• Nenhum resultado encontrado

39 7.3.6 CRIMES COMUNS, PRÓPRIOS E DE MÃO PRÓPRIA

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 39-43)

a) Crimes comuns: aqueles que podem ser praticados por qualquer pessoa.

b) Crimes próprios: aqueles que só podem ser cometidos por determinadas pessoas, pois pressupõe no agente uma particular condição ou qualidade. Essa qualidade pode ser de fato, referente à natureza humana (p.ex.: mãe no infanticídio) ou de direito, referente à lei (p.ex.: funcionário público, peritos).

b) Crimes de mão-própria: exige sujeito ativo qualificado o qual deve cometer pessoalmente a conduta típica, ou seja, a execução não pode ser repassada a terceiros. Por isso não admite coautoria, somente participação (p.ex.: falso testemunho).

7.3.7. CRIMES UNISSUBJETIVOS E PLURISSUBJETIVOS

a) Crimes unissubjetivos, monossubjetivos ou de concurso eventual: podem ser cometidos por uma só pessoa ou por várias pessoas. O concurso de agentes, entretanto, não é necessário (p. ex.: furto, homicídio, estupro).

b) Crimes plurissubjetivos ou de concurso necessário: aqueles que só podem ser cometidos por mais de uma pessoa (p. ex.: crimes de quadrilha ou bando; rixa).

7.3.8. CRIMES UNISSUBSISTENTES E PLURISSUBSISTENTES

a) Crime unissubsistente: é o que se realiza com um único ato que não pode ser fracionado (p.ex. injúria verbal). Não admite tentativa.

b) Crime plurissubsistente: é o que pode se realizar por meio de vários atos (p.ex. homicídio). Admite tentativa.

7.3.9. CRIMES PROGRESSIVOS E PROGRESSÃO CRIMINOSA

a) Crime progressivo: é aquele em que o tipo penal contém, implicitamente, ações que compõem outro crime. A intenção é de praticar o crime mais grave, mas é preciso passar (progredir) pelo menos grave. Por exemplo, no homicídio está implícita a lesão corporal, de forma que o agente pode iniciar disparando um tiro que fere a vítima, mas cujo objetivo é causar sua morte.

b) Progressão criminosa: é quando o agente inicia uma ação criminosa querendo o crime menos grave, mas no decorrer do iter criminis decide-se por cometer um crime mais grave. Por exemplo, o agente dispara um tipo querendo ferir a vítima, mas na sequência decide matá-la e dispara mais dois.

7.3.10. CRIMES HABITUAIS

É a prática de um só crime por meio da reiteração da mesma conduta criminosa, que se traduz em um estilo ou hábito de vida, indesejado pela lei penal (p.ex. exercício ilegal de medicina).23

7.3.11. CRIMES DE AÇÃO ÚNICA E DE AÇÃO MÚLTIPLA

a) Crimes de ação única: o tipo penal possui apenas um verbo nuclear (p.ex. homicício, furto).

b) Crimes de ação múltipla: o tipo penal possui mais de um verbo nuclear, de forma que a realização de qualquer deles configura o crime (p.ex. receptação simples).

7.3.12. CRIMES COMPLEXOS

Há duas possibilidades de definição dos crimes complexos na doutrina: crimes que protegem mais de um bem jurídico ou crimes que são a fusão de dois ou mais tipos penais. Os resultados, entretanto, são semelhantes. Para qualquer das definições o roubo é um crime complexo, pois protege dois bens jurídicos (patrimônio e integridade física) e é a fusão de dois tipos penais (furto e ameaça). Outro exemplo é a extorsão mediante sequestro.

7.4. INFRAÇÃO PENAL, CRIME E CONTRAVENÇÃO

Infração penal é gênero, do qual crime e contravenção são espécies. A diferença entre as duas espécies está fundamentalmente na sanção aplicada, conforme disposição do art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei nº 3.914/41): “Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente.”

7.5. CRIME E ATO INFRACIONAL

Quando uma conduta prevista em um tipo penal incriminador é cometida por um adolescente (entre 12 e 18 anos), não há crime, mas ato infracional. Ato infracional é uma “conduta descrita como crime ou contravenção penal” (art. 103 do ECA) praticada por inimputável em razão da idade, assim considerados os menos de 18 anos, aos quais não são aplicadas as penas constantes no CP, mas as medidas previstas no ECA. (art. 104 do ECA). A idade considerada é a da data do fato (art. 104, § único, do ECA), de forma que se quando for condenado tiver mais do que 18 anos, ainda assim será submetido às medidas previstas no ECA.

