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CAUSALIDADE, RELAÇÃO DE CAUSALIDADE OU NEXO CAUSAL

No documento 1.1 CONCEITO DE DIREITO PENAL (páginas 50-55)

49 Importante: os crimes omissivos impróprios admitem a tentativa, ao passo que os

8.3.3. CAUSALIDADE, RELAÇÃO DE CAUSALIDADE OU NEXO CAUSAL

É a relação que se estabelece entre a conduta (ação ou omissão) e o resultado, de forma que este é atribuído (imputado) ao comportamento do agente. O art. 13 do CP define causa da seguinte forma: “Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”.

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Quando se fala de causalidade, normalmente se refere à causalidade física ou natural, isto é, a um movimento corpóreo que modifica o mundo natural gerando certas consequências (exemplo: desferir um soco em alguém é uma conduta que causa – física ou naturalmente – um resultado de lesão corporal).

Entretanto, pode-se falar de causalidade psicológica (prevista no art. 18 do CP), quando há uma vinculação psicológica do agente com o resultado que produz: ele o quer ou assume o risco de produzí-lo (crime doloso) ou lhe dá causa por imprudência, negligência ou imperícia (crime culposo).

Pode-se ainda falar de causalidade jurídica ou normativa, quando se atribui ao agente uma lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico, independentemente da causalidade natural. É o que ocorre, por exemplo, nos crimes omissivos impróprios, nos quais o agente tem dever de impedir a ofensa ao bem jurídico da vítima e, caso não haja para tanto, é responsabilizado como causador da ofensa.

Importante notar que quando se fala apenas em causalidade, relação de causalidade ou

nexo causal, normalmente se está referindo à causalidade física ou natural. As outras formas são expressamente referidas.

Não há que falar em causalidade (natural) quando não se tratar de crime material. Com efeito, se o crime é formal ou de consumação antecipada, a investigação da causalidade física é desnecessária porque em tais casos o resultado é apenas jurídico ou normativo. Assim também na chamada tentativa branca de homicídio, quando a vítima não chega sequer a ser lesionada, havendo mera exposição a perigo do bem jurídico protegido.

Teoria da equivalência das condições ou equivalência dos antecedentes (conditio sine qua non). Causa superveniente. Teoria da imputação objetiva. Omissão como causa do resultado

8.3.3.1. TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DAS CONDIÇÕES OU

EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES (CONDITIO SINE QUA NON)

O art. 13 do Código Penal, quando refere que causa é a ação ou omissão “sem a qual o resultado não teria ocorrido”, adota expressamente a teoria da equivalência das condições. Para essa teoria, tudo que tenha de qualquer modo contribuído para o resultado é considerado sua causa. A lei atribui relevância causal a todos os antecedentes do resultado, de forma que nenhum elemento de que depende a sua produção pode ser excluído da linha de desdobramento causal. Tudo que, retirado da cadeia de causa e efeito, provocar a exclusão do resultado, considera-se sua causa.

Eliminação hipotética: para se estabelecer se uma conduta é ou não causa do resultado,

basta aplicar o critério da eliminação hipotética, segundo a qual se a eliminação da conduta fizer com que desapareça o resultado, é porque o causou. Se o resultado permanecer apesar da exclusão hipotética da conduta, então ela não é causa.

8.3.3.2. CAUSAS DEPENDENTES E CAUSAS INDEPENDENTES

a) Causas dependentes: são aquelas que se encontram dentro da linha normal de desdobramento causal da conduta. São causas que produzem o resultado de forma logicamente previsível e esperada. Não rompem o nexo causal (exemplo: disparo de arma de fogo, ferimento, rompimento de artérias, hemorragia interna e morte).

b) Causas independentes: são aquelas que se encontram fora da linha normal de desdobramento causal da conduta. Seu surgimento não é uma decorrência esperada, lógica, natural do fato anterior, mas, ao contrário, um fenômeno totalmente inusitado, imprevisível, produzindo o resultado de forma inesperada. A causa independente se destaca da conduta, ou seja, não se sabia que, ao praticar a conduta, haveria aquela causa. Exemplo: não é uma consequência normal de um simples susto a morte por parada cardíaca.

