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ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 167-169)

163 Furto de Coisa Comum (art 156) – Modalidade especial do crime de furto e distingue-se

22.6. ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES

Estelionato (art. 171) – O estelionato é um delito cuja forma de execução é bastante variada

e que não ofende apenas o patrimônio individual, mas também a liberdade dos negócios e a boa-fé, ou seja, o interesse coletivo. A ação típica, aqui, é obter vantagem ilícita para si ou para outrem em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento. A conduta, portanto, é composta: trata-se de colocar ou manter a vítima em situação de engano para, com isso, conseguir um benefício ou um lucro ilícito. Com efeito, no estelionato o agente conduz a vítima à falsa percepção da realidade ou, já estando ela em erro no qual se envolveu sozinha, deixa-a nessa situação e dela se aproveita. A vítima, por sua vez, colabora com o agente sem perceber que está se despojando de seus pertences.

A característica fundamental do estelionato é o emprego da fraude, que é o meio utilizado pelo agente para obter a vantagem patrimonial ilícita. Difere, porém, do furto mediante fraude porque neste a fraude é empregada para iludir a atenção ou vigilância do ofendido que nem percebe que a coisa lhe está sendo subtraída. No estelionato, ao contrário, não há subtração: a própria vítima, em erro, entrega a coisa ao agente. Nesse tocante, o legislador fala em ardil, artifício ou qualquer outro meio fraudulento, permitindo a interpretação analógica para abarcar qualquer método capaz de ludibriar a vítima. A vantagem, a seu turno, pode ser qualquer beneficio, ganho ou lucro indevido que implique perda para outra pessoa. Além do dolo, exige-se o especial fim de agir, que é a vontade de destinar a vantagem ilícita para si ou para outrem. O crime consuma-se com o locupletamento ilícito, ou seja, no momento e no lugar em que o agente obteve a vantagem buscada, com a consequente lesão do patrimônio da vítima. Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo ou passivo, à exceção, no último caso, dos incapazes, que, por não terem capacidade de discernimento, não podem ser considerados ludibriados.

Estelionato Privilegiado (art. 171, § 1º) – Da mesma forma que no furto e na apropriação

indébita, aplica-se o privilégio previsto no art. 155, §2º ao estelionato – tanto à conduta tipificada no caput quanto àquelas enumeradas no §2º –. Para tanto, o réu deve ser primário e de pequena monta o prejuízo por ele causado.

Disposição de Coisa Alheia como Própria (art. 171, § 2º, I), Alienação ou Oneração Fraudulenta de Coisa Própria (art. 171, § 2º, II), Defraudação de Penhor (art. 171, § 2º, III), Fraude na Entrega de Coisa (art. 171, § 2º, IV) e Fraude para Recebimento de Indenização ou Valor de Seguro (art. 171, § 2º, V) – São modalidades especiais de estelionato, às quais, a par das suas

peculiaridades, se aplicam os elementos estruturais previstos para o tipo fundamental.

Fraude no Pagamento por meio de Cheque (art. 171, § 2º, VI) – São duas as ações

incriminadas: emitir cheque sem suficiente provisão de fundos ou frustrar seu pagamento, conquanto haja provisão para tanto. O sujeito ativo é o emitente do cheque; o passivo, seu beneficiário, ou seja, a pessoa física ou jurídica que tem seu patrimônio lesado pela fraude. Os vários elementos normativos do tipo (cheque, sacado, provisão de fundos) devem ser buscados no Direito Comercial. Não obstante haja controvérsia na doutrina, trata-se de crime material, o qual só se consuma quando da frustração da compensação no banco sacado. Nesse sentido é a Súmula 521 do STF que dispõe que o foro competente para processo e julgamento deste crime é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado. Saliente-se que o cheque, aqui, deve ter sido dado como ordem de pagamento à vista, não havendo crime se ele tem sua finalidade específica desvirtuada. É o caso do cheque sem data, pós-datado, dado como garantia de dívida ou como promessa de pagamento. Não havendo fraude, não há crime (Súmula 246, STF). Ademais, não basta o dolo: é preciso haver o propósito específico de obter vantagem econômica indevida com a prática delituosa. Finalmente, resta salientar que o STF firmou entendimento no sentido de que, pago o cheque antes do oferecimento da denúncia, descaracterizado estará o delito (Súmula 554).

Estelionato contra idoso (art. 171, § 4º) – a pena é aplicada em dobro caso o crime seja

cometido contra idoso. Conforme o art. 1º do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/13), idosos são pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

Duplicata Simulada (art. 172) – Trata-se de expedir ou aceitar fatura, duplicata ou nota de

serviço falsa, isto é, que não corresponda a uma efetiva compra e venda ou prestação de serviços. Por força do parágrafo único, também incorre nesse crime quem falsifica ou adultera a escrituração do livro de registro de duplicatas.

Abuso de Incapazes (art. 173) – Aqui, o sujeito passivo é a pessoa menor, alienada ou débil

mental, e o bem jurídico protegido, seu patrimônio. A conduta típica é abusar do incapaz para induzi-lo à prática de ato suscetível de produzir efeitos jurídicos em proveito próprio ou alheio e em prejuízo do sujeito passivo ou de terceiro. Sendo crime formal, porém, a consumação independe da efetiva obtenção do proveito, bastando que tenha havido o abuso.

Induzimento à Especulação (art. 174) – É crime de perigo cujo sujeito passivo é a pessoa

inexperiente, simples ou mentalmente inferior. A ação típica é abusar da situação da vítima para induzi-la a prática de jogo, aposta ou à especulação com títulos e mercadorias, sabendo o agente ser tal operação ruinosa e agindo ele em proveito próprio ou alheio.

Fraude no Comércio (art. 175) – Trata-se de enganar o consumidor ou adquirente, seja

vendendo mercadoria falsificada ou deteriorada como verdadeira ou perfeita, seja entregando uma mercadoria por outra. Se a fraude se dá no comércio específico de metais ou pedras preciosas, o desvalor da conduta é maior e a pena mais grave (§1º). Aplica-se a este crime a privilegiadora

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