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Descrição

Se os pacientes começarem a trabalhar com seu processamento emocional e talvez transformá-lo, o primeiro passo importan- te é praticar e incrementar a habilidade de perceber e seletivamente dar atenção a suas emoções. Conforme vimos, as práticas de

atenção plena podem servir como intro- dução útil à descentralização e observação das experiências internas. Além do cultivo da consciência atenta, pode ser útil que os pacientes pratiquem a habilidade de obser- var, descrever e explorar sua experiência das emoções.

A TFE sugere várias maneiras pelas quais os pacientes podem começar a prática de prestar atenção em sua experiência emo- cional (Eliot, Watson, Goldman e Green- berg, 2003; Greenberg, 2002). Os pacientes podem começar a atentar para as sensações físicas e questionar em que lugar do cor- po experimentam a emoção. Por exemplo: “Quando fico ansioso, percebo que meus ombros ficam tensos e meus dentes parecem ranger”. Eles podem dar nome às emoções, identificar os pensamentos relacionados à experiência emocional e examinar a fun- ção das emoções em suas vidas (Greenberg, 2002). A TFE também distingue entre emo- ções primárias e secundárias: as primárias representam respostas emocionais diretas a estímulos no mundo, enquanto as secundá- rias representam emoções sobre outras emo- ções. Distinguir esses elementos do proces- samento emocional é parte importante do treinamento emocional da TFE.

Dois formulários incluídos neste livro oferecem formas de os pacientes ensaiarem o aumento da consciência emocional: o For- mulário 2.3, Diário de Emoções (Greenberg, 2002), e o Formulário 8.1, que contém uma série de perguntas baseadas na TFE para os pacientes responderem sozinhos (Greenberg e Watson, 2005). As questões específicas da implementação desses formulários são dis- cutidas posteriormente na seção Tarefa.

Para ajudar a dar estrutura, confiabi- lidade e possibilidade aos pacientes de re- petição à prática de aumentar a consciência emocional, o terapeuta da TFE usa rotinei- ramente o Diário de Emoções (Green berg,

2002). Essa ferramenta fornece uma forma simples de os pacientes identificarem as si- tuações e emoções que surgem diariamen- te. O terapeuta pode pedir que seus pacien- tes permitam que uma parte de sua atenção seja direcionada às emoções a cada dia. Os pacientes devem aprender a dar atenção às pistas físicas internas para perceberem as emoções. As pistas externas também são importantes, e os pacientes podem apren- der a aumentar a atenção à experiência emocional em certas situações que pro- vocam habitualmente uma resposta emo- cional. Quando se tornam conscientes das emoções, os pacientes podem usar o Diá rio de Emoções para anotar quais delas se apre- sentam em cada dia.

O Formulário 8.1, Perguntas a Se- rem Feitas para Incrementar a Consciên- cia Emocional, é um esboço direto e passo a passo das questões e respostas almejadas na intensificação da experiência emocio- nal. Ele apresenta uma série de questões do cotidiano que os pacientes podem fazer a si mesmos. Eles registram as respostas às questões e então as revisam com o terapeu- ta na sessão. Essas questões ressaltam vários aspectos do processamento emocional que, para muitos pacientes, podem não estar comumente associados às emoções. Por exemplo, pergunta-se ao paciente sobre as experiências físicas que ele associa às emo- ções, o nome que dá a elas e os pensamentos que as acompanham. Além disso, pergun- ta-se se ele experimenta emoções mistas; caso afirmativo, solicita-se que identifique tais emoções. Pede-se que identifique as ne- cessidades pessoais relacionadas com essas emoções e as urgências comportamentais envolvidas na experiência emocional. As- sim, a variedade de aspectos do processa- mento emocional que compreende dimen- sões da IE pode ser ensaiada e fortalecida por meio de treinamento.

