Descrição
Muitos pacientes com dificuldades de regu- lação emocional acreditam que precisam “livrar-se” das emoções, de modo seme- lhante aos pacientes obsessivos ou preocu- pados que acreditam que precisam eliminar pensamentos intrusivos. Eles com frequên- cia temem que a emoção irá esmagá-los, in- capacitá-los ou perdurar indefinidamente; portanto, há um senso de urgência em eli- miná-la. Assim como a supressão dos pen- samentos ou as estratégias de controle dos pensamentos são malsucedidas e aumentam a sensação de estar sobrecarregado e contro- lado por pensamentos indesejados e intrusi- vos, as estratégias de supressão emocional e o senso de urgência intensificam a luta inter- na que aumenta a desregulação emocional.
A aceitação da emoção não implica acreditar que ela seja uma experiência boa ou ruim, mas simplesmente reconhece que é uma experiência sendo vivenciada naque- le momento. A aceitação da emoção pode
ajudar a desviar o paciente do senso de urgência e das tentativas fúteis de se livrar dela.
Questão a ser
proposta/intervenção
“Vejo que você tem dificuldades em acei- tar que está ansioso [triste, com raiva, com ciúme]. Quais são as vantagens e desvan- tagens de aceitar esses sentimentos? O que acha que aconteceria se o fizesse? De que pensamentos, comportamentos, formas de interagir com os outros ou outras es- tratégias você abdicaria? Se aceitasse que tem um sentimento agora, você poderia também focalizar outros comportamentos, experiências e relacionamentos possivel- mente úteis? Por exemplo, se aceitasse que ficou ansioso e dissesse: ‘sei que estou me sentindo ansioso neste momento’, você po- deria também – ao mesmo tempo – dizer: ‘Também vou fazer coisas que possam ser compensadoras’?”
Exemplo
A paciente sentiu-se solitária ao retornar ao apartamento, teve a sensação de pânico e pensou que deveria se livrar do sentimento de solidão.
Terapeuta: Eu entendo que esse sentimen-
to de solidão pareça muito doloroso para você e percebo que isso aparenta preceder seu impulso de beber. Você sente que não pode aceitar esse senti- mento de solidão?
Paciente: Quero me livrar daquele senti-
mento. Quero me anestesiar.
Terapeuta: Sim, e essa é uma estratégia
de um sentimento, anestesiar-se, não sentir nada. É como se disséssemos: “Não consigo aceitar e tolerar esse sentimento”. Mas qual foi a conse- quência de você se livrar do sentimen- to, em vez de aceitá-lo?
Paciente: Estou bebendo demais e tenho
medo de ficar sozinha.
Terapeuta: E se você imaginar a emoção
– seu sentimento – de solidão como um visitante que chega e simples- mente está lá. Mais ou menos como um convidado em um grande jantar, e há muitos outros convidados. “Sen- timento de solidão” é o personagem que aparece.
Paciente: Essa é uma imagem interessante.
É como um dos meus parentes.
Terapeuta: Sim. Esta é uma forma de
pensar. Você já aceita seu parente e talvez até seja educada e respeitosa. Mas você não o torna o foco da festa. Há outros convidados e outras coisas a fazer.
Paciente: Isso soa um pouco estranho –
pensar em um sentimento como um convidado. Mas eu posso tentar pen- sar desse jeito.
Terapeuta: Outra técnica que pode ser útil
é imaginar que a emoção entra em seu corpo e você a sente. Como aquele sentimento de solidão – onde você o sente em seu corpo?
Paciente: É um peso no peito e outra sen-
sação descendo até o estômago; sinto- -me cansada e um pouco nervosa, como se tivesse de sair.
Terapeuta: Soa como um sentimento de ser
derrotada e querer fugir daquele sen- timento, então você se sente nervosa, talvez um pouco agitada.
Paciente: Parece que é isso.
Terapeuta: Ok. Então imaginemos que o
sentimento chegue a seu peito, você o sente e agora simplesmente se ren-
de e deixa que ele venha, como água fluindo sobre as pedras em um riacho. Você é como as pedras e o sentimento flui por cima de você rio abaixo. E en- tão outra onda suave de sentimentos vem e vai, e ela se foi.
