• Nenhum resultado encontrado

Descrição

Muitos pacientes que possuem sentimen- tos intensos têm dificuldade de reconhecer que um sentimento não é o mesmo que a realidade e não é a mesma coisa que um pensamento. Isso é especialmente eviden- te no “raciocínio emocional”, em que o paciente pode dizer a si mesmo “sinto-me simplesmente horrível. A vida é terrível”. Aqui, o paciente tem um sentimento (“hor- rível”) junto com um pensamento (“a vida é terrível”), que podem ser distinguidos dos fatos (“quais as evidências de que a vida seja terrível?”). Na terapia cognitiva, é es- sencial que o paciente tome um pouco de distância dos pensamentos e sentimentos, a fim de avaliá-los. Essa descentralização pode começar na primeira sessão, na qual o terapeuta auxilia o paciente a reconhecer como os pensamentos podem levar a sen- timentos (e comportamentos) e a perceber que pensamentos alternativos também são possíveis, levando assim a sentimentos e comportamentos diferentes.

Questão a ser

proposta/intervenção

“Imagine que está caminhando pela rua à noite, está escuro e não há ninguém por perto. Você escuta agora dois homens vin- do atrás de você, andando rápido em sua direção. Você tem o pensamento ‘esses ca- ras vão me atacar’. Que tipo de sentimentos você teria? O que faria?”. O paciente pode indicar que ficaria com medo e que tentaria correr. O terapeuta pode então prosseguir: “Mas imagine que você pensasse: ‘São duas

pessoas que estavam no mesmo congresso em que eu estava’. O que você sentiria e fa- ria então?”. O paciente poderia indicar que se sentiria mais relaxado ou mesmo curioso para encontrá-los, e simplesmente conti- nuaria sua caminhada.

Exemplo

Terapeuta: Uma das coisas que conside-

ramos importantes é distinguir entre pensamento e sentimento. Sentimen- to é uma emoção, de modo que você diz estar triste, ansioso, com medo, feliz, curioso, desesperançado ou com raiva. Não questionamos que tenha um sentimento – não faria sentido eu dizer que você não se sente triste quando me disser que se sente assim. Os sentimentos são simplesmente ver- dadeiros porque você me diz que tem um sentimento. Que sentimentos você tem tido recentemente?

Paciente: Sinto-me triste e um pouco de-

sesperançado.

Terapeuta: Ok. Vejo que também reconhe-

ce que seu sentimento pode ter uma variação de intensidade; por exem- plo, você mencionou estar um pou- co desesperançado. Então, é possível sentir-se mais, menos ou muito deses- perançado. Vamos manter em mente que a intensidade dos sentimentos varia. Agora, vejamos os pensamen- tos que podem fazer alguém sentir-se triste. Esses pensamentos podem ser “nunca vou conseguir o que preciso” ou “serei sempre infeliz”. Também é possível ter pensamentos como “não consigo fazer nada certo”. Esses são pensamentos que podem levar ao senti mento de tristeza ou à falta de esperança.

Paciente: Sim, já tive esses pensamentos al-

gumas vezes também.

Terapeuta: Assim, um pensamento não é o

mesmo que um sentimento. Podemos tomar um pensamento como “nunca faço nada certo” e testá-lo contra os fatos. Vamos tomar o pensamento: “Está chovendo lá fora”. Como eu o testaria?

Paciente: Você iria lá fora e veria se ficava

molhado.

Terapeuta: Certo. Coletaríamos os fatos. E

poderia ou não estar chovendo. Então, quando você diz que tem o sentimen- to de tristeza, e ele pode estar relacio- nado ao pensamento “Não consigo fazer nada certo”, poderíamos testar se os fatos apoiam seu pensamento. Podemos ver se há algo que você te- nha feito certo. Assim, saberíamos o quão preciso é seu pensamento.

Paciente: Sim, mas eu realmente me sinto

triste.