Questão a ser

proposta/intervenção

“Usando os cinco sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato), o que você percebe no ambiente em torno de si? Voltando sua consciência para dentro, que sensações fí- sicas você percebe neste momento no seu corpo? Em que lugar de seu corpo você ex- perimenta sensações que relaciona a suas emoções agora? Se tivesse de nomear – pôr o nome em um sentimento –, que emoção seria? Quais pensamentos que passam por sua mente você associa à emoção? Que ne- cessidades ou desejos você associa a esse estado emocional? Que impulsos de ação chegam com essa emoção? É uma emoção claramente definida ou você está experi- mentando uma mistura de emoções? Se sim, que nomes têm as emoções que está sentindo?”

Exemplo

O exemplo a seguir envolve uma paciente que reclamava de sua inabilidade para se concentrar no trabalho. Apesar de esse ser o problema que afirmava ter, ela parecia bas- tante triste e assustada com o tratamento contra um câncer de pulmão pelo qual seu pai passava. A paciente raramente queria que sua reação ao tratamento do pai esti- vesse na agenda da terapia.

Paciente: Nesta semana, foi muito difícil

concentrar-me no trabalho e fazer qualquer coisa porque tenho passado por muito estresse.

Terapeuta: Estresse?

Paciente: Sim, acho que estava com a doen-

ça do meu pai na cabeça durante toda a semana e, com isso, fica difícil fa- zer alguma coisa. Estou muito preo- cupada se vou ou não vou conseguir

cumprir meus prazos. Meu chefe é realmente exigente, e eu simplesmen- te não sei o que há de errado comigo para não conseguir criar coragem e terminar o trabalho.

Terapeuta: Faz muito sentido que seu pai

esteja em sua mente, não? Eu sei que ele está passando por um tratamento médico difícil e realmente desafiador. Sei, particularmente por causa de nos- sa discussão da semana passada, que você está muito preocupada.

Paciente: Eu só queria que isso tudo não

atrapalhasse o meu trabalho.

Terapeuta: Sim, entendo. Nossas emoções

de fato aparecem com horário pró- prio e, quando chegam, às vezes exi- gem muito de nós. O que você está sentindo agora?

Paciente: Agora?

Terapeuta: Sim. Como você poderia des-

crever o que está sentindo neste exato momento?

Paciente: Não tenho certeza. Às vezes, não

sei o que estou sentindo. Apenas fico estressada e não quero sentir absolu- tamente nada.

Terapeuta: Suponho que seja natural ten-

tar calar ou afastar sentimentos com os quais seja difícil conviver. Às vezes, acho, fazemos isso mesmo sem saber. Vejamos se podemos nos sintonizar com sua experiência emocional neste momento. Tudo bem?

Paciente: Sim, só que não tenho certeza de

como fazer isso.

Terapeuta: Tudo bem. Podemos revisar os

passos juntos. Então, neste momento, o que percebe no ambiente em torno de si, usando todos os cinco sentidos?

Paciente: Bem, escuto os carros passando

do lado de fora. Sinto meu peso sobre a cadeira. Ao olhar em volta, vejo a luz e as sombras na sala. É desse tipo de coisa que está falando?

Terapeuta: Sim, é exatamente disso que es-

tou falando. Trazendo agora sua aten- ção para dentro, que sensações físicas você percebe em seu corpo?

Paciente: Acho que sinto um pouco de ten-

são na garganta. Agora que você falou disso, percebo uma pequena pressão nas têmporas. Na verdade, sinto como se fosse chorar.

Terapeuta: Então, estas são sensações que

podem estar conectadas a alguma emoção?

Paciente: Sim.

Terapeuta: Que nome você daria à emoção

que está sentindo neste momento?

Paciente: Quando paro e me deixo senti-

-la, estou simplesmente muito triste. Sinto muito.

Terapeuta: Não há problema em estar tris-

te. Sei que esta está sendo uma época muito difícil para você, com tudo o que está enfrentando. Quando a tris- teza chega, que pensamentos passam por sua cabeça? Está bem se falarmos sobre esses pensamentos por alguns instantes?

Paciente: Sim, claro. Acho que simplesmen-

te não quero ter de ver meu pai passar por esses tratamentos. Ele é tão forte e positivo, e isso é simplesmente tão de- vastador para ele. Não quero isso.

