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TÉCNICA: ESPAÇO DE 3 MINUTOS PARA O MANEJO DA RESPIRAÇÃO

Descrição

A base preparada pelas práticas de escanea- mento corporal e da atenção plena respi- ratória abre caminho para os exercícios formais subsequentes, que direcionam a atenção aos próprios pensamentos e sen- timentos, como o exercício de ampliação de espaço. De modo semelhante, perío- dos mais longos de prática formal podem tornar os pacientes aptos para preparar a consciência plena, a fim de que ela seja rele- vante em suas experiências, conforme estas ocorrem na sua vida cotidiana. O próximo passo na generalização e aplicação das habi- lidades de atenção plena na MBCT consiste em adotar uma postura de atenção plena durante períodos de sofrimento real. O

exercício do espaço respiratório de 3 minu- tos oferece aos pacientes uma abordagem suficientemente estruturada e fácil de utili- zar para empregar a atenção plena de forma direta, com os propósitos de tolerância aos afetos, enfrentamento de situações de sofri- mento e capacidade de lidar com coisas que possam parecer insuportáveis.

Quando o espaço respiratório de 3 minutos é usado como ferramenta de ma- nejo, os pacientes são estimulados a aplicar o exercício nas ocasiões em que estejam rea gindo naturalmente, naquele momento, a emoções e pensamentos difíceis que sur- jam em resposta ao estresse do ambiente. Tal como ocorre com o exercício anterior de espaço respiratório, esta prática também começa com o foco nas sensações do corpo que chegam com sentimentos fortes ou pen- samentos perturbadores. Contudo, durante o espaço de 3 minutos de manejo da respi- ração, os pacientes são estimulados a ado- tar conscientemente um senso expandido de disposição e contato com a experiência, da forma como é sentida no seu corpo no momento presente. Isso significa que, em vez de uma mera e distante observação, os pacientes estão “dizendo sim” à expe riência e estabelecendo uma conexão íntima com o seu fluxo. Apesar de esse tipo de obser- vação não julgadora parecer uma forma de distanciamento, neste caso, ela envolve pa- radoxalmente uma imersão na experiência direta que é qualitativamente diferente a respeito de como sensação, emoção e pen- samento podem ser processados quando os pacientes estão no “piloto automático” da atenção cotidiana. As instruções para o es- paço de 3 minutos de manejo da respiração estendem o conceito de disposição e aber- tura para vivenciar e encorajar os pacientes a deliberada e conscientemente dizerem a si mesmos que, quaisquer que sejam os senti- mentos e pensamentos, “está tudo bem eu me sentir assim” e “tudo bem, o que quer

4 A natureza fluente e “aplicada” desta técnica de treina-

mento da atenção plena pode sugerir que os pacientes não precisam monitorar sempre a implementação do espaço respiratório de 3 minutos.

que seja, está tudo bem: deixe-me sentir isso” (Segal et al., 2002).

Questão a ser

proposta/intervenção

Quando o terapeuta começa a treinar o pa- ciente na aplicação direta do espaço de 3 mi- nutos de manejo da respiração para passar ao manejo adaptativo, ele deve estar prepa- rado para possíveis mal entendidos em rela- ção ao objetivo do exercício. A tendência a praticar a esquiva experiencial é persistente e continuará presente ao longo do treina- mento da atenção plena. Ao aplicar o espa- ço de 3 minutos de manejo da respiração, o terapeuta sugere ativamente que o paciente “faça” algo para afetar o seu estado quan- do estiver em dificuldade. Isso tem chan- ce de ser facilmente mal interpretado pelo paciente, porque pode sugerir que o exer- cício da atenção plena afasta experiências “ruins”. Uma forma que o terapeuta tem de antecipar e resolver melhor esta importante tendência é atentar conscientemente para seu próprio processo, ao apresentar e expli- car a técnica do espaço de manejo da respi- ração. Trazendo algum grau de consciência atenta cultivada para a relação terapêutica durante esse intercâmbio, o terapeuta pode ser mais capaz de modelar, instruir e refor- çar a atenuação de experiências pessoais perturbadoras. Ele pode fazer pergun- tas como: “Você consegue simplesmente abrir espaço para a experiência e permiti- -la, conforme ela se apresenta a você neste momento?”. Embora tais perguntas possam não envolver mudança direta de primeira ordem no conteúdo cognitivo, com a qual os terapeutas cognitivo-comportamentais se acostumaram ao longo das últimas duas décadas, elas oferecem uma perspectiva di- ferente, uma descentralização e o possível refúgio contra a imersão em expe riências

