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MEDIDAS DE SEGURANÇA

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 113-115)

111 16.3.3.2 PERDA DE BENS E VALORES

16.4. MEDIDAS DE SEGURANÇA

As medidas de segurança são, ao lado da pena, espécie de sanção penal. A distinção fundamental entre pena e medida de segurança é que as penas são aplicadas aos imputáveis, enquanto as medidas de segurança são aplicáveis aos inimputáveis e, se necessário, aos semi- imputáveis. Outrossim, ao contrário das penas, que têm caráter retributivo e/ou preventivo, com base na culpabilidade (juízo para o passado), as medidas de segurança têm natureza preventiva, fundamentando-se no pressuposto da periculosidade (juízo para o futuro), ou seja, buscam evitar que um sujeito que praticou um crime venha a cometer novas infrações penais. Estão previstas no art. 96 do CP: “As medidas de segurança são: I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; II - sujeição a tratamento ambulatorial.”

Se o agente é inimputável, há sentença absolutória imprópria: o juiz absolve e, em razão da periculosidade, aplica a medida de segurança; o semi-imputável, diferentemente, recebe sentença condenatória, mas o art. 98 do CP dispõe que “necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação”.

Importante: “O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite

máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado” (Súmula 527 do STJ).

16.4.1. SISTEMAS DE APLICAÇÃO

a) Duplo binário: previsto no Código Penal de 1940, permite aplicação cumulativa de pena e a medida de segurança

b) Vicariante: adotado pela Reforma Penal de 1984, vigente atualmente, não permite aplicação cumulativa de pena e medida de segurança. Aos imputáveis aplica-se a pena; aos inimputáveis, a medida de segurança; e aos semi-imputáveis, opta-se ou pela aplicação da pena reduzida, ou pela medida de segurança.

16.4.2. PRESSUPOSTOS DE APLICAÇÃO

a) Prática de fato previsto como crime: as medidas de segurança, tanto quanto as penas, somente podem ser impostas quando, respeitado o devido processo legal, com todas as garantias que lhe são inerentes, restar comprovado que o agente praticou um fato típico e ilícito. Assim, está vedada sua aplicação quando não houver provas de que o réu cometeu a infração penal ou quando estiver extinta a punibilidade, ainda que reconhecida a inimputabilidade por doença mental.

b) Periculosidade do agente: é indispensável que se comprove a periculosidade do agente. Trata-se de um juízo de probabilidade, tendo por base a conduta antissocial e a anomalia

psíquica do agente, de que este voltará a delinquir. Há dois tipos de periculosidade previstos no Código Penal: a presumida, em se tratando de inimputável (art. 26, caput) e a real, reconhecida pelo juiz no caso de semi-imputável que necessita de especial tratamento curativo (art. 26, § único).

c) Ausência de imputabilidade plena: o agente imputável não pode, sob hipótese alguma, sofrer medida de segurança. O semi-imputável, a seu turno, só excepcionalmente estará sujeito à medida de segurança; porque, em regra, a ele deverá ser aplicada a pena privativa de liberdade, reduzida de 1/3 a 2/3, a qual só será substituída por medida de segurança caso reste comprovada a necessidade de internação ou de tratamento ambulatorial. Quando sobrevier doença mental ao condenado, porém, poderá ocorrer a substituição da pena privativa de liberdade por medida de segurança (art. 41, CP).

16.4.3. ESPÉCIES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA

a) Medida detentiva (art. 96, I, do CP): consiste em internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, ou, na falta deste, em outro estabelecimento adequado, não se podendo entender como tal a penitenciária. A medida detentiva é aplicável tanto aos inimputáveis quanto aos semi-imputáveis que necessitam de especial tratamento curativo (art. 97, caput, e 98, CP). É obrigatória quando a pena prevista ao crime for de reclusão.46 b) Medida restritiva (art. 96, II, do CP): consiste em sujeição a tratamento ambulatorial, no qual se darão ao agente cuidados médicos, sem que seja necessária sua internação. Para que seja aplicada, no entanto, o fato previsto como crime deve ser punido com detenção (art. 97 do CP) e, além disso, as circunstâncias fáticas e pessoais devem apontar para sua conveniência no caso concreto. Não obstante, a submissão ao tratamento ambulatorial não é imutável; pois, consoante o art. 97, § 4.º, CP, mostrando-se necessária, sua conversão em internação pode ser determinada para fins curativos (art. 97, § 4.º).

Importante: não é a inimputabilidade ou a semi-imputabilidade que determina a aplicação

de uma ou outra espécie, mas a natureza da pena privativa de liberdade (reclusão ou detenção) prevista para o delito cometido e as condições pessoais do agente.

16.4.4. PRAZOS DA MEDIDA DE SEGURANÇA

As duas espécies de medidas de segurança têm duração indeterminada. Sua execução inicia-se com o trânsito em julgado da sentença, perdurando enquanto não for constatada, por perícia médica, a cessação da periculosidade. O prazo mínimo é previsto no art. 97, § 1.º do CP: de um a três anos. Conforme o § 2º: “A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução.” Há decisão no Supremo Tribunal Federal determinando que o prazo máximo da medida de segurança aplicada ao inimputável é de trinta anos, por analogia ao art. 75 do Código Penal (HC 98.360/RS, 1ª T., Dje 2009). De acordo com o STJ, “O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado” (Súm. 527).

Extinção da punibilidade: o art. 96 do CP dispõe que as medidas de segurança não

subsistem se extinta a punibilidade, de forma que todas as causas extintivas do art. 107 do CP são

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aplicáveis, inclusive a prescrição. A questão que se impõe, nesse tocante, diz com a ausência de pena concretizada no caso de inimputável, havendo posições divergentes sobre se deve ser considerada a pena mínima ou máxima prevista abstratamente ao delito. Em se tratando de semi- imputável, há uma sentença condenatória, na qual o juiz fixa a pena em concreto (que pode ser reduzida de um a dois terços, conforme art. 26, § único, do CP). No entanto, se, em razão da sua condição, o condenado demonstrar necessitar de especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela medida de segurança (art. 98 do CP). Como há uma pena fixada em concreto, será ela o marco para limitar o prazo prescricional. Por isso, é sempre imprescindível que se individualize a pena privativa do semi-imputável antes da aplicação da medida de segurança.

16.4.5 REVOGAÇÃO E EXTINÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA

Comprovada por perícia médica a cessação da periculosidade, revoga-se a medida de segurança, determinando-se a desinternação, no caso de medida detentiva, ou a liberação, em caso de medida restritiva; aplicando-se, então, as condições próprias do livramento condicional (art. 178, LEP). Essa revogação, porém, é provisória, perdurando por um ano. Findo esse período sem que tenha havido qualquer fato indicativo da persistência da periculosidade, não necessariamente um crime, a medida de segurança será definitivamente extinta (art. 97, § 4.º, CP).

16.4.6. OUTRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS MEDIDAS DE

SEGURANÇA

a) Não se aplica ao menor de 18 anos, ao qual incide medida socioeducativa (nos termos do ECA).

b) Súmula 525 do STF: “A medida de segurança não será aplicada em segunda instância, quando só o réu tenha recorrido”. Impossibilidade de reformatio in pejus.

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