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Descrição

As emoções dão significado às experiên- cias. Sem elas, ficaríamos paralisados na inde cisão, incapazes de fazer uma escolha entre as alternativas. As emoções dolorosas podem refletir os eventos que importam para nós e evidenciar o sentido e os valores que sustentam nossa existência. A técnica da “escada” é derivada da teoria do cons- truto pessoal e permite que os pacientes tornem claros os valores mais elevados que as emoções e experiências trazem à tona (Cohn e Fredrickson, 2009). O conceito da escada permite que os pacientes encontrem o significado mais elevado que querem pre- servar ou respeitar na emoção dolorosa que experimentou no momento. A técnica da

escada também possibilita ajudar a escla- recer conceitos ou valores superiores, que confiram importância emocional às expe- riências cotidianas, algumas vezes encara- das de forma destrutiva. Por exemplo, pode levar ao perfeccionismo, que, por sua vez, pode sabotar a experiência. Contudo, neste contexto, a técnica da escada é usada como maneira de acessar valores mais elevados que façam valer a pena suportar as dificul- dades. Apesar de os teóricos do construto pessoal usarem a técnica da escada ou pi- râmide de formas específicas, focalizamos neste contexto a “escada da significação” e nos concentramos nas implicações posi- tivas ao obter a satisfação de uma necessi- dade.

Questão a ser

proposta/intervenção

“Frequentemente ficamos incomodados ou frustrados porque sentimos que nossas necessidades e nossos valores não estão sen- do concretizados. Tomemos sua situação atual. Você está irritado [outra emoção] por causa de [situação atual]. Mas ima- ginemos que você pudesse satisfazer essa necessidade. Deixe-me pedir que complete cada sentença com o que lhe vier primeiro à cabeça. ‘Se eu conseguisse [satisfazer essa necessidade], seria bom porque significa- ria que [sobre mim, sobre a vida, sobre o futuro]? E se isso acontecesse, seria bom porque significaria que...’. Digamos que se sinta triste por causa do término de uma relação. Isso não significa que possui um valor mais elevado que é importante para você, por exemplo, um valor de proximida- de e intimidade? Esse valor não diz algo de bom a seu respeito? Se você aspira a valores maiores, isso não significa que terá que se desapontar algumas vezes? Você gostaria

de ser um cético que não valoriza nada? Há outras pessoas que compartilham de seus valores maiores? Que conselho você lhes daria se estivessem passando pelo mesmo que você?”

Exemplo

A paciente, uma viúva com história de abuso de álcool, alegava que tinha de ficar embriagada antes de chegar a sua casa por- que, caso contrário, se sentiria insuporta- velmente triste ao entrar em seu aparta- mento.

Terapeuta: Se você não estivesse sob efeito

do álcool ao abrir a porta de seu apar- tamento, o que sentiria?

Paciente: Iria me sentir realmente triste. E

vazia.

Terapeuta: E o que você pensa ao entrar e

sentir-se triste e vazia?

Paciente: Estou totalmente sozinha. Não

tenho ninguém.

Terapeuta: Sim, é difícil para você sentir-

-se sozinha, sem ninguém. Eu me per- gunto: se você entrasse em casa e ti- vesse alguém, o que pensaria para que isso fizesse você se sentir melhor?

Paciente: Eu pensaria: “Tenho alguém com

quem me importar”.

Terapeuta: Ok. E se sentiria bem por ter al-

guém com quem se importar porque isso significaria o que, para você?

Paciente: Que não estou sozinha – que

posso compartilhar minha vida com alguém.

Terapeuta: E se você tivesse alguém com

quem compartilhar sua vida, isso faria você se sentir melhor porque signifi- caria o que, para você?

Paciente: Que posso dar meu amor a al-

Terapeuta: E a razão de querer dar seu

amor a alguém é...

Paciente: Sou uma pessoa afetuosa.

Terapeuta: Então você subiu uma escada

de significação a partir da solidão e do vazio até passar a ser uma pessoa afe- tuosa. E essa é uma fonte importante de significado em sua vida. Eis o dile- ma em nossas vidas: às vezes, é dolo- roso que as coisas importem para nós, mas não ter significado, não ser uma pessoa afetuosa, seria o verdadeiro va- zio. E você é uma pessoa afetuosa.

Paciente: Sim, sou.

Terapeuta: E isso é algo a se valorizar. Pode

ser doloroso; mas você não tem que se sentir mal por se sentir mal, pois sua dor tem uma boa causa. Ela provém do carinho e do amor, e essa é a pessoa que você é.

Paciente: Mas isso é frustrante.

Terapeuta: Sim, é. Mas há outras formas de

ser uma pessoa afetuosa. Há pessoas em sua vida para amar, e você pode também ser amada. Talvez possa tam- bém pensar em ser uma pessoa afe- tuosa consigo mesma.

Paciente: Nunca pensei nisso dessa forma.

Tarefa

Os pacientes podem listar os valores mais elevados aos quais aspiram. Podem en- tão identificar tristeza, ansiedade, estresse, raiva ou outras dificuldades emocionais e exa minar como estas poderiam estar re- lacionadas – ou não – a esses valores. Se não houver nenhuma relação, então os pacientes podem verificar quais compor- tamentos ajudam a alcançar a experiência desses valores. Os pacientes podem identi-

ficar e esclarecer seus valores preenchendo o Formulário 2.16 (Relação com Valores Mais Elevados) e o Formulário 2.17 (Le- vantamento VIA das Forças de Caráter). O VIA identifica e avalia 24 forças de caráter que podem ser classificadas como valores, características pessoais ou metas a serem usadas para estruturar as escolhas na vida. Exemplos incluem criatividade, curiosida- de, amor pelo aprendizado, mente aberta, coragem, persistência, integridade, vitali- dade, gentileza, inteligência social, cidada- nia, justiça, liderança, perdão/misericórdia, modéstia/humildade, prudência, autorre- gulação, apreciação da excelência e da bele- za, gratidão, esperança, humor e espiritua- lidade.

Possíveis problemas

Listar os valores mais elevados e emoções aos quais o paciente aspira pode criar a no- ção de perda ou fracasso momentâneo pelo menos para alguns deles. O terapeuta pode ajudá-los a perceber que o desapontamento e a frustração podem ser motivações posi- tivas para que se alcancem valores e metas mais importantes. Usar o sentimento nega- tivo como lembrete de metas autênticas e significativas pode reforçar os indivíduos para que superem os obstáculos que eles antecipam. Os pacientes que focam a ru- minação e o arrependimento quando seus valores e metas importantes não são con- cretizados podem ser lembrados de que esta é uma forma de evitar as escolhas reais no mundo real. Ademais, objetivos e valores como afetividade não necessitam de parcei- ro íntimo. Pode-se direcionar tais valores e emoções a estranhos e amigos, animais de estimação e, obviamente, a si mesmo.

Referência cruzada

com outras técnicas

Muitas das técnicas de mente compassiva podem ser úteis para gerar uma abertura para valores mais positivos e fortalecedores. Além disso, programação e planejamento de atividades positivas podem auxiliar na concretização de valores e metas impor- tantes.

Formulários

Formulário 2.16: Relação com Valores Mais Elevados.

Formulário 2.17: Levantamento VIA das Forças de Caráter.

CONCLUSÕES

O modelo do esquema emocional lan- ça mão de um modelo cognitivo social da

teoria implícita sobre as emoções – isto é, as crenças do paciente sobre significado, causas, necessidade de controle e implica- ções da experiência emocional. As crenças negativas sobre as emoções complicam ain- da mais a experiência de “sentir-se mal”, levando os pacientes a uma desregulação recursiva e crescente de mal-estar por estar se sentindo mal. Modificar tais esquemas emocionais pode auxiliá-los a normalizar, temporizar, aceitar e abrir mão de estraté- gias inúteis de esquiva ou supressão emo- cional ou outros comportamentos mal- -adaptativos, como compulsão alimentar, automutilação ou abuso de substâncias. De modo semelhante ao reconhecimento dos mitos emocionais no trabalho de Linehan, o modelo do esquema emocional ajuda os pacientes a elaborarem sua teoria implícita da emoção (e sua regulação) e desenvolve- rem um modelo mais realista e adaptado da experiência emocional.

Várias teorias ressaltam a importância da validação, da empatia e da conexão emo- cional no processo terapêutico. Rogers (1965) enfatizou o olhar positivo incondi- cional; Kohut (1977) propôs que falhas no espelhamento e na empatia são frequente- mente componentes inevitáveis na relação terapêutica, e várias outras abordagens ex- perienciais e cognitivo-comportamentais contemporâneas enfatizam o papel da em- patia e da compaixão (Gilbert, 2007; Green- berg e Safran, 1987; Leahy, 2005a; Linehan, 1993a; Safran, Muran, Samstag e Stevens, 2002). Empatia refere-se tanto à identifi- cação quanto à experiência compartilhada (espelhamento) da emoção de outra pessoa (“vejo que você está chateado” ou “sinto sua tristeza”); validação consiste em encon- trar verdade no sentimento (“vejo que você está aborrecido porque estava esperando conseguir aquilo, mas não conseguiu”); e compaixão, por sua vez, é a tentativa de acalmar e confortar o outro (“vejo que está chateado e espero conseguir fazer você se sentir amparado e amado”).

Validação, empatia e compaixão (res- ponder, espelhar, acalmar e estar conectado às emoções de outra pessoa) são processos que se originam na interação entre pais e filhos, estando os pais (frequentemen- te as mães) sintonizados com o choro e o

desconforto dos filhos. Na tentativa de de- safiar a teoria psicanalítica do modelo de redução do impulso (drive-reduction mo-

del), Bowlby propôs que os bebês têm pre-

disposição inata a formar e manter apego a uma única figura e as interrupções desse laço ativam sistemas comportamentais que buscam completude até que o apego esteja assegurado. O modelo etológico de apego de Bowlby ressaltou as implicações evo- lucionárias do apego no estabelecimento da pro ximidade com adultos que possam proteger, alimentar e socializar o bebê em relação aos comportamentos adequados (Ainsworth, Blehar, Waters e Wall, 1978; Bowlby, 1968, 1973). Os teóricos do apego expandiram esse modelo dando ênfase à importância para o bebê ou para a crian- ça de estabelecer um senso de segurança no apego, e não simplesmente proximida- de (Sroufe e Waters, 1977). Essa seguran- ça envolve a previsibilidade da resposta do cuidador à criança. Apesar de alguns terem argumentado que há alguma continuidade entre os estilos de apego na infância pre- coce e na fase adulta, outros têm negado a validade dessas alegações (Fox, 1995; van IJzendoorn, 1995).

Ainsworth e outros diferenciaram vá- rias formas de estilos de apego: os seguros, os ansiosos, os evitativos e os desorganiza-

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dos. Outros sistemas de classificação tam- bém utilizados dividem os estilos em três tipos: seguro, evitativo e ambivalente (Troy e Sroufe, 1987; Urban, Carlson, Egeland e Sroufe, 1991). As pesquisas sobre os estilos de apego sugerem que aquele que ocorre na primeira infância prediz o funcionamento social nas fases intermediárias da infância e no início da vida adulta, especificamente no que diz respeito às relações com os colegas, à depressão, à agressividade, à dependência e à competência social (Cassidy, 1995; Ur- ban et al., 1991).

Bowlby propôs que a segurança en- contrada no apego é incrementada por meio do desenvolvimento de modelos de funcio-

namento interno ou representações cogniti-

vas da figura de apego. Especificamente, um modelo de funcionamento interno no bebê com apego seguro implica que o adulto rea- ja ao choro indicativo de sofrimento, seja responsável por tranquilizá-lo nas intera- ções recíprocas e se mostre previsível quan- to a oferecer interações positivas, em vez de punitivas (Main, Kaplan e Cassidy, 1985). O pressuposto que guia a teoria do apego é o de que os modelos de funcionamento interno estabelecidos na primeira infân- cia afetam as experiências subsequentes de apego com outros indivíduos ao longo da vida. É esta reatividade descrita por Bowlby e outros que marca a fundação precoce dos esquemas de validação. Extensões do mo- delo de funcionamento interno estão refle- tidas em vários modelos cognitivos dos es- quemas precoces mal-adaptativos (Guida- no e Liotti, 1983; Smucker e Dancu, 1999; Young et al., 2003).

A validação reflete questões relativas ao apego. Primeiro, durante o processo de formação e manutenção do apego na pri- meira infância, os rudimentos da empatia, o espelhamento e a validação incluem a sensibilidade dos adultos ao sofrimento da

criança, o que reforça a representação men- tal dela – “meus sentimentos fazem senti- do para os outros”. Segundo, a resposta tranquilizadora dos adultos cuidadores aos sentimentos da criança a encoraja a acredi- tar que “meus sentimentos desconfortáveis podem ser acalmados”. Inicialmente, pro- põe-se que essa “tranquilização” ocorra por meio da atenção e do reasseguramento por parte daqueles que cuidam da criança, mas que posteriormente seja “interiorizada” por ela na forma de autoafirmações tranquili- zadoras e otimistas, de modo semelhante à ideia de Bowlby dos modelos de funciona- mento interno – neste caso, a representação interna de que os próprios sentimentos fa- zem sentido e podem ser acalmados. Ter- ceiro, a comunicação dos sentimentos da criança ao adulto que a cuida é uma opor- tunidade não apenas para expressar senti- mentos, mas também para que o cuidador crie a relação dos estados emocionais com os eventos externos que “causam” o sen- timento – “você está chateado porque seu irmão bateu em você”. A tentativa de com- preender a causa dos sentimentos e de com- partilhá-los com o adulto pode também ajudar a diferenciar os sentimentos – “pare- ce que você está com raiva e magoado” – e a construir uma teoria da mente que possa ser aplicada tanto a si mesmo quanto aos outros. De fato, na ausência de uma teo ria adequada da mente, a criança terá dificul- dades de demonstrar empatia, validação e compaixão pelos outros e será incapaz de tranquilizar seus próprios sentimentos e os de outras pessoas (Eisenberg e Fabes, 1994; Gilbert, 2007, 2009; Leahy, 2001, 2005a; Twemlow, Fonagy, Sacco, O’Toole e Vern- berg, 2002).

Os pacientes podem apresentar vários estilos de apego na terapia: seguro, ansioso, evitativo ou desorganizado. O estilo ansio- so de apego é caracterizado por comporta-

mentos pegajosos, assim como pela necessi- dade de reasseguramento, e reflete o medo de não conseguir validação. Ademais, os in- divíduos com estilos ansiosos de apego po- dem ter crenças idiossincráticas acerca da necessidade de validação (p. ex., “você pre- cisa sentir o que sinto para ser capaz de me entender”) e também temer que o terapeu- ta se torne crítico ou distante. Apesar disso, os indivíduos ansiosos ainda assim acabam buscando validação e apego no terapeuta. Já o estilo evitativo de apego se reflete em desconfiança e distanciamento, evitando contato mais próximo e abertura na relação terapêutica. Os indivíduos com estilo de- sorganizado de apego podem ter dificulda- des de identificar necessidades ou exagerar a expressão destas por medo de não serem ouvidos e, portanto, não serem atendidos. Os estilos de apego, portanto, podem ser ativados quando as emoções se exacerbam, levando a tentativas de regulá-las por meio de estilos interpessoais problemáticos de busca de validação. A regulação emocional é afetada pela percepção do paciente de ser ou não validado, pelas crenças relativas à necessidade de validação (p. ex., “você pre- cisa concordar totalmente comigo“) ou por tentativas autodestrutivas potencialmente problemáticas de buscar validação (p. ex., queixas exageradas, gritos, exibições dra- máticas, retraimento) que têm a possibili- dade de exacerbar ou prolongar a desregu- lação emocional. Conforme foi indicado no Capítulo 2 sobre a terapia do esquema emo- cional (TEE), a percepção da validação é um dos preditores-chave de depressão, abuso de substâncias, conflitos conjugais e transtorno da personalidade borderline. Neste capítu- lo, revisamos alguns problemas comuns na desregulação emocional que se encontram refletidos nas estratégias autodestrutivas ou problemáticas de necessidade de validação e que podem inadvertidamente levar a uma escalada da intensidade emocional.

TÉCNICA: RESISTÊNCIA À VALIDAÇÃO

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