internas desagradáveis às quais o paciente está apegado.

Exemplo

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Este exercício é para ser aplicado quando você estiver passando por sentimentos ou emoções difíceis. Quando emoções, sensações corporais e pensamentos historicamente desagradáveis emergem em nossa consciência, o primei- ro instinto é tentar escapar deles ou supri- mir tais experiências. Para este exercício de 3 minutos de ampliação de espaço por meio da consciência da respiração e do corpo, va- mos exercitar uma disposição radical para nos conectarmos com a expe riência da forma como ela é, neste exato momento. Então, ao começarmos, traga parte de sua consciência para as plantas dos pés. Tanto quanto puder, deixe que sua atenção se concentre em torno de sua experiência física neste momento. Se possível, sente-se em local confortável. Faça os ajustes necessários na postura para que você fique em posição correta, ereta e relaxada. As costas estão retas. Você pode se sentir como que enraizado à terra nos pontos de conta- to em que seu corpo encontra a cadeira e o chão. Deixe os olhos fechados ou, se preferir, simplesmente deixe as pálpebras relaxarem enquanto dirige o olhar com suavidade em direção ao chão diante de você. Em seguida, traga a atenção para o fluxo de experiências que se desdobra em sua mente. Observando pensamentos, sentimentos e sensações físicas, permita-se perceber, tanto quanto possível, o que estiver acontecendo neste exato momen- to. Agora estamos dando atenção especial a esses pensamentos, ideias e sensações que po-

5 Este exercício é adaptado do protocolo da MBCT

(Segal et al., 2002). Copyright 2002 por The Guilford Press. Adaptado com autorização.

dem ser experimentados como desagradáveis ou incômodos. Em vez de afastá-los, deixa- mos que eles sejam o que são. Aguardando um momento, permita-se apenas reconhecer a presença dessas experiências, abrindo es- paço para o que quer que apareça e flua em seu campo de observação interior. Permita- -se descrever e reconhecer as experiências difíceis que podem estar chegando. Por um momento, coloque essas experiências em pa- lavras, anotando-as como eventos mentais – por exemplo: “Estou tendo o pensamento de que não sou amado” ou “Estou sentindo frustração e ciúmes”. Dessa forma, estamos novamente abrindo espaço, da melhor forma possível, para o que quer que surja, fazendo contato íntimo com este exato instante, mo- mento a momento. Em seguida, redirecione suave, mas decididamente, sua atenção para o ato de respirar. Ao inspirar, sabemos que estamos inspirando; ao expirar, sabemos que estamos expirando. Durante o próximo mi- nuto, permita que sua consciência acompa- nhe a respiração, à medida que esta penetra o corpo pelas narinas, move-se ao longo do corpo e deixa-o por meio da expiração, ob- servando a profundidade e plenitude de cada respiração, neste exato momento. Observan- do como a respiração age sozinha, enquanto completa e recomeça um novo ciclo, conti- nuamos a simplesmente abrir espaço para a experiência como ela é.