Paciente: É como se eu fosse as pedras no
riacho? Hum. Sempre quero me livrar dos sentimentos e agora imagino eles fluindo sobre mim.
Terapeuta: Mas você é como a pedra, im-
passível, forte, assistindo ao senti- mento, vendo-o passar pela água, e o rio continua.
Paciente: Isso parece muito relaxante. Terapeuta: Então, quando estiver em seu
apartamento e o sentimento de soli- dão vier, você pode dizer a si mesma: “Não tenho de me livrar dele. Posso aceitá-lo, tolerá-lo e saudá-lo – como o convidado que chega”.
Paciente: É uma forma muito diferente de
vivenciar isso para mim.
Terapeuta: Sim, não aceitar o que acontece
a leva a lutar contra si mesma. E então você pode dizer também a essa emo- ção: “Você está aqui de novo. Bem- -vinda novamente. Fique à vontade enquanto eu me ocupo com as outras coisas que preciso fazer”. Então, você faz apenas coisas compensadoras e prazerosas.
Paciente: Mas o que acontecerá com o sen-
timento de solidão?
Terapeuta: Ele pode ainda estar presente,
mas talvez esteja em segundo plano. Você não se concentra nele todo o tempo porque agora está focando coi- sas que importam e que são prazerosas.
Tarefa
O capítulo sobre ruminação no livro Beat
Leahy, oferece muitas ideias de como lidar com pensamentos e sentimentos recorren- tes e intrusivos. O paciente pode praticar maneiras de como render-se às sensações, imaginando o sentimento como água que flui por cima de uma pedra e o observando à medida que ele vem e vai. O Formulário 2.9 (Como Aceitar Sentimentos Difíceis) pode ser sugerido. Exemplos de como acei- tar os sentimentos incluem: “Não lute con- tra o sentimento, permita que ele aconteça. Afaste-se e observe-o. Imagine que o senti- mento esteja fluindo e você esteja fluindo junto com ele. Veja-o subir e descer, ir e vir, momento a momento”.
Possíveis problemas
Alguns pacientes acreditam que aceitar uma emoção é equivalente a se render ao sofrimento. Em certo sentido, há rendição na luta contra a emoção, mas aceitação não significa que a pessoa não está fazendo nada para se sentir melhor. Aceitar que está cho- vendo não significa deixar o guarda-chuva de lado. Reconhecer, admitir e construir es- paço para uma variedade de emoções ajuda a colocá-las na perspectiva de um significa- do e potencial maiores na vida. Os exercí- cios envolvendo atenção podem ajudar o paciente a reconhecer que é possível estar ciente de alguma coisa sem se prender a ela. Por exemplo, um paciente relatou sentir-se ansioso, e o terapeuta pediu que descreves- se as cores dos livros no escritório. Ao fazê- -lo, sua ansiedade diminuiu. Isso indicou que ele poderia estar momentaneamente ciente da ansiedade, mas tinha condições de redirecionar a atenção para outra coisa. A aceitação não implica inflexibilidade ou ficar preso à emoção do momento. O tera- peuta pode indicar que é possível aceitar o sentimento de ansiedade no momento, ao mesmo tempo em que se adota um com-
portamento que leva a uma mudança da- quela emoção. Além do mais, aceitação não sugere ruminação; na verdade, esta é uma forma de esquiva experiencial. Por exem- plo, aceitar que estou triste pode implicar que não preciso ruminar sobre isso com perguntas impossíveis de responder, como “Por que isso está acontecendo comigo?”. A aceitação pode seguir essa sequência: “Acei- to que estou triste. Sei que é como eu me sinto, mas posso adotar outros comporta- mentos que levem às metas que valorizo”.
Referência cruzada
com outras técnicas
Quaisquer dos exercícios de atenção plena podem ser incorporados a esta técnica. Os exercícios de aceitação e disposição tam- bém são úteis.