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As respostas emocionais mais intensas são resultado da visão dos eventos como ter- ríveis, catastróficos ou insuportáveis. Um dos alvos primários de Ellis na terapia era a crença do paciente de que os eventos eram “terríveis” (Ellis, 1962). Enquanto reconhe- ce que muitos eventos são objetivamente difíceis ou mesmo ameaçadores à vida, o terapeuta cognitivo tenta colocar as coisas em perspectiva, a fim de evitar a reação exa- gerada. Por exemplo, o paciente que pensa “É terrível que meu amigo tenha cancela- do nosso jantar” reagirá exageradamente, com emoções intensas, como se sua vida estivesse ameaçada. Remover a catástrofe dos eventos envolve várias estratégias. Estas incluem identificar a tendência a catastrofi- zar, por exemplo, monitorando pensamen- tos como “isso é horrível”, “não consigo

suportar”, “é terrível” ou “não acredito que isso esteja acontecendo”. Esses pensamen- tos emocionalmente propícios à escalada podem ser examinados em termos de cus- tos e benefícios do pensamento catastrófi- co. É essencial que o paciente venha a re- conhecer que a propensão à catastrofização resulta na regulação autodestrutiva do hu- mor. Em seguida, o terapeuta pode exami- nar as evidências a favor e contrárias à visão de que os eventos são catastróficos, usar a técnica do continuum para colocar os even- tos na perspectiva de outros eventos “mais ou menos ruins”, mudar para um modo de resolução de problemas e estender o tempo para colocar as frustrações atuais no con- texto de uma vida mais longa e significativa. É importante ajudar o paciente a re- conhecer que eventos negativos podem ser “verdadeiramente negativos” e que desca- tastrofizar não é necessariamente invalidar, minimizar ou desprezar. Sugerimos que o terapeuta apresente o conceito de invalida- ção no contexto de colocação das coisas em perspectiva, a fim de antecipar essa questão.

Questão a ser

proposta/intervenção

“Parece que você está pensando e sentin- do que o que está acontecendo é realmente terrível. Às vezes, quando estamos abala- dos, pensamos estar sendo esmagados por eventos que não podemos tolerar, que são insuportáveis. Isso, para nós, pode ser parte da ansiedade e da depressão. Talvez seja útil verificar se podemos colocar esses eventos em perspectiva para que você determine se eles poderiam ser menos terríveis e possi- velmente mais controláveis. Isso não signi- fica que seus sentimentos são inválidos ou que o que está acontecendo está correto ou não é importante. Significa simplesmente que podemos ser capazes de ver as coisas a

partir de uma perspectiva na qual elas ainda sejam negativas, mas não tão terríveis para você.”

Exemplo

Terapeuta: Parece que você está se sentindo

realmente transtornada com o fim do namoro, e é compreensível que você se sinta mal agora. O que será que esse rompimento está fazendo você pen- sar?

Paciente: Acho que minha vida é horrível.

É terrível que eu esteja com 27 anos e nenhum relacionamento; todas as minhas amigas estão casadas ou em um relacionamento, e eu não tenho ninguém.

Terapeuta: Esses são pensamentos de fato

angustiantes. Estou particularmente interessado no pensamento de que as coisas são “terríveis”. Você pode falar mais sobre isso?

Paciente: Bem, acho que é terrível estar so-

zinha desse jeito.

Terapeuta: Então, quando você pensa em

como isso é terrível, que tipo de senti- mento vem com isso?

Paciente: Simplesmente me sinto terrível.

Fico triste e sem esperanças, como se não houvesse razão para viver.

Terapeuta: Ok. Então, o pensamento de

que isso é terrível faz você sentir que não vale a pena viver, deixando-a tris- te e sem esperanças. Mesmo sendo ruim, será que você não se sentiria di- ferente se não estivesse pensando que isso é horrível e que a vida é terrível? E se você pensasse que esta é uma época realmente difícil, mas com a qual você conseguirá lidar, desde que tenha al- guma ajuda?

Paciente: Você está dizendo que isso não é

ruim?