Durante o próximo minuto da práti- ca, deixe sua consciência expandir-se. Com a próxima inspiração, permita que sua atenção abranja o corpo como um todo. Neste mo- mento, prestamos atenção particularmente às sensações do corpo que envolvam descon- forto ou tensão desnecessária. Em vez de se afastar dessas experiências, você está mes- clando a atenção com o fluxo da respiração. Permita-se “inspirar” essa experiência. Com a próxima expiração, permita-se abrandar e abrir-se para essas sensações. Ao expirar, você continua a abrir espaço para o que quer que

surja no fluxo de sua experiência. Diga a si mesmo: “Está tudo bem. O que quer que seja, está bem experimentá-lo. Deixe-me sentir isso”. Traga parte de sua consciência para os músculos da face. Sem julgar, perceba como a expressão e posição de seu rosto e de seu corpo estão relacionadas nesta corrente de pensa- mentos e sentimentos que se desdobra.

Enquanto se prepara para terminar este exercício, traga a atenção para as plantas dos pés. Em seguida, traga parte da sua atenção para o topo da cabeça. Agora, perceba no- vamente, neste momento, tudo o que está no meio, incluindo pensamentos, sentimentos e sensações corporais. Ao expirar, deixe que seus olhos se abram e, conscientemente, finalize o exercício. Tome um momento para reconhecer sua capacidade de escolha e disposição. Você acaba de decidir que vai se permitir ficar com sua experiência de forma plena durante esses 3 minutos, momento a momento. Da melhor forma possível, leve esta abertura e consciência atenta consigo ao longo do dia.

Tarefa

O espaço de 3 minutos de manejo da res- piração pode ser passado como tarefa de casa, mas é melhor quando aplicado de for- ma flexível e receptiva. A prática tem como objetivo implementar atenção plena e acei- tação como modos de “responder”, em vez de “reagir contra” os estressores ambien- tais. Assim, os pacientes podem ensaiar este exercício até que se sintam confortáveis ao praticá-lo sob condições de estresse. A par- tir desse ponto, podem optar por aguardar o momento em que tenham a real necessi- dade de recursos para, então, usar a técnica.

Possíveis problemas

Muitos dos potenciais problemas de outras técnicas de atenção plena também se apli-

cam ao espaço de 3 minutos de manejo da respiração. Há também algumas caracterís- ticas exclusivas deste exercício. Por vezes, os pacientes podem não usá-lo na presença de estresse ou emoções difíceis. Como sa- bemos, as pessoas frequentemente têm pa- drões habituais de resposta ao se depararem com o estresse. Adotar uma nova aborda- gem in vivo pode ser intimidante e difícil. Além disso, o espaço de 3 minutos de ma- nejo da respiração é um método de resposta que consiste em abrir mão da esquiva. Em vez de escolher um método de manejo que os afaste ainda mais da resposta emocional desafiadora, os pacientes optam por abrir espaço e se aproximar dos sentimentos e pensamentos que os perturbam. Isso exi- ge aumento de disposição por parte deles. Ter alguma base prévia de treinamento em atenção plena facilita esse salto. Pode ser útil que o terapeuta discuta abertamente a possível resistência e apreensão que os pa- cientes por vezes apresentam ao implemen- tar o espaço respiratório de 3 minutos. O terapeuta e seus pacientes podem optar por fazer um brainstorming dos possíveis obstá- culos ao uso da técnica e encontrar méto- dos para contorná-los. Por exemplo, os pa- cientes podem discutir situações nas quais se sentem relutantes em aplicá-la, como em situações sociais ou locais que considerem potencialmente embaraçosos. Neste caso, o terapeuta e seus pacientes têm a possibili- dade de considerar formas de obter licen- ça por alguns minutos, a fim de focalizar a aplicação da técnica como mecanismo ativo para lidar com os problemas.

Referência cruzada

com outras técnicas

O espaço de 3 minutos de manejo da res- piração está relacionado às seguintes técni- cas: escaneamento corporal, atenção plena

respiratória, atenção plena do movimento, exercício de abertura de espaço, atenção plena do som, espaço respiratório de 3 minutos e atenção plena na cozinha, bem como preenchimento do Registro de Pen- samentos Emocionalmente Inteligentes e do Registro “Como Parar a Guerra”.

Formulário

Formulário 5.1: Registro Diário da Prática da Atenção Plena.6

TÉCNICA: ATENÇÃO

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