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A crença do paciente em um pensamento pode ser modificada pelo exame das evi- dências que o apoiam ou refutam. A natu- reza do pensamento automático é que, por ser automático, frequentemente, ele passa despercebido pelo paciente. Sua credibili- dade, muitas vezes, baseia-se em sua carga emocional, e o paciente que está deprimido ou ansioso tem habitualmente uma seleção enviesada das informações e desconsidera as informações contrárias. Ademais, a qua- lidade das evidências deve ser considera- da. Por exemplo, é possível que o paciente ansioso esteja utilizando as emoções como evidência, ou focalizando um pequeno de- talhe ou evento, e ignorando outras infor- mações que pesariam contra sua crença. Além disso, a conexão lógica entre a “evi- dência” e o pensamento também pode ser examinada.

Questão a ser

proposta/intervenção

“Muitos pensamentos nos deixam ansiosos e deprimidos. Algumas vezes, eles são váli- dos, mas, outras, podemos estar enxergan- do os eventos de modo a não usar todas as informações disponíveis. Vamos analisar este pensamento que está lhe incomodando e avaliar se as evidências ou fatos apoiam o grau em que acredita no seu pensamento. Trace uma linha vertical ao longo do centro da página; do lado esquerdo, vamos listar todas as evidências a favor do pensamento; do lado direito, todas as evidências contrá- rias. Ao listá-las, você não precisa acreditar 100% na evidência. Eu simplesmente gos- taria de examinar todas as formas possíveis de avaliar o pensamento, para que possa- mos ver se é possível ter uma perspectiva diferente.”

Exemplo

Terapeuta: Vejo que está pensando que

nunca mais será feliz novamente. Esse é um pensamento realmente podero- so que deve estar lhe transtornando bastante. Quanto você acredita neste pensamento, usando uma escala de 0 a 100%?

Paciente: Acho que teria de dizer 95%. Terapeuta: Então, este é um pensamento

que lhe parece quase absolutamente verdadeiro neste momento. E quando acredita 95% neste pensamento, quão triste e desesperançado você se sente, usando uma escala de 0 a 100%?

Paciente: Mais ou menos o mesmo. Cerca

de 95% para ambos. Às vezes, sinto- -me 100% sem esperanças.

Terapeuta: Ok. Então, esse é um pensa-

mento que o deixa triste e desesperan- çado; imagino que, se mudássemos

o grau de crédito nesse pensamento, seus sentimentos também poderiam mudar. Isso faz sentido?

Paciente: Sim. Mas eu realmente acredito

que isso é verdade. Tenho estado de- primido nos últimos 2 meses.

Terapeuta: É difícil estar deprimido des-

se jeito. Às vezes, contudo, nossos pensamentos podem ser em parte verdadeiros, mas não tão absoluta- mente quanto sentimos. Vamos dar uma olhada nas evidências que você está usando – os fatos – que o fazem pensar e sentir desta forma, e vejamos se há alguma evidência contra esse pensamento. Eu gostaria que você de- senhasse uma linha vertical ao longo do centro da página, e que, do lado esquerdo, listasse as evidências a favor desse pensamento e, do lado direito, as evidências contra o pensamento. Vamos começar com as evidências que você tem de que nunca será feliz.

Paciente: Bem, estou me sentindo deprimi-

do agora e tenho estado assim por 2 meses. Já tive problemas com depres- são antes. Não tenho nenhum relacio- namento agora.

Terapeuta: Ok. Vejo o quanto isso faz você

ficar triste. Agora, vejamos se há algu- ma razão para que acredite que possa voltar a ser feliz.

Paciente: É difícil imaginar agora. Mas acho

que fui feliz no passado. Há algumas coisas no trabalho que gosto de fazer.

Terapeuta: Vamos dar uma olhada em al-

gumas coisas que fez no último mês e que lhe deram algum prazer ou senso de realização.

Paciente: Isso sempre parece enfadonho.

Mas eu de fato sinto algum prazer correndo, apesar de não estar fazendo muito exercício nas últimas semanas. Apreciei o jantar com meu amigo Bill. Ele é um bom amigo, realmente cui-

dadoso. Gostei do programa especial na televisão sobre os parques nacio- nais.

Terapeuta: Ok. Vamos anotar isso como

evidências de que pode sentir alguma felicidade em parte do tempo. Se não estivesse deprimido, que coisas o dei- xariam feliz?

