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31 5.2.4.2 EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 31-34)

A aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável (art. 7º, § 2º, CP).

Ocorre em relação aos crimes previstos no inc. II do referido artigo: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.

Ademais, conforme o § 3º: “A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça.”

5.2.4.3. EXTRATERRITORIALIDADE E LEGISLAÇÃO ESPECIAL

a) Lei da Tortura (Lei 9455/97): “Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando- se o agente em local sob jurisdição brasileira.”

b) Lei da Lavagem de Dinheiro (Lei 9613/98): “Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei: (...) II - independem do processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ainda que praticados em outro país, cabendo ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo e julgamento.”

c) Contravenções: as regras sobre extraterritorialidade não se aplicam às contravenções, que somente são puníveis quando praticadas em território nacional, nos termos do art. 2º da LCP: “A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional”.

5.3. LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS

5.3.1. IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS

Possuem imunidade penal absoluta em relação à Justiça Penal do país onde estão lotados os diplomatas, como é o caso do Embaixador, Cônsul e Vice-Cônsul (STF, RHC 49183, Oswaldo Trigueiro, Pl., u., 20.10.71) e seus familiares, nos termos do art. 31 da Convenção de Viena (D. 56.435/65). Seus auxiliares diretos também possuem imunidade, mas relativa, pois restrita à atividade em que atuam na embaixada. Quer dizer: “Restringem-se as imunidades e isenções aos assuntos diplomáticos, ao pessoal ‘oficial’ da missão e aos membros das respectivas famílias; excluídos são assim, dos benefícios, os secretários particulares, datilógrafos, mordomos, criados ou motoristas, que constituem o pessoal ‘não oficial’. Quando extensivos lhes fossem, privilégio que é combatido por autoridades na matéria, necessário fora que pertencessem à mesma nacionalidade do chefe da missão” (STF, RHC 34029, Edgard Costa, 2ª. T., 4.4.56).

Em tais casos é possível que o país acreditante renuncie à imunidade diplomática ou, o que é mais comum, especialmente em casos mais graves, que seja ele declarado persona non grata e determinado o retorno do diplomata ao seu país. Nesse caso, há causa pessoal de exclusão de jurisdição, podendo, assim, o diplomata ser processado no país que representa.

5.3.2. IMUNIDADES DO CHEFE DE GOVERNO

Conforme o § 4º do art. 86 da CF: “O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções”. Se praticar crime, o processo somente poderá ter início após o término do mandato. Ademais, o Presidente da República, o Vice-Presidente e os Ministros de Estado possuem a prerrogativa de somente serem processados, seja por crimes comuns, seja por crimes de responsabilidade, após autorização de pelo menos dois terços da Câmara dos Deputados (CF, art. 51, I), cabendo o julgamento ao STF, em caso de crimes comuns, e ao Senado Federal, em caso de crime de responsabilidade.

Por fim, é certo que: “Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito à prisão” (CF, art. 85, § 3º).

5.3.3. IMUNIDADES PARLAMENTARES

As imunidades parlamentares (CF, art. 53), são estabelecidas em razão da função exercida e não da pessoa do parlamentar, ou seja, são prerrogativas da função, e referem-se às opiniões, palavras e votos, que guardem relação com o exercício da função, cuidando-se de imunidade material , de modo que não haverá crime por ausência de tipicidade (STF, Inq. 2674, Britto, Pl., m., 26.11.09). As imunidades têm por fim garantir a independência do parlamentar, de modo que possa desempenhar suas funções livre de pressões (STF, Pet 4444 AgR, Celso de Mello, Pl., u, 26.11.08), de modo que não representam violação do princípio da igualdade, sendo irrenunciáveis (STF, Inq. 510).

A imunidade material é absoluta em relação a atos de opinião praticados no recinto do parlamento. Já em relação a atos praticados fora do espaço do parlamento, a imunidade é aplicável quando os atos guardarem relação com o exercício do mandato parlamentar (STF, Inq 3814, Rosa Weber, 1ª. T., 7.10.14; STF, Inq 3672, Rosa Weber, 1ª. T., 14.10.14).