7.5.1. MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

As medidas que podem ser aplicadas estão previstas no art. 112 e seguintes do ECA e são: “I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV -

41

liberdade assistida; V - inserção em regime de semiliberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.” As medidas previstas nos incisos I a IV do art. 101 são: “I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adolescente; V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos”.

Aos menor de 12 anos não serão aplicadas as medidas previstas no art. 112 do ECA, mas apenas aquelas previstas no art. 101.

A medida socioeducativa mais grave prevista no ECA é a de internação, que, conforme o art. 121, “constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.” Diferentemente da pena privativa de liberdade aplicada aos adultos, não tem prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses. Ademais, em nenhuma hipótese sua duração excederá três anos. Atingido este prazo, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. A liberação também é obrigatória quando o adolescente completar vinte e um anos de idade.

Art. 122 do ECA determina que “a medida de internação só poderá ser aplicada quando:

I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;

III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.”

8.1. TIPO PENAL

Por exigência do princípio da legalidade, somente a lei pode criminalizar condutas. A criminalização é feita pelo legislador por meio da descrição em lei da conduta (ação ou omissão) proibida – a esse comportamento descrito em lei se chama de tipo penal ou tipo legal de crime.

8.1.1. CARACTERES ELEMENTARES E CIRCUNSTANCIAIS DO

TIPO PENAL

8.1.1.1. ELEMENTARES DO TIPO PENAL

Elementar é todo componente essencial, imprescindível para a existência do tipo penal. Ausente a elementar, o tipo penal desaparece (atipicidade absoluta) ou o tipo penal será outro (atipicidade relativa). Estão comumente no caput do dispositivo incriminador, por isso o caput é chamado de tipo fundamental. Existem, no entanto, algumas figuras típicas descritas em parágrafos; essas figuras, chamadas de figuras equiparadas, são as únicas exceções.

As elementares subdividem-se em três espécies:

a) Elementos objetivos ou descritivos: são aqueles cujo significado depende de mera observação, tornando desnecessária qualquer interpretação. Todos os núcleos (verbos) do tipo constituem elementos objetivos (exemplos: matar, falsificar etc.). São aqueles que independem de juízo de valor, existem concretamente no mundo (exemplos: mulher, coisa móvel, filho etc.). Os elementos objetivos dão mais segurança ao cidadão, porque a margem de interpretação é reduzida.

b) Elementos subjetivos (especiais ou específicos): trata-se de descrição no tipo penal de uma finalidade especial do agente. Determinados tipos não se satisfazem com a mera realização do verbo de forma dolosa (ou, excepcionalmente, culposa), exigindo uma finalidade específica. Existirá um elemento de ordem subjetiva sempre que houver no tipo as expressões “com a finalidade de”, “para o fim de” etc. (exemplo: rapto com fim libidinoso). O elemento subjetivo será sempre a finalidade especial que a lei exige. c) Elementos normativos ou valorativos: são aqueles que dependem de interpretação para se extrair o significado, ou seja, é necessário um juízo de valor sobre o elemento (exemplo: mulher honesta). O que é mulher honesta? Observe-se que os elementos normativos trazem a possibilidade de interpretações equívocas, divergentes, oferecendo um certo grau de insegurança. Ademais, existem duas espécies de elementos normativos: (i) elemento normativo jurídico, que é aquele que depende de interpretação jurídica (exemplos: funcionário público, documento etc.); (ii) elemento normativo extrajurídico ou moral, que é aquele que depende de interpretação não jurídica (exemplo: mulher “honesta”).

8.1.1.2. CIRCUNSTÂNCIAS DO TIPO PENAL

Circunstância é o dado acessório ou contingente agregado ao tipo penal e cuja função é influenciar na fixação da pena. A circunstância não é imprescindível para a existência do crime, tendo função de torná-lo mais grave ou menos grave. Ressalte-se que o crime será mais ou menos grave em decorrência da circunstância, entretanto será sempre o mesmo crime (exemplo: furto durante o repouso noturno; trata-se de circunstância, tendo em vista que, sendo ou não durante o repouso noturno, ainda assim existirá o furto). A circunstância não integra a essência do tipo penal, ou seja, se o fato não for, o crime não deixa de existir. As circunstâncias estão dispostas em parágrafos (exemplo: agravantes, majorantes etc.), não servindo para compor a essência do crime, mas sim para influir na pena.

43

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 39-43)

Outline

Documentos relacionados