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Esta técnica é frequentemente chamada de “escaneamento corporal”, conforme foi de- nominada no treinamento de MBSR (Kabat- -Zinn, 1990). Variações desta prática podem ser encontradas em ioga, no qual é chamada de yoga nidra. Além disso, outros exemplos podem ser encontrados nos exercícios de tradições espirituais mundiais, incluindo su-

fismo, cristianismo esotérico e judaísmo. A técnica consiste em direcionar a consciência atenta e de forma não julgadora ao longo do corpo em um ritmo gradual e deliberado. O praticante dirige a atenção a uma parte do corpo de cada vez, trazendo simplesmente a atenção às sensações físicas do momento. Não há esforço para alcançar um estado de relaxamento ou, de fato, nenhuma alteração de estado.

Emoções poderosas com frequência se manifestam na forma de sensações físi- cas. Ensinar os pacientes a serem capazes de simplesmente observar as sensações físicas de forma descentralizada pode trazer algu- ma flexibilidade e influência na regulação final das emoções. Muitos mitos relativos aos esquemas emocionais e de fusão com a emoção que os pacientes apresentam po- dem levar a tentativas de evitar o processa- mento emocional ou a uma dependência excessiva da racionalidade. Entrando em contato com as sensações corporais e expe- rimentando-as plenamente, os pacientes to- mam os primeiros passos em direção a um modo mais completo e abrangente de pro- cessamento emocional (Segal et al., 2002).

Questão a ser

proposta/intervenção

Este exercício pode ser ensinado no forma- to individual ou em grupo. Após os pacien- tes terem aprendido este método, pode-se sugerir que pratiquem o exercício de es- caneamento corporal diariamente. Como auxílio, pode-se dar a eles um arquivo de áudio, contendo meditação guiada, e um formulário de registro, que lhes permite monitorar com que frequência praticam a tarefa de casa e quais são suas observações sobre o processo.

Para guiar os pacientes no treinamen- to da atenção plena, o terapeuta deve pri-

meiramente fazer algumas considerações quanto à logística. O espaço físico é adequa- do para permitir que os pacientes se deitem em um colchonete de ioga? O assento dis- ponível permite sentar-se em uma posição saudável? Mantendo sua própria prática de atenção plena no consultório, o terapeuta pode ter a noção do quão apropriado é o ambiente para tal treinamento. Além disso, o terapeuta pode considerar quanto tempo tem para dedicar ao treinamento da aten- ção plena em determinada sessão. Na fase do estabelecimento da agenda de uma ses- são de TCC que incorpore atenção plena, é muitas vezes útil discutir e planejar com os pacientes quanto tempo da sessão será dedicado à prática guiada, deixando tempo para discussão e questionamentos sobre a experiência.

Após os pacientes realizarem o primei- ro exercício de escaneamento corporal, su- gere-se frequentemente que compartilhem suas observações a respeito da experiência. É importante que o terapeuta faça perguntas não restritas sobre essas observações e evite a tendência de sugerir que os pacientes dis- cutam o exercício em termos de avaliação. O terapeuta pode simplesmente perguntar: “Como foi para você?” ou “Que observações você gostaria de compartilhar sobre este pri- meiro exercício?”.

O terapeuta e os pacientes devem de- finir uma meta clara para a prática guiada. Em geral, uma prática diária de escanea- mento corporal de 30 a 45 minutos é útil como treinamento inicial da atenção ple- na. Pode-se dar aos pacientes um exercício guiado em CD de áudio ou arquivo em for- mato mp3.

Para que haja adesão à tarefa de casa, solicita-se que os pacientes preencham um formulário de automonitoramento. Eles re- gistram diariamente se praticaram ou não o escaneamento corporal e se usaram ou não a gravação-guia, bem como tomam notas

das observações diárias relativas à prática da atenção plena.

Exemplo

1

As seções em itálico, neste e em outros exemplos do livro, destinam-se a servir como roteiro inicial. Recomenda-se que o clínico siga a estrutura, mas que fale com base em sua própria experiência, usando suas próprias palavras.