Com efeito, as imunidades parlamentares não são ilimitadas e não favorecem o “congressista, quando, na condição de candidato a qualquer cargo eletivo, vem a ofender, moralmente, a honra de terceira pessoa, inclusive a de outros candidatos, em pronunciamento motivado por finalidade exclusivamente eleitoral, que não guarda qualquer conexão com o exercício das funções congressuais”, uma vez que: “O postulado republicano – que repele privilégios e não tolera discriminações – impede que o parlamentar-candidato tenha, sobre seus concorrentes, qualquer vantagem de ordem jurídico-penal resultante da garantia da imunidade parlamentar, sob pena de dispensar-se, ao congressista, nos pronunciamentos estranhos à atividade legislativa, tratamento diferenciado e seletivo, capaz de gerar, no contexto do processo eleitoral, inaceitável quebra da essencial igualdade que deve existir entre todos aqueles que, parlamentares ou não, disputam mandatos eletivos”. Em tal circunstância, poderá o parlamentar sofre interpelação judicial, nos termos do art. 144 do CP

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b) o parlamentar licenciado para ocupar outro cargo na administração (CF, art. 56, I; STF, Inq. 105, HC 78093), estando cancelada a Súmula 4 do STF pela jurisprudência posterior, que mantém o foro privilegiado (STF, Inq. 1070).

Assim, se o parlamentar passar a ocupar um cargo de Ministro do Estado, remanesce apenas a prerrogativa de foro, mas ficam excluídos os demais efeitos do art. 53, pertinentes à imunidade parlamentar.

No que diz respeito aos crimes comuns, o parlamentar responde normalmente, mas além do foro especial perante o STF (CF, art. 53, § 1º) sua casa legislativa pode determinar o trancamento da ação penal em curso (CF, art. 53, § 3º). Nesse caso, o processo fica suspenso, e também a prescrição, até o dia em que o agente deixa de exercer mandato. Essa imunidade processual é, como se vê, relativa, e sua natureza jurídica é causa pessoal condicionada e temporária de exclusão de jurisdição. A suspensão em questão é limitada às: “ações contra parlamentares que tiverem como objeto de apuração crimes cometidos após a diplomação do mandato em curso, o mesmo não sendo possível em relação aos mandatos de legislaturas pretéritas” (STF, RE 457514 AgR, Lewandowski, 1ª. T., u., 27.11.07).

A prisão daqueles que exercem mandato no Poder Legislativo, após a expedição do diploma, só pode ocorrer na hipótese de flagrante de crime inafiançável, oportunidade na qual os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à casa legislativa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão (CF, art. 53, § 2º). Ressalte-se que essa imunidade abrange a prisão civil e penal.

Aos Deputados Estaduais aplica-se o mesmo regime de imunidades previsto para os membros do Congresso Nacional (CF, art. 27, § 1°). A seu turno, o inc. VIII do art. 29 da CF estabelece a: “inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município. Como se vê, a imunidade do vereador “é limitada ao exercício do mandato parlamentar sendo respeitada a pertinência com o cargo e o interesse municipal” (STF, RE 583559 AgR, Grau, 2ª. T., u., 10.6.08).

6.1. SIGNIFICADO

É quando duas leis penais vigentes parecem regular a mesma matéria, oferecendo respostas divergentes para o mesmo caso. Diz-se que o conflito é aparente em razão da completude, coerência e harmonia do sistema jurídico-penal, de forma que o conflito é não é real, uma vez que o próprio ordenamento jurídico, por meio de regras e princípios, oferece a solução para o caso.

Importante: o conflito aparente de normas ocorre entre leis penais vigentes, pois se houve

entre elas sucessão no tempo, deve-se observar as regras sobre aplicação da lei penal no tempo. Da mesma forma, deve-se atentar que em razão do princípio ne bis in idem não se pode punir por dois crimes distintos o mesmo fato, de forma que se deve resolver qual das leis incide sobre o caso.

6.2. PRINCÍPIOS PARA A SOLUÇÃO DO CONFLITO APARENTE DE

NORMAS

6.2.1 O PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE (LEX SPECIALIS DEROGAT

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