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EFEITOS SECUNDÁRIOS EXTRAPENAIS

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 133-137)

133 sursis; é causa de revogação do livramento condicional; aumenta o prazo da

18.2. EFEITOS SECUNDÁRIOS EXTRAPENAIS

Como referido anteriormente, são aqueles que repercutem em outra esfera, que não a penal (cível, administrativa, trabalhista, entre outras). Estão previstos nos arts. 91 e 92 do CP e dividem-se em genéricos e específicos.

18.2.1. EFEITOS EXTRAPENAIS GENÉRICOS (ART. 91 DO CP)

São efeitos automáticos de qualquer condenação criminal, não necessitando de expressa declaração na sentença.

18.2.1.1. TORNAR CERTA A OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO

CAUSADO PELO CRIME (REPARAÇÃO EX DELICTO)

A sentença penal condenatória irrecorrível faz coisa julgada no juízo cível, valendo como título executivo para a reparação do prejuízo. Não será necessário, portanto, rediscutir a culpa do agente causador do dano. Não sendo a obrigação de reparar o dano uma pena, mas simples efeito da condenação, ela se transmite aos herdeiros até os limites da herança. O art. 387, IV, do CPP dispõe que, na sentença condenatória, o juiz “fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido”. Entretanto, a vítima ou seus sucessores não são obrigados a aguardar o fim da ação penal, podendo buscar o ressarcimento desde logo, mediante a competente ação cível ex delicto. A sentença absolutória também não impede a propositura da ação indenizatória em juízo cível, a menos que o fundamento da absolvição seja a inexistência material do fato ou o reconhecimento de que o réu não foi seu autor (art. 935 do CC). Da mesma forma, a extinção da punibilidade depois do trânsito em julgado da sentença não afasta a obrigação de indenizar.

18.2.1.2. CONFISCO, PELA UNIÃO, DOS INSTRUMENTOS E

PRODUTOS DO CRIME

Trata-se da perda ou privação de bens do particular em favor do Estado, em razão da prática de um crime; não abrangendo, portanto, as contravenções penais. O confisco pode recair

sobre os instrumentos do crime, ou seja, objetos, coisas materiais empregadas para a prática do delito, ou sobre seus produtos, que são vantagens, bens e valores que representem proveito, direto ou indireto, auferido pelo agente com a prática criminosa.

O confisco só pode ocorrer em relação aos instrumentos do crime quando o fabrico, uso, alienação, porte ou detenção do bem constitua fato ilícito (art. 91, II, a, CP). Ademais, não pode que pertençam a quem dela participou, porque o terceiro de boa-fé e o lesado não podem ser prejudicados. A possibilidade de confisco prescreve com a condenação, mas não se suspende com a concessão do sursis.

A Lei n.º 12.694/12 acrescentou dois parágrafos ao art. 91 do CP, que agora permite ao juiz decretar a perda de bens e valores lícitos do réu equivalentes ao produto do crime, durante o processo ou ao seu final, desde que não encontrados ou que estejam no exterior o produto ou proveito do crime.

18.2.1.3. SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS, ENQUANTO

DURAR A EXECUÇÃO DA PENA

Esse efeito da condenação está previsto no art. 15, III, da CF e dele trata a Súmula 9 do TSE: “A suspensão de direitos políticos decorrente de condenação criminal transitada em julgado cessa com o cumprimento ou a extinção da pena, independendo de reabilitação ou de prova de reparação dos danos.” Em síntese, enquanto durar a pena, o condenado é privado de seus direitos políticos, não podendo exercer nem mesmo seu direito de voto. A extinção da pena faz cessar esse efeito.

18.2.2. EFEITOS EXTRAPENAIS ESPECÍFICOS (ART. 91 DO CP)

Decorrem da condenação penal pela prática de determinados crimes, em hipóteses específicas. Devem ser devidamente fundamentados na sentença condenatória e não se confundem com a interdição temporária de direitos, modalidade de pena restritiva de direitos. Os efeitos específicos não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença (§ único).

18.2.2.1.PERDA DE CARGO, FUNÇÃO PÚBLICA OU MANDATO

ELETIVO

Há duas hipóteses para a perda:

A primeira (art. 92, I, alínea a) delas é a condenação à pena privativa de liberdade igual ou superior a um ano, sendo necessário, nesse caso, que o agente tenha de alguma forma abusado de seu poder ou violado dever para com a Administração Pública inerente ao cargo, função ou mandato. A perda do cargo, função pública ou mandato eletivo incide não apenas nos crimes funcionais (art. 312 a 326 do CP) e em outros crimes cometidos por funcionários públicos, mas também em outros desde que “praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública”, mas não se o agente agiu como particular.56

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A segunda hipótese (art. 92, I, alínea b) é a de condenação à pena privativa de liberdade superior a quatro anos, por qualquer crime. Nesse caso, houve a prática de crime comum, e condenação a pena maior do que quatro anos pode ensejar, se fundamentada em sentença, a perda do cargo, função pública ou mandato eletivo.

Como se nota, apenas são efeitos em caso de condenação a pena privativa de liberdade, de forma que a aplicação apenas de pena de multa não permite produção deste efeito. Em qualquer dos casos, nada impede que, reabilitado, haja uma ulterior investidura em outro cargo, função ou mandato.

