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97 14.6 PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 97-101)

A prescrição da pretensão executória ocorre depois do trânsito em julgado da decisão condenatória, regulando-se pela pena fixada na sentença, consoante previsão do art. 110, e verificando-se nos mesmos prazos fixados no art. 109 (vide tabela supra), ambos do Código Penal.

São pressupostos da prescrição executória: a inocorrência da prescrição da pretensão punitiva (abstrata, retroativa ou intercorrente), a existência de sentença condenatória irrecorrível (com trânsito em julgado para acusação e defesa) e a não satisfação da pretensão executória por parte do Estado (não corre se o Estado está executando a pena imposta).

14.6.1 TERMO INICIAL DE CONTAGEM

O termo inicial de contagem da prescrição da pretensão executória está previsto no art. 112 do Código Penal:

a) No dia em que transita em julgado a sentença condenatória para a acusação (inciso I): o dispositivo é criticado pela doutrina, uma vez que o trânsito em julgado para o órgão acusador não permite a execução da pena pelo Estado, entretanto determina o início do prazo para a prescrição executória. Com a decisão do STF de permitir a execução provisória da pena após o julgamento em segunda instância que mantém a condenação (STF, HC 126.292, j. 17.02.2016), o dispositivo ganha algum sentido.

b) Na data em que transita em julgado a decisão que revoga a suspensão condicional da

pena ou o livramento condicional (inciso I): em ambas as hipóteses não se considera a

decisão que concede o benefício, é preciso que o agente já esteja no seu gozo e que sobrevenha, então, decisão revogatória (obrigatória ou facultativa). No caso de revogação do livramento condicional, o tempo de prescrição será regulado pelo tempo restante da pena a ser cumprida se a revogação ocorreu em razão de infração anterior à concessão do benefício; será regulado pelo total da pena aplicada se a revogação ocorrer em razão de infração cometida durante o gozo do benefício. Na revogação da suspensão condicional da pena, o prazo da prescrição é regulado sempre pelo total da pena.

c) Na data em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo deva ser computado

na pena (inciso II): ocorre em situações em que o condenado deixa de cumprir a sanção

que lhe foi imposta, seja por fugir do presídio, por abandonar o regime aberto ou por não respeitar as restrições que lhe foram impostas. Excepcionalmente, porém, a interrupção é legítima e o tempo é computado como pena cumprida. Exemplo: sujeito adoece mentalmente e é transferido para hospital de custódia e tratamento, conforme previsão do art. 41 do Código Penal. Nesse caso, não se inicia a contagem do prazo prescricional, porque o tempo será computado na pena. O Estado, neste caso, está satisfazendo a pretensão executória.

14.6.2 CÁLCULO DO PRAZO

 Deve-se tomar a pena concretizada na sentença condenatória, excluindo-se apenas as majorações decorrentes do concurso formal e do crime continuado. (Importante: nas hipóteses de fuga ou de revogação de livramento condicional, tomar-se-á apenas o restante de pena a cumprir, e não a pena fixada, por previsão do art. 113 do Código Penal.)

 Verifica-se, com base na pena fixada em concreto, o prazo prescricional correspondente no art. 109 do Código Penal (veja-se tabela acima)

 Analisa-se a existência de causas modificadoras do lapso prescricional: a) art. 115 do CP: reduz-se pela metade o prazo prescricional se o réu era menor de 21 anos na data do fato ou se tem mais de 70 anos na data da sentença condenatória; b) art. 110 do CP: a reincidência, a qual eleva em um terço o prazo.

 Se entre o termo inicial e as interrupções houver transcorrido o prazo encontrado, deve-se declarar a prescrição executória.

14.6.3 CAUSA SUSPENSIVA

Prevê o art. 116, § único, do Código Penal que a prescrição da pretensão executória não corre durante o tempo em que o condenado está “preso por outro motivo”. Qualquer prisão, inclusive a de natureza civil, suspende o curso da prescrição executória. Se quando houver trânsito em julgado da decisão, o réu já estiver preso, não começa a correr a prescrição executória.

14.6.4 CAUSAS INTERRUPTIVAS

a) Início ou continuação do cumprimento da pena (art. 117, V, do CP): o início ou a continuação do cumprimento da pena interrompe a contagem do prazo. Se o réu foge após iniciar o cumprimento, inicia a contagem do prazo da prescrição executória. Se o apenado é capturado, o prazo é interrompido.

b) Reincidência (art. 117, VI, do CP): o cometimento de novo crime interrompe a prazo da prescrição executória.

