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Descrição

A TFC tem como propósito treinar os pa- cientes no desenvolvimento de múltiplos aspectos da compaixão, inclusive atenção, pensamento e comportamento compassi- vos (Gilbert, 2009). As técnicas baseadas em imagens mentais se sobressaem entre aquelas que são aplicadas nesta abordagem. Apesar de tais métodos de visualização não serem uma extensão formal do treinamento budista, podemos ver as raízes da imagina- ção compassiva em várias tradições budis- tas. As escolas budistas vajrayana tibetana e japonesa adotam uma variedade de técnicas que usam a imaginação para identificar-se com diversas imagens simbólicas de perso- nagens mitológicos. Cada um desses perso- nagens representa um aspecto envolvendo perspectiva saudável, sabedoria, compaixão ou ação efetiva. O propósito dessas técni- cas é conectar-se por meio das experiências com qualidades que conduzem à libertação do sofrimento. Por exemplo, um praticante de meditação pode formar uma imagem de um bodisatva* da compaixão em sua mente

e imaginar sua respiração se movendo com o ritmo da respiração daquela pessoa. Os detalhes e cores da roupa e da fisionomia do personagem mitológico podem ser vi- vamente imaginados. Em tais visualizações durante o período de meditação, o prati- cante pode até adotar a postura e os gestos manuais da figura imaginária e tentar aces- sar uma experiência emocional profunda de compaixão.

Os exercícios encontrados na TFC não invocam necessariamente a iconografia religiosa ou espiritual. Na verdade, parte da inspiração dos exercícios do eu compassivo provém de uma adaptação de exercícios de atuação para intervenções em saúde men- tal, de forma que os clínicos possam con- tatar e se relacionar melhor com os estados afetivos de seus pacientes (Gilbert, 2009). O exercício do eu compassivo se destina a ca- pacitar os pacientes a se engajarem em uma forma multissistemática de dramatização, na qual podem guiar-se rumo ao conheci- mento experiencial da autocompaixão.

A autocompaixão e a autovalidação emocional se destinam a facilitar a mudan- ça de um sistema de processamento emo- cional focado em ameaças para a ativação de uma noção percebida de segurança que emerge no sistema de regulação emocional, tranquilizador e focado na afiliação. Isso é alcançado por meio da imaginação. Da mesma forma que imaginar cenas de sexo pode ativar a resposta sexual, mentalizar imagens compassivas pode ativar a resposta compassiva. A resposta compassiva inclui processos de tranquilização que envolvem afiliação (Gilbert, 2009). Assim, a prática de imaginar o eu compassivo é um método direto de busca de regulação emocional. O exemplo a seguir foi baseado na TFC (Gil- bert, 2009) para uso na regulação emocio- nal e foi modificado de acordo com os pro- pósitos da TEE.

Questão a ser

proposta/intervenção

“Como seria seu eu compassivo ideal? Que qualidades você associaria a uma pessoa compassiva? Como seria sua postura, caso você fosse tão sábio, emocionalmente forte e gentil quanto possível? Qual seria a sensa- ção de praticar o perdão e descontrair-se?

* N. de R.: Seres de sabedoria elevada que são prepa-

rados para ser um buda por meio de um processo de aprofundamento do sentimento de compaixão.

Qual seria sua expressão facial, se pudesse permanecer amoroso e tranquilo, mesmo diante de desafios estressantes?”