18.2.2.2. INCAPACIDADE PARA O EXERCÍCIO DO PODER

FAMILIAR, TUTELA OU CURATELA

Exige três requisitos: crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado. Assim, crimes como o de exposição ou abandono de recém-nascido, porque punidos com detenção, não ensejam tal efeito. Ademais, a incapacidade não decorre automaticamente da condenação, devendo ser declarada, com motivação, na sentença. Exige-se, assim, o exame do caso concreto, reservando-se tal efeito aos crimes de maior gravidade, dos quais resulte a incompatibilidade com o exercício do poder familiar. A perda do poder familiar é permanente com relação ao filho, tutelado ou curatelado ofendido pelo crime, ainda que haja reabilitação. Mas em relação aos demais filhos, tutelados ou curatelados poderá ser excluída pela reabilitação.

18.2.2.3. INABILITAÇÃO PARA DIRIGIR VEÍCULO

Tem dois requisitos: crime doloso e veículo utilizado como meio para o crime. A perda de habilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso, constitui efeito administrativo, embora também de natureza civil, da condenação. Não se confunde com a pena de suspensão de permissão, autorização ou habilitação para dirigir prevista em crimes culposos no trânsito (arts. 302 e 303 do CTB). Aqui é preciso que o veículo tenha sido usado para fins ilícitos, como meio para realizar crime doloso. O objetivo desse efeito é, portanto, o de afastar o agente do meio que lhe permite a prática delituosa.

18.2.3. OUTROS EFEITOS EXTRAPENAIS

a) Rescisão do contrato de trabalho por justa causa: dispõe o art. 482 da CLT que “Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador: (…) d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havido suspensão da execução da pena”

b) Novos exames de habilitação para dirigir veículo quando da prática de crimes trânsito: o art. 160 do CTB dispõe que “o condutor condenado por delito de trânsito deverá ser submetido a novos exames para que possa voltar a dirigir, de acordo com as normas estabelecidas pelo CONTRAN, independentemente do reconhecimento da prescrição, em face da pena concretizada na sentença.”

c) Impedimento de cargo de gestão, administração e gestão de empresa nos crimes falimentares (art. 181 da Lei de Falências).

d) Impedimento matrimonial: a condenação por tentativa de crime doloso contra a vida impede o casamento com o sobrevivente (art. 1.521, VII, do CC).

18.3. REABILITAÇÃO

Prevista no art. 93 do CP, trata-se de medida político-criminal que tem por finalidade restaurar a situação anterior à condenação, impondo sigilo sobre as anotações de seu boletim de antecedentes e suspendendo alguns efeitos secundários decorrentes da sentença condenatória, no intuito de restaurar sua dignidade pessoal e facilitar sua reintegração social. É um direito do condenado.

A reabilitação só é cabível em existindo sentença condenatória com trânsito em julgado, cuja pena tenha sido executada ou já esteja extinta. Logo, não se pode falar em reabilitação quando há sentença absolutória, prescrição da pretensão punitiva, tampouco para o cancelamento das anotações de inquérito arquivado. É cabível, no entanto, nas hipóteses de prescrição da pretensão executória.57 A competência para sua declaração é do juízo criminal em que tramitou o processo de conhecimento, e não do juízo da execução.

18.3.1. REQUISITOS

Previstos no art. 94 do CP e seus incisos:

a) Existência de uma condenação penal irrecorrível, não importando a pena que foi imposta.

b) Decurso do prazo de dois anos do dia da extinção, de qualquer modo, ou do cumprimento da pena. Conta-se o prazo, portanto, a partir da extinção da pena, e não da declaração dessa extinção, ou, ainda, da audiência admonitória que marca o início do período de prova em caso de sursis ou livramento condicional que não tenham sido revogados. Se o período de prova for superior a dois anos, não poderá ser concedida a reabilitação antes do término do prazo. Outrossim, o prazo é sempre o mesmo, independentemente de ser o condenado reincidente.

c) Domicílio no país durante os dois anos.

d) Bom comportamento público e privado durante os dois anos, demonstrados de modo efetivo e constante.

d) Reparação do dano, salvo absoluta impossibilidade de fazê-lo ou renúncia comprovada pela vítima.

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18.3.2. CONSEQUÊNCIAS

a) Garantia do sigilo dos antecedentes (processo, condenação e registros criminais). b) Suspensão condicional dos efeitos secundários específicos da condenação (previstos no art. 92 do CP. É vedada, entretanto, a recondução ao cargo, função ou mandato e a recuperação do pátrio poder em relação ao ofendido.

18.3.3. INDEFERIMENTO

Se o juiz indeferir a reabilitação em razão da ausência de um dos seus requisitos, o pedido poderá ser renovado a qualquer tempo, desde que sejam apresentadas novas provas (art. 94, § único, do CP). Contudo, a reabilitação só pode ser requerida pelo próprio condenado.

18.3.4. REVOGAÇÃO

Como não é causa extintiva de punibilidade, a reabilitação pode ser revogada, restabelecendo-se os efeitos da condenação antes suspensos. A revogação pode ser decretada de ofício ou a requerimento do Ministério Público e apenas se o reabilitado for condenado, como reincidente, por sentença transitada em julgado, exceto se houver imposição somente de pena de multa (art. 95, CP).

A suspensão condicional do processo e a transação penal são institutos previstos na Lei 9.099/90 e que buscam abreviar o processo em crimes menos graves.

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 133-137)

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