Este exercício costuma ser feito com a pessoa deitada ou sentada com a coluna reta, mas flexível. É provavelmente melhor encontrar um espaço confortável e deitar-se em um colchonete de ioga, tapete ou cober- tor. O ambiente deve estar em temperatura confortável, em local e horário livres de dis- trações ou interrupções. Ao começar, deixe os olhos fechados e quietos. Traga sua atenção suavemente para as sensações físicas que você está experimentando no momento, trazendo- -a para a presença de vida no corpo. Por um momento, dirija a atenção aos sons da sala. Em seguida, amplie a experiência sensorial, incluindo os sons que estão logo além da sala. Então, observe os sons mais distantes. Com a próxima inspiração, traga a atenção de volta ao corpo e à respiração. Observe seu fluxo, à medida que o ar entra e sai do seu corpo. Não há necessidade de se respirar de nenhuma forma especial; permita simplesmente que a respiração encontre o seu próprio ritmo. Ao inspirar, perceba as sensações físicas envol- vidas. Ao soltar o ar, permita que sua aten- ção flua com a expiração. Cada inspiração

consiste em reunir e concentrar a atenção, e cada expiração consiste no processo de abrir mão da atenção. Neste ponto, direcione deli- cadamente a atenção às sensações físicas em seu corpo. A cada inspiração, deixe que sua atenção concentre-se nos pontos de contato do corpo com o colchonete, com a cadeira ou com a almofada que o sustenta. Ao ex- pirar, perceba a sensação de peso na qual o corpo está apoiado. Não há necessidade de almejar nenhum estado especial durante este exercício. Não há necessidade de lutar para relaxar ou “fazer” coisa alguma. Seu objeti- vo neste trabalho é simplesmente observar o que experimenta, momento a momento. Sem julgar, analisar ou descrever sua experiência, você agora começará a direcionar a atenção para diferentes partes do corpo. Ao prestar atenção nas sensações físicas, interrompa as avaliações e apenas implemente a “simples atenção” no que quer que esteja observando. Com a próxima inspiração, mova a atenção para as sensações físicas no abdome. Perceba as várias sensações que acompanham cada inspiração e cada expiração. Após permane- cer com esta experiência por alguns segundos, traga a atenção para acima do abdome e ao longo do braço esquerdo até a mão. Deixe a atenção espalhar-se, como um calor sendo irradiado pelo braço, sempre notando a pre- sença de vida. Observe simplesmente as sen- sações na mão. A cada inspiração, imagine a respiração fluindo para o peito e o abdome, irradiando-se pelo braço esquerdo até a mão. Sua atenção deve acompanhar a inspiração, como se estivesse “inalando” a consciência das sensações físicas presentes na sua mão. Sem mudar nada intencionalmente no es- tado da mão, inspire as sensações em cada parte dela por vários segundos. Com cada ex- piração, deixe-se livrar dessa consciência. Ao fazê-lo, perceba o polegar..., o indicador..., o dedo médio..., o anular... e o mínimo. Em seguida, inspire a consciência conjunta das sensações no dorso da mão... na palma... e na

1 As diretrizes a seguir são adaptadas a partir de várias

fontes, principalmente as meditações guiadas de Jon Kabat-Zinn (1990). Algumas ideias e frases também são adaptadas dos escritos de Thich Nat Hanh (1992) e outras fontes clínicas de meditação.

mão como um todo. Ao sentir que concluiu a observação das sensações na mão esquer- da, deixe a atenção irradiar-se de volta pelo braço esquerdo, percebendo a presença de vida no antebraço, bíceps, tríceps e em todo o braço. Com a próxima inspiração, deixe novamente que sua atenção se concentre no abdome. Em seguida, traga a atenção para as sensações do braço e da mão direitos, da mesma forma como fez com o lado esquer- do. Em ritmo confortável e com uma atitude de curiosidade suave e não julgadora, preste atenção em cada uma das áreas do seu cor- po, uma de cada vez, inspirando as sensações em cada pé (e em cada dedo dos pés), cada tornozelo, canela e panturrilha, região pél- vica, região lombar e abdome, região dorsal e ombros, pescoço e o ponto de contato entre a cabeça e a coluna, músculos da face, testa e couro cabeludo. Faça-o vagarosamente e exe- cute o exercício com o espírito de um cliente, aceitando a curiosidade. Ao observar descon- forto ou tensão em qualquer parte do corpo, permita-se novamente inspirar as sensações. Tanto quanto puder, tente manter cada sen- sação, observando-a, simplesmente, ficando com ela momento a momento. É da natureza da mente divagar, e isto é a coisa mais natural que nossa mente pode fazer. À medida que se envolve nessa prática, ao notar que sua mente desviou o foco das sensações físicas, aceite que isso aconteceu, abra espaço para a experiên- cia em sua consciência e, gentilmente, traga a atenção de volta às sensações físicas com a inspiração. Após algum tempo nesta práti- ca, tendo trazido uma consciência atenta ao corpo durante vários minutos (este exrcício pode durar de 15 a 45 minutos ou mais), dei- xe que a respiração e atenção retornem sua- vemente às sensações físicas no abdome. Ago- ra, com a próxima inspiração, preste atenção nos sons que o rodeiam na sala. Em seguida, leve sua atenção para os sons fora dela. De- pois, foque sua atenção suavemente nos sons

ainda mais distantes. Dando-se alguns mo- mentos para reunir atenção e orientação de volta a sua presença no colchonete, você pode abrir os olhos e retomar as atividades diárias.

Tarefa

Os pacientes podem praticar o exercício de escaneamento corporal diariamente. Um exercício gravado de mais ou menos 30 minutos deve ser suficiente para guiar os pacientes no início deste trabalho. É útil fornecer-lhes um diário (Formulário 5.1), para que possam monitorar e estruturar melhor a prática.

Possíveis problemas

O treinamento da atenção plena apresenta diferentes desafios e possíveis problemas para cada pessoa. Ao examinarmos a va- riedade de técnicas disponíveis, vários des- ses possíveis problemas podem se aplicar a mais de uma delas.

Apesar de os pacientes poderem inte- lectualmente absorver a noção de consciên- cia não julgadora, eles com frequência ficam presos a seus julgamentos durante a prática do treinamento da atenção plena. Isso é esperado e faz parte do processo contínuo de retornar a uma postura de aceitação. As perguntas feitas pelo terapeuta, ao compar- tilhar observações com os pacientes, têm o propósito de facilitar o desenvolvimento de uma atitude de boa vontade. Isso pode ser o ponto de partida para muitos terapeutas cognitivo-comportamentais que usam o diá- logo na terapia para facilitar a reestrutura- ção cognitiva.

À medida que os pacientes começam a discutir se fizeram o exercício “certo” ou “errado”, é papel do terapeuta ajudá-los a

ver além desses julgamentos e discernimen- tos. O diálogo terapêutico pode consistir em o terapeuta escutar as avaliações do pacien- te sobre a experiência e, então, trazer sua atenção de volta ao objetivo final de per- mitir que a experiência seja simplesmente o que é, e que ele se acomode a ela. Pode ser útil, em tais ocasiões, retornar ao contras- te entre os modos “de fazer” e “de ser”. Os pensamentos podem ser vistos como obje- tos em um fluxo de consciência dissociado pelo processo de observar ou experimentar as sensações físicas do momento.

Os pacientes, muitas vezes, adorme- cem durante o exercício de escaneamento corporal em razão do profundo relaxamen- to que frequentemente o acompanha. É im- portante que o terapeuta informe que essa reação é normal e lembre aos pacientes que, com a prática, o escaneamento corporal se torna muito mais um exercício de desper- tar do que de adormecer. Os pacientes que tiverem dificuldade especial de permanecer acordados durante a prática podem optar por fazê-lo sentados e/ou com os olhos abertos.

Referência cruzada

com outras técnicas

Outras técnicas que podem ser usadas em conjunto com o escaneamento corporal incluem respiração com atenção plena, atenção plena e consciente do movimento, exercício de criação de espaço, atenção ple- na ao som, espaço de 3 minutos para a res- piração, espaço de 3 minutos para manejo da respiração e atenção plena ao cozinhar, todas elas discutidas neste capítulo, assim como o preenchimento do Registro de Pensamentos Emocionalmente Inteligentes (Formulário 8.2) e o Registro de “Como Parar a Guerra” (Formulário 6.4).

Formulário

Formulário 5.1: Registro Diário da Prática da Atenção Plena.

TÉCNICA: ATENÇÃO

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