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COM “ACEITAÇÃO”

Descrição

Há muitos caminhos que um clínico pode usar em psicoterapia para começar a tra- balhar com a aceitação. Alguns envolvem exercícios experienciais, outros são mais in- formativos. A palavra “aceitação” tem vários significados. Além disso, muitos pacientes estão firmemente presos a estratégias que envolvem esquiva experiencial. Assim, o te- rapeuta que planeja usar métodos baseados em aceitação e disposição pode começar en- sinando simplesmente aos pacientes o que aceitação significa nesse contexto.

Há vários passos envolvidos no pro- cesso de desenvolvimento da disposição, como ajudar os pacientes a se tornarem conscientes das diversas estratégias que uti- lizam com base na esquiva ou no controle;

explorar e perguntar o quão úteis ou fun- cionais essas estratégias foram para eles; e validar a experiência de frustração ou tris- teza dos pacientes perante as estratégias que ainda não os libertaram de sua luta (Luoma et al., 2007).

Questão a ser

proposta/intervenção

“Há quanto tempo você tem experimen- tado emoções difíceis ou dolorosas? Você consegue se lembrar de alguma época em que não enfrentava nenhuma das experiên- cias pessoais difíceis que enfrenta hoje? Contra o quê você luta? De que você teve de abrir mão em virtude dessa luta? Quem lhe ensinou que poderia afugentar os sen- timentos ‘ruins’ simplesmente lutando contra eles? De que maneira você tentou se livrar dos sentimentos? Como isso funcio- nou para você? Você consegue se lembrar de algum momento em que se permitiu ter um sentimento como ele era? Lembra-se de ter tomado distância para analisar os pensa- mentos que o importunavam? Como seria parar de lutar contra a experiência e apenas observar a mente fazer o que faz normal- mente? Como acha que seria abandonar a luta contra a experiência e concentrar a energia na busca dos princípios que você valoriza e que têm mais importância em sua vida?”

Exemplo

Paciente: É como se eu estivesse deprimido

há tanto tempo quanto consigo lem- brar. Parece que a sensação de que não sou bom o suficiente sempre me acompanhou.

Terapeuta: Certamente, parece que você a

gue se lembrar de alguma época em que não se sentia tão incapaz?

Paciente: Acho que, provavelmente, quan-

do tinha 4 ou 5 anos – antes de ir para a escola. Acho que naquela época não tinha nenhuma noção se eu era ou não bom o suficiente.

Terapeuta: Então, durante as últimas três

décadas, mais ou menos, você tem dito a si mesmo que não é bom o bas- tante. Você tem percebido essa sen- sação persistente, esse sentimento de tristeza, de que há simplesmente algo errado com você?

Paciente: Sim. Está sempre comigo, eu acho. Terapeuta: Você tentou combater esse pen-

samento, esse sentimento? Quer dizer, de que forma tentou lidar com esta ideia?

Paciente: Queria não me sentir assim, mas

eu me sinto. Ah, eu lutei de muitas formas. Esforcei-me para ser um alu- no nota 10, mesmo quando isso signi- ficava deixar de ter uma vida. Ficava isolado na escola ou no trabalho para não ter de enfrentar rejeição. Li todo tipo de livros de autoajuda. Tomo Zo- loft, Deus sabe desde quando. Às ve- zes, quando estou sozinho em casa e não consigo dormir, pego uma garrafa de vinho e choro até adormecer.

Terapeuta: Realmente, parece uma luta ex-

tenuante. E como esses métodos têm funcionado até agora?

Paciente: Claramente, não funcionam.

Nada me faz melhorar.

Terapeuta: Sim, você me disse como isso

não para, esta sensação de que “não sou bom o suficiente”. Deve ser de fato frustrante enfrentar esses pensa- mentos e sentimentos que simples- mente não têm fim.

Paciente: Às vezes, não consigo suportar. Terapeuta: Tenho certeza de que há mui-

tas outras formas pelas quais você

tentou lutar contra a sensação de não ser bom o suficiente, e, com o tempo, quero saber sobre elas, para podermos ver o quanto você tem lutado para in- terromper este pensamento: “Não sou bom o suficiente”.

Paciente: Ok.

Terapeuta: O que acha que aconteceria, se

você desistisse da luta?

Paciente: Quer dizer, simplesmente conti-

nuar deprimido? Parece terrível.

Terapeuta: Não é exatamente isso o que

quero dizer. Eu sei que superar a de- pressão é importante para você. Que- ro dizer, e se parasse de lutar contra a ideia de que sua mente continuará a produzir esse pensamento: “Não sou bom o suficiente”? O que aconteceria se deixasse sua mente dizer isso en- quanto você concentra sua energia e seu coração na busca de uma vida que realmente faça sentido?