Terapeuta: Está absolutamente correto que

você se sinta assim. Mas, e se desco- brisse que os pensamentos que teve não são tão absolutos quanto seu sen- timento? E se você acreditasse que fez muitas coisas certas?

Paciente: Acho que me sentiria muito me-

lhor.

Terapeuta: É isso que vamos ter de anali-

sar. Vamos ver se seus pensamentos resistiriam aos fatos. Então, estabe- lecemos algumas coisas. Primeiro, pensamentos e sentimentos são di- ferentes. Segundo, podemos testar se os pensamentos são verdadeiros. E, terceiro, pensamentos e fatos são di- ferentes. Também sabemos que seus pensamentos podem mudar, e isso pode modificar a forma como se sen- te. Assim, temos algum trabalho pela frente.

Tarefa

Pode-se passar para o paciente o Formu- lário 9.1 (Distinção entre Pensamentos e Sentimentos), que lista os sentimentos e os pensamentos que os acompanham. O formulário também oferece uma curta descrição da “situação”, ou seja, o que está acontecendo que desencadeia os sentimen- tos. Além disso, o terapeuta pode pedir que o paciente indique, em uma escala de 0 a 100, a intensidade do sentimento e o grau de confiança que tem ao acreditar no pen- samento.

Possíveis problemas

Alguns pacientes com senso de urgência ansiosa podem apresentar queixas de que não conseguem usar estas técnicas porque estão muito ansiosos. Neste caso, o tera- peuta tem a possibilidade de ressaltar que o uso das técnicas possui precisamente o propósito de reduzir o senso de urgência e ansiedade. Contudo, técnicas mais simples de redução de estresse, como o relaxamen- to muscular profundo ou exercícios respi- ratórios, podem ser úteis para prepará-los para o uso da reestruturação cognitiva e a redução da urgência. Em alguns casos, o paciente pode dizer: “Não consigo me ima- ginar fazendo estas coisas quando estou transtornado. Isso não me vem à cabeça”. O terapeuta pode, então, pedir que o paciente escreva três ou quatro lembretes de técni- cas específicas para utilizar, a fim de poder “engatilhar” as técnicas de terapia cogni- tiva, em vez da urgência. Esses lembretes podem ser colocados em locais visíveis que tenham probabilidade de estar associados à urgência.

Alguns pacientes dizem que não têm pensamentos, só sentimentos. Por exem- plo, o paciente diz: “Simplesmente sinto- -me deprimido. Não estou pensando em nada”. Neste caso, o terapeuta auxilia o pa- ciente a identificar pensamentos, sugerindo alguns pensamentos possíveis que outros pacientes tenham tido: “Às vezes, quando estão deprimidas, as pessoas pensam [nada vai funcionar, sou um fracassado, não consigo fazer nada, não aproveito nada]” e prosseguem questionando se algum des- ses ou outros pensamentos lhes soa fami- liar. Outra possibilidade é fazer o paciente identificar as situações que desencadeiam o sentimento depressivo, e então examinar o que ele poderia estar pensando. O pacien- te pode anotar esses pensamentos e tentar monitorá-los durante a semana, para ver se lhe parecem familiares. Alguns pacientes são auxiliados a identificar pensamentos, se o terapeuta conseguir fazê-los focar em deta- lhes específicos (visuais, auditivos, olfativos, táteis) associados ao sentimento, evocando assim as pistas contextuais da emoção.

Referência cruzada

com outras técnicas

Induzir imagens mentais para ativar pensa- mentos e sentimentos pode ser útil. Além disso, os pacientes frequentemente conse- guem distinguir pensamentos de sentimen- tos, examinando a lista de distorções cogni- tivas, como no exemplo a seguir.

Formulário

Formulário 9.1: Distinção entre Pensamen- tos e Sentimentos.

TÉCNICA: CATEGORIZAÇÃO DOS

Outline

Documentos relacionados