14.7. PRESCRIÇÃO DA PENA DE MULTA

A regra geral, prevista no art. 118 do CP, estabelece que “as penas mais leves prescrevem com as mais graves”. Em relação à pena de multa, as prescrições ocorrem da seguinte forma:

a) Prescrição da pretensão punitiva abstrata: quando a pena de multa for a única cominada ao delito ou a única aplicada, a prescrição da pretensão punitiva abstrata ocorrerá em dois anos, consoante o art. 114, I, do Código Penal. Entretanto, quando a pena for alternativa ou cumulativamente cominada, a prescrição dar-se-á no mesmo prazo estabelecido para a pena privativa de liberdade, conforme previsão dos artigos 114, II, e 118 do mesmo estatuto legal.

b) Prescrição da pretensão punitiva retroativa: quando a pena de multa for a única aplicada, não haverá prescrição retroativa, pois o prazo e os marcos são os mesmos da abstrata, prevalecendo esta. Contudo, quando fixada conjuntamente com privativa de liberdade, o prazo da prescrição retroativa da multa será igual ao desta.

c) Prescrição da pretensão punitiva intercorrente: tal quais as outras espécies de prescrição punitiva, a prescrição intercorrente ocorre em dois anos, quando a pena de multa for a única aplicada, e seguirá a sorte da pena privativa de liberdade, quando fixada juntamente

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d) Prescrição da pretensão executória: o art. 51 do CP dispõe que “transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhe as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.” Por isso, a prescrição executória da pena de multa ocorre em cinco anos, em virtude do art. 173 do Código Tributário Nacional.

14.8. PRESCRIÇÃO DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS

Dispõe o art. 109, parágrafo único, do Código Penal que se aplicam “às penas restritivas de direito os mesmos prazos prescricionais previstos para as penas privativas de liberdade”.

15.1. CONCEITO

É ocorrência de dois ou mais crimes através da prática de uma ou mais condutas.40 O concurso de crimes ou de infrações penais é também é chamado de concurso legal puro, em oposição ao concurso aparente de normas penais, que seria o concurso legal impuro. Importante: No concurso de crimes há mais de um fato criminoso; no concurso aparente de normas há um fato criminoso e mais de uma norma que (aparentemente) se aplica a ele.

Pode haver concurso de crimes entre crimes dolosos, culposos, consumados, tentados, comissivos, omissivos, e mesmo entre um crime e uma contravenção penal. De outra parte, não é caso de concurso o crime complexo, ou seja, aquele que se forma da união de dois outros tipos penais e que, por isso, ofende, a um só tempo, mais de um bem jurídico. Nesse caso, há um só crime. Exemplo: roubo (união entre os tipos de furto e ameaça).

Também não é caso de concurso quando ocorre a consunção, ou seja, quando, no conflito aparente de normas, um tipo penal descarta o outro porque consome ou exaure seu conteúdo proibitivo. Exemplos: lesões leves resultantes da violência no crime de roubo, dano das roupas da vítima de homicídio, entre outros.

15.2. ESPÉCIES DE CONCURSO DE CRIMES

15.2.1. CONCURSO MATERIAL OU REAL (ART. 69 DO CP)

Conforme o art. 69 do CP: “Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas

privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.”

É quando o agente pratica dois ou mais crimes, mediante mais de uma conduta, produzindo dois ou mais resultados, idênticos ou não. Não importa se os fatos ocorreram na mesma ocasião ou em dias diferentes: há vínculo em razão da identidade do agente. Exemplo: pessoa que pratica um furto hoje, um roubo na semana seguinte, mais tarde outro furto e um estupro.

15.2.1.1. ESPÉCIES DE CONCURSO MATERIAL

a) Concurso material homogêneo: as infrações são substancialmente idênticas, da mesma espécie. Exemplo: dois furtos.

b) Concurso material heterogêneo: as infrações são de espécies diferentes. Exemplo: um estupro e um atentado ao pudor.

15.2.1.2. APLICAÇÃO DA PENA

As penas são individualizadas separadamente e depois somadas, para o fim de determinar o regime de execução. Se as penas aplicadas forem de diferentes hierarquias, por exemplo, de reclusão e de detenção, a mais grave (reclusão) será executada primeiro. Se forem impostas penas de multa, elas serão aplicadas distinta e integralmente, não obedecendo ao regramento do concurso de crimes (sistema da exasperação), consoante dispõe o art. 72 do CP.

Os parágrafos do art. 69 do CP estabelecem específicas para alguns casos quanto ao cumprimento da pena em caso de concurso material. O §1º determina que, sendo aplicada pena privativa de liberdade em relação a um dos crimes e não havendo suspensão condicional da pena, não será cabível a substituição da pena dos demais crimes por restritivas de direitos (art. 44 do CP). O § 2º dispõe que, quando aplicadas duas penas restritivas de direitos em substituição à pena privativa de liberdade, deverão ser elas cumpridas simultaneamente se compatíveis entre si e sucessivamente caso incompatíveis.

15.2.1.3. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE/PRESCRIÇÃO

A extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um dos crimes, separadamente (art. 119, CP). Portanto, antes da soma das penas, o juiz deve calcular a pena de cada infração por meio do método trifásico e então verificar eventual ocorrência de prescrição pela pena concretizada na sentença.

15.2.2. CONCURSO FORMAL OU IDEAL (ART. 70 DO CP)

É quando o agente pratica dois ou mais crimes, da mesma natureza ou não, mediante uma só conduta. Com uma só ação, o agente causa dois ou mais resultados, ou seja, atinge mais de um bem penalmente tutelado. Exemplos: sujeito atira num indivíduo e, concomitantemente, acerta o projétil neste e num outro – houve a prática de uma só ação, mas dois foram os crimes cometidos; motorista conduz seu veículo de modo imprudente, vindo a matar várias pessoas – desenvolvendo

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