Paciente: Não sei bem como seria. Por que

eu faria isso?

Terapeuta: Bem, por muito tempo, sua men-

te aprendeu a reagir com essas palavras – “não sou bom o suficiente” – ao lidar com as coisas de seu ambiente. Você tentou várias formas de interromper o pensamento, evitá-lo, controlá-lo, mas ele sempre reaparece. É assim que são os pensamentos e sentimentos: quanto mais tentamos afastar certas experiên- cias, mais elas voltam.

Paciente: Sim, acho que sei o que você quer

dizer.

Terapeuta: Então, e se descobrirmos que

você pode se comprometer pro fun- damente com as coisas que lhe trazem alegria e significado, mas o preço do compromisso for ouvir sua mente di- zer que “você não é bom o suficiente”? Você estaria disposto a aceitar essas palavras como eventos em sua mente e buscar viver sua vida?

Paciente: Bem, sim, suponho... Se isso sig-

nificasse ter minha vida de volta..., tal- vez ter uma vida de fato pela primeira vez, então eu estaria disposto. Como faço isso?

Tarefa

Há muitas formas pelas quais a disposição e a aceitação podem ser praticadas como tarefas. Pode-se começar passando uma ta- refa diária simples de automonitoramento, a fim de que os pacientes percebam quando estão ou não adotando a postura de disposi- ção para experimentar simplesmente o que surgir no presente, sem defesa desnecessá- ria. Este exercício, utilizando o Formulário 6.1, é adaptado de vários formulários simi- lares de automonitoramento da ACT, par- ticularmente o Diário de Disposição, De- pressão e Vitalidade (Robinson e Strosahl, 2008). A tarefa consiste em os pacientes se comprometerem a passar uma semana ado- tando de modo deliberado, tão plenamen- te quanto possível, comportamentos que sejam significativos para eles, que sejam compensadores de alguma forma intrínse- ca e que possam até promover um senso de domínio, uma forma de ativação compor- tamental (Martell, Addis e Jacobson, 2001). Eles também se comprometem a aceitar e observar os pensamentos e sentimentos que surgirem durante a semana. Diariamente, os pacientes avaliam a expe riência de acor- do com três dimensões, usando uma escala de 1 a 10. A primeira dimensão é o grau de disposição experimentado durante o dia. A segunda é a quantidade de sofrimento, ao adotar deliberadamente os comporta- mentos que valorizam. A terceira e última dimensão é o grau de engajamento experi- mentado a cada dia. Para nossos propósi- tos, engajamento representa uma mistura

do quão compensadoras os pacientes con- sideraram as atividades diárias, quão ricas de propósito e de significado consideraram suas vidas a cada dia e do quanto suas ati- vidades diárias incrementaram o senso de domínio pessoal.

Possíveis problemas

Muitos pacientes buscaram a terapia por experimentarem estados particularmen- te difíceis de ansiedade e depressão. Pode haver alguma resistência inicial em adotar uma atitude de aceitação das experiências emocionais simplesmente como são, sem esforço explícito para criar novos estados de humor. Para lidar com isso, o terapeu- ta pode passar algum tempo explorando com os pacientes os custos e benefícios da esquiva experiencial. Uma forma de fazê-lo é explorar todo o seu histórico de tentativas de utilizar a esquiva como estratégia para lidar com os problemas. Em geral, tanto os pacientes como o terapeuta acabam des- cobrindo que anos de esquiva experiencial na verdade causaram mais danos do que benefícios. Este exercício pode ser útil para o terapeuta estabelecer para si mesmo uma noção direta de como a esquiva experien- cial afeta a vida das pessoas.

Embora as terapias baseadas na aten- ção plena e na aceitação não busquem mu- dar diretamente os pensamentos e senti- mentos, numerosos estudos demonstraram que tais métodos de fato podem resultar na redução dos sintomas de ansiedade e dos transtornos afetivos (Bond e Bunce, 2000; Forman, Herbert, Moitra, Yeomans e Gel- ler, 2007; Hayes et al., 2004; Zettle e Hayes, 1987). Pode ser útil discutir com o paciente os efeitos da disposição. Contudo, a dispo- sição para experimentar a emoção apenas para que ela vá embora não é uma dispo-

sição “real”. Esta requer o compromisso de se abrir para o que quer que surja no campo da cons ciência, de modo pleno e sem defe- sas desnecessárias.

Referência cruzada

com outras técnicas

Apresentar o que chamamos de “aceitação” tem relação direta com as técnicas que en- volvem desfusão, atenção plena e com o Registro de Pensamentos Emocionalmente Inteligentes.

Formulário

Formulário 6.1: Diário da Disposição.

TÉCNICA: DESFUSÃO

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