Exemplo

Ao começar, permita que parte de sua cons- ciência se estabeleça no fluxo da respiração entrando e saindo do corpo. Feche os olhos. Sinta-se livre para fazer os ajustes necessários para sentir-se confortável sentado onde está. Durante este exercício, você pode achar útil fazer esses pequenos ajustes de vez em quan- do. Isto é perfeitamente natural e aceitável durante o exercício. Mais uma vez, traga sua atenção para o fluxo respiratório. Não é necessário ajustar o ritmo da respiração ou criar qualquer padrão ou estado específico. Simplesmente permita que a respiração aja sozinha. Ao inspirar, saiba que está inspi- rando. Ao expirar, saiba que está expirando. Trazendo a atenção para as plantas dos pés, sinta sua conexão com o chão. Sinta-se sen- tado sobre a cadeira, com as costas eretas e apoiadas. Dando-se mais alguns momentos, permita-se inspirar a atenção em seu corpo como um todo. Em seguida, traga a atenção para os sons que estão na sala. [Pausa por al- guns segundos.] Agora, traga a atenção para os sons que estão logo além da sala. [Pausa por mais alguns segundos.] Após alguns mo- mentos, preste atenção nos sons que estão ain- da mais distantes. Em seguida, preste atenção nos olhos – olhos através dos quais tem olha- do para fora há tanto tempo quanto conse- gue se lembrar. Dando-se alguns momentos, permita-se perceber quantas histórias dife- rentes você contou para si mesmo sobre a pes- soa que olha através desses olhos. Há tantos aspectos diferentes de quem somos, cada um competindo por atenção e controle do com- portamento, momento a momento. Da pró- xima vez que inspirar naturalmente, inspire a atenção em todo o seu corpo. Ao deixar-se

abandonar com a próxima expiração, traga novamente a atenção, com os olhos fechados, para sua imaginação. Neste momento, permi- ta que os aspectos mais compassivos, calorosos e afetuo sos de seu eu estejam presentes. Usando a imaginação nos próximos instantes, comece a elaborar uma imagem de seu eu compassi- vo. Permita que sua expressão facial comece a refletir a gentileza e a sabedoria intuitiva que todos possuímos. Você pode fazê-lo deixando que seus lábios se curvem suavemente em um semissorriso. Ao fazê-lo, neste momento, você está adotando uma expressão de compaixão. Permita que sua mente componha regular e gradualmente uma imagem do seu eu com- passivo. Vamos dar a essa imagem caracte- rísticas particulares. Essa imagem possuirá sabedoria. Essa imagem possuirá força. Essa imagem será piedosa. Essa imagem irradia- rá cordialidade. Durante este exercício, neste exato momento, você tem a liberdade de per- mitir que sua imaginação reine livremente. Esta imagem do eu compassivo não precisa parecer com “você” da forma como imagina que você aparenta no seu dia a dia. A ima- gem do eu compassivo pode se parecer com al- guém de seu passado ou com um personagem fictício ou mitológico, ou pode envolver uma combinação de aspectos significativos para você. De tempos em tempos, assim como nos exercícios de atenção plena, sua atenção pode divagar dessa imagem. Da melhor forma que puder, ao notar que sua mente divagou, tra- ga suave e gentilmente sua atenção de volta ao inspirar. Como você quer que a imagem de seu eu compassivo seja? Ela é uma versão sua? É a imagem de uma pessoa? É uma ima- gem da força da natureza como uma onda? É uma imagem feminina ou masculina? Como esse eu compassivo soa? Imagine que esteja olhando através dos olhos desse eu compassi- vo. Neste momento, você é um ser profunda- mente caloroso, amoroso, forte e compassivo. Reconheça a calma e a sabedoria que possui. Dê-se um momento para sentir as sensações

físicas que acompanham a ascensão de uma mente compassiva. Reconheça a força e a qualidade de cura de uma gentileza vasta e profunda. Reconheça que essa cordialidade e gentileza, essa poderosa compaixão, existem dentro de você como um abundante reserva- tório de força. Fique com esta imagem por alguns minutos. Pelo tempo que for necessá- rio, permita-se reconhecer e sentir que é, de fato, capaz de grande gentileza. Da próxima vez que inspirar naturalmente, traga a mera atenção ao fluxo da respiração para dentro do corpo. Ao expirar, permita-se deixar de lado a imagem do eu compassivo. Ao inspirar, você sabe que está inspirando. Ao expirar, você sabe que está expirando. Traga a atenção para as plantas dos pés. Em seguida, traga a atenção para o alto da cabeça. Agora, traga a sua atenção para tudo o que há no meio. Em seguida, traga a atenção para os sons que há na sala. [Pausa por alguns segundos.] Agora, traga a atenção para os sons que estão logo além da sala. [Pausa por mais alguns segun- dos.] Após alguns momentos, traga a atenção para os sons que estão ainda mais distantes. Da próxima vez que expirar naturalmente, permita-se abandonar o exercício por com- pleto. Dê-se alguns momentos e, quando esti- ver pronto para deixar que os olhos se abram, deixe-se suavemente estabelecer em sua cons- ciência cotidiana, permitindo-se talvez levar um pouco dessa compaixão consigo ao lon- go do dia. (Baseado e adaptado a partir de

exercícios de Gilbert, 2009.)

