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Descrição

Os estilos problemáticos de interação são preditores de episódios depressivos recor-

rentes (Joiner et al., 2006; Joiner, Van Or- den, Witte e Rudd, 2009). Os pacientes com problemas de validação ou de desregulação emocional com frequência têm dificuldades de relacionamentos interpessoais. Podem reclamar, exigir, se exceder, agir de modo superior, punir os outros e mostrar pouca gratidão ou apreciação pela ajuda que ob- têm. Como consequência, seus estilos inter- pessoais podem gerar mais rejeição, seguida de raiva, depressão e desesperança. Assim, a desregulação emocional pode resultar par- cialmente de estratégias interpessoais pro- blemáticas na busca de apoio. Nesta seção, identificamos algumas questões comuns para ajudar a construir melhores relacio- namentos – não apenas amizades, mas uma comunidade de apoio e significação na vida dos pacientes.

Questão a ser

proposta/intervenção

“Muitas vezes, quando estamos incomo- dados, podemos não reconhecer o impac- to que temos sobre as outras pessoas. É importante obter apoio – mas também é importante apoiar. Da mesma forma que precisamos de nossos amigos, eles precisam de nós. Examinamos algumas maneiras de obter validação, usando resolução mútua de problemas e mudando algumas regras quanto a se sentir validado. Agora podemos ver como você pode construir melhores amizades. Isso pode exigir que se faça uma análise honesta da possibilidade de ficar ‘por baixo’ por muito tempo, talvez com- preendendo que também é importante revi- sar ou diminuir nossas queixas. Também é importante mostrar apreciação aos amigos, recompensá-los, reconhecer quando fazem um bom trabalho. Vamos dar uma olhada em alguns exemplos de como as coisas po- dem melhorar em relação aos amigos.”

Exemplo

Wendy queixou-se de que se sentia invali- dada e criticada por sua amiga, Maria. Ao examinar a natureza da relação delas, pare- cia que Maria era de fato crítica. Contudo, Wendy tinha outras amigas apoiadoras.

Terapeuta: Vejo por que se sentiu mal

quando Maria foi crítica com você. Quando nos abrimos para nossos amigos, queremos sentir que eles nos apoiam, que não nos critiquem. Maria costuma ser desse jeito?

Paciente: Nem sempre. Mas é mais do que

minhas outras amigas.

Terapeuta: Então há amigas que a apoiam

mais. Quem são?

Paciente: Linda e Gail são ótimas. Posso

contar tudo a elas.

Terapeuta: Eu me pergunto se você não

poderia compartilhar mais seus senti- mentos com elas do que com Maria.

Paciente: Essa é provavelmente uma boa ideia. Terapeuta: Sabe, às vezes ficamos em pior

estado quando nos abrimos para a pes- soa errada no momento errado. Então você tem outras escolhas além de Ma- ria. [O terapeuta também reconhece que Wendy não era sempre eficiente em seu estilo de comunicação e de busca de validação.] Às vezes, quando expressa- mos nossos sentimentos e bus camos validação, podemos fazê-lo de forma habilidosa ou nem tanto. Sei que houve ocasiões no passado em que simples- mente fiquei me queixando, sem reco- nhecer a forma como as outras pessoas estavam vivenciando aquilo. Não que elas não ligassem. Eu é que precisava “reformular” o que estava dizendo.

Paciente: Posso ficar um bom tempo me

queixando. Acho que isso as aborrece.

Terapeuta: Eu agi assim com um de meus

me dar apoio. Então, tentei aprender com a experiência. O que aprendi foi que podia limitar a quantidade de coi- sas que dizia e não ser tão repetitivo, continuando a agradecer à pessoa que estivesse me apoiando. Pensei em cha- mar isso de “validação do validador”.

Paciente: Sim. Será que meus amigos

acham que estou descarregando em cima deles? Simplesmente descarre- gando todos os meus sentimentos?

Terapeuta: Bem, os amigos existem, você

sabe, para dar apoio. Mas eu perce- bi com minha experiência que meus amigos precisavam de meu apoio quando estavam me apoiando.

Paciente: Faz sentido.

Terapeuta: Notei que era útil quando lhes

dizia: “Sei que estou me queixando e que você tem sido gentil em me ouvir. Só quero dizer que realmente aprecio isso. E também estou fazendo algumas coisas para me ajudar. Você foi um bom amigo em um período difícil”.

Tarefa

O capítulo “Como tornar as amizades mais compensadoras”, do livro Beat the Blues

Before They Beat You (2010), de Leahy, des-

creve estilos disfuncionais de interação com amigos e oferece sugestões específicas para melhorar a obtenção de apoio. Ele pode ser indicado para os pacientes que apresentam dificuldades em obter e receber validação. O paciente pode preencher o Formulário 3.9, que lista algumas metas específicas de coisas a serem mudadas para que se receba validação. O terapeuta pode solicitar ao pa- ciente que revise as mensagens dirigidas a outros, estabelecendo limites para as quei- xas, descrevendo pontos positivos para os amigos no contexto das queixas e “validan- do aquele que valida” (ou seja, “se alguém o

valida, diga-lhe: ‘aprecio todo o apoio que está me dando’”).

