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CONSUMENS DEROGAT LEGI CONSUMPTAE)

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 35-39)

Aplica-se quando o fato definido por uma norma incriminadora, sendo mais amplo e mais grave, absorve outros fatos, menos amplos e menos graves, que funcionam como fase normal de preparação ou de execução ou como mero exaurimento. Os fatos, aqui, não se apresentam em relação de gênero e espécie, de meio a fim, de fração a inteiro. Atente-se para a nomenclatura: no conflito, o crime consuntivo é que absorve o de menor gravidade; o crime consunto é o absorvido.

Pode apresentar-se nas seguintes hipóteses:

a) crime complexo (puro ou em sentido estrito): existe quando a lei considera como elemento ou circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos, constituem crimes. A definição vem disposta no art. 101 do CP. Delito complexo, portanto, é o que resulta da soma de dois ou mais crimes autônomos, que passam a funcionar como elementares ou circunstâncias no tipo complexo. No latrocínio, por exemplo, que é constituído pelo roubo + homicídio, aplicando-se o princípio da consunção os fatos integrantes do tipo complexo ficarão absorvidos pelo crime-fim, ou seja, aquele que resulta da fusão dos delitos autônomos. O agente responderá apenas pelo latrocínio, ficando o roubo e o homicídio consumidos pelo primeiro. Atenção para a subespécie: crime complexo impuro ou em sentido amplo, que é o que resulta da soma de fato típico e fato atípico (estupro, que advém da fusão entre constrangimento ilegal + relação sexual);

b) crime progressivo: existe crime progressivo quando o agente, para atingir determinado resultado, necessariamente passa por uma conduta inicial que produz um evento menos grave que aquele. Veja-se que o sujeito, desde a origem, deseja produzir o resultado mais grave, desenvolvendo fases sucessivas, as quais constituem, de per si, infrações penais. O crime é plurissubsistente, pois compreendido por diversos atos, embora uma única vontade comande a conduta do agente. O último ato, mais grave e causador do resultado inicialmente pretendido pelo sujeito, absorve todos os anteriores, que ocasionam violações menos severas ao bem jurídico tutelado. O homicídio, por exemplo, pressupõe um resultado anterior, que é a lesão corporal causadora da morte. Não há morte (plus) sem a precedente lesão corporal (minus), ficando esta absorvida pelo crime doloso contra a vida;

c) progressão criminosa (em sentido estrito): ocorre quando o dolo do agente, no mesmo contexto fático, sofre mutação. O agente que, após envolver-se em discussão de bar, começa a injuriar a vítima, resolvendo depois agredi-la e terminando por matá-la, deve responder apenas pelo homicídio. Há, como se vê, uma multiplicidade do dolo. Veja-se que o crime progressivo pressupõe um único fato; a progressão criminosa, por sua vez, pressupõe uma pluralidade de fatos cometidos de forma continuada;

d) fato anterior não punível: ocorre o antefactum impunível quando um fato anterior menos grave precede a outro mais grave, funcionando como meio necessário ou normal de realização. Observe-se que o fato anterior, integrante da fase de preparação ou de execução, somente será consumido se for de menor gravidade. O porte ilegal de arma de fogo ficará absorvido pelo homicídio, a menos que a arma não seja utilizada pelo agente ou não se trate do mesmo contexto fático. O mesmo ocorre em relação à falsificação de documento, que será absorvida pelo estelionato, desde que não haja maior potencialidade lesiva (Súmula 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”); e) fato posterior não punível: dá-se o postfactum impunível quando o agente, depois de realizar a conduta, torna a atacar o mesmo bem jurídico, desta vez visando a obter vantagem em relação à prática anterior. Assim, após o furto, o agente destrói a res furtiva; o moedeiro falso põe em circulação a moeda que acabou de fabricar. O fato posterior deverá ser considerado como mero exaurimento.

6.2.4 O PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE

Aplica-se quando a norma penal descreve várias formas de realização da figura típica, todas modalidades de um mesmo delito, em que a realização de um verbo nuclear ou de vários configura infração penal única. O princípio da alternatividade serve, na verdade, para resolver conflitos nos chamados tipos mistos alternativos, que descrevem crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado, como a participação em suicídio, o tráfico de drogas, o porte ilegal de arma de fogo, o escrito ou objeto obsceno, a supressão de documento etc. Dessa forma, se o agente oculta a arma de fogo de uso permitido em casa, e depois a transporta no seu veículo, para, finalmente, portá-la em via pública e cedê-la a terceiro, só responderá por um crime: aquele previsto no art. 14, caput, do Estatuto do Desarmamento (Lei n.º 10.826/03).

7.1. CONCEITOS DE CRIME (FORMAL, MATERIAL, ANALÍTICO)

a) Conceito formal: sob o aspecto legislativo, é a descrição de uma conduta em lei e previsão de uma sanção penal para sua realização; sob o aspecto judicial, é a realização da conduta descrita em uma lei penal. Foca no aspecto meramente formal da relação entre o comportamento e a lei.

b) Conceito material ou substancial: é a conduta que causa lesão ou perigo de lesão a valores ou interesses socialmente relevantes (bens jurídicos). Foca no aspecto material, ou seja, no fundamento de uma conduta se tornar crime.

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maiores divergências doutrinárias. Alguns dos entendimentos acerca dos elementos que compõem o crime são que se trata de: a) um fato típico e antijurídico; b) um fato típico, antijurídico, culpável e punível, c) um fato típico, antijurídico e culpável (teoria tripartida). A teoria tripartida é a corrente majoritária no Brasil.

7.2. O CRIME NA TEORIA GERAL DO DIREITO

O crime é um fato jurídico, uma vez que se trata de conduta humana cujos efeitos jurídicos (a sanção penal) não são desejados pelo agente e que contraria o ordenamento jurídico (é um ilícito). Não se trata de ato jurídico, uma vez que neste o agente quer as consequências jurídicas de seu comportamento. Também não se trata, por evidente, de negócio jurídico.22

7.3. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES

7.3.1. CRIMES MATERIAIS, FORMAIS E DE MERA CONDUTA

a) Crimes materiais: aqueles cuja descrição legal se refere a um resultado natural e exige produção de um dano efetivo para a consumação do delito, caso contrário, haverá apenas tentativa.

b) Crimes formais: aqueles cuja descrição legal se refere a um resultado natural que, contudo, não precisa se verificar para que ocorra a consumação (p. ex.: ameaça).

c) Crimes de mera conduta: aqueles cuja descrição legal não faz alusão alguma a resultado natural para a configuração do fato típico, ou seja, se consumam com o simples agir (p. ex.: porte ilegal de arma)

7.3.2. CRIMES INSTANTÂNEOS, PERMANENTES E DE EFEITOS

PERMANENTES

a) Crimes instantâneos: aqueles cuja consumação se perfaz num só momento certo e determinado (p.ex. homicídio).

b) Crimes permanentes: aqueles cuja consumação se estende no tempo (p. ex.: cárcere privado).

c) Crimes instantâneos de efeitos permanentes são crimes instantâneos que se caracterizam pela índole duradoura de suas consequências (p.ex.: confecção de uma certidão falsa, fazendo uso dela por período prolongado no tempo)

22 MIRABETE, Julio Fabbrini; MIRABETE, Renato N. Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral: arts. 1º a 120 do CP. 26 ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 86.

7.3.3. CRIMES COMISSIVOS, OMISSIVOS PRÓPRIOS E

OMISSIVOS IMPRÓPRIOS

a) Crimes comissivos: aqueles praticados mediante uma conduta positiva (uma ação). b) Crimes omissivos próprios ou puros: caracterizam-se por um não agir, quando era exigida a ação, ou seja, por um conduta negativa (uma omissão). São próprios porque a lei prevê a conduta em modalidade omissiva, além de que a consumação independe do resultado. (p.ex. omissão de socorro)

c) Crimes omissivos impróprios ou impuros: também caracterizam-se por um não agir, quando era exigida a ação, ou seja, por um conduta negativa (uma omissão). São impróprios porque a lei não prevê a conduta em modalidade omissiva, sendo imputado um crime comissivo ao agente porque ele tinha dever de agir para evitar o resultado (art. 13, § 2º, CP). Além disso, a consumação depende do resultado.

7.3.4. CRIMES SIMPLES, PRIVILEGIADOS E QUALIFICADOS

a) Crime simples: é o tipo penal em sua forma básica (p.ex. homicídio).

b) Crime qualificado: quando existem circunstâncias previstas na sequência do tipo penal (normalmente parágrafos) que aumentam as penas mínima e máxima previstas (p.ex. homicídio qualificado).

c) Crime privilegiado: quando existem circunstâncias previstas na sequência do tipo penal (normalmente parágrafos) que diminuem as penas mínima e máxima previstas (p.ex. homicídio privilegiado).

7.3.4.1. CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO E

PRETERDOLOSOS

a) Crime preterdoloso ou preterintencional: é aquele em que o tipo prevê dolo (na conduta) e culpa (no resultado).

b) Crime qualificado pelo resultado: é quando a um tipo penal é adicionada previsão de pena mais grave para quando realizado o resultado.

7.3.5. CRIMES DE DANO E DE PERIGO

a) Crimes de dano: são os que se só se consumam com a efetiva lesão do bem jurídico protegido pela norma penal.

b) Crimes de perigo: são aqueles que se consumam com a simples criação do perigo para o bem jurídico protegido pela norma penal. O perigo pode ser presumido ou abstrato – aqueles em que a lei presume o perigo – ou concreto – o perigo precisa ser provado, isto é,

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