Paciente: Aprender coisas novas me faz fe-

liz. É bom crescer. E eu gostei de viajar – fiz uma ótima viagem ao Brasil no ano passado. Assistir ao futebol, espe- cialmente com meus amigos.

Terapeuta: Ok. Podemos acrescentar essas

coisas à lista. Quando olha para as evi- dências de que será infeliz para sem- pre, elas parecem estar baseadas no modo como você tem se sentido nos últimos 2 meses, que foram muito du- ros para você. O que você conclui em relação ao fato de ter se sentido feliz anteriormente?

Paciente: Eu já me senti melhor. Mas estou

muito mal agora.

Terapeuta: Às vezes, julgamos o futuro a

partir da forma como nos sentimos no momento. Mas também faz sen- tido tomar distância da forma como se sente e ver a capacidade de se sen- tir bem antes da crise recente em sua vida. E, pensando nisso, também há ocasiões agora em que você se sente bem. O que isso significa para você?

Paciente: Acho que estou me concentrando

muito na situação atual.

Terapeuta: Bem, fazemos isso quando es-

tamos incomodados, não é? Mas também acho que você pode se pro- por fazer algumas dessas atividades prazerosas, para ver se isso afeta o seu humor. Você pode programar fa- zer exercícios, ver amigos, assistir ao jogo, aprender coisas novas e mesmo planejar viajar, para ver se essas coisas ajudam um pouco.

Paciente: Isso pode ajudar. É que eu sim-

plesmente me sinto tão para baixo agora...

Terapeuta: Sim. É difícil. Mas a sensação

de falta de esperança parece se basear apenas nisso – no fato de você estar para baixo neste momento. Se obser- vasse as evidências de que você já foi feliz anteriormente, de que há coisas que você faz – e poderia fazer ainda mais – que o deixam melhor e de que você já superou a depressão outras ve- zes, o que acha da ideia de que nunca será feliz novamente?

Paciente: Acho que não acredito tanto. Tal-

vez haja esperança.

Terapeuta: Então, se você tivesse de quanti-

ficar o grau em que acredita que nun- ca mais será feliz, usando a escala de 0 a 100%, quanto você daria?

Paciente: Talvez 50%. Mas ainda acredito

nisso, em alguma medida.

Terapeuta: Eu esperaria que uma crença

forte permanecesse por algum tempo. Mas, em 10 minutos, ela mudou de 95 para 50%. Isso faz você se sentir dife- rente?

Paciente: Acho que me sinto mais esperan-

çoso. Talvez eu possa mudar.

Tarefa

O terapeuta pode prescrever o Formulário 9.5 (Exame das Evidências de um Pensa- mento), acompanhado das seguintes ins- truções:

Todo dia você pode ter pensamen- tos negativos sobre si mesmo, sobre sua experiência ou sobre o futuro; pode ficar preocupado sobre coisas ruins que acontecerão ou rotular-se de maneiras que sejam angustiantes para você. Use o formulário “Exame das Evidências de um Pensamento”

todos os dias, para listar as evidên- cias a favor e contra os pensamentos. Pergunte-se se as evidências a favor do pensamento negativo baseiam- -se em suas emoções ou nos fatos. Veja se tem tendência a negligenciar, descontar ou minimizar as evidên- cias contrárias a seus pensamentos negativos. Então, pese as evidências e anote a conclusão sobre o pensa- mento negativo.

Possíveis problemas

Alguns pacientes usam as emoções como evidência da validade dos seus pensamen- tos: “Eu devo ser um fracasso porque me sinto muito deprimido”. Este raciocínio emocional pode ser identificado a partir dos tipos de evidências que o paciente usa, e então ser examinado em termos da quali- dade da evidência: “Se eu me sentisse exul- tante e pensasse que sou Deus, isso me tor- naria Deus?”. Outro problema é que alguns pacientes acreditam que o simples fato de acreditarem muito no pensamento lhe con- fere validade: “Deve ter algo de verdade, já que acredito tanto nisso”. Neste caso, o te- rapeuta pode perguntar se há crenças fortes anteriormente sustentadas sobre religião, política, conduta convencional ou Papai Noel nas quais ele não mais acredita.

Referência cruzada

com outras técnicas

Outras técnicas úteis incluem a seta des- cendente, o peso dos custos e benefícios e o desafio à estrutura lógica dos pensamentos.

Formulário

Formulário 9.5: Exame das Evidências de um Pensamento.

TÉCNICA: ADVOGADO DE DEFESA

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