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Uma das formas mais eficazes de atenuar a intensidade de uma emoção é agir contra- riamente às tendências que a acompanham (Izard, 1971). Esse princípio fundamenta o tratamento de fobias com base na exposi- ção, em que os pacientes se aproximam em vez de evitar o objeto temido e, como re-

sultado, o medo se atenua. A facilitação das tendências de ação não associadas à emoção que se encontra perturbada é um compo- nente-chave do tratamento unificado da síndrome de afetos negativos de Barlow. O princípio da ação oposta também foi utiliza- do por Beck e colaboradores no tratamento da depressão por meio da ativação compor- tamental. Em vez de ceder ao impulso de se afastar, que acompanha a tristeza e a falta de esperança, os pacientes com depressão são encorajados a se tornar ativos. O princípio da ação oposta foi expandido por Linehan na TCD para tratar uma ampla variedade de emoções, incluindo vergonha e raiva. Na TCD, ensina-se aos pacientes a técnica da ação oposta como estratégia de regulação emocional. Agindo contrariamente ao im- pulso de ação associado a qualquer emoção, os pacientes podem atenuar sua intensida- de, uma vez que ela não se justifica (i.e., não há boa razão para se ter medo). Com profi- ciência no uso da ação oposta, os pacientes coletam evidências para confrontar as cren- ças de que as emoções são incontroláveis ou intermináveis.

Questão a ser

proposta/intervenção

“Toda emoção é acompanhada pelo impul- so de agir ou de fazer algo. Quando ficamos com raiva, temos vontade de atacar. Quan- do agimos de acordo com esse impulso, mantemos ou fortalecemos a emoção. To- davia, quando agimos de forma oposta ao impulso, reduzimos a intensidade dela. Esta é a técnica da ação oposta. Ela funciona de modo mais efetivo quando a emoção não se justifica, ou seja, não condiz com os fa- tos em certa situação. Em outras palavras, se um animal é verdadeiramente perigoso, seu medo não vai diminuir quando você se aproximar dele. Uma exceção a esta regra

é a raiva. Mesmo estando justificadamente com raiva de alguém, você pode diminuí-la usando a ação oposta.”

Exemplo

Terapeuta: Então você diz que se sentiu

culpado hoje, depois de fazer uma pergunta na aula. Por que acha que se sentiu culpado?

Paciente: Não sei. Não gosto de gastar o

tempo da aula com perguntas idiotas. Senti como se estivesse me impondo. Só o fiz porque minha tarefa era prati- car assertividade.

Terapeuta: Mas você não é membro da

classe também? Você não tem o direi- to de fazer perguntas, como qualquer outro estudante?

Paciente: Sei que não faz sentido. Mas me

sinto culpado por muitas coisas sem nenhuma razão específica.

Terapeuta: Você se lembra de como dis-

cutimos que cada emoção tem um impulso de ação? O que você tem o impulso de fazer, quando se sente cul- pado?

Paciente: Sair furtivamente. Esconder-me. Terapeuta: O que acha que acontece com

sua culpa quando cede ao impulso de sair furtivamente ou se esconder?

Paciente: Ela aumenta?

Terapeuta: Certo. E ao agir contrariamen-

te a esses impulsos, você pode enfra- quecer sua culpa. Em outras palavras, quanto mais fizer perguntas, menos culpado você se sentirá por se intro- meter na aula. Está disposto a tentar?

Tarefa

Pode-se pedir aos pacientes que pratiquem a ação oposta durante a semana em relação

à emoção discutida e tomem nota das mu- danças na sua intensidade, usando o For- mulário 4.10 (Ação Oposta).

Possíveis problemas

A resistência a esta intervenção pode de- rivar da interpretação incorreta da ação oposta como instrução para ser hipócrita ou falso. É importante enfatizar que a ação oposta é uma técnica comportamental que os pacientes podem usar de acordo com seu discernimento para diminuir a intensidade de várias emoções. Mascarar uma emoção e agir de forma oposta às suas tendências são coisas diferentes. Por exemplo, a tarefa de ação oposta contra o medo não é fingir que não se está com medo. Em vez disso, o paciente tem consciência do medo e do impulso para correr, mas toma a decisão deliberada de se aproximar.

Referência cruzada

com outras técnicas

As técnicas correlatas incluem explicação do modelo das emoções, prática de atenção plena e meditação.

Formulário

Formulário 4.10: Ação Oposta.

