 78, §2º, do CP. Permite substituir a exigência do § 1º: aplicação da prestação de serviços à comunidade ou limitação de fim de semana. Para que haja a substituição, entretanto o réu deve ter preenchido todos os requisitos gerais exigidos para o sursis simples e, ainda, reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo. Além disso, todas as circunstâncias do art. 59 devem militar em seu favor. Satisfeitos esses pressupostos, o magistrado pode substituir as exigências do sursis simples, impondo ao condenado, de forma cumulativa: a proibição de frequentar determinados lugares e de ausentar-se da comarca onde reside sem autorização do juiz e a obrigação de comparecer pessoal e mensalmente ao juízo para informar e justificar suas atividades.

c) Sursis etário: concedido ao réu maior de setenta anos à data da sentença concessiva, desde que a pena privativa de liberdade não seja superior a 4 anos. O período de prova também é maior, de quatro a seis anos. Previsto no § 2º do art. 77.

d) Sursis humanitário: concedido ao réu que tem problemas de saúde que justifiquem a suspensão, independentemente da idade. A pena aplicada deve ser inferior a 4 anos. O período de prova também é maior, de quatro a seis anos. Previsto no § 2º do art. 77.

17.5.3. PERÍODO DE PROVA

Período de prova é o tempo pelo qual o processo fica suspenso com exigência de que o réu cumpra as condições estabelecidas. Findo este prazo sem revogação, extingue-se a pena privativa de liberdade (art. 82 do CP). O período de prova é:

a) Sursis normal e especial: de 2 a 4 anos b) Sursis etário e humanitário: de 4 a 6 anos

c) Sursis em contravenção: de 1 a 3 anos (art. 11 da LCP)

A determinação no caso concreto deve atentar para a natureza do crime, a personalidade do agente e a intensidade da pena.

O prazo começa a correr depois do trânsito em julgado da sentença condenatória, a contar da audiência admonitória prevista no art. 160 da LEP. Trata-se de formalidade em que o réu será cientificado das condições a serem observadas e advertido das consequências do seu descumprimento.

17.5.4. REVOGAÇÃO E PRORROGAÇÃO DO SURSIS

a) Revogação obrigatória: as hipóteses estão previstas nos incisos I, II e III do art. 81 do CP e são quando o beneficiário do sursis: é condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso; frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua, sem motivo justificado, a reparação do dano; descumpre a condição de prestar serviços à comunidade ou submeter-se à limitação de fim de semana no primeiro ano do período de prova (prevista no § 1º do art. 78 do CP).

b) Revogação facultativa: as hipóteses estão previstas no § 1º do art. 81 do CP: “se o condenado descumpre qualquer outra condição imposta ou é irrecorrivelmente condenado, por crime culposo ou por contravenção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos.” A revogação fica a critério do juiz, que, em vez de decretá-la, pode optar por prorrogar o período de prova. A decisão que opta por revogar deve ser fundamentada.

c) Prorrogação do período de prova: as hipóteses estão previstas nos §§ 2º e 3º do art. 81 do CP:

“§ 2º - Se o beneficiário está sendo processado por outro crime ou contravenção, conside- ra-se prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento definitivo”. Não basta a existência de inquérito, porque o processo penal só surge com o recebimento da denúncia ou queixa- crime. A revogação é obrigatória e automática, decorrente da lei, e se estende até o julga- mento definitivo do novo processo, mas com ela não subsiste a obrigação de cumprir as condições impostas.

“§ 3º - Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de decretá-la, prorrogar o pe- ríodo de prova até o máximo, se este não foi o fixado.” No segundo caso, é uma alternativa à revogação facultativa, e só existe quando o período de prova não tiver sido fixado no seu limite máximo. Nela, todas as condições impostas na sentença, à exceção daquelas especí-

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A revogação do sursis deve ocorrer por meio de procedimento judicial, na vara de execuções, em que se garanta o devido processo legal, com contraditório e ampla defesa, ao réu. O Ministério Público deve ser ouvido previamente acerca da extinção do sursis, sob pena de nulidade.53 O STF e o STJ tem entendimento de que, por ser automática a suspensão obrigatória, considera-se revogado no momento da condenação por crime doloso, ainda que o juiz da execução tome conhecimento apenas após expirado o período de prova.

Efeito da revogação: com a revogação, ao contrário do que ocorre com a conversão das

penas restritivas de direitos, obriga-se o sentenciado a cumprir integralmente a pena suspensa, independentemente do tempo de prova já decorrido.

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 128-131)

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