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A ansiedade é frequentemente caracteriza- da por um senso de urgência: a crença de que algo terrível está prestes a acontecer ou de que é necessário ter as respostas para os próprios problemas de imediato (Ellis, 1962). Se vemos a ansiedade como respos- ta adaptativa a emergências e ameaças que surgiam no ambiente primitivo do homem

pré-histórico, então o senso de urgência é parte adaptativa da experiência ansiosa. A habilidade imediata de fugir, evitar ou de- tectar perigo seria um componente valioso das respostas ansiosas a eventos que amea- çam a vida. Os pacientes que têm o senso de urgência para “se sentirem bem imedia- tamente” costumam recorrer a abuso de drogas ou álcool, ingestão compulsiva de alimentos ou purgação, adotar compor- tamento sexual outrora reprimido, exigir reasseguramento imediato ou mesmo au- tomutilação (Riskind, 1997). Movidos por um senso de urgência, os indivíduos an- siosos buscam a gratificação imediata mais efetiva para as suas necessidades, contri- buindo, com isso, para um maior senso de falta de esperanças (Leahy, 2005b).

Relacionada ao senso de urgência está a dificuldade que as pessoas têm de pre- ver seu humor no futuro e os efeitos dos even tos (Klonsky, 2007). Assim, as pessoas creem normalmente que ficarão com hu- mor negativo por muito tempo, após even- tos negativos, e subestimam com frequência os fatores que podem levá-las a lidar me- lhor com isso. Parte do senso de urgência para superar o humor atual é a supergene- ralização desse estado de humor no futuro, sem levar em conta os efeitos atenuantes de outros eventos positivos.

A técnica de ganho de tempo faz o pa- ciente se concentrar na questão da urgên- cia e tentar mudar o foco para o retardo da gratificação, antecipar uma sequência de mudanças positivas, melhorar o momento ou diminuir a sensação da iminência ou da percepção da rápida aproximação de peri- go. Usando uma variedade de técnicas para reduzir a urgência, o terapeuta auxilia o paciente a tolerar os níveis atuais de estres- se a partir da possibilidade de que, com o tempo, os eventos mudem e as emoções se dissipem.

Questão a ser

proposta/intervenção

“Parece que você está pensando que precisa se sentir melhor imediatamente em virtude do fato de se sentir muito mal agora. Pode ser que sua necessidade de se sentir melhor imediatamente, na verdade, torne-o mais ansioso, mergulhando-o ainda mais em um senso de emergência de que as coisas estão piorando. Podemos enxergar o tempo de uma forma diferente, para ver se podemos reduzir esse senso de urgência. Há várias questões que podemos considerar. Primei- ro, o que você vê como consequência do seu senso de urgência e emergência? Segun- do, se tomamos os eventos atuais e a forma como você se sente, é possível que venha a se sentir melhor em relação a estas coisas, dentro de algumas horas ou alguns dias? Isso já aconteceu antes? Terceiro, que coi- sas poderiam acontecer nas próximas horas ou nos próximos dias que poderiam fazê-lo se sentir melhor? Talvez haja algumas ações que você possa planejar e executar, a fim de fazer uma mudança para o futuro. Quarto, talvez tenhamos condições de identificar algumas alternativas para você pensar ou fazer que possam acalmá-lo. Podemos dar uma olhada em uma lista de atividades pra- zerosas e relaxantes que você poderia fazer agora, de modo a melhorar o presente. E se você fizesse algumas dessas coisas?”

Exemplo

Terapeuta: Percebi que você tem, às vezes,

um senso de urgência de tal modo que precisa se sentir melhor imediata mente. E então, às vezes, você bebe mais, come de modo compulsivo ou contata pes- soas para obter reasseguramento. Vo- cê percebeu esse senso de urgência?

Paciente: Sim. Parece acontecer regular-

mente. Sinto-me terrível e acho que não consigo suportar; então, preciso fazer alguma coisa.

Terapeuta: É quase como se você estivesse

com pânico por se sentir mal agora. O que fez você se sentir tão mal na noite passada?

Paciente: Simplesmente pensei que iria fi-

car sozinha para sempre e que nunca iria encontrar alguém.

Terapeuta: E o que você fez?

Paciente: Tomei alguns copos de vinho, en-

tão comecei a me embriagar e fiquei desorientada.

Terapeuta: Então, parece que você pensou

que realmente precisava encontrar al- guém agora ou saber que encontraria alguém, aí você agiu dessa forma di- ferente. Mas será que poderíamos ver isso de outra forma e descobrir uma maneira de desligar esse senso de ur- gência que você está sentindo?

Paciente: Seria ótimo. Mas a sensação é tão

ruim quando acontece...

Terapeuta: Bem, é por isso que precisamos

focar nisso. Você pode ver que as con- sequências de sentir que há uma emer- gência têm sido caras para você. Uma coisa para se ter em mente é como po- demos ganhar tempo – afastarmo-nos do fato de sentirmo-nos mal agora e encontrar formas de sentirmo-nos bem no futuro. Por exemplo, você está mal quanto a se sentir sozinha na terça à noite, mas como será que você se sentirá quando estiver no trabalho na quarta pela manhã? Seus sentimen- tos mudam?

Paciente: Sim. Senti-me melhor na quarta.

Estava com minhas amigas no traba- lho e focando no que tinha de fazer.

Terapeuta: Ok. Então, podemos ver que o

sentimento muda. Tomemos a ideia

de ficar sozinha para sempre. Este é um pensamento que você já teve an- tes. Mas você também não teve uma série de relacionamentos após esses sentimentos de falta de esperança?

Paciente: Sim. No ano passado, sentia-me

desse jeito e então conheci Erik, e esti- ve bem por um tempo.

Terapeuta: Então, seus sentimentos não

duram para sempre, e as coisas de fato mudam. É importante ter em men- te que você pode se sentir diferente quando os eventos mudam. Mas você pode não saber disso na terça à noite. Assim, uma coisa que você pode fazer é “esticar o tempo” e reconhecer que os eventos mudam, os sentimentos mudam e você muda. Por que será que você pensou que precisava saber com certeza na terça à noite como sua vida seria no futuro? É quase como se estivesse dizendo que não saber com certeza seria terrível.

Paciente: Frequentemente, penso dessa

forma. Tenho essa sensação de que preciso saber com certeza. Mas daí não consigo saber e penso que vai ser terrível.

Terapeuta: Há muitas coisas que não sabe-

mos com certeza que acabam dando certo. Então, isso pode ser um viés em sua forma de pensar. Lembro que você me disse, no mês passado, que pensou que seria despedida, e isso pa- receu realmente urgente; então, seu chefe disse que estava fazendo um bom trabalho. Um senso de urgência é um sentimento comum para você.

Paciente: É por isso que sempre entro em

pânico.

Terapeuta: Também estou pensando em

coisas que você poderia fazer neste momento para melhorar o presente e se sentir melhor ou diferente nes-

sas noites solitárias de terça-feira. Por exemplo, e se você tivesse um plano para se sentir calma? Isso poderia in- cluir tomar um banho de espuma na banheira, escutar música, exercitar-se, assistir a um filme, acessar o Facebook e muitas outras coisas – algo como um menu do que fazer agora até que algo melhor apareça.

Paciente: Pode ser uma boa ideia.

Tarefa

Pode-se prescrever o seguinte para o pa- ciente: “Identifique exemplos de senso de urgência, liste os desencadeadores e o que você faz e sente na ocasião. Liste os custos e benefícios de ter o senso de urgência. Você está equiparando o senso de urgência com um mau resultado garantido? Isso faz sen- tido? Você já esteve errado no passado? Sua resposta ao senso de urgência é mais pro- blemática do que o que de fato ocorre? Liste as previsões que você faz, que dão espaço ao senso de urgência, e liste razões pelas quais os eventos podem mudar ou melho- rar. Pergunte a si mesmo: ‘Como vou me sentir a respeito disso em algumas horas, durante um dia, uma semana, um mês, um ano?’. Use o Formulário 9.12, Como Supe- rar a Urgência, como um guia para ajudá- -lo a ganhar perspectiva. Existem de fato algumas razões para que sinta-se melhor ou pior? Que coisas você pode fazer para me- lhorar o momento e se distrair de seu senso de urgência?”

Possíveis problemas

Alguns pacientes se sentem tão esmagados pela intensidade das emoções que podem ter dificuldade de pensar em possíveis al- ternativas para a urgência. A redução do

estresse e as técnicas de meditação de aten- ção plena podem ser úteis para reduzir a in tensidade emocional, antes de considerar técnicas cognitivas para lidar com a urgên- cia.

Referência cruzada

com outras técnicas

Aceitação, técnicas da terapia comporta- mental dialética (TCD) e técnicas de redu- ção do estresse podem ajudar a reduzir a urgência.

Formulário

Formulário 9.12: Como Superar a Urgên- cia.

CONCLUSÕES

Neste capítulo, oferecemos várias técnicas úteis para ajudar os pacientes a lidarem com as emoções por meio do manejo de seus pensamentos. Uma lista mais com- pleta, com descrições minuciosas, pode ser encontrada no livro Técnicas de terapia cog-

nitiva: maual do terapeuta (Leahy, 2003a).

A regulação emocional pode ser melhora- da pela mudança da avaliação da situação, minando assim a intensificação da emoção. De fato, fornecer um conjunto de técnicas de terapia cognitiva que possam ser usadas diariamente, a fim de antecipar as situações mais perturbadoras, oferece aos pacientes a oportunidade de descobrir que é possível tornar-se imunes contra o estresse, o qual evoca as emoções que eles lutam para re- gular.

Apesar de a reestruturação cognitiva não ser vista por alguns como técnica re- levante para a regulação emocional, suge-

rimos que ela tem possibilidade de ser uma técnica primordial para este fim. De fato, a desregulação emocional pode ser atenuada, uma vez que os pacientes tenham acesso a estratégias cognitivas mais efetivas de in- terpretação dos eventos, incluindo a sua própria emoção. Assim, os pacientes que se encontram transtornados por serem “rejeitados” podem utilizar uma ampla va- riedade de técnicas de reestruturação cog- nitiva para lidar com os eventos, incluindo descatastrofização, visão dos eventos em perspectiva, não personalizar e examinar

interpretações alternativas. Essa reestrutu- ração pode ajudar a diminuir a intensidade emocional, o que, em alguns casos, é sufi- ciente para que outras técnicas de regulação emocional não sejam necessárias. Alternati- vamente, pode-se ver a reestruturação cog- nitiva como parte do arsenal terapêutico a ser reforçado com outras técnicas descritas neste livro. Nossa abordagem, ao longo deste texto, visa fornecer ao clínico ampla variedade de técnicas e permitir que ele tenha a flexibilidade de escolher o que for ideal em determinada situação.

O conceito de “estresse” está no centro das pesquisas sobre regulação emocional há quase meio século. O endocrinologista Hans Selye (1974, 1978) identificou a sín- drome de adaptação geral como sequência de reações ao estresse. O estresse foi defini- do por ele como uma reação do organismo a um agente estressor (ou estímulo relati- vo a ele) que incluía componentes fisioló- gicos e cognitivos. De acordo com Selye, a síndrome de adaptação geral compreende três fases: alarme, resistência e exaustão. Durante a fase do alarme, o organismo rea- ge tanto lutando quanto fugindo (ou, em alguns casos, “paralisando”), por meio da ativação do eixo hipotalâmico-hipofisário- -suprarrenal (HHSR) e da secreção de cor- tisol. Isso marca a mobilização da reação à ameaça. Durante a fase de resistência, o organismo tenta lidar ativamente com o estresse, mobilizando recursos, energia e comportamento para resolver ativamente os problemas enfrentados. Por fim, após a mobilização contínua de recursos e o ma- nejo, o organismo começa um processo de descompensação durante a fase de exaus- tão, marcado por falha das respostas de- fensivas e de manejo, problemas digestivos, fadiga, agitação e irritabilidade.

A experiência do estresse ativa o sis- tema nervoso simpático, levando a uma liberação de noradrenalina, que estimula

os órgãos, intensifica os processos respira- tórios e o ritmo cardíaco, aumenta a força e a energia disponíveis para os músculos e prepara o organismo para lutar ou fugir. O sistema simpático adrenomedular também ativa adrenalina e noradrenalina, afetando de forma redundante ritmo cardíaco, trans- piração, força muscular e outras funções (Aldwin, 2007; Gevirtz, 2007). O eixo HHSR é um sistema ativado mais lentamente em resposta ao estresse. O eixo HHSR ativa pri- meiro o hipotálamo, que secreta hormônio liberador de corticotrofina, que, por sua vez, estimula a hipófise, liberando hormô- nio adrenocorticotrófico, o qual ativa o córtex suprarrenal e libera corticosteroides. A atividade prolongada do HHSR suprime os sistemas imunes, causa exaustão ao indi- víduo e pode resultar em maior vulnerabi- lidade a doenças. Um considerável volume de pesquisas apoia a visão de que há dife- renças individuais significativas na reação ao estresse, incluindo vulnerabilidade a uma criação problemática pelos pais, agen- tes estressores ambientais e reação a am- bientes solidários (Belsky e Pluess, 2009).

Lazarus expandiu o modelo do estres- se, incorporando as avaliações cognitivas implícitas no comportamento (Lazarus e Folkman, 1984). De acordo com esse mo- delo, há avaliações primárias e secundárias de manejo. A avaliação primária refere-se à

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