Tarefa

Este exercício pode ser praticado de manei- ra estruturada e meditativa em intervalos particulares do dia ou da semana. Os pa- cientes podem decidir separar uma certa quantidade de tempo para praticar o exer- cício em tais casos. Alternativamente, eles podem praticá-lo enquanto desempenham

suas atividades diárias, sempre que uma oportunidade surgir. Desse modo, podem generalizar de modo gradual o acesso à mente compassiva e tornar-se mais capazes de contatar uma perspectiva compassiva e autovalidadora. Os pacientes podem tam- bém preencher o Formulário 7.2, a fim de explorar mais o eu compassivo.

Possíveis problemas

Para alguns pacientes, dedicar-se a exercí- cios de autocompaixão pode evocar o senso de autoconsciência ou mesmo associações com vergonha e autorrecriminação. Isso pode decorrer de elementos de seu histó- rico interpessoal de aprendizado ou de re- lações familiares difíceis, ligadas a abuso, negligência ou outras fontes de abandono e vergonha. Assim, recomenda-se que o tera- peuta que apresenta tais técnicas mantenha consistentemente um ritmo lento neste tra- balho, enfatizando a validação emocional. O questionamento socrático e a exploração guiada de emoções e pensamentos que sur- girem ao longo do processo de treinamen- to da mente compassiva podem ser um componente necessário do processo tera- pêutico. Por exemplo, um paciente relata que se sente “constrangido” ao conceber a imagem de um eu compassivo. Neste caso, o terapeuta pode começar validando a res- posta emocional, explicando que uma for- ma nova e diferente de exercício como esta pode desencadear naturalmente emoções como constrangimento ou timidez. O te- rapeuta pode então passar a inquirir sobre os pensamentos automáticos que chegam naquele momento na sessão. Se o paciente relatar pensamentos autocríticos ou basea- dos em vergonha, como “vou fazer papel de bobo” ou “não consigo fazer isso”, o tera- peuta pode escolher revisar formas alterna- tivas e compassivas de pensar. Por exemplo,

o paciente diz a si mesmo: “Sinto-me um pouco constrangido, mas estou seguro e posso usar alguns instantes para ver qual a sensação de ter autocompaixão”.

Quando os pacientes se envolvem no treinamento de generalização, como a apli- cação informal do exercício do eu compas- sivo, é importante que reservem sua aten- ção para o que estão de fato fazendo em suas vidas diárias. O terapeuta deve revisar com os pacientes as situações nas quais seria seguro e funcional dedicarem a atenção à prática de mente compassiva ou baseada na atenção plena. Por exemplo, pode ser per- feitamente aceitável passar o aspirador de pó no quarto de hóspedes enquanto man- tém uma visão imaginária do eu compassi- vo. É possível, porém, que haja problemas ao permitir que uma porção significativa da atenção seja direcionada à imagem mental compassiva ao dirigir em meio ao trânsito urbano durante o dia.

Referência cruzada

com outras técnicas

O exercício de imaginar o eu compassi- vo tem relação direta com os exercícios de gentileza amorosa e redação de cartas compassivas. Este exercício começa com a fundamentação na atenção plena e tem relação com o exercício de atenção plena respiratória. O exercício de imaginar o eu compassivo pode ser usado como forma de prática de generalização e também tem re- lação clara com os exercícios do espaço de 3 minutos de manejo da respiração e atenção plena na cozinha.

Formulário

Formulário 7.2: Perguntas a Serem Feitas Após Completar Sua Primeira Semana de Imagens Mentais do Eu Compassivo.

TÉCNICA: REDAÇÃO DE

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