CONCLUSÕES

Mais comportamental que cognitiva em sua abordagem, a TCD também lida com as contribuições cognitivas em relação à des- regulação emocional. Em particular, cren- ças equivocadas sobre as emoções ou mitos emocionais são vistos como contribuintes

para o uso de estratégias mal-adaptativas de regulação emocional. Identificar e mudar crenças equivocadas sobre as emoções não é um foco primordial da TCD, mas da TEE, que tem base no modelo metacognitivo da emoção. Tanto a teoria quanto as pesqui- sas sugerem que as crenças sobre emoções podem ter impacto negativo na regulação emocional. De acordo com isso, para tra- tar as dificuldades de regulação emocional de forma efetiva, recomenda-se que o te- rapeuta ajude os pacientes a identificarem crenças equivocadas sobre as emoções e a focarem nelas para modificá-las. Para tanto, a TCD é uma rica fonte de técnicas. Assim como em outros tratamentos basea- dos na atenção plena (que discu timos em mais detalhades no Capítulo 5), na TCD,

desenvolver uma consciência de não jul- gamento das emoções é uma habi lidade fundamental de regulação emocional. A postura de não julgamento da atenção plena contrapõe-se à tendência de ava- liar negativamente as emoções. A atenção plena também é uma forma de exposição e pode criar o contexto para o desenvol- vimento de associações menos negativas com a experiência das emoções. Contudo, a TCD distingue-se de outros tratamentos baseados na atenção plena e outras formas de terapia cognitivo-comportamental, ao prover uma teoria e um modelo das emo- ções para os pacientes. Esse forte compo- nente psicoeducativo é considerado in- dispensável para desafiar efetivamente os mitos emocionais.

A técnica de meditação mais conhecida e utilizada na terapia cognitivo-comporta- mental (TCC) é amplamente denominada “treinamento de atenção plena”. Em vir- tude de sua efetividade demonstrada de forma empírica em auxiliar os pacientes a lidarem com emoções difíceis (Baer, 2003; Hofmann, Sawyer, Witt e Oh, 2010), o trei- namento de atenção plena é de particular interesse para os terapeutas que buscam expandir o escopo da TCC no intuito de melhorar a regulação emocional. A atenção plena está relacionada à terapia do esquema emocional (TEE) como capacidade de aten- ção fundamental no estabelecimento e na manutenção de uma orientação adaptativa e flexível em relação à experiência emocio- nal. A atenção plena aumenta a aceitação, com uma noção de não julgamento e me- nos culpa diante das emoções, assim como o reconhecimento de que elas não precisam ser controladas ou suprimidas, e sim tole- radas e experimentadas. O treinamento de atenção plena visa fomentar um estado de abertura para experimentar as emoções de forma completa, ficar em contato com o presente e sem apresentar reatividade com- portamental intensa. Cada vez mais, abor- dagens cognitivas e comportamentais co- nhecidas, tais como a terapia de aceitação e compromisso (ACT) (Hayes et al., 1999), a terapia cognitiva baseada na atenção plena

(MBCT; Segal, Williams e Teasdale, 2002), a terapia focada na compaixão (Gilbert, 2009) e a terapia comportamental dialética (TCD) (Linehan, 1993a; veja o Capítulo 4), têm uti- lizado o treinamento da atenção plena como componente central em seu trabalho de to- lerância aos afetos e à regulação emocional.

Onde começou a noção cada vez mais popular de atenção plena? Apesar de práti- cas meditativas similares existirem pelo me- nos desde 1.000 a.C., o que denomi namos treinamento de atenção plena começou há 2.500 anos, com os métodos do histórico professor que veio a ser conhecido como “o Buda”. É interessante notar que o termo “Buda” significa simplesmente “aquele que despertou”. De acordo com ele, treinar-se no Sati era muito importante. Sati era o termo Pali (sânscrito arcaico) original, hoje traduzido em inglês como mindfulness. Sati é um estado mental particular e intencio- nal que mescla atenção focada no presente, consciência aberta e a memória de si mes- mo (Kabat-Zinn, 2009; R. Siegel, Germer e Olendzki, 2009). O Samma-sati (traduzido para o inglês como correct mindfulness e para o português como atenção plena corre-

ta) é uma das oito ferramentas básicas que

formam o cerne do treinamento mental budista, conhecido como o “Caminho dos Oito Passos” (Rahula, 1958). Claramente, o treinamento da atenção plena era um ele-

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