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CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 158-163)

157 Injúria (art 140) A injúria consiste na ofensa à dignidade ou ao decoro de alguém O

21.6. CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL

Os crimes deste capítulo protegem a liberdade individual do indivíduo, o que engloba sua liberdade pessoal e a inviolabilidade de seu domicílio, de sua correspondência e de seus segredos.

21.6.1. CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL

Constrangimento Ilegal (art. 146) – A conduta típica consiste em constranger alguém,

mediante violência ou grave ameaça, ou depois de haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite ou a fazer aquilo que ela não ordena. É delito subsidiário em relação a todos os crimes em que o constrangimento é meio ou elemento, como no roubo (art. 157), na extorsão (art. 158) e no estupro (art. 213). Saliente-se também que a pretensão do agente, ao obrigar o ofendido a não fazer o que a lei permite ou a fazer o que ela não manda, deve ser ilegítima; pois, se for legítima, o crime será o de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345).

O §1º determina que as penas se aplicam cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas ou há emprego de armas. O § 2º, por sua vez, prevê que, além as penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. Por fim, o § 3º elenca duas causas de exclusão da tipicidade, quais sejam, a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida e a coação exercida para evitar o suicídio.

Ameaça (art. 147) – O tipo penal consiste em intimidar alguém, por palavra, escrito ou

gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave. Assim, se o “mal” for justo ou não for grave, não haverá o crime. A doutrina, em regra, exige a idoneidade da ameaça, devendo ser ela capaz de impingir medo à vítima.61 Saliente-se que o fato de o crime ser formal não afasta a imprescindibilidade de o destinatário sentir-se, realmente, temeroso, pois o resultado

Assim: BITENCOURT, Cezar Roberto. Código Penal Comentado. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 585; DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. 6.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 316; e NUCCI, Guilherme. Código Penal Comentado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p.391.

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naturalístico que pode ocorrer é o mal injusto e grave, o que constitui mero exaurimento do delito. Por disposição do parágrafo único, a ação penal é pública condicionada à representação.

Sequestro e Cárcere Privado (art. 148) – A conduta típica consiste em privar alguém de sua

liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado, que são formas muito semelhantes de privação do direito de ir e vir, destacando-se este por um sentido de maior restrição de liberdade. É crime permanente, pois a ofensa ao bem jurídico prolonga-se no tempo: enquanto a vítima estiver privada de sua liberdade, a execução estará se consumando.

O §1º, recentemente alterado pela Lei n. 11.106/05, qualifica o crime em razão do desvalor da ação quando a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de sessenta anos; quando o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; quando a privação da liberdade dura mais de quinze dias; quando o crime é praticado contra menor de dezoito anos; ou se ele é praticado com fins libidinosos. O §2º, por sua vez, qualifica o delito em virtude do desvalor do resultado, quando, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, a vítima sofre grave sofrimento físico ou moral.

Redução à Condição Análoga à de Escravo (art. 149) – O dispositivo, alterado pela Lei n.

10.803/2003, prevê um crime de forma vinculada que exige, para sua configuração, a existência de relação trabalhista entre sujeito ativo e passivo. Assim, ainda que se trate da supressão do direito individual de liberdade de alguém, a vítima somente pode ser o trabalhador lato sensu. A conduta tipificada consiste na submissão a trabalhos forçados ou jornada exaustiva, a condições degradantes de trabalho ou, ainda, na restrição da locomoção do trabalhador em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto. Não obstante, o §1º prevê três outras condutas assimiladas, as quais, ao contrário do caput, demandam o especial fim de reter as vítimas no local de trabalho. A sanção penal é de reclusão e multa, ressalvada aquela correspondente à violência e aumentada de metade se o crime é praticado contra criança ou adolescente ou em razão de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem (§2º). Importante: conforme decidido pelo Pleno do STF (RE 459510, j. 26/11/2015), a competência para processar e julgar o crime previsto no art. 149 do CP é da Justiça Federal.

21.6.2. CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO

Violação de Domicílio (art. 150) – O crime consiste em entrar ou permanecer, clandestina

ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou, ainda, em suas dependências. A expressão “casa” compreende qualquer compartimento habitado, o aposento ocupado de habitação coletiva e o compartimento não aberto ao público onde alguém exerce profissão ou atividade (§ 4º). Não envolve, contudo, hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva (à exceção do aposento ocupado), nem taverna, casa de jogo e outras do gênero (§ 5º).