Terapeuta: Claro que não. Suas emoções,

sua reação a isso, são muito naturais e humanas.

Tarefa

Os pacientes podem trabalhar com quais- quer dos formulários incluídos nesta seção. O Diário de Emoções (Formulário 2.3) é mais fundamental, toma menos tempo e pode ser particularmente útil como in- trodução ao trabalho sobre a consciência emocional. Uma vez que este exercício se

concentra em perceber e dar nome às emo- ções, pode ser particularmente efetivo para os pacientes com alexitimia.

O formulário Perguntas a Serem Feitas para Incrementar a Consciência Emocional (Formulário 8.1) envolve um processo mais minucioso e exige um pouco mais de tem- po para ser preenchido. Esse exercício pode ser prescrito como tarefa de casa a pacientes para os quais o trabalho com a consciência das emoções tenha sido apresentado na ses- são e servir como uma sequência do Diário de Emoções.

Ambas as tarefas de casa devem ser apresentadas na sessão, sendo que terapeu- ta e paciente trabalham com o formulário juntos como exemplo pelo menos uma vez. As tarefas podem ser designadas por uma semana ou mais, para que o paciente tenha tempo suficiente de praticar, aplicar e ge- neralizar as habilidades envolvidas nesses formulários.

Possíveis problemas

Os formulários e conceitos discutidos nes- ta seção podem parecer muito simples e básicos para clínicos e outros que tenham empregado algum tempo na exploração de suas respostas emocionais. Os pacientes que se apresentam com história de trauma ou que incluem na história de seu desen- volvimento um ambiente familiar emocio- nalmente invalidante têm probabilidade de apresentar um padrão habitual de esquiva das experiências emocionais (Wagner e Li- nehan, 2006; Walser e Hayes, 2006). Além disso, a esquiva dos afetos é um aspecto da esquiva experiencial, hipoteticamente um processo central envolvido em muitas for- mas de psicopatologia (Hayes et al., 1996). Focalizar e identificar emoções pode provo- car grande dose de ansiedade e desencadear esforços de esquiva ou resistência.

As técnicas para incrementar as expe- riências emocionais são como um conjunto de bonecas russas. Dentro de cada uma das perguntas permanece um mundo de outras perguntas e associações. Por exemplo, ao perguntar ao paciente “que necessidades você associa a esta emoção?”, o terapeuta tem chance de descobrir uma variedade de pensamentos automáticos, esquemas, pressupostos mal-adaptativos e padrões de esquiva emocional. Como resultado, o tera- peuta precisa alcançar um equilíbrio cuida- doso ao aplicar a descoberta guiada para li- dar com a experiência emocional e ao mol- dar um novo padrão de resposta emocional no paciente. O terapeuta deve normalizar a experiência emocional do paciente, validar seu processamento emocional e orientá-lo a questionar a natureza da emoção, bem como as cognições relacionadas a ela.

Referência cruzada

com outras técnicas

As estratégias de aumento da consciência emocional estão associadas a muitas técni- cas diferentes, em particular aquelas basea- das na atenção plena. O treinamento da atenção plena pode prover o paciente com as habilidades de descentralização, o que será útil para aumentar a consciência emo- cional. A meditação da abertura de espaço é particularmente útil como exercício pre- paratório para trabalhar com as emoções. O exercício do espaço respiratório de 3 mi- nutos pode também ser útil para abrir um campo de consciência no qual o paciente examine de perto suas respostas emocio- nais. As técnicas baseadas nos esquemas emocionais (exame das crenças de perigo, vergonha, culpa, incompreensão, exclusivi- dade, necessidade de controle) podem ser úteis para examinar as crenças e estratégias invocadas ao abordar emoções. Além dis-

so, o Registro de Pensamentos Emocional- mente Inteligentes (descrito a seguir) pode também ser útil para aumentar a consciên- cia das emoções.

Formulários

Formulário 2.3: Diário de Emoções.

Formulário 8.1: Perguntas a Serem Feitas para Incrementar a Consciência Emocional.

TÉCNICA:

REGISTRO DE PENSAMENTOS

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