Terapeuta: Não, estou dizendo que é pos-

sível que seja ruim, mas, quando pen- samos que é ruim, isso pode impedir que vejamos algumas possibilidades de melhorar e de nos sentirmos me- lhor. Tomemos a ideia de que isso é terrível. Imagine se fosse tomar a si- tuação atual – o término de um rela- cionamento – e avaliar o quão ruim ela parece ser. Que valor você daria, de 0 a 100%, sendo 100% a pior coisa que alguém poderia imaginar?

Paciente: Parece ser 99%.

Terapeuta: Ok. Agora vamos traçar uma

linha aqui e colocar 0 e 100%, e pôr “rompimento” em 99%. Agora, o que você consegue pensar que seja pior que 99%?

Paciente: Acho que perder minha vida – so-

frendo neste processo com uma doen- ça longa e dolorosa.

Terapeuta: Ok. Então isso seria 100%. O

que você colocaria em 90 e 80%?

Paciente: (pensando por um momento) É

difícil pensar desta forma. Tenho ten- dência a pensar em termos de extre- mos. Acho que 90% seria perder um amigo, 80% seria perder o emprego.

Terapeuta: E quanto a 50%?

Paciente: Não sei, perder algum dinheiro,

talvez. Pegar uma gripe.

Terapeuta: E 25%?

Paciente: Seria difícil pensar nisso. Veja-

mos – discutir com alguém.

Terapeuta: Onde você colocaria ter uma

doença incapacitante pelos próximos 20 anos?

Paciente: Isso teria de ser 99%.

Terapeuta: Então, parece que ter um rom-

pimento é tão ruim quanto ter uma doença incapacitante por 20 anos. Isso parece realista?

Paciente: Acho que não.

Terapeuta: Mesmo tendo esse rompimen-

nificativas que você ainda pode fazer, tanto agora quanto no futuro?

Paciente: Não sei. Ainda posso ver meus

amigos, ir ao trabalho, fazer exercí- cios, curtir a cidade, ver minha famí- lia. Posso viajar. Talvez, no futuro, eu seja capaz de encontrar um relaciona- mento melhor. Acho que há muitas coisas.

Terapeuta: Então, quando coloca isso em

99% – no mesmo nível que ter uma doença incapacitante por 20 anos – e 1% abaixo de morrer lentamente com uma doença dolorosa, isso parece rea- lista para você?

Paciente: Acho que não. Talvez eu esteja

exagerando.

Terapeuta: Isso não equivale a dizer que

não é difícil ou ruim ou que seja ter- rível. Mas parece que você vê as coisas em termos de preto-ou-branco – em vez de em tons de cinza –, e será que isso não contribui para você se sentir sobrecarregada, às vezes, com essas emoções dolorosas?

Paciente: Você pode ter razão.

Tarefa

O paciente pode preencher o Formulário 9.10 (Colocação dos Eventos em um Conti-

nuum) e o Formulário 9.11 (Colocação dos

Eventos em Perspectiva: O que Ainda Posso Fazer).

Possíveis problemas

Muitos pacientes emocionalmente des- regulados veem os eventos em termos de tudo-ou-nada. Obviamente, esse é todo o foco da técnica do continuum: ser capaz de ver as coisas em tons de cinza. Consequen- temente, o paciente pode ter dificuldade

de identificar eventos menos nocivos. O terapeuta pode auxiliar, sugerindo eventos menos “negativos”: “Onde você coloca- ria pegar uma gripe, perder R$ 200,00, ter uma discussão com um amigo, usar sapatos apertados?”. Alguns pacientes podem obje- tar que colocar eventos em um continuum é invalidante. Novamente, antecipar isso, introduzindo a técnica por meio da identi- ficação de preocupações validadoras, pode ajudar a evitar essa dificuldade.

Referência cruzada

com outras técnicas

As técnicas de ativação comportamental, como programação de atividades, previsão de prazer, melhora do momento e outras que direcionem o paciente rumo a uma mudança positiva, podem ajudar a colo- car o pensamento e a emoção negativos em perspectiva.

Formulários

Formulário 9.10: Colocação dos Eventos em um Continuum.

Formulário 9.11: Colocação dos Eventos em Perspectiva: O que Ainda Posso Fazer.

TÉCNICA: GANHO DE TEMPO

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