As causas independentes podem ser absolutamente ou relativamente independentes. b.1.) Causas absolutamente independentes: tem uma origem completamente diversa da conduta, ou seja, ocorreria ainda que a conduta nunca tivesse sido praticada (exemplo: o agente planeja a morte da vítima; quando ela está passando, antes de o agente atirar, a vítima sofre um ataque cardíaco e vem a falecer; independentemente da conduta, o resultado aconteceria). Portanto, produz sozinha o resultado. Subdivide-se em:

i) Preexistentes: ocorre antes da conduta de referência. Exemplo: o genro, com intenção de envenenar a sogra, ministra arsênico no jantar da vítima (conduta de referência). Ao terminar o jantar, a vítima morre. Constata-se, então, que a causa da morte da vítima foi o envenenamento produzido pela nora no café da manhã (conduta anterior). Observe-se que a morte não foi causada pela conduta do genro, pois o arsênico leva 16 horas para fazer efeito. Não há, portanto, nexo causal. Nesse caso, o genro responderá por tentativa de homicídio.

ii) Concomitantes: atuam simultaneamente à conduta de referência. Exemplo: alguém está espancando outra pessoa para matá-la (conduta de referência), quando um terceiro aparece e desfere um tipo na vítima (conduta concomitante). Não há nexo causal entre o espancamento e a morte, mas o agente poderá responder por tentativa de homicídio.

iii) Supervenientes: atuam posteriormente à conduta de referência. Exemplo: após ser envenenada (conduta de referência), mas ainda viva, desprende-se o lustre sobre a cabeça da vítima (causa superveniente), matando-a. Não há nexo causal, mas o agente poderá responder por tentativa de homicídio.

Importante: nos exemplos citados, as causas rompem totalmente o nexo causal com o

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b.2.) Causa relativamente independente: produz por si só o resultado, mas não existiria sem a conduta do agente, ou seja, a causa apareceu por conta da conduta e, inesperadamente, produziu o resultado. Podem ser:

a) Preexistentes: atuam antes da conduta de referência. Exemplo: o agente corta o braço da vítima (conduta de referência), que é hemofílica (causa anterior), e esta morre em decorrência da hemorragia. A hemofilia é causa preexistente ao resultado. Há nexo causal, mas o autor deverá responder por lesão corporal, diante da ausência de dolo de matar (se o agente não sabia que a vítima era hemofílica).

b) Concomitantes: atuam simultaneamente à conduta de referência. Exemplo: o ladrão anuncia o assalto apontando um estilete para a vítima (conduta de referência), que desmaia e morre de infarto (causa concomitante). Há nexo causal, mas não houve dolo nem culpa em matar. Nesse caso o agente responderia por tentativa de roubo.

c) Supervenientes: atuam posteriormente à conduta de referência. Exemplo: uma pessoa é baleada no peito (conduta de referência) e está sendo levada ao hospital quando a ambulância que a transporta capota, fazendo com que a vítima morra em decorrência de ter sua cabeça esmagada (causa superveniente). O art. 13, § 1º, do CP oferece a solução de forma expressa: “A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.”

Importante: as causas relativamente independentes não têm o condão de romper o nexo

causal. No caso das causas preexistentes e concomitantes, como existe nexo causal, o agente

responderá pelo resultado, a menos que tenha concorrido para o mesmo sem dolo ou culpa. Afinal,

dizer que existe nexo causal não dispensa a presença do elemento subjetivo psicológico (dolo) ou normativo (culpa) da conduta, sem os quais o fato será atípico. No entanto, na hipótese de causas supervenientes, embora exista nexo causal físico-naturalístico, o Código Penal, por expressa disposição do artigo 13, § 1.°, excepcionando a regra geral, manda desconsiderá-lo, não respondendo o agente pelo resultado, mas somente por tentativa.

