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Descrição

Alguns pacientes invalidam a si mesmos e sabotam o seu “direito de ter sentimentos”. Isso perpetua o sentimento de culpa ou ver- gonha a respeito das emoções e intensifica a noção de que estas não fazem sentido, de que não há nada que se possa fazer para acalmá-las e que não se pode expressá-las ou obter validação. As reações típicas in- cluem não querer falar sobre as próprias ne- cessidades, enxergá-las como fraqueza, usar a terapia cognitivo-comportamental (TCC) como defesa contra elas (“escolhi a TCC porque achava que nunca teria de lidar com todos esses problemas de família” ou “pensei que esta fosse uma terapia racional”), des- culpar-se pelas próprias necessidades (“devo estar parecendo um bebê”), incapacidade de processar informações sobre as próprias necessidades (“não entendo o que você está dizendo” [ao falar sobre emoções, traumas ou dificuldades]), dissociação, tentativas de baixar as expectativas (“talvez eu esteja espe- rando demais do meu casamento”) e soma- tização (o paciente foca queixas físicas e não fala sobre as emoções) (Leahy, 2001, 2005a). Por exemplo, os pacientes podem se distan- ciar, ao sentir que suas necessidades não são importantes ou são um sinal de fraqueza, ou, ainda, temer sofrer humilhação, caso descre- vam suas emoções. Alguns pacientes têm dificuldades para lidar com suas próprias

necessidades e emoções, às vezes “saindo de si” (dissociando) ou não conseguindo abordar a discussão sobre suas emoções. De forma semelhante aos “pontos quentes” do trabalho com imagens mentais, o terapeuta pode dar atenção à forma como os pacien- tes se referem ou vivenciam a discussão de suas necessidades (Holmes e Hackmann, 2004). Por exemplo, uma paciente, ao des- crever seu histórico de depressão, tentativas de suicídio e abuso de substâncias, manti- nha um sorriso no rosto, como se estivesse descrevendo algo trivial ou até divertido que aconteceu a outra pessoa.

Questão a ser

proposta/intervenção

As perguntas podem focar a “desconexão” entre o sofrimento do paciente e a forma como ele apresenta o problema. Eis alguns exemplos: “Parece que houve muitas coi- sas que o deixaram infeliz, mas você não demonstra muito sentimento quando fala disso” ou “Você parece minimizar seu sen- timento quando fala sobre isso. Por quê?”. Outras perguntas específicas podem ser: “Parece que você, às vezes, nega ou mini- miza o seu direito de ter um sentimento – dizendo [exemplo] ‘talvez eu esteja es- perando demais’ ou ‘devo estar parecen- do um verdadeiro neurótico [queixoso, chorão, bebê, etc.]’”. Outras perguntas in- cluem: “Por que você acha que se invalida (ou minimiza) dessa forma? Quais são as vantagens de minimizar seus sentimentos? Onde você aprendeu que seus sentimentos não têm importância?”.

Minimizar as próprias necessidades e sentimentos pode também ser um compo- nente importante nos relacionamentos do paciente. Isso pode ser explorado por meio

de perguntas como: “Você já teve relações nas quais suas necessidades não foram atendidas? Nas quais você tenha ficado em segundo plano? Nas quais seus sentimentos não eram importantes? Você escolhe pes- soas que não atendem suas necessidades? Você notou que as pessoas não reagem bem quando fala sobre seus sentimentos? Elas não estão mais centradas em si mesmas? É possível procurar pessoas mais compassi- vas?”.

Exemplo

Terapeuta: Notei que, enquanto falava de

algumas coisas terríveis que acontece- ram com você, havia na verdade um sorriso em seu rosto, como se elas não a tivessem de fato incomodado.

Paciente: Sério? Não percebi.

Terapeuta: Acho que, ao escutar, pareceu-

-me que você estava expressando em algum nível que “essas coisas não im- portam”. Eu me perguntei se você não se sente um pouco estranha quando fala de suas próprias necessidades e das coisas ruins que lhe aconteceram.

Paciente: Não quero parecer uma necessi-

tada.

Terapeuta: O que significaria para você se

de fato parecesse necessitada?

Paciente: É patético. Não quero que nin-

guém sinta pena de mim.

Terapeuta: Então falar dos sentimentos

de mágoa, de experiências dolorosas, pode provocar que sintam pena de você, e isso a torna patética? Em sua família – sua mãe ou seu pai –, quan- do você tinha necessidades, de que forma eles respondiam a elas?

Paciente: Eles me diziam que as esquecesse.

Terapeuta: Não havia espaço para senti-

mentos e necessidades. Será que em sua vida atual você não deixa de com- partilhar seus sentimentos com outras pessoas por causa disso?

Paciente: As pessoas não querem ouvir so-

bre os problemas alheios.

Terapeuta: Esta parece ser a mensagem que

você recebeu de sua família. Talvez uma das formas de lidar com isso te- nha sido negar suas necessidades ou que estivesse sofrendo.

Paciente: Não sei o que você quer dizer. Terapeuta: Talvez você negue que esteja

de fato infeliz, mantenha isso para si mesma, não reconheça que tem ne- cessidade de ser amparada, respeitada, aceita e amada. Você simplesmente tenta se convencer de que essas não são necessidades reais para você.

Paciente: Se eu tivesse essas necessidades,

elas não seriam atendidas.

O restante da discussão revelou que a pa- ciente temia admitir tais necessidades por acreditar que isso levaria apenas a mais de- sapontamento e tristeza. Ela enxergava suas necessidades e seu passado como “defeitos” e recorria ao uso de maconha, álcool e pur- gação para “se livrar dos sentimentos”.

Tarefa

Os pacientes podem identificar exemplos de como minimizam suas necessidades e se invalidam. Por exemplo: “Liste algum exemplo do passado ou do presente no qual tenha tentado convencer a si mesmo ou os outros de que suas necessidades não eram importantes. Liste as vantagens e desvan- tagens de minimizar ou negar essas neces- sidades. Quais necessidades você acha que tem de minimizar? Por quê? Há coisas que

você diga ou faça para minimizar os sen- timentos? Por exemplo, você se desculpa por seus sentimentos, faz piada de si mes- mo ou evita falar com as pessoas sobre o que sente? Você às vezes sai de si ou não consegue prestar atenção? Isso tem algo a ver com o fato de ter sentimentos descon- fortáveis?”. Os pacientes podem preencher o Formulário 3.7 (Exemplos de Minimiza- ção de Minhas Necessidades). O terapeuta pode perguntar: “Você minimizaria as ne- cessidades ou o sofrimento de um amigo? Por que não? Isso soaria invalidante, cruel e desdenhoso? De modo alternativo, que coisas compassivas e validadoras você diria a um amigo? Há razão para você dizer es- sas coisas a si mesmo, em vez de minimizar suas necessidades?”.

Possíveis problemas

Alguns pacientes acreditam que validar a si mesmos equivale a ter autopiedade. O te- rapeuta pode questionar se piedade impli- ca que os sentimentos de alguém são pa- téticos, em oposição a ver os sentimentos como dotados de importância e valor. A validação confere reconhecimento ao di- reito de ter sentimentos e à veracidade do sentimento de alguém. Outros pacientes acreditam que não têm o direito de se au- tovalidar porque se veem como indignos de ser amados e defeituosos. Esses pensa- mentos podem ser examinados pelo uso de técnicas de reestruturação cognitiva; o terapeuta pode ainda usar as técnicas da mente compassiva para ajudar o paciente a construir a capacidade de cuidar de si mesmo. Ademais, aprender como aceitar sentimentos, conectá-los a valores mais elevados e reconhecer sua universalidade pode ajudar a estimular os pacientes a se autovalidarem.

Referência cruzada

com outras técnicas

Mente compassiva e reestruturação cogniti- va também podem ser úteis.

Formulário

Formulário 3.7: Exemplos de Minimização de Minhas Necessidades.

TÉCNICA:

AUTOVALIDAÇÃO COMPASSIVA

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