O § 1º relaciona as qualificadoras do crime, quais sejam, que o crime seja cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou arma, ou por duas ou mais pessoas. O § 2º, por sua vez, prevê uma majorante especial para quando o delito for cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou com inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso de poder.

Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência, bem como, a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência de sê-lo (§ 3º). O art. 5º, XI, da Constituição Federal ainda excetua as hipóteses de desastre e a prestação de socorro.

Importante: o Plenário do STF, julgando o RE 603616, com repercussão geral reconhecida,

firmou a tese de que “a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados”.

21.6.3. CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA

Violação de Correspondência (art. 151, caput), Sonegação ou Destruição de Correspondência (art. 151, § 1º, I) e Violação da Comunicação Telegráfica, Radioelétrica ou Telefônica (art. 151, §1º, II, III e IV) – Objetivam, em síntese, proteger a inviolabilidade da

correspondência e das comunicações telegráficas e telefônicas, garantias constitucionalmente asseguradas (art. 5º, XII, CF). Com efeito, apenas o sigilo das comunicações telefônicas, por expressa previsão constitucional, pode ser quebrado, desde que nas hipóteses legais (previstas na Lei n. 9.296/96), mediante ordem judicial e para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. Os crimes aqui previstos são subsidiários, porque só se configuram quando não são meio ou elemento de crime mais grave. Outrossim, a pena é majorada em metade, se houver dano a alguém (art. 151, §2º), e o delito é qualificado se a conduta é praticada com abuso de função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico (art. 151, §3º). Na forma qualificada e com relação ao inc. IV do §1º, a ação penal é pública incondicionada; nos demais casos, somente se procede mediante representação.

Violação de Correspondência Comercial (art. 152) – É crime próprio que só pode ser

praticado pelo sócio ou empregado do estabelecimento comercial ou industrial e desde que incorra ele em abuso dessa condição para desviar, sonegar, suprimir ou revelar a estranho o conteúdo da correspondência. A ação penal é pública condicionada à representação.

21.6.4. CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS

Divulgação de Segredo (art. 153) e Violação de Segredo Profissional (art. 154 e 154-A) –

Protege-se, aqui, a inviolabilidade do segredo, aspecto da liberdade individual. No primeiro caso, a ação típica é divulgar conteúdo de documento ou correspondência confidencial (art. 153, caput) ou informações sigilosas ou reservadas assim definidas em lei (art. 153, §1º-A). Na segunda hipótese, trata-se de revelar segredo relativo ao exercício das atividades da vida privada como a profissão ou a função (art. 154). O verbo-núcleo revelar tem abrangência mais estrita do que divulgar, porque este pressupõe um número indeterminado de pessoas. Em regra, procede-se somente mediante representação, mas se a divulgação de segredo trouxer prejuízo à Administração, a ação penal será incondicionada (art. 153, §2º).

O art. 154-A visa a punir os crime praticados pela internet, tipificando a conduta de invadir dispositivo informático alheio mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim

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do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita. Nota-se que o crime exige elemento subjetivo específico, que o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita. Trata-se de crime formal, de forma se consuma com a invasão voltadas aos referidos fins, independentemente de serem eles atingidos. Ademais, deve ser cometido mediante violação de mecanismo de segurança. O § 1º prevê conduta equiparada relacionada à difusão ou venda de dispositivo voltado à prática do crime previsto no

caput, sujeita às mesmas penas. Se do crime resulta prejuízo econômico, a pena é majorada de 1/6

a 1/3 (§2º). O crime é qualificado pelo resultado de obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido (§ 3º). Ademais, a pena é aumentada de 1/3 a 1/2 se praticada contra autoridades como Presidente da República, governadores e prefeitos; Presidente do Supremo Tribunal Federal; Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal etc. (§ 5º) A ação penal é pública condicionada, salvo se o crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos, quando será pública incondicionada.

Os crimes contidos neste título protegem a posse e a propriedade, direitos garantidos constitucionalmente (art. 5º, XXII) e, por vezes, a mera detenção de bens. As disposições gerais vêm previstas a partir do art. 181, o qual determina ser isento de pena quem pratica qualquer dos delitos patrimoniais em prejuízo do cônjuge, na constância da sociedade conjugal, do ascendente ou do descendente. O art. 182, a seu turno, dispõe que a ação penal é pública condicionada à representação se o crime for cometido contra cônjuge desquitado ou judicialmente separado, irmão, tio ou sobrinho com quem coabite o agente. Por fim, o art. 183 determina que os dispositivos anteriores não se aplicam aos crimes de roubo, extorsão ou nos quais tenha havido emprego de violência ou grave ameaça; ao estranho que participa do crime, e ao delito cuja vítima é pessoa de sessenta anos ou mais.

22.1. FURTO

Furto Simples (art. 155) – Trata-se de crime comum que, à exceção do dono da coisa, pode

ser praticado por qualquer pessoa. Furtar é subtrair coisa alheia móvel para si ou para outrem. Por coisa alheia móvel, elemento normativo do tipo, entende-se objetos e bens que tenham utilidade ou valor econômico, que pertençam a alguém e que sejam passíveis de deslocamento de um lugar para outro no sentido real, e não jurídico, razão pela qual bens considerados imóveis pelo direito civil podem ser objeto de furto. Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico (§3º). Não importa se a posse ou propriedade da coisa furtada é legítima, mas não configura o crime a subtração de coisas sem dono, de ínfimo valor, perdidas, abandonadas, tampouco seres vivos (art. 148 ou 249, CP) ou cadáveres (art. 211, CP).

Além do dolo, exige-se a presença do especial fim de agir: o animus furandi, a intenção de assenhorar-se de forma definitiva para si ou para terceiro de algo que não lhe pertence. Em decorrência, o furto de uso é fato atípico, desde que a posse tenha sido momentânea e que tenha havido a devolução integral da coisa. Outrossim, o furto deve prescindir de todo e qualquer tipo de violência contra a pessoa, embora a violência exercida contra a coisa não o descaracterize (por exemplo, arrebatamento de objeto das mãos da vítima). Sendo crime material, admite-se a tentativa.

Consumação. Delimitada a seguinte tese no STJ: “Consuma-se o crime de furto com a posse

de fato da res furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada” (STJ, REsp 1524450, j. 14/10/2015). Adota-se, portanto, a teoria da apprehensio ou amotio.

Monitoramento eletrônico: “Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico

ou por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto” (Súmula 567 do STJ).

Furto Noturno (art. 155, § 1º) – Se o furto é praticado durante o repouso noturno, em razão

do maior desvalor da conduta, a pena é aumentada em 1/3. Trata-se do período em que as pessoas estão repousando, havendo menor vigilância sobre a res. Há dissídio jurisprudencial quanto à necessidade ou não de o local ser habitado e de que nele haja pessoa repousando para a incidência da majorante. De todo modo, o aumento não se aplica às formas qualificadas do delito, embora se trate, nesses casos, de circunstância do crime, a ser avaliada na primeira fase de dosimetria da pena.

Furto Privilegiado (art. 155, § 2º) – Se a coisa furtada é de valor reduzido e o agente é

primário, tem ele direito ao reconhecimento do privilégio, podendo o juiz substituir a pena de reclusão por detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3 ou aplicar somente a pena de multa. A jurisprudência entende que o privilégio é aplicável tanto ao furto simples quanto na sua modalidade qualificada. Saliente-se que o furto privilegiado não se confunde com o famélico, ou seja, quando alguém subtrai gêneros alimentícios para saciar sua fome, sendo este seu único recurso ante o estado de necessidade em que se encontrava. Nessa hipótese, atua o agente amparado por uma excludente de ilicitude e, por isso, não há crime.

Furto Qualificado (art. 155, § 4º) – O furto é qualificado se cometido: com destruição ou

rompimento de obstáculo à subtração da coisa (inc. I); com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza (inc. II); com emprego de chave falsa (inc. III); e mediante concurso de duas ou mais pessoas (inc. IV). À exceção da circunstância do abuso de confiança, as demais, de natureza objetiva, comunicam-se aos coautores e partícipes. Não obstante, o §5º do art. 155 traz outro tipo derivado do furto, o qual ocorre quando a subtração é de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.

Semovente domesticável de produção (art. 155, § 6º - incluído Lei nº 13.330, de 2016) – A

pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração.

Furto qualificado-privilegiado: “É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º

do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva” (Súmula 511 do STJ).

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