8.3.3.3. TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA

A teoria da imputação objetiva foi criada por Claus Roxin e busca estabelecer critérios objetivos para a atribuição (imputação) de um resultado à conduta de alguém. Esses critérios, entretanto, não são físicos ou naturais, mas jurídicos ou normativos. De acordo com esta teoria, sendo o direito uma criação humana, o fundamental para a atribuição de um resultado a uma conduta não é tanto a causalidade natural ou física, mas as finalidades da norma penal. É

importante frisar, entretanto, que a teoria da imputação objetiva não exclui a necessidade de

averiguação da causalidade natural, mas soma-se a ela, adicionando novos critérios. São critérios para a imputação objetiva do resultado à conduta:

a) Criação de um risco não permitido ou proibido: para que haja imputação do resultado à conduta, ela deve criar um risco não permitido ao bem jurídico. Riscos são inerentes a todas as atividades humanas. Dirigir em rodovias, por exemplo, é um constante risco à vida; entretanto, trata-se de um risco permitido ou irrelevante (risco geral da vida). Mas alguns riscos são proibidos pelo direito, como o de dirigir após consumo de bebida

alcoólica, de forma que o agente que causa a morte de alguém dirigindo após consumo de álcool viola uma norma e, portanto, cria um risco não permitido, de forma que o resultado morte pode lhe ser imputado objetivamente (se por culpa ou dolo não é uma discussão de imputação objetiva, mas de imputação subjetiva). Desta forma, não podem ser imputados resultados a não ser que a conduta do agente crie um risco não permitido, independentemente de ele agir com dolo. Exemplo clássico é o do sobrinho que, querendo a morte do tio, lhe dá uma passagem de avião, esperando que o avião caia. Andar de avião, em situações normais, é um risco geral da vida, de forma que o sobrinho não criou um risco proibido e, por isso, não pode ser responsabilizado por uma eventual morte do tio. Atua conforme a o risco permitido: o profissional que segue as normas que regulamentam a profissão (lex artis).

b) Princípio da confiança: baseia-se na expectativa de que as outras pessoas ajam de forma lícita, de forma que a realização de uma conduta na confiança de que o comportamento do outro agente ocorrerá de acordo com o direito não pode ser considerado criação de um risco proibido e, portanto, não pode ser imputado objetivamente ao agente. O motorista que, conduzindo seu veículo pela preferencial, passa por um cruzamento, confia que o outro automóvel, que se encontra na via secundária, aguardará sua passagem. Havendo acidente, ao primeiro não poderá sem imputado o resultado, uma vez que sua conduta estava abarcada pelo princípio da confiança.

c) Realização do risco no resultado: se, embora criado um risco não permitido, ele não se realiza no resultado, este não pode ser imputado objetivamente ao agente. Por exemplo, um motorista dirige embriagado e atropela um pedestre, causando-lhe lesões corporais. O hospital em que o pedestre é tratado pega fogo e ele morre. O motorista não responderá por homicídio, uma vez que o resultado morte não é resultado do risco não permitido criado por ele (dirigir embriagado), mas de um risco imprevisível. Importante, em alguns casos, esse critério pode ser usado para resolver os problemas que também são resolvidos pela análise das causas independentes e dependentes.

d) Resultado está abarcado pela norma: se criado um risco não permitido que se realiza no resultado, ainda será possível excluir a imputação objetiva da conduta ao agente no caso de o resultado não estar abarcado pelo tipo penal. Por exemplo, um motorista anda em velocidade acima da permitida, quando um pedestre atravessa a faixa, freia bruscamente, parando a centímetros. O susto faz com que o pedestre tenha um infarto e morra. O motorista não responderá por homicídio, uma vez que a lei que regula o limite de velocidade está prevendo o resultado morte por atropelamento, mas não por susto. e) Autocolocação em perigo, heterocoloação consentida em perigo ou capacidade/competência da vítima: se a vítima quer o risco, o resultado não pode ser

imputado a outrem. Por exemplo, se alguém coloca-se consciente e voluntariamente (sem coação) em situação de risco, o resultado não pode ser imputado a outra pessoa. Se alguém consente (consciente e voluntariamente) com a criação de um risco para si por outra pessoa, o resultado não pode ser imputado a esta.

f) Âmbito de responsabilidade de terceiros: se, após a criação de um risco não permitido por alguém, terceiro intervém na situação e ocasiona um resultado mais grave do que aquele que decorreria do risco inicial, o resultado mais grave é imputado ao terceiro; o primeiro agente responde apenas pelos resultados que derivam do risco por ele criado. g) Proibição de regresso: a um comportamento lícito, que de alguma forma com comportamento ilícitos de terceiros, não pode ser imputado o resultado, embora tenha colaborado para causá-lo.

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