Pode-se pedir que o paciente dê exem- plos de quando se sentiu validado pelos ou- tros: “Há pessoas que aceitam e compreen- dem seus sentimentos? Você possui regras arbitrárias de validação? As pessoas têm de concordar com tudo o que você diz? Você divide suas emoções com pessoas críticas? Você aceita e apoia outras pessoas que têm essas emoções? Você tem um padrão du- plo? Por quê?”.

Possíveis problemas

Conforme foi indicado anteriormente, al- guns pacientes manifestam padrões não realistas de validação, esperando que todos os seus pensamentos e sentimentos sejam “espelhados” pelos outros. Esses padrões podem ser examinados e testados quanto aos custos e benefícios, e novos padrões mais realistas de busca de validação podem ser identificados.

Referência cruzada

com outras técnicas

Podem ser incluídas técnicas como apren- der a pedir ajuda e ajudar os outros a ajudá- -lo.

Formulário

Formulário 3.9: Como Ser Mais Compen- sador e Obter Apoio de Seus Amigos.

CONCLUSÕES

Muitos pacientes com problemas de des- regulação emocional podem resistir ao uso

de técnicas de autoajuda porque as veem como invalidantes. Conforme discutimos no capítulo anterior sobre os esquemas emocionais, os pacientes precisam acredi- tar que os outros se preocupam com seus sentimentos e os entendem. O papel pri- mordial da empatia, do espelhamento e da validação no apego e nos relacionamentos ao longo da vida é um elemento crucial em várias teorias. Entretanto, alguns pacientes podem ter regras idiossincráticas de valida- ção e exigir e buscar validação por meio de

estratégias e comportamentos problemáti- cos. Equilibrar validação e mudança é uma dialética essencial na terapia, mas colocar as questões relativas à validação diretamen- te pode ser muito difícil. Muitos pacientes exageram na afirmação de que são critica- dos por seus sentimentos ou de que são mal compreendidos. O terapeuta precisa estar ciente de que esses pacientes estão presos na armadilha da necessidade de validação, o que pode se tornar um foco importante da terapia.

“Mitos emocionais” é um termo usado na terapia comportamental dialética (TCD) para se referir a crenças equivocadas acer- ca das emoções (Linehan, 1993, 1993b). Linehan menciona a tendência dos indiví- duos com transtorno da personalidade bor-

derline (TPB) a avaliar negativamente suas

rea ções emocionais. Além de acreditarem que as emoções são incontroláveis, os pa- cientes com TPB têm tendência a acreditar que elas são intermináveis. Essas crenças provavelmente contribuem para o medo das emoções e para a esquiva emocional di- fusa que caracteriza esse transtorno (Gratz, Rosenthal, Tull, Lejuez e Gunderson, 2006; Yen, Zlotnick e Costello, 2002). Além do mais, muitos dos problemas clínicos preva- lentes no TPB, como abuso de substâncias (Grilo, Walker, Becker, Edell e McGlashan, 1997), transtorno dissociativo de identi- dade (Wagner e Linehan, 1998) e bulimia (Paxton e Diggins, 1997) envolvem a esqui- va emocional como característica associada proeminente.

As pesquisas oferecem evidências pre- liminares de que os mitos emocionais pro- movem o uso de uma regulação emocional mal-adaptativa tanto nos transtornos do

Eixo I quanto nos do Eixo II. Campbell-Sills, Barlow, Brown, Hofmann e colaboradores (2006) observaram que mitos emocionais como “ficar triste é errado” e “mostrar emo- ções negativas é um sinal de fraqueza” estão associados a um maior uso da supressão nos transtornos de ansiedade. De modo se- melhante, Mennin, Heimberg, Turk e Fres- co (2002) observaram que a avaliação das emoções negativas como inaceitáveis está associada ao aumento das preocupações, uma forma de esquiva emocional. Em um estudo dos esquemas emocionais entre os transtornos da personalidade, Leahy e Na- politano (2005) verificaram que os indiví- duos com TPB endossavam a crença de que as emoções negativas são inaceitáveis e in- compreensíveis. Em um estudo subsequen- te, eles descobriram que indivíduos com TPB e outros transtornos da personalidade caracterizados por crenças negativas quanto às emoções tinham maior propensão a ficar preocupados, uma forma de esquiva emo- cional (Leahy e Napolitano, 2006). Os mitos emocionais podem ser considerados como uma pequena parte do construto mais am- plo dos esquemas, que se refere a conceitos, avaliações, tendências de ação e estratégias

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IDENTIFICAÇÃO